Jessica limpou as lágrimas de seu rosto e resolveu agir, Jack sangrava muito enquanto lutava para se desprender das mandíbulas do mutante que perfuraram o seu ombro. “Saia de cima dele!” gritou Jessica enquanto jogava uma pedra nas costas da aberração. O baú ambulante virou-se na sua direção e largou Jack, que perdido uma parte de seu ombro e agora estava gemendo no chão.

O monstro estava andando na direção de Jessica e a cada passo a garota sentia as pedras ao seu redor tremerem, a garota estava desarmada e a segundos de ser mastigada quando de repente um garoto com um tridente surge do filamento de árvores ao norte. Kai não sustentava a ideia de deixar aqueles tributos morrerem em sua frente, ele não daria a Capital o privilégio de matar dois tributos com sua mascote de três metros.
Kai avançou com seu tridente e investiu com velocidade perfurando a panturrilha do mutante, que gritou em agonia e virou-se reagindo com uma súbita cotovelada em Kai que sentiu a força grotesca do monstro. O garoto foi afastado como se fosse uma pequena mosca, raspando suas costas no chão até bater em uma arvore a alguns metros de distancia deixando Kai atordoado e ferido.

O monstro olhou para os lados, ignorando Jessica e partiu para o sul da floresta recuando. Era como se tivesse recebido alguma ordem superior para poupar os tributos. Jessica agora percebia que a batalha havia feito rastros de sangue e buracos por todos os lados, Jack parecia ter perdido a consciência, caído ao meio aos destroços e galhos de árvores. Kai finalmente recuperou sua consciência e reparou que Jessica era uma dos tributos que estava sendo atacada. “Hey garota das cordas, fico feliz em ver você viva” disse Kai enquanto analisava os destroços e um garoto ferido. “Kai, nós estávamos te procurando e fomos atacados, me ajude a tirar o Jack de baixo dos galhos por favor.” Suplicava Jessica, ainda nervosa com o estado de vida de seu companheiro. “Não ouvimos nenhum tiro, vamos leva-lo até a praia.” “Eu tenho um acampamento lá.” O casal pegou o garoto, cada um levantando Jack por um lado e o arrastando até a praia. Enquanto percorriam a floresta, um rastro de sangue os seguia a cada passo, Jack estava perdendo muito sangue. “Segure firme cara, acho que deixei algumas bandagens no farol.” Disse Kai reparando os gemidos constantes de Jack que estava em extrema dor.

O hino da capital finalmente começou a tocar enquanto Thread apagava a fogueira. Era a terceira noite, e ele não havia encontrado um tributo sequer após o Banho de Sangue. Thread se sentia confuso, não sabia se isso era um bom sinal. Se a Capital não apreciasse a posição de um tributo, eles fariam algo para atrai-lo para perto de um tributo, mas já faziam 72 horas e nada. Thread sentia-se como não estivesse sozinho. A floresta era extensa e percorria a arena inteira, não seria uma surpresa se encontrasse algum tributo nas proximidades. Certamente iria ser um alvo fácil, ele ainda possuía o arco e flecha em mãos desde o começo dos Jogos. Thread decidiu que pela manhã iria rondar a floresta e caçar alguns tributos, afinal ele queria ganhar os Jogos para acariciar sua filha pela primeira vez o mais rápido possível. Estava se perguntando todas as noites desde que os Jogos começaram como a garota se pareceria, com ele ou a mãe, talvez os dois. Os seus pensamentos foram interrompidos quando Laurel do Distrito 3 o encarou com os olhos tímidos. “Então essa foi o tiro que ouvi hoje.” Thread sentia-se triste, ele sabia que a lista de pessoas que realmente mereciam sair vitoriosos segundo ele, estava ficando cada vez mais curta. “Qualquer pessoa, menos os carreiristas.” Murmurava ele para as estrelas, desejando que os patrocinadores e idealizadores o ouvissem e fizessem de tudo para que o bem prevaleça. Mas novamente, o que significava uma boa pessoa? Era possível que tal coisa existisse ainda em meio a tantas mortes?

Cada tiro de canhão que Thread ouvia fazia com que ele se sentisse mais perto de sua família, mas ao mesmo tempo sabia que a cada dia na arena tomava decisões que lentamente o tornava outra pessoa. Uma pessoa que seus familiares não reconheceriam quando retornasse ao Distrito 8. “Estou voltando filha, por você" murmurou.