Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 25
Capítulo 25 - Camila




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Adilah explicou brevemente como funcionava o deserto. Se quiséssemos chegar a algum lugar tínhamos que seguir ao norte sempre, do contrário nos perderíamos no meio do nada. Para continuar nossa missão ela nos deu uma bússola que coloquei no bolso da saia, (ainda bem que eles pensaram nisso quando criaram nossos uniformes de treino) um camelo, um cantil e roupas mais quentes (à noite podia fazer muito frio).

—Ela não me parecia com uma projeção Camila. -já caminhávamos há um bom tempo quando Samira veio falar comigo. -Será que... Que ela era uma pessoa de verdade?

Não a respondi. Fazia sentido começar a serem pessoas de verdade, porém tínhamos tecnologia o suficiente para sermos teletransportados? O quanto o governo sempre escondeu da população? Até pouco tempo sabia que o mundo ia mal, mas nem de longe imaginava que nosso estado era tão grave a ponto de precisar treinar jovens.

Me concentrei na bússola e no caminho à nossa frente. A paisagem era hipnotizadora. O sol começava a baixar deixando o céu num tom laranja e com o vento que batia os grãos de areia faziam quase que uma dança para nós. Podíamos nesse momento ser os últimos habitantes da terra no último minuto de vida dela. Não me importaria que essa fosse minha vista.

Junto com o sol abaixando o frio começava a chegar. Optamos por parar e descansar um pouco. Demos água para os camelos e começamos a tentar por as roupas que nos foram dadas. Samira e Malifa se entenderam muito bem com os pedaços de pano dados enquanto eu joguei tudo por sobre o ombro. Em poucos minutos a duas vieram me arrumar.

—Essas pessoas do ocidente não sabem nem como se vestir. -Samira riu do comentário de Malifa.

—Um dia ainda faço as duas usarem um tubinho preto.

Ficamos todos juntos para nos aquecermos e servimos de travesseiros uns para os outros. Philokrates fez questão de ficar bem longe de Angelo. Isso já estava ficando ridículo, mas no momento eu estava cansada demais para fazer qualquer coisa.

A noite nem foi das piores, mas fomos acordados bem cedo com os primeiros raios de sol. O dia começava a esquentar então decidi tirar as novas roupas.

—Não! -disse Juán me impedindo. -Nunca viu documentários não? O sol do deserto queima muito forte. Temos que manter as roupas.

—Ontem não estávamos com elas. -relutei.

—O que significa que tivemos sorte. -ele parecia minha mãe falando. -Agora veste isso de volta por favor.

Foi estranho obedecer ordens do Juán, e mais estranho ainda ele estar certo. Deixei a roupa e logo senti as primeiras gotas de suor brotando do meu corpo inteiro. Foi necessária mais umas três horas de caminhada até avistarmos algo e mais uma até identificarmos. Era um grande mercado. Em acordo geral decidimos dar uma olhadinha rápida lá e ver o que descobríamos

Havia diversas tapeçarias que minha mãe teria amado para por em casa. Pensei em comprar uma para quando nos reencontrássemos, mas aí lembrei que não tinha dinheiro e não estava pronta para a vida do crime. Mais à frente tinham algumas comidas que normalmente eu acharia horrível, mas com a fome que estava (os lanchinhos oferecidos por Adilah já tinham acabado fazia tempo) pareciam deliciosas, Samira falou alguma coisa na sua língua natal e o dono da barraca nos deu um pouco. Na real nem era tão ruim assim. Sem ter muito como ajudar eu e o resto do grupo íamos de barraca em barraca olhando enquanto Samira tentava informações.

—Aqui é um lugar onde passam muitas famílias e tal, mas o homem da barraca de temperos disse que há dois dias passou um homem com algumas mulheres e crianças cobertos de burca. O mais estranho é que os mercadores não o conheciam e ao tentar ser gentil o homem soltou algumas palavras feias. Parou depois depositando algumas moedas de ouro, comprou comida e foi embora sem mais nada. -Samira falava tão rápido que era difícil entendê-la.

—Eles deram a direção para qual ela foi? -perguntou Angelo.

Samira somente apontou, íamos a direita.

Depois de sei lá mais quantas horas andando e eu já cansada do meu camelo que parava a cada dois segundos chegamos no que Samira chamou de templo do mal. Segundo ela era um templo dedicado a Alah, mas muitas coisas ruins aconteceram aqui, transformando o lugar em algo ruim.

Não precisamos andar muito por lá para descobrir que era um lugar ruim. Infelizmente um de nosso camelos resolveu andar e ativou uma bomba enterrada. Puf camelo, foi uma das coisas mais horríveis que já tinha visto e só pude me apegar ao fato que tudo isso tinha que ser uma simulação. Depois disso resolvemos andar com cautela nenhum de nós queria explodir pelos ares.

Chegamos ao templo em si e ouvimos o primeiro tiro. Chegou a hora da qual mais gostava e temia, a hora da ação. Fomos todos para trás do templo. Nessa hora tive certeza que era só mais uma projeção porque eu pisei numa cobra e os pixels dela se desfizeram, graças a Alah. Juán estava fuxicando a areia quando tocou em algo diferente, armas. Obrigada por dessa vez não termos que nos virar com pedrinhas. O dia ia ser divertido hoje.

Nós não éramos o exemplo de equipe arrumada. Nosso planos quase sempre consistiam em sair atirando e matando geral, mas dessa vez tínhamos que ter cuidado, não podíamos matar as mulheres e crianças, nossa tarefa era salvá-las. Esse foi o único aviso que dei antes de mandar todo mundo ir lá.

Saí pela direita e comecei a atirar. Dentro do templo as balas eram revidadas. Estava atirando em um dos caras armados, tentando ao máximo desviar das mulheres que gritavam assustadas quando senti uma dor lancinante no meu braço. Por um momento tudo em volta parou de fazer sentido, pus a mão e pude sentir sangue. Merda a bala tinha me pagado de raspão, saudades quando usavam balas de paintball, no máximo eu estaria sentindo um líquido verde. Aproveitei a pausa para analisar o lugar em si, o templo um dia já foi algo bonito, mas hoje estava todo acabado e cheio de teias de aranha. Havia muitos homens a serviço do sequestrador prontos para atirar na gente. Nosso grupo já estava todo em ação. Éramos fortes. Por outro lado nosso planos eram horríveis. Quando me viram parada todos me encararam como se eu tivesse um plano.

Ainda nos olhávamos quando do nada eles fugiram, não tínhamos visto como isso aconteceu. Precisávamos mais que nunca de uma rota de ação. A ideia surgiu de Mike que cansado do silêncio mandou que nos separássemos e vasculhássemos a área. Em 20 min deveríamos estar de volta.

Saí tentando ser discreta, mas não era muito boa nisso. Achei logo uma escada pela qual desci. Atirei em um guarda antes que ele me visse e continuei descendo. No fundo dela não encontrei muita coisa que servisse. Um jarro grande, algumas almofadas empoeiradas e tapetes. Imaginei logo se não sairia uma cobra do tal jarro. Não me demorei muito nesse cômodo parecia não ter nada e era sinistro.

Da exploração só eu e Juán já tínhamos voltado. Apesar das dificuldades aqui sabíamos estar seguros, era tudo falso, por mais que levássemos tiros ou nos machucassem nada nos faria um mal real, mas será que também seria assim no teste real?

Aos poucos o restante foi voltando. A única a não aparecer foi Malifa e levando em conta que ninguém tinha achado nada fomos na direção que ela tomou. Atiramos em mais alguns guardas, subimos algumas escadas e corremos muito. No final demos em um alçapão. Era muito pesado por isso foi Mike que o abriu. Dentro dele encontramos não só Malifa, mas todas as mulheres e crianças acorrentados e desacordados e na frente um exército de guardas.

Se atirássemos corríamos o risco de acertar as pessoas atrás. Ia ter que ser na força e na sorte. Com um simples olhar todos entenderam. Nos jogamos e logo tivemos nossa primeira perda. Samira foi atingida na barriga e em poucos segundos havia sumido. Mike tinha conseguido romper sua parte da barreira e com sua arma golpeava as correntes. No canto direito vislumbrei o sequestrador. Não pensei duas vezes.

Com uma descarga de adrenalina me livrei dos homens que me impediam e fui em direção a ele. Primeiro o acertei na cabeça com um belo soco, mas logo ele sacou um canivete e cortou meu braço. Não pensei duas vezes e sem tempo de preparar a arma dei um porradão com ela em sua barriga. A briga então virou punho a punho e eu levava a melhor. Descontava nele toda a raiva dos últimos dias. Estava tão inerte em tentar matá-lo com minhas mãos que não prestei atenção no que acontecia ao meu redor.

—Camila! -gritou Angelo de trás.

Tarde de mais senti o impacto nas minhas costas. Era a primeira vez que deixava o grupo antes da missão estar completa. O que estava acontecendo comigo? Perdi totalmente a cabeça e a capacidade de ser impacível quando comecei a lutar com ele. Era isso, eu finalmente estava me tornando louca como o resto do meu grupo eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas realmente esperava que fosse mais tarde.

Acordei no meu quarto, levantei para ir ao banheiro e logo senti minhas costas, doía muito. Me olhei no espelho e vi meu estado. Um corte na testa e um na bochecha, no meu braço uma atadura foi posta onde a bala passou de raspão. Não queria nem pensar no que podia ter acontecido se tivesse pego em outro lugar. Estava indo voltar para cama quando veio com tudo. Vomitei minha alma naquela privada, era só o que faltava mesmo. Estava decidido hoje eu não ia fazer nada, nem adiantava, que se dane o treinamento. Tinha certeza que se tentasse andar mais do que até de volta à minha cama ia desmaiar.


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