This Isn't A Text About Glasses escrita por The Black Cat, LittleAliceTrain


Capítulo 1
''This isn't a text about glasses''


Notas iniciais do capítulo

Heey ho! Esse é mais um texto daquele desafio literário que eu estou participando. Quero review pra saber se eu estou indo bem, ok?Esse texto é do desafio de alternar P.O.V, mas eu acho que também se encaixa em humor. haha
=*.*=
Bjs



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P.O.V da garota dos óculos remendados:

Contrariando um pouco esse titulo, tudo começa por causa dos meus malditos óculos velhos e com as lentes todas riscadas que quebraram em um acidente (um tombo) que me fizeram marcar um horário num oftalmologista o mais rápido possível (o que demorou mais ou menos uns dois meses de arrolação e de óculos remendados com super bonder).

Mas é claro que no dia tudo foi uma merda. Levantei e tava nevando muito lá fora, tanto que as janelas estavam brancas por causa da neve grudada e é claro que o meu casaco estava sujo e eu tive que pegar o da minha mãe que era três vezes maior que eu, e claro que eu tinha esquecido minhas botas do lado de fora de casa e que elas acabaram enterradas na neve. Ás sete e meia da manhã de uma terça-feira acabei saindo de casa com um casaco de pele falsa que tinha uma tom ridículo de azul, calças de moletom, meu all star vermelho surrado que não cumpria a função de esquentar os meus pés e pra piorar, a unica meia razoavelmente grossa que eu achara era listrada de amarelo e roxo.

O aquecedor da clinica de olhos Eyesclean estava ligado no máximo e as janelas estavam embaçadas e eu comecei a soar assim que pisei lá. A atendente de meia idade tinha uma cara impressionante de tédio e não parecia se importar que todo mundo na salinha de espera verde limão florescente (sim, essa era a cor das paredes) estavam soando por causa do calor do aquecedor, que alias, fazia um barulho dos infernos.

Me sentei numa cadeira que era incrivelmente desconfortável. Os assentos eram de plastico vermelho desbotado e estavam dispostas em circulo em volta da sala, uma mesinha de centro ocupava, ironicamente, um dos cantos da sala e em cima dela tinha um monte de revistas velhas e jornais tão velhos quanto. Depois do que se pareceram séculos no inferno, uma espécie de enfermeira sorridente demais e com maquiagem demais nos olhos veio me aplicar um colírio que ardia como os diabos e que depois de um tempo fez minha visão embaçar terrivelmente, e foi assim, com a uma vista de merda que eu vi um garoto entrando na salinha com uma bolsa térmica laranja pressionada em dos olhos e com os óculos em frangalhos pendurados na gola do suéter preto debaixo do casaco.

P.O.V do garoto dos óculos em frangalhos:

Eu adoro quando amanhece nevando, mas não gostei nem um pouco daquela terça-feira de manhã. Meu irmão tinha aparecido no meu apartamento com um fardo de cerveja e uma garrafa de vodka em plena segunda-feira a noite. Ele tinha terminado com a namorada idiota e claro que tinha que me meter no meio da dor de cotovelo dele.

Ele bebeu metade do fardo de Heineken enquanto eu bebericava um pouco de refrigerante misturado com vodka. Depois disso ele começou a chorar feito um bebê reclamando de como a namorada dele era ruim. Tentei consola-lo e esse foi meu maior erro. Disse que a namorada dele parecia o Madimbu se ele usasse uma peruca ruiva e que não sabia por que ele aguentava ela e, incrivelmente, ele se sentiu ofendido e veio pra cima de mim. Acabei com os óculos esmigalhando e um olho roxo. Ele saiu do apartamento levando o resto da cerveja e me deixou com quase dois litros de vodka barata.

Quando acordei meu olho tava pior, e minha visão era um grande borrão de três graus e meio de miopia. Nem uma supercola arrumaria a bagunça de lentes rachadas e pernas tortas que antes eram meus óculos. Tentei sorrir por causa da neve, mas isso fazia o inchaço arder mais ainda. Depois de ligar pra clínica de oftalmologia recebi uma ligação da minha mãe me orientando sobre como eu deveria me vestir pra sair na neve e decorreu um discurso enorme sobre os perigos de não se agasalhar bem. Acabei saindo de casa com um suéter azul Marinho horrível que de tanto azul, parecia preto que ganhara da minha mãe e um casaco de couro por cima, botas pra neve, calças que pareciam de plástico e claro, uma bolsa térmica laranjada com água quente que manti pressionada no rosto durante todo o caminho. Entrei na Eyesclean, que tinha um sininho antiquado na porta e uma baforada quente atingiu o meu corpo, o aquecedor devia estar no máximo e aquele lugar verde florescente (as paredes eram verde florescente!) parecer um pequeno inferno em um paraíso congelado. Tirei a bolsa do rosto e fui até a recepção: a atendente não fez nem questão de olhar na minha cara e nem de perguntar meu nome quando me entregou um formulário enorme pra preencher. Me sentei numa das cadeiras de plastico vermelha de frente pra uma garota vestida de uma forma ridícula, até um tanto cômica para aquele lugar: casaco azul enorme e meias coloridas. Ela parecia estar meio avoada, espremendo os olhos para enxergar mas não tirava os olhos de cima de mim...bom, de cima dos meus óculos quebrados. Eu também não conseguia vê-la direito, mas dava pra ver que era loira e que o nariz dela estava vermelho por causa do frio lá de fora. Ela me deixou encabulado pra caramba, mas eu não desviava os olhos das meias coloridas dela.

P.O.V da garota de meias coloridas:

O Garoto entrou e se sentou numa cadeira na minha frente e minha visão tava péssima e eu não conseguia ver o rosto dele com nitidez, mas dava pra notar um baita olho roxo e ainda tinha os óculos quebrados pendurados na gola. Eu devo ter ficado um tempão olhando pra ele por que depois de um tempo ele também estava me encarando, eu tentava olhar pra qualquer coisa além dele, mas as únicas outras pessoas na sala eram a recepcionista rabugenta e uma velhinha encolhida em um canto segurando a bolsa com as duas mão como se tivesse medo de ser assaltada. Tinha um quadro ''expressionista'' atrás da cabeça dele, mas a pintura mais parecia lama misturada com tinta laranja. Ele era o único ponto agradável de se olhar naquele cubículo verde limão, então, nada mais normal que encarar um ser humano novo que você nunca viu na vida come se fosse um lobo olhando a próxima refeição... não que eu fosse um lobo e estivesse faminta... Ah, deu pra entender!

A mesma enfermeira apareceu e aplicou o colírio no olho normal do garoto e depois pediu pra velhinha a acompanhar pra dentro do consultório. Ficamos eu e ele na sala por um tempo constrangedor até a velha sair pela porta lateral da sala do oftalmo e a enfermeira super maquiada me chamar. Foi uma consulta normal, tirando o fato de que o ''médico'' era desnecessariamente simpático demais. Sai do consultório uns dez minutos depois com a visão ainda mais embaçada e com meio grau a mais de miopia em cada olho. Me dirigi direto pra sala ao lado aonde tinha uma plaquinha torta escrito ''Financeiro" que, aparentemente era aonde eu devia pagar a consulta. A sala era um pouco menor e as paredes tinham uma cor normal e, graças aos céus, tinha um ar condicionado ligado (o que seria muito estranho num dia de neve se não fosse o aquecedor infernal da outra sala)! A velhinha que se consultara antes de mim ainda estava lá procurando alguma coisa na bolsa enquanto a mulher do financeiro esperava pacientemente. A velha acabou achando o cartão de créditos, mas tinha esquecido a senha e teve que fazer umas quatro ligações com o telefone da atendente pra finalmente colocar a senha e ir embora. Meu pagamento foi bem rápido, sem enrolações e papo jogado fora. Sai da sala e o garoto de suéter preto passou por mim com a bolsa laranja nos olhos e me dirigiu o que pareceu um sorrisinho muito borrado e aparentemente envergonhado, mas lindo mesmo assim. Ele tinha um cheiro bom de café da manhã com perfume amadeirado. Sorri de volta e sai da clinica e fui atingida mais uma vez pela mudança brusca de temperatura.

P.O.V do garoto do sorriso borrado:

A enfermeira me aplicou o colírio no olho bom: um maldito colírio que ardia como fogo e que fez a minha visão embaçar miseravelmente! A velha não demorou pra sair da sala de consulta, mas durante esse tempo perdurou um silêncio muito, muito constrangedor entre eu e a garota que ainda continuava me encarando e, eu como qualquer ser humano normal(?) fiquei encarando ela de volta. A velha voltou junto com a enfermeira que carregou a garota junto com ela e eu acabei sozinho olhando pra sala de pagamento onde a velhinha procurava desesperadamente alguma coisa na bolsa, provavelmente o cartão de créditos. Folheei uma ou duas revistas que falavam da vida de famosos alheios se divertindo em algum lugar absurdamente caro, ou indo a praia, ou com os filhos de caras rabugentas fazendo propagandas forçadas de produtos caros de mais para qualquer ser humano com o minimo de bom senso. Não demorou quase nada a garota saiu do consultório e eu, nesse ponto, não conseguia enxergar nada, nem com o olho bom. A enfermeira que tinha uma maquiagem azul ridícula nos olhos e um batom vermelho ridículo nos lábios sorridentes me chamou e eu entrei na salinha lateral do consultório. O Doutor parecia absurdamente animado e disse: "Isso ta feio né, amigão'' e eu "é, ta sim'' e ele ''Okay, amigo, vamos arrumar essa bagunça." Amigão foi ótimo e aquela bagunça, por um acaso, era a minha cara... Nada simpático, doutor. Meu grau não aumentou, mas meu olho inchado estava uma merda total, quase inflamando. O Oftalmo me garantiu em meio a piadinhas a que eu me obrigava a rir, de que eu não tinha nem a remota chance de ficar cegueta se usasse os colírios de maneira correta: Sai da salinha com uma receita pra novos colírios (três, no total) e outra para novas lentes. Assim que sai a garota de casaco azul e cabelos loiros, com o rosto vermelho por causa da neve la de fora saiu da sala de pagamento ao lado, eu tava com a bolsa térmica na cara e eu só consegui dar um sorrisinho de vergonha pra ela, o que deve ter saído meio como uma careta de dor por causa do inchaço. Paguei um preço alto demais por só quinze minutos na sala do consultório, mas a atendente morena ficava flertando comigo de um modo nada discreto, o que fez valeu um pouquinho aquela manhã horrível.... bom, ela e a garota colorida.

Por um acaso, quando sai na calçada congelante do lado de fora da clinica, a garota ainda estava ali brigando com emaranhado de fios brancos que eu pensei ser fones de ouvido. Ela estava bloqueando o meu caminhos, mas não tive coragem de interromper a briga dela e então só me escorei na parede gelada, apertei o casaco mais contra o corpo e esperei. Ela tava perto o suficiente pro vento trazer o cheiro dela até mim, um cheiro bem doce e suave ao mesmo tempo. Eu pretendia passar em uma ótica e resolver aquele problema com meus óculos acabados bem rápido, mas algum tipo de magnetismo me prendi àquela calçada... àquela garota.

P.O.V da garota de casaco azul e cabelos loiros com a cara vermelha por causa da neve lá de fora:

Enrolei mais o casaco enorme contra o corpo antes de começar a procurar pelo meu ipod dentro da bolsa. Achei, mas os malditos fones brancos estavam totalmente emaranhados como se tivessem brigando em um ringue de UFC por horas dentro da mochila. O vento indecentemente gelado atingia meu corpo todo e me fazia tremer quando secava delicadamente meu corpo soado por causa do efeito estufa Eyesclean. Eu, pra piorar tudo mais ainda, tinha esquecido meu gorro em casa e minhas orelhas congeladas já deviam estar vermelhas como minhas bochechas, mas não sei se seria melhor sair com um gorro amarelo berrante naquela neve totalmente branca enquanto eu vestia um casaco azul e meias coloridas. Ouvi o sininho tocar quando a porta atrás de mim se abriu, mas nem me virei pra ver quem era porque, incrivelmente, reconheci o cheiro de panquecas! Minha luta com os fones se intensificou porque eu não conseguia me concentrar no emaranhado branco em minhas mãos, o cheiro me distraia muito. Esperei o garoto passar por mim pelo que pareceu um infinito de tempo, mas ele não passava. Eu poderia pensar que ele tinha tomado outro caminho, mas o cheiro dele ainda continuava perto demais de onde eu estava. De súbito, comecei a rir, simplesmente não aguentei aquele joguinho. Desisti da briguinha e guardei os fones de volta na mochila e dei uma volta por meu próprio eixo, como os planetas costumas fazer, só pra ver o garoto com a cabeça baixa rindo também. A minha visão já tinha voltado e vi que o suéter dele era na verdade azul escuro por baixo do casaco, a bolsa térmica estava segura nas mãos deles e o inchaço parecia menor e o arroxeado mais clarinho. Ele olhou pra mim e examinou o meu casaco, depois minhas meias e voltou a rir. Eu realmente não podia culpa-lo, eu estava ridícula vestida daquele jeito. Rimos até o riso se tornar uma gargalhada uníssona, depois respiramos fundo os dois e ele me lançou um sorrisinho torto e se aproximou.

–Humm... casaco maneiro - disse ele zombando de mim e apontando o casaco azul gigante - gostei das meias também - completou.

– Humm... belo olho roxo - digo em meio a uma risada - gostei desse treco laranja ai também - falo apontando pra bolsa térmica.

Ele olha pras próprias mão e franze a testa como se não se lembrasse da bolsa e nem do olho roxo. Ele olha pra mim de novo e me encara de novo, pela segunda vez na mesma manhã, se bem que quem começou a encarar ele na sala de esperas verde limão florescente fora eu.

– Então, quer ir a uma ótica comigo?

P.O.V do garoto com um belo olho roxo:

– Então, quer ir a uma ótica comigo? - Perguntei. Ela me olhou me estudando rapidamente, mas aquela não fora uma pergunta estranha pros dois, ambos tínhamos óculos quebrados e uma visão horrível no momento.

–Só se a gente parar em um lugar quente... - ela parou - não, um lugar morno antes - completou ela.

Pensei naquele aquecedor ligado no modo ''vizinho do capeta'' e concordei com ela.

–um café parece ótimo! -

–Não gosto muito de café, na verdade - ela diz

–Sério? Detesto café também, se bem que tem uma Starbucks na esquina que não seria de todo mal agora, né - sorrio pra ela - eu posso te pagar um daqueles bolinhos... como se chamam?... muffins, não é?

–Acho que seria ótimo! - Ela me responde com o maior e mais lindo sorriso do mundo.

''Acho que seria ótimo'' são ou não são as quatro palavras mais lindas do mundo???

Eu não sabia que alguém era capaz de se apaixonar a primeira vista sem se ver pela primeira vez. E acho que esse foi o nosso caso, eu sem óculos e ela com meio grau de miopia faltando em cada um dos olhos castanhos que seguiam a mesma linha do sorriso que puxava as bochechas coradas para cima formando o rosto em que eu fiz questão de de me perder pra sempre.


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Notas finais do capítulo

Review?

Thanks, Black Cat.



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