Lisboa, 1986 escrita por sweetbitch, Agama


Capítulo 3
O Presente




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Logo após aquele encontro inesperado com o Kenneth não paro de pensar nele desde então. O jeito como ele fala comigo, seu olhar, o jeito como anda, sua voz, seu... aquele rapaz, nossa!

A tarde chega e estou à caminho da biblioteca como sempre. Como estou atrasada demais, não compro meu café como de costume na "Café com Ambrosia", fica pra mais tarde. Uma quadra antes da biblioteca, vejo um homem vendendo sorvetes debaixo de um guarda-sol num lugar que se não me falha a memória, antes era uma bomboniere. Chegando na biblioteca a Sra. White já estava me esperando, com suas típicas roupas claras. Sorrindo, ela se aproxima com certa euforia e me abraça, mal me afasto da demonstração afetiva, ela já começa a falar.

– Lindsay minha querida! Finalmente apareceu, tenho algumas notícias pra te contar... - ela fala com um suspense, que me deixa louca, assim como nos livros. -

– Okay, pode começar a falar.

– Bom, Lindsay eu estou pensando em me aposentar, e quero muito que você tome conta da biblioteca para mim, já que você conhece tão bem a minha biblioteca e tem um amor pelos livros que poucas pessoas tem, o Sr. Harold, o do dono da biblioteca, me pediu uma indicação de alguém que pudesse me suprir no meu cargo. E sem pensar muito, é para você que quero confiar meu posto e quero que cuide muito bem dela, com o mesmo carinho que você tem ao vim para cá. - ela fala, meio alegre e entristecida ao mesmo tempo -

– Bom, isso é muita coisa, mas se faz a senhora feliz, eu posso fazer. - Digo muito feliz, já que é o que eu gosto de fazer e, penso, seria um coisa muito bonita continuar o legado de tão amável pessoa quanto a Sra.White. –

– Obrigada Lindsay, sem você este lugar estaria um caos, sem contar que nossa biblioteca teve muito sucesso e só se expandiu graças a você e suas excelentes recomendações, muito obrigada! – Ela fala de um jeito tão apaixonado e emocionado que quase fico sem jeito.

– Tudo bem Sra. White, quando posso começar? - digo entusiasmada –


Logo após aceitar o meu novo suposto emprego, vou logo organizar umas prateleiras, e me empolgo tanto, que arrumo tantos livros que percebo que organizei três estantes inteiras, de duas seções diferentes. Quando olho para a janela principal, percebo que, pasmem, já está anoitecendo. Saio correndo com certo desespero, dou um "tchauzinho" para a Sra. White, que estava a um bom tempo ajeitando a mesa principal e tirando suas coisas de sua estante. Minutos se passam depois que sai, começando a chover logo em seguida. As gotículas de chuva começam aos poucos a aumentar e deixar meu cabelo, antes liso, completamente molhado, tal como minha roupa. Saio correndo pra ver se chego em casa rápido, o que não aconteceria. Me sinto totalmente indefesa, até que escuto uma buzina na rua. Certamente não era pra mim, então começo a correr instintivamente mais rápido. Porém, a buzina aparece de novo, desta vez mais perto de mim. Resolvo me virar para ver quem raios estava buzinando num momento como esse e me deparo com Kenneth , pra variar. Eu não queria que ele aparecesse naquele momento em que eu estava toda molhada, desarrumada e desamparada, mas tudo bem.

– Ei Lindsay! Quer uma carona? - ele diz sorridente como sempre -

– Oi! Pode ser, não estarei te atrapalhando? – Sei que estava toda encharcada e não era hora pra charminhos, mas dane-se, saiu no automático.

– Claro que não, entra aí, meu carro chegou hoje, finalmente chega de táxis - rimos muito do comentário e resolvo entrar no carro. Depois de muita conversa e toalhas para me enxugar, finalmente decido que está na hora de voltar pra casa. –


Apesar de estar feliz por ele ter conseguido o carro dele, estou um pouco triste afinal, a gente não vai mais poder dividir um táxi, mesmo sabendo que é um pensamento idiota e irracional, não consigo me desfazer dele. Após um tempo de silêncio, Kenneth fala:

– Lindsay, vamos até o apartamento que estou, preciso te dar uma coisa – ele fala nervoso, mas consegue esconder bem. Fazendo esse suspense, dificilmente me esquivaria, então concordo em ir, afinal fiquei muito curiosa -

Depois de uns trinta e cinco minutos, chegamos ao apartamento dele, subimos sete andares de elevador e enfim chegamos, entramos e então sentei-me no sofá. Ele trouxe-me um vinho que dividimos e continuamos jogando conversa fora até tarde, então eu o interrompo;

– Kenneth, me desculpa mas tenho que ir já está tarde - digo entristecida, pois queria poder ficar mais. De verdade. -

– Nossa, nem notei me desculpe, mas antes tenho que te dar uma coisa muito especial - ele fala sorrindo e vai em direção ao que eu acho que deve ser o seu quarto - Lindsay, eu sei que te conheci a pouco tempo, mas eu quero que dar esta pulseira, que pertenceu a minha mãe, que faleceu a uns oito anos, e quero que fique com você, pois mesmo com o pouco tempo te conheço, acho você muito legal e divertida. – Ele pensa em falar algo, mas pelo visto desiste, até que finalmente decide falar. – E eu gosto de você também.

– Uau! Não tenho nem palavras, mas não posso aceitar, deve muito especial pra você dar para uma pessoa qualquer. Você também é especial para mim, e posso dizer que sinto o mesmo – digo sorrindo (A pulseira era linda, tinha três pingentes, com um coração, um sol com uma pérola no meio do sol e outro coração do lado) -


– Lindsay, você não é uma pessoa qualquer, é uma belíssima mulher, que conheci em um táxi, que tem o cabelo mais lindo que eu já vira, e quero que fique com a pulseira. Lamento, mas não aceito não como resposta - ele ri

– Tudo bem, eu aceito, mas de fato agora tenho que ir - dou-lhe um abraço e o olho nos olhos, e sou surpreendida por um beijo dele, e aceito o beijo e continuo -

– Me desculpe, não foi minha intenção mas não pude evitar, eu gosto muito de você e agora que você está com esta pulseira... está mais linda ainda e quero que tenhamos um encontro de verdade, amanhã ás oito, tudo bem para você? - ele sorri, empolgado -

– Por mim tudo bem, então até amanhã, pode ir me buscar na biblioteca, até mais! - dou-lhe um beijo na bochecha e saio -

Depois desse presente, já estava difícil parar de pensar nele, agora se tornou impossível. Quando estou dormindo, ele é o único sonho que permeia meus devaneios noturnos e a coisa que afasta de mim os pesadelos. Mas tudo bem é só uma paixonite. Ah, saco, quem eu quero enganar? Realmente os humanos não são tão estúpidos quanto pensava.


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