Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 35
Capítulo 35 - Yuri




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Os vidros do carros são muito escuros não nos deixando ter nem ideia do trajeto que fazemos. Algum tempo depois sinto o carro parar. Julius abre a porta e eu em seguida abro a minha. Não consigo controlar minha expressão e fico de queixos caídos diante a minha visão. Um jato preto está parado bem à minha frente com toda sua majestade. Olho para Lou esperando que esteja tão abismada quanto eu, como resposta ela aperta minha mão.

A escada de seis degraus nos espera. Sou o primeiro e subir, mas empaco no último degrau. O avião, ou melhor dizendo, o jatinho, está já cheio de pessoas. Reconheço a líder do outro time graças a seus cabelos rosas. O resto eu só tinha visto pelos monitores. Olho um por um ainda parado no lugar.

Sinto alguém me empurrar para entrar e ainda de mãos dadas continuo a subir.

—Tá difícil aí Yuri? -pergunta Hitomi de algum canto. Não a respondo.

Tento olhar o máximo para cada uma das pessoas, Camila, acho que esse é o nome dela, também nos encara. Não posso ficar o tempo necessário para decorar cada um, mas terei tempo o suficiente quando chegarmos lá.

—Tem umas gatinhas por aqui. -um dos meninos do meu time comenta, mas não consigo reconhecer quem.

O jatinho era bem luxuoso. Nossos assentos ficavam no andar de cima. A passagem era feita por detrás de uma porta de mogno claro com uns detalhes em escuro. Lá em cima, linda poltronas bejes nos esperavam. Em frente a cada uma havia uma mesinha com alguns aperitivos e bebida. Não demorou para que alguém gritasse que ali havia sua bebida preferida. Quase todos estavam servidos com algum tipo de bebida alcoólica, enquanto a minha era um mero toddynho. Tomei em um só gole esperando que ninguém notasse.

Meu lugar era ao lado da janela. Do outro lado estava o garoto sueco, Christer. Nunca falei muito com ele e nem mesmo sei porque. Ele foi da segunda leva. Desses eu conversei mais com Diana e Month. O garoto sempre tinha algo interessante para acrescentar e eu realmente me dava bem com ele. Diana eu conhecia muito bem, mas ainda precisava falar com ela de algo que estava me deixando meio mal. Isso ia ter que ficar para depois, não dava para falar com alguém por perto.

—E aí? -fiz uma tentativa péssima de puxar assunto mais uma vez.

—Fala aê. -eu realmente torcia que ele viesse com um tópico para iniciar nossa conversa.

—A gente nunca conversou de verdade, e eu meio que assim... -se eu tinha muitos amigos na escola era porque os conhecia desde pequenos. Cada dia que eu passava nesse lugar chegava ainda mais à conclusão que meu forte não era socializar com desconhecidos. -Por que afinal você veio parar aqui?

—Ah... É sempre bom conhecer seus aliados né? -ele sabia de algo que não devia? -Que cara é essa parça? To te zoando. -acho que três kilos de ar saíram do meu pulmão. Era claro que ele não sabia de nada sobre esse jogo, ninguém sabia de nada, só eu e Lou e ela não contaria à ninguém. -Mas vou te explicar o motivo de meus pais terem me enviado pra cá. -ele se arrumou na poltrona de modo que ficássemos de frente. -Meu pai é médico e minha mãe também. Desde pequenos eles sempre ficaram na minha cabeça dizendo que eu ia ser um grande médico no futuro. Dois anos atrás eu enchi o saco disso e disse que ia fazer geografia. Depois disso minha vida se tornou o inferno. Então eu decidi primeiro fugir de casa, mas não deu muito certo. Então eu comecei a fazer coisas que não devia para aliviar a pressão e tal. Daí em diante me tornei isso que você tá vendo. Nada legal eu sei...

Engraçado como o relato desses garotos é sempre tão parecidos. Nessas horas eu vejo a importância da minha família no que eu sou. Já cometi muitos erros, afinal tenho 17 anos e todo adolescente erra, porém nunca cheguei nem perto do que eles fazem. Minha maior aventura foi ficar bêbado e levar bronca no dia seguinte por isso. Não consigo imaginar meus pais sendo negligentes ou se opondo a que eu faça o que quero da minha vida.

—Deve ser muito ruim não poder ser ouvido. -foi tudo que pude dizer.

Será que se os pais soubessem dos erros que cometem continuariam agindo igual? E nós? Será que se pudéssemos ver nossas vidas daqui há 20 se continuarmos com nossas ideias imaturas ainda as teríamos? Realmente viver é muito complicado.

Conversei mais um pouco sobre coisas banais com ele, pergunto sobre garotas, como é seu país e coisas do gênero. Já conversávamos há mais de duas horas e não havia nem sinal que pararíamos. Christer pegou no sono e eu tentei fazer o mesmo, mas minha cabeça era um turbilhão de pensamentos e eu tinha gasto todo meu sono na noite passada. Ao mesmo tempo que reclamava da minha sorte e de ter sido escolhido entre tantos para fazer parte disso tudo eu no fundo agradecia. Quer dizer, estou tendo a chance de conhecer tantas culturas e pessoas diferentes algo que nunca aconteceria na minha cidade. E o que acho ser o principal, isso me abriu os olhos de uma forma que nunca tinha acontecido antes, sempre vi as coisas sob meu mundinho e o mundo é tão maior. O preto e branco passou a ter mais um milhão de cores no meio e aquilo que acreditava como verdade absoluta passou a ser só mais uma versão.

Me levantei da cadeira quando meu pensamento começou a ficar filosófico demais. Decidi que precisava lavar o rosto, perto da porta estava o Hunter olhando pro além. Fui de fininho até lá e o assustei. Sua reação foi impagável.

—Você podia ter me matado sabia? -ele pareceu bem estressado, mas não liguei.

—Ta estressadinho é? -perguntei o irritando ainda mais.

—Não cara, mas me deixa tá? -ele realmente não parecia estar muito pra papo, mas eu insisti, precisava descontrair.

—Que foi cara? Te conheço um pouco e posso afirmar que algo aconteceu.

—Você sabe o nome da menina de cabelo rosa? A que estava de cabelo preso. -isso era uma pergunta estranha, mas pensando bem ela realmente chamava atenção.

—Não lembro bem... -qual era o nome dela? -Acho que Camila ou Carolina. Por quê?

—Nada não. -ele pensou em falar algo e desistiu. -Eu vou tirar um cochilo. Você devia fazer o mesmo.




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