Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 47
Capítulo 47




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Camila sentia-se cansada. Tinha acordado ainda pela manhã e parecia estar ótima, mas então viu onde estava. Não fazia ideia de onde era, por um momento quase teve um ataque cardíaco, teve que se controlar muito para poder perguntar a alguém o que estava acontecendo. Um dos médicos fez um rápido resumo e contou da prova do dia. Pelo que ela pode entender ou comparecia e competia, ou estava fora. Não havia tempo no momento para se preocupar com o que não se lembrava, precisava estar na prova em 20 minutos. Mesmo sem alta saiu correndo se vestiu e encontrou os outros na clareira no momento mais exato impossível.

Tinha feito um bom tempo, não excelente, mas suficiente para se garantir. Além disso antes de poder verdadeiramente descansar teve que falar com pessoas que não fazia ideia de quem eram. Isso tinha sido bem estressante.

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—Então a última coisa que você se lembra é da garotinha loira? -confirmou Sam pela milésima vez. As duas conversavam no quarto, onde finalmente Camila pode relaxar um pouco.

—É Sam, eu lembro de tudo antes. Lembro do motivo que você tirou seu hijab, lembro dos treinamentos, lembro... -Camila parou por um instante. -Lembro de algo a ver com o Mário Bros?! -ela achou esse pensamento no mínimo peculiar.

—Isso é um avanço. -Sam riu, era engraçado que dentre tantas coisas para se lembrar esse episódio tenha se sobressaído.

Samira contou sobre cada prova, sobre os eventos no próprio grupo e fez o possível para descrever ea sua relação com cada pessoa do Gama. Essa parte foi a mais difícil, pois ela só podia falar o que sabia, e tinha plena certeza que sua amiga escondia alguns segredos. Porém a notícia mais importante Camila não podia nem imaginar levando em conta como as coisas eram anteriormente.

—Preciso te falar mais uma coisa muito importante... -Samira precisou controlar seu riso.

—O que? -perguntou Camila ansiosa.

—É sobre o Philokrates e o Angelo...

—O que esse maldito fez? -Camila se levantou num pulo pronta para tirar satisfações.

—Calma Cams! -Samira sentia saudade de conversar assim com a amiga, não era a mesma coisa falar com Mike ou Malifa. -A coisa não vai por aí. Vou te explicar direitinho.
Samira depois de conseguir fazer Camila se acalmar começou a contar a história. Segundo ela Cams já imaginava que isso estava para acontecer, boatos que ela os tinha flagrado muito juntinhos de uma forma estranha. A concretização de que eles estava juntos veio depois de uma prova, Philokrates tinha chegado muito cansado e Angelo foi ajudá-lo. Passou-se algum tempo e Malifa dando falta do dois resolveu ir procurá-los. Quando os encontrou, os dois estava se pegando loucamente. A menina ficou um enorme tempo os encarando, não podia acreditar que aqueles dois estavam juntos e que no final Philokrates tinha era medo de assumir.

—Acho isso muito bonito, mas não confio. -disse Camila decidida.

—Por que não? -indagou Sam.

—Porque por mais que ele possa ter mudado por hora isso não apaga tudo que ele fez. Angelo é um menino muito bom e eu vou protegê-lo de qualquer forma.

—Olha Cams, eu até acho que você está certa e tudo mais, mas veja pelo lado dele, a família sempre foi mega rígida e religiosa. Era cobrado de ser o machão e o melhor em tudo. Aprendeu desde pequeno a ser machista e forte. -Samira sabia que isso não justificava, mas entendia o menino e queria que Camila também entendesse. -Aqui ele finalmente estava livre de qualquer cobrança da família e pode pela primeira vez ser ele mesmo.

Camila não quis responder, estava com raiva e nada que Samira dissesse mudaria sua opinião. Para completar sua tragédia pessoal a sua cabeça latejava. 

Estava preparada para descansar no sofá longe de tudo e todos quando viu Ashley saindo discretamente com seus pertences. Não precisava falar nada. Sentia-se mal por ela, mas pelo menos isso significava que só um de seu time tinha sido eliminado na prova. Não trocaram muitas palavras. Nunca foram próximas. Sabia da história dela por alto. Tinha sido pega usando drogas três vezes e presa uma vez. Seus pais não queriam perder o status por isso pouco faziam até descobrir o tal "acampamento".

Camila sentiu-se na obrigação de acompanhá-la, era o mínimo. Seguiu com ela até onde pode. Perto do rio uma senhora de cabelos grisalhos e roupa engomada a esperava. As duas despediram-se com um breve abraço e então Camila caiu exausta sentada a beira do rio, pelo menos ali ela esperava estar sozinha.

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Hunter não entendia o que tinha acontecido. Depois que a prova tinha acabado para o time adversário ele foi falar com Camila, queria saber se estava tudo bem, mas a conversa não saiu como o esperado, ela tinha sido fria e até um pouco grossa. Yuri também tentou algum contato e logo foi cortado, não parecia a mesma.

Quando os meninos chegaram na casa todos já estava lá. Conversavam sobre algum assunto ameno. Ouvia-se risos aqui e uns pequenos cochichos. Hunter sentou-se no chão aos pés de Christer sem dizer nenhuma palavra. Quase que no mesmo momento Diana se levantou do grupo.

Louise e Heidi fizeram menção de se levantar, mas Yuri repreendeu-as e com um olhar fez-se entender que ele tomaria conta do assunto. Não demorou e a encontrou chorando no quarto.

—Sai daqui! -gritou expulsando-o do quarto.

—De jeito nenhum. -respondeu Yuri calmamente.

—É sério Yuri, eu não quero falar com você agora. -ela insistiu.

—É sério também que ficarei aqui até você falar comigo.

—O que você quer saber? -falou agora de frente para ele e sem mais chorar.

—Ia ser legal você me contar o que está acontecendo.

—Não sei como você não sabe depois que pôs duas babás no meu pé. -Diana parecia uma criança birrenta falando.

—Saiba que não tive nada haver com isso, elas que são meninas que se entendam. -Yuri tentava manter a conversa amena.

—Eu não aguento mais e eu odeio a Camila. -disse ela por fim.

—Hm, ótimo, mandamos você de volta para casa e matamos ela. Fechado? -Yuri a encarava desafiadoramente. -Mas só se isso te fizer se sentir melhor, é claro.

—Eu não entendo o porquê dela e não eu. Eu não entendo porquê nada nunca dá certo pra mim. Não entendo nada Yuri. -seus olhos lacrimejavam e isso desestabilizou Yuri por alguns instantes, era difícil ver outras pessoas chorando.

—Em primeiro lugar a culpa não é dela e sim dele e você como menina não tem que sentir inveja ou algo do gênero. Uma tem que apoiar a outra. Por mais que muitos garotos acreditem que isso é coisa de menina eu acho que o feminismo é importante. Você sabe o que é?

—Meninas que não se raspam e só falam besteira? -arriscou Diana.

—Longe disso. São garotas que lutam para nenhuma passar o que você está passando. Para mostrar que vocês são mais importantes do que nós tratamos a vocês.

—Mas você trata a Lou muito bem...

—Sim, mas se um dia eu pisar na bola, tenho plena consciência que ela não vai se abalar. Nós já conversamos sobre isso. -Diana o olhou maliciosa. -Ei! Não não ficamos o tempo todo só nos pegando. -não que isso fosse ser ruim, pensou Yuri, mas abafou. -O que importa aqui é que ela sabe que é importante e todas as garotas merecem saber o quão importante são. O quanto um relacionamento não define você. Sei que sua vida nunca foi fácil, mas você importa. Não são só os mil namorados de sua mãe que importam. Então por favor Di, não fica assim. Não deixa ele ver o quão mal te faz. Hunter não é um menino ruim, mas é confuso e tem sido bem difíceis esses últimos dias. -Diana parecia confusa entre aceitar o que Yuri dizia ou não. -Olha só. -Yuri puxou uma corrente que tinha no pescoço. -Sempre que você achar que ninguém se importa com você lembra da história dessa corrente. Ela foi dada ao meu tataravô quando ele estava na guerra. Ninguém sabia quem havia mandado entregar. Ele guardou até o final da guerra e em seguida tratou de descobrir quem havia mandado. Minha tataravó trabalhava num dos hospitais de guerra e havia tratado dele por algum tempo quando tinha sido baleado. Não pode se despedir quando ele foi, não a avisaram. Um cara que atuava na frente com meu tataravô se prontificou de levar até ele, mas esqueceu de perguntar o nome da bela moça que o havia mandando. Muitas procuras depois os dois se reencontraram e viveram juntos para sempre. -ele tinha agora toda a atenção dela. -Então lembre-se quando se sentir sozinha ou que você é menos que alguém que em algum lugar alguém se preocupa sim com você e que assim como minha tataravó, naquela época tomou a iniciativa e lutou pelo homem que amava, não há nenhum problema lutar pelo que ama, desde que para isso não machuque alguém no meio. -Diana o abraçou forte. Para ele Yuri podia ser embolado com as palavras e ela talvez tenha dormido na metade da sua história, mas sabia que estava fazendo o possível por ela e isso já significava muito. Colocou a corrente no pescoço e a observou. No pingente a letra D.

—Qual era o nome dela? -perguntou Diana.

—Dimitrichka.

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Já era tarde. Christer e Hitomi haviam sido eliminados. Yuri ficou realmente mal, tinha se apegado a maluca da Htiomi, sentia ela como uma de suas amigas mais próximas, essa era provavelmente até agora a perde que sentiria mais. Não sabia se um dia se veriam novamente e isso machucava de alguma forma. A saída deles gerou uma longa noite de reflexões sobre como a vida era passageira.

Hunter também estava cansado do dia e também sentia pela perda dos dois, eram gente boa, mesmo quando pegavam no pé dele. Decidiu diferente de Yuri, sair para clarear as ideias.

Estava a meio caminho do rio quando viu quem estava sentada. Um de javú lhe passou a mente, mas tentou ignorar essa sensação e resolveu tirar satisfações com ela.

—Camila. -chamou-a de longe.

—Hã... Ah, é oi. -Camila estava claramente confusa.

—O que diabos está acontecendo? -perguntou Hunter já cansado disso tudo, tudo bem que mais cedo tivesse sido distante porque estava cansada, mas agora não tinha motivos.

—Nada ué! -respondeu Camila sem muita paciência.

—Nada? Nada? Um dia você é toda amorzinho e me beija, e agora age mais fria que não sei o que.

—Como eu posso ter te beijado se eu nem lembro de você!? -disse Camila antes de se tocar do que tinha feito.

—O que você falou? -Hunter estava confuso.

—Nada! -Camila sabia que tinha pisado feio na bola, não queria que os outros soubessem da sua perda de memória.

—Camila do que você se lembra? -ele perguntou o mais sério possível.

—Não de muita coisa... -admitiu por fim, já não fazia sentido fingir que lembrava de tudo depois do que disse.

—Então você não lembra... Esquece eu devia ter imaginado desde o início. -Hunter não sabia o que fazer, doía saber que ela nem ao menos se lembrava dele.

—Espera! -pediu Camila instintivamente. -Eu não me lembro de nada... Mas perto de você eu sinto alguma coisa. É tipo um formigamento pelo corpo e tem uma lembrança tentando vir a tona, mas eu não consigo... -ela sentia raiva de si própria por não conseguir pegar a lembrança que sismava em vir quando ele estava próximo, tinha sido assim de manhã, ela havia sentido algo que tinha tentado ignorar, mas agora estava forte demais.

—Eu acreditei no que você disse.

—O que eu disse? -sua cabeça doía mais que tudo naquele momento. -Por favor me ajude a lembrar, por favor se nós tivemos algo... Eu quero saber o que foi e como foi.

—Você quer mesmo saber? -Hunter arqueou as sobrancelhas esperando uma resposta. Com um aceno dela ele continuou. -Eu confiei em você e deixei sentir alguma coisa. Foi o ato mais estúpido que eu já fiz.

Camila agora chorava. Seu corpo dizia que tinha algo naquele garoto, mas seu cérebro se recusava a revelar o que. Droga, ela não queria ter esquecido tudo. Não só por ele, mas pelo seu time. Como podia ser uma boa líder sem saber de nada?

—Você não tem ideia do que é não se lembrar de nada. Tentar puxar uma memória e ela não vir. Ou vir muito quebrada. -seu cérebro deu uma pontada que a fez apertar a cabeça. Na sua visão Hunter estava parado nessa mesma posição.

—Camila? -gritou Hunter -Camila fala comigo!

—O que houve? -ela não fazia ideia do como ele tinha chegado tão perto a ponto de segurá-la.

Seus olhos castanhos a encaravam e de repente o ar ficou pesado. Suas lembranças podiam tentar tirá-lo dela, mas seu corpo pedia o toque dele. Suas mãos em seus ombros traziam uma sensação já conhecida e boa. Sabia que devia se desvencilhar dele nesse momento. Não havia hora melhor, mas não conseguia. Uma pequena briza soprou levando suas maria chiquinhas rosas para o lado. Antes que algo mais acontecesse ela o beijou. Talvez se arrependesse assim que acabasse, mas no momento sentia que era o certo. Seu coração acelerou tanto que achou que poderia desmaiar de novo a qualquer momento.

Quando finalmente se separaram nenhum dos dois foram capazes de falar qualquer coisa. Passaram o que poderia ser considerado uma eternidade só se encarando, era como se o um parasse de olhar o outro sumiria para sempre.

—Eu preciso ir. -disse Camila e antes que ele pudesse responder qualquer coisa ela já estava bem longe.


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