Yuri estava deitado na cama de Louise, em seu colo. Tantas coisa passavam por sua cabeça que não sabia direito o que falar. Talvez Louise também não soubesse, pois olhava fixamente para a parede. Era bom para os dois saber que tinha alguém com quem podiam ficar assim, quietos, sem precisar dizer nada e sem que com isso o clima se tornasse “estranho”.

—Como você acha que será amanhã? -perguntou Lou quebrando o silêncio.

—Não sei, mas acho que estamos chegando perto de um fim. -Yuri sentou-se abruptamente. -Na última prova três foram embora. -ele agora a encarava seriamente. -Lou, você sabe, eles não querem um.

—Yuri, eu não sei de nada. -sua voz era dura. -E sabe porquê? Porque você não me fala.

—Eu não posso... -ela não fazia ideia do quanto isso pesava sobre ele.

—Você não pode ou você não quer? É sério Yuri eu to de saco cheio.– a maioria não sabia de nada, achava que era apenas um acampamento para melhorar o comportamento com um prêmio no final. Ela sabia que não era isso, mas também não sabia o que era. -Será que você ainda não confia em mim para isso? Sério o que mais eu tenho que fazer para você entender que não sou mais a mesma menina mentirosa e ladra que você conheceu?

—Nada. Eu acredito em você, é a única pessoa aqui que eu gosto de verdade e no momento realmente a única com quem posso falar qualquer coisa, mas isso não diz relação somente a mim. -ele pareceu em dúvida por um instante antes de continuar. -Lou, nós estamos sendo testados de todas as formas possíveis, eles querem os melhores para formar uma espécie de equipe especial. A verdade é que nem seu sei de tudo, mas se entendi certo o mundo está em iminência de uma guerra, uma guerra de verdade. E os jovens são a esperança do mundo, sempre fomos.

Louise não sabia o que falar. Sabia que se tratava de algo mais importante, mas isso? Ela não estava pronta para participar ativamente de uma guerra. No momento tudo que queria era voltar para a França, não fazia nem questão de continuar a levar uma vida glamourosa como levava, mas uma ordinária já estava ótimo.

—Eu não quero isso. -disse Lou do fundo do coração.

—Eu também não queria no início, tudo isso me assustou. Por sorte eu tive algum tempo para refletir. Minha conclusão? De que adianta voltarmos se tudo que me disseram que está para acontecer de fato acontecer? Não estaríamos seguros em casa, muito menos quem amamos, nós podemos fazer algo concreto pelo mundo. Não me diga que você nunca quis fazer algo significativo na sua vida? Eu não sei quanto a você, mas eu estou dentro.

A menina se inclinou e deu um leve beijo nele.

—Então também estou. -mas ela não tinha tanta certeza.

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—Será que a gente pode conversar?

Camila não queria mais ter segredos com Samira. Depois do apagão de sua mente pode perceber o quanto ninguém sabia nada sobre sua vida ali. Havia uma enorme brecha nas suas memórias e ninguém sabia como fechá-la, todas as informações faltavam pedaços.

Samira concordou de bom grado e então Camila começou a falar. Falou mias uma vez sobre o que achava da relação de Philokrates com Angelo, não gostava de saber que os dois estavam juntos, ainda achava o menino grego um belo de um idiota. Falou também sobre sua relação com Hunter, explicou para ela sobre o que tinha acontecido hoje e como tinha o beijado do nada.

—O que você acha disso? -perguntou Camila esperando que a amiga dissesse que ela estava louca.

—Cams, eu acho que você está apaixonada e se for isso não tem nada que possa fazer seus sentimentos mudarem. -ao mesmo tempo que já esperava essa resposta não podia acreditar, nunca tinha gostado de alguém de verdade e o que sentia por esse menino era bem assustador.

—Sam eu acho que estou esquecendo de algo muito sério. -isso a vinha martelando desde que acordou, era uma informação primordial. -Ai que ódio!

O dia já estava escurecendo. Samira, Philokrates e Angelo pareciam estar num debate acirrado sobre algum tema que Camila não conseguia ouvir e levando em conta o quanto cada um era diferente, devia ser algo interessante de se ouvir. Do outro lado estava Malifa resolvendo algum tipo de quebra-cabeça deixado aqui, ela era um ser a parte, sempre foi reservada e pouco se sabia sobre a sua história de vida. Malifa nasceu na Nigéria e após a morte de seu pai se tornou agressiva com as pessoas, porém até o momento no entanto tinha se mostrado bem educada e calma. Mike não estava a vista, tinha ficado bem chateado com a saída da peguete dele.

Camila começou a divagar sobre as interações humanas e como eram algo engraçado. Simplesmente não são possíveis de serem evitadas, mesmo que esse não seja seu foco, mais cedo ou mais tarde você vai se envolver com alguém, há uma necessidade intrínseca de ter alguém em quem confiar, seja um melhor amigo ou um namorado.

—Sam! -chamou-a de longe.

Samira deixou os meninos avisando que logo estaria de volta.

—Você tem algum crush? -não sabia de onde tinha vindo essa sua curiosidade.

—Hm? O que deu em você amiga? -perguntou ela sem entender nada.

—Bateu essa curiosidade. Respondeu rindo.

—Sei lá, não preciso de ninguém agora, estou muito bem comigo mesma. -Angelo a chamou de volta. -Posso voltar? Estou no meio de um debate de vida ou morte.

Camila concordou com a cabeça. Queria ser assim, mas sempre se apoiou demais nos outros, seus amigos sempre foram seu porto seguro e agora tinha esse menino, Hunter, que ela sentia disposta a se entregar por inteiro.

Decidiu sair e ir atrás de Yuri, gostava de conversar com ele.

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—Camila? O que você tá fazendo aqui a essa hora? -perguntou Yuri com cara de cansado.

—Eu preciso da sua ajuda.

Os dois saíram e andaram até onde costumavam ir. Para a sorte dos dois Yuri não tinha perdido a memória.

—Eu vou falar, mas não me ache louca ok?

Camila contou sobre o quanto as coisas estavam misturadas em sua mente e o quão atordoante isso era. Falou também sobre Hunter e por último, mas não menos importante falou do pensamento que a vinha atormentando, da informação que não conseguia lembrar.

Yuri quase riu dela, tinha explicado tudo a pouco tempo para Lou e agora Camila vinha perguntando a mesma coisa, claro que ela devia saber já, mas a menina tinha perdido parte de suas memórias.

—Camila você entende o quanto isso é importante certo? -ela concordou com a cabeça. -Ótimo.

—O que você quer dizer com isso?

—Não sei. -Yuri não tinha perdido a memória, mas seus pensamentos também estavam bem confusos. -Acho que quero te avisar para ter cautela, não acho que eles vão medir esforços para conseguirem o que querem. -Camila o olhava confusa. -Olha só acho que os testes vão ser pesados e depois vai ser ainda pior, mas relaxa, somos muito importantes, não acho que nos machucariam.