Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 31
- Capítulo 31




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– Interessante. – Um homem de moletom se aproximou junto com o grupo, ele estava mais perto de mim do que os demais. O capuz do moletom tampava metade de seu rosto, eu via apenas seus lábios. Ele parecia ser jovem e me lembrava alguém que eu já havia visto. A voz dele estava rouca, o que me assustava ainda mais pelo tom que o deixava mais severo. – Finalmente conseguimos. – Ele segurou o capuz com sua mão, e o puxou para trás. O rosto de Philip apareceu. – Surpresa? – Ele perguntou, em um tom divertido.

Jess Havia me dito que Philip não era confiável, mas eu não me importei muito, claro que eu deveria acreditar em Jess, mas nunca imaginei que Philip pudesse ser alguém tão perigoso, ele era um garoto metido, cheio da grana, graças ao seu pai Thomas, ele tinha tudo o que desejava.

– Oh... – Ele deu mais um passo para minha direção e abaixou um joelho até o chão, chegando mais perto. – Não pode falar. – Ele sussurrou, passando seus olhos em minha boca que estava tampada por uma fita. – Eu deveria te deixar assim por mais tempo, porém, quero saber o que tem a dizer. – Ele puxou a fita com força, o que me fez soltar um gemido de dor. – Desculpe. – Falou irônico.

– Teve tanto tempo para fazer isso, e só hoje conseguiu? – Ri sem humor. Eu queria que ele soubesse que não tinha medo dele, parte do meu medo havia ido embora quando eu vi que ele era quem liderava a caça a minha pessoa. – Você é tão fracassado assim?

– Há-há-há. – Ele soltou, e deu-me um tapa no rosto, no mesmo lugar em que Eliel havia cortado, o curativo ainda estava lá. – Prefiro você calada. – Ele falou com a voz dura e se levantou rapidamente.

– Seu covarde. – Falei me segurando para não chorar de dor, não estava afim de me sentir fraca em sua frente.

– Vamos logo ao nosso assunto. – Philip puxou uma cadeira de bar velha feita de metal que estava do lado de um container cheio de peças. – Respondendo a sua pergunta... – Ele parou de falar enquanto se sentava na minha frente, com as pernas bem separadas uma da outra e com um dos braços apoiado nas costas da cadeira ele me observou e então continuou. – Eu tentei, juro que tentei. – Ele sorriu. – Mas você não me dava abertura, não me dava confiança, e eu precisava disso. – Ele se ajeitou na cadeira, se inclinando para frente apoiando seus cotovelos nos joelhos e me olhando nos olhos. – Já que comigo não aconteceria, eu decidi esperar e planejar algo que não falharia, como o que está acontecendo agora. – Ele olhou para Abgail, que estava atrás de mim, amordaçada e presa por cordas. – No caso dela, eu só quis guardá-la para você lembrar que por sua causa, ela estaria sofrendo ou morta. Matamos os funcionários da lanchonete, eles não serviam pra nada mesmo. – Ele fez careta. – Se você estivesse lá, eles teriam uma companhia a mais abaixo de sete palmos de terra. – Ele sorriu, me encarando com seu olhar duro e sério. – Jess. – Ele falou, e logo me lembrei que Jess poderia estar em um mal estado, ou até mesmo morto, eu não sabia e tentei não demonstrar minha preocupação, mas foi difícil. – Jess, o traidor. – Ele coçou o queixo. – Ele sempre estava por perto quando as coisas começavam a ficar bem. Ele era um estorvo. – A palavra “Era” me fez gelar, e se eles haviam machucado Jess para valer? Minha preocupação estava visível agora e Philip parecia notar.

– Onde ele está? – Perguntei, com um pé atrás, eu não sabia se ele falaria a verdade. Demônios eram amantes da mentira e do pecado. – Onde ele está? – Repeti, ainda mais nervosa.

– Vamos deixa-lo por último. – Philip respondeu.

– Por que isso? – Comecei. – Acabe com isso logo. – Falei sem pensar, eu não queria morrer, não mesmo, mas eu estava perdendo as esperanças, depois de ter dito aquilo, ouvi Abgail fazer sons de desespero.

– Você está assustando sua amiga. – Philip falou.

– Não precisa dela, deixe-a ir embora, e acabe logo comigo.

– Não. – Ele gargalhou. – Eu não quero acabar com você, não agora.

– Quando então? – Perguntei com raiva na voz. – É isso que você quer? – Perguntei, sem esperar que ele respondesse eu mesma dei a resposta. – Ah, claro. Demônios. – Ri, quase chorando. – É isso que vocês fazem, brincam com as pessoas as usam como um fantoche.

– Por que você não acha isso de Jess? – Philip pareceu mais nervoso. – Não é assim que funciona. – Sua voz aumentou o volume e sua respiração estava mais forte e rápida. – Ele não deveria sentir nada, nenhum de nós devem sentir algo por vocês seres desagradáveis e inúteis. – Ele se aproximou. – Jess é como nós, ele não deve sentir amor. – Seu rosto estava mais perto do meu, e pude ver seus olhos ficarem negros por inteiro, do mesmo jeito que vi quando Jess quase matou Eliel. – Por que ele? – Philip perguntou, em voz baixa.

Então entendi o que estava acontecendo. Os demônios, como disse Jess sobre ter tido uma vida normal, eram humanos em suas vidas anteriores a vários anos atrás, e com tantos pecados e erros eles foram diretamente mandados ao inferno, o que os deixaram ainda mais severos e sem sentimentos bons. O tempo no inferno fez com que eles conseguissem tirar todo o tipo de valor que um ser humano tinha. Entendi o lado de Philip quando ele se deixou mostrar o que ele realmente estava tentando dizer, ele tinha inveja de Jess, demônios não deveriam amar e era por isso que os outros estavam a minha procura e a procura de Jess, mas Philip além de ver Jess como traidor, ele também tinha inveja, eu vi em seu olhar totalmente negro, uma chama de injustiça, ele se sentia injustiçado por não poder sentir o mesmo que Jess sentia, ele queria voltar a ter o que os seres humanos tinham, o que ele teve a muito tempo atrás e desperdiçou em uma vida cheia de pecados.

– Tragam ele. – Philip se levantou e passou pelos homens de preto, que o seguiram. – Quero que eles sofram juntos nesse último dia de vida que terão. – Philip desapareceu com os homens.

– Temos que tentar sair daqui. – Falei para a Abgail que logo assentiu com a cabeça. – Consegue chegar mais perto, podemos ficar de costas e tentar desamarrar a corda uma da outra. – Falei tentando me mexer também, enquanto ela fazia o mesmo.

Eu e Abgail conseguimos ficar de costas, os dedos dela tentavam desamarrar a corda enrolada em minha mão, ela parecia mais tranquila, porém seus dedos ainda tremiam. Abgail conseguiu desfazer o nó que prendia minhas mãos para trás, logo que senti minhas mãos soltas, eu dei alguns pulos ainda sentada e consegui me virar, minhas mãos começaram a trabalhar para desfazer o nó que prendia as mãos de Abgail, quando consegui, ela puxou a fita da boca e respirou pela mesma.

– Os pés. – Ela disse.

– Espere. – Ouvi um barulho, eles estavam voltando. – Volte, coloque a fita novamente, e mantenha suas mãos para trás. Farei o mesmo. – Voltamos a nossa posição. – Não deixe que eles percebam. – Falei baixo, já avistando dois homens segurando Jess pelos braços. Philip não estava mais junto deles. Um dos homens soltou Jess, deixando apenas o outro o segurar, ele jogou Jess do meu lado e riu.

– Divirtam-se. – Ele falou com uma voz grossa e assustadora. – É por pouco tempo. – Então ele e o outro saíram e as luzes se apagaram.

Única coisa que fazia com que conseguíssemos enxergar era a luz da lua que passava pelas janelas do alto do depósito, Jess estava desacordado e eu estava tentando reanima-lo. Abgail me ajudou e em poucos minutos Jess abriu os olhos.

– Magda. – Ele me chamou, vi o brilho de seus olhos.

– Jess. – Minha voz era de uma garota chorosa. – Ah, meu amor.

– Você está bem? – Ele se levantou com dificuldade, se sentando, e eu ajudei. Eu me odiava quando Jess se preocupava mais comigo do que com ele mesmo. Era doloroso vê-lo daquele estado.

– Não se preocupe. – Falei beijando seu rosto, sentindo um gosto salgado de suor.

– Não esperava que Philip fosse o mandante. – Jess já estava mais consciente e logo ficaria bem, como ele disse, a dor não durava muito tempo.

– Você havia me dito que Philip não era confiável, como ele não poderia ser o suposto mandante? – Eu tinha meus motivos para acreditar que Philip era alguém normal, até pelo seu modo de vida, mas Jess tinha uma certeza absoluta de que Philip não era flor de se cheirar.

– Philip é novo na área. – Jess disse, isso era verdade, ele não estava aqui há muito tempo, lembrara que ele havia se mudado no ano passado e pegara birra do pai e dele ao mesmo tempo, mas não sei se isso era o motivo de Jess. – Não há demônios apenas aqui, e sim em várias partes do planeta, muitos conseguiram sair. – Ele continuou, olhando para mim e para Abgail enquanto falava. – Quando o vi pela primeira vez, imaginei que fosse um de nós, mas depois tudo começou a ficar estranho, eu andava com vários demônios e de repente eles começaram a se afastar e um clima estranho surgiu. – Ele olhou para meus pés. – Vamos tirar isso. - Ele começou a desamarrar o nó.

– E como ele soube de você? – Perguntei. – Como ele soube de nós dois?

– Não sei. – Ele respondeu, jogando as cordas longe. – Só sei que ele é perigoso, e as coisas vão ficar pesadas agora.

– O que? – Perguntei sem entender, para mim já estava tudo pesado a muito tempo. – Por que?

– Onde sua mãe está? – Jess perguntou, erguendo uma sobracelha.

– Nova Iorque. – Respondi. – Por que?

– Thomas está em Nova Iorque. – Ele falou. – Eu ainda estava consciente quando ouvi Philip dizer que o suposto pai estava em uma viajem emocionante em NY e estava bem acompanhado. – Ele segurou minhas mãos. – Acha que ela pode estar com ele? – Ele perguntou, olhando em meus olhos.

– Ah meu Deus. – Lembro de Philip ter dito na boate que o pai estava em NY, não pensei em nada no dia, até porque eu nem imaginava que ele pudesse ser esse monstro, mas eu odiava o pai dele, e ele próprio. Lembrei que minha mãe estava tentando um relacionamento com Thomas, e do nada ela recebeu uma oferta de emprego, e logo foi pra NY. Apesar de ela se mostrar tão preocupada, algo que ela realmente estava sentindo, preocupação em nos deixar. Ela topou muito rápido e eu não pude perceber. – Ele deve ter feito a cabeça dela. – Meus olhos arderam. – Precisamos fazer algo, ele pode matá-la, Jess... – Eu me desesperei.


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