Jess me carregou no colo até chegarmos na sua casa, que não estava tão distante. Pude ouvir seus passos largos e duros durante o curto trajeto, sua respiração batia em meu rosto que estava colado em seu pescoço. Eu não ousei soltá-lo em momento algum, Jess era o que me mantinha calma naquele momento. Meus olhos não se abriam durante o caminho, apenas voltei a abri-los quando Jess afrouxou seus braços do meu corpo em um movimento para me soltar e lentamente o fez.

– Preciso que fique aqui. – Ele falou, segurando meu rosto em suas mãos.

– Não posso ficar sozinha. – Falei entre soluços. – Não me deixe sozinha.

– Tenho que acabar de uma vez com Philip, você precisa ficar. – Seus olhos negros me encaravam como se estivessem tentando esconder dor. Ele lamentava me ver naquele estado, mas além da sua preocupação comigo o ódio também era visto em seu olhar, Jess não estava nem um pouco afim de deixar Philip vivo. E seus olhos me mostraram o quanto ele estava motivado a acabar com isso, acabar com Philip. – Tome um banho e me espere, você vai ficar segura aqui... apenas ... – Antes de Jess continuar, fortes faróis nos iluminaram e uma caminhonete apareceu. A caminhonete do pai do Louis.

– Acho que te encontrei. – Louis falou, descendo da caminhonete e batendo forte a porta que já não estavam tão boas.

– O que está fazendo aqui? – Jess perguntou, erguendo as sobrancelhas. Ele não estava nem um pouco feliz com a presença de Louis.

– Vim ver a Mag. – Louis respondeu, me olhando logo depois. – Seu irmão atendeu o telefone e disse que estava na festa da escola.

– É... eu estava... – Não conseguia falar direito.

– O que houve com você? – Ele questionou. – Está molhada. – Seus olhos agora estavam em Jess. – Eu consegui alguns dias em liberdade, decidi passa-los com você. – Ele me encarou. – Mas vejo que não está disposta...

– Como achou minha casa? – Jess quis saber.

– Depois de não encontrar Magda na festa, eu vim pra cá. Não estava pensando em encontra-la aqui porque já está tarde... É... então achei essa casa e agora aqui está ela. – Louis sorriu.

Jess entrou na minha frente e colocou as mãos em meu rosto. Ele me deu um beijo leve e acariciou minha bochecha.

– Senti que estava perto, então liguei pra Hanna. Ela vai me ajudar com isso e você vai ficar aqui. – Ele sussurrou e depois olhou para o lado, como um gesto pensativo. – Eu não gosto desse cara, mas você não quer ficar sozinha. Agora tem ele como companhia. – Jess depositou um beijo em minha testa. – Não sabe como é doloroso para mim ter que deixar você com outro cara na minha casa. – Seus olhos se fecharam por alguns segundos e então se abriram, seus passos se direcionaram para Louis e ele deixou algo bem claro. – Não chegue perto de nenhum quarto. – Jess disse, jogando as mãos no peito de Louis e saiu.

– Para onde ele vai? – Louis perguntou a mim, confuso.

– É uma longa história. – Falei abrindo a porta do casarão de Jess. Louis veio logo atrás.

– O que houve com você?

– Eu... Eu pulei aquela ponte maldita... – Não era mentira. – Você sabe, eu gosto de desafios...

– Eu não estou entendendo nada. – Louis disse. – É tarde, foi aquele babaca que te fez fazer isso?

– Não... Não, não foi ele... Não o chame de babaca. - Eu estava tremendo por dentro, meus pensamentos estavam em Jess e Philip, torcia para que Jess conseguisse ganhar dessa vez. – Você pode ficar aí. – Falei apontando para o sofá de couro. – Eu volto já.

Subi as escadas de madeira antiga e forte, a casa era velha mas muito bem conservada. Pelos corredores quadros enfeitavam as paredes e o piso de madeira brilhava. Tudo estava em seu devido lugar, Jess era organizado e mantinha tudo tão limpo e bonito.

Jess havia me levado uma só vez em sua casa. Ele me mostrou tudo, cada canto e centímetro da casa, inclusive o seu quarto. Nada aconteceu nele, mas ambos queríamos que acontecesse, porém eu acabei estragando o clina no sofá da sala. Se tudo fosse diferente, eu teria experimentado seus lençóis macios em sua cama de casal.

A cada vez que eu conseguia estar nas intimidades de Jess era como se fosse a primeira vez. Ele era reservado demais, mesmo se abrindo para mim como podia, ele parecia esconder muitos segredos, isso era excitante e estranho ao mesmo tempo. Mas eu gostava do estranho.

Tirei minhas roupas molhadas e as pendurei. No banheiro, toalhas limpas e macias estavam dobradas em prateleiras embutidas. A água quente batia em meu corpo me deixando mais calma. Era como se ela levasse todas as lembranças ruins, todas as preocupações e tudo mais que precisava sair de mim. De banho tomado, eu me enrolei em uma dessas toalhas e saí em direção ao guarda-roupas de Jess.

A madeira escura e de uma qualidade esplêndida escondia suas roupas. Roupas que cheiravam a tremenda masculinidade de Jess, a masculinidade mais insana e mais perfeita que eu havia conhecido. Perder Jess seria um caos em minha vida.

Abrindo as portas, puxei uma camisa preta de mangas longas, a única coisa que consegui achar que tampava tudo, até mesmo minhas nádegas. Não tinha nenhuma bermuda, apenas calças jeans. Vesti a camisa enorme e tentei deixar minha calcinha o mais seca possível. Consegui achar uma manta, que aliás, cheirava como velha.

Descendo as escadas, encontrei Louis no mesmo lugar que havia pedido para ele ficar. Enrolada na manta, eu me sentei ao seu lado e suspirei forte e longamente. Passamos por alguns minutos de silêncio até que eu decidi quebra-los.

– Você está bem? – Perguntei, com a voz calma e baixa.

– Você não foi me ver uma só vez. – Ele soltou. Louis estava chateado, mas da última vez que o tinha visto, foi quando tivemos uma briga.

– Achei que não iria gostar de me ver.

– Porque não gostaria?

– Você não estava feliz comigo, dá última vez que te vi, nós brigamos. – Lembrei-o.

– Já tivemos tantas brigas, e você decidiu me abandonar nessa. – Ele sorriu de canto, um sorriso sem humor.

– Me desculpe, mas eu não podia simplesmente chegar em você e explicar algo que nem era necessário explicar. Que eu nem fazia ideia de como explicar. – Disse, tentando me defender. – Você disse que gostava de mim e que o Jess...

– Esqueça. – Ele me cortou. – Está tudo bem agora, eu estou melhor, não precisamos discutir isso.

– Vai ficar muito tempo ainda? – Perguntei, para quebrar o clima.

– Um mês, talvez. – Ele falou sem certeza.

E novamente o silêncio tomou conta da sala, mas dessa vez que o quebrou foi Louis.

– Preciso de um abraço. – Ele disse, sem jeito me fazendo rir com a cena.

– Tudo bem. – Falei me aproximando, meus braços saíram da manta e contornaram seu pescoço. Suas mãos pousaram em minhas costas levemente. – Eu sinto tanta falta de você e dos meninos. – Sussurrei.

– Eu também, Mag. – Ele disse beijando meu rosto e se afastando ele me estudou por um tempo. – Você não fica nem um pouco legal com essa roupa. – Sua expressão de nojo me fez rir.

– Foi a única mais decente que encontrei. – Me cobri novamente com a manta. – E eu não achei tão mal.