Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 24
Capítulo 24 - Camila




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Admito que a informação me deixou em choque, principalmente do jeito que foi dita. O que eu poderia dizer para ele agora? Esse era um momento muito constrangedor para ambos. Uma conversa teria que existir com Philokrates isso era fato e eu tinha que responder algo, isso era outro fato, mesmo que tudo que eu quissesse no momento fosse fugir. Respirei fundo tentando arrumar minha cabeça, eu tinha amigos gays, mas sempre foi tão tranquilo a relação da galera com eles, sempre me pareceu tão normal que eu não conseguia pensar de verdade como deveria ser rejeitado por isso.

—Eu não sei bem o que falar sobre isso. -se minha meta fosse dar algum apoio moral eu estava bem longe dela. -Olha Angelo, pode deixar que eu vou dar um jeito nesse idiota ok? -falava com ele já de volta ao serviço de comida, dessa forma ele não tinha como ver minha expressão totalmente perdida.

—Não Camila, tá tudo bem, não é culpa dele e não tem nada a ver com você. -de alguma forma preferia quando ele estava berrando comigo, esse tom complacente me deixava ainda pior. -Não vou te causar problema a toa, não devia nem ter te contado sobre isso. É só que ás vezes cansa manter segredo. -quase ri quando ele disse isso, eu sabia melhor que ninguém como era guardar segredos.

—É claro que você devia me contar, eu estou aqui como líder e isso implica em ajudar vocês da melhor forma que eu puder.–por um momento pensei em largar a comida pra lá, mas por algum motivo não queria falar cara a cara. -Não se esqueça disso nunca, por favor.

—Só... Só não faz nenhuma besteira... -e com isso ele saiu da cozinha me deixando sozinha para terminar a comida.

Eu não tinha nem ideia do que ia fazer em relação a essa situação, mas qualquer vontade que eu tenha sentido de pegar o menino novo tinha desaparecido por completo. Ele ainda continuava muito gato, claro, porém cometeu o erro de mexer com um amigo meu e isso eu não ia tolerar. O melhor que eu podia fazer agora era terminar a comida e descontar a raiva nesses pedações de picanha que me esperavam para fazer deles pedacinhos.

Quase exatas duas horas depois o almoço estava pronto e modéstia parte muito cheiroso e gostoso. Era muito comida que tinha que ser feita pra que todos pudessem se alimentar direito e isso exigia uma trabalheira. Eu mesma fiz questão de ir na sala chamar a todos para a deliciosa refeição feita por ninguém mais que a linda chefe de cozinha aqui.

—Que isso esquisito? -perguntou Mike levantando o paio do feijão.

—Paio, serve só para dar gosto, se quiser pode tirar. -disse tentando não pular no pescoço dele.

—Está muito gostoso Camila. -Philokrates se pronunciou enquanto mastigava um pedaço da picanha.

—Hm.

Tenho que admitir que estava melhor do que eu esperava. Todos repetiram e ninguém reclamou, muito pelo contrário. Próximo passo Top Chef! Para minha sorte também eu tinha resolvido que a picanha ia ser na brasa na hora, porque Samira não podia comer nada com sangue. Tudo bem que era da cultura dela, mas era bem chatinho isso, não me imaginava descartando aquele filete de sangue da carna mal passada.

A melhor parte de tudo era que não tínhamos que lavar a louça já que por mágica ela sempre aparecia limpinha quando deixávamos a cozinha. Uma vez Juán resolveu que descobriria como isso acontece. Passou o dia inteiro na cozinha e fez troca de turno com Malifa. Nada aconteceu. Foi então quando estava no turno dele e surgiu uma vontade incontrolável de ir ao banheiro que tudo sumiu em poucos segundos. Vai saber o que acontece, esse lugar é bem esquisito.

Samira fez questão de apresentar a Philokrates ao centro de treinamento e mostrar cada detalhe de como funcionava. Hoje a sala estava espalhada com armas de fogo. Quase ri da situação, Samira segurava o braço dele mostrando-o como dar um belo tiro. Passei perto dos dois e disse baixo o suficiente para que só Philokrates ouvisse que conversaria com ele mais tarde. Não acho que uma bronca na frente de todo fosse surtir algum efeito positivo. Recado dado peguei minha arma e mirei, primeiro na cabeça dele querendo que fosse uma bala de verdade, mas acho que nessa situação seria considerado um crime doloso e eu acabaria na cadeia. Mirei em seguida no alvo e cheguei a conclusão que não faria diferença ter atirado em sua cabeça já que a bala passou à uns dez metros de distância.

Já estávamos treinando por mais de duas horas quando Mike deu a ideia de entrarmos em mais uma missão. Todos achávamos muito legal sair em missão, era o mais perto que tínhamos de ar livre e isso nos unia também. Optamos pelo aleatório e fomos levados mais uma vez a um deserto. Pelo menos não era tão quente quanto o último.

As missões vinham sendo mais complicadas. A uns três dias atrás tivemos que salvar uma baleia encalhada. Enquanto parte do grupo tentava dar um jeito de levá-la para a água a outra parte tinha que lidar com uns caras do mal que queria matá-la para ganhar dinheiro da venda da gordura. Claro que como nada era fácil não recebíamos um cartãozinho avisando qual era nossa missão. Tínhamos que descobrir sozinhos e só saímos depois de completa. E agora estávamos nós, uniformizados e sozinhos no meio de um deserto. Optamos em conjunto pelo óbvio. A nossa frente havia alguma coisa. Podia ser só uma miragem, mas como atrás, à esquerda ou à direita não tinha nada a miragem era nossa melhor opção.

Não demorou muito e eu já estava com sede. Acho que era mais psicológico do que qualquer coisa, mas eu queria muito água e comecei a pensar se não acharíamos no nosso destino. Isso me deu animo de andar mais rápido. O problema era que quanto mais andávamos mais longe a tal coisa parecia estar. E estávamos todos ficando cansados.

—Nós podíamos parar um pouco para descansar. -Angelo parecia prestes a desabar enquanto falava.

—Ótima ideia menininha. Por que não desistimos e morremos todos aqui logo? -sei que tinha programado a conversa para depois, mas não podia ignorar isso.

—Ei! -não queria dar uma lição de moral agora. -Que tal abaixarmos a bola hein novato? -tinha que impor respeito, mas não podia esquecer de ser boa e amigável, não queria ninguém tendo medo de mim. -Angelo, eu também to cansada, mas acho que devemos terminar logo. Não tem como morrer aqui, mas as feridas são sempre reais... -não fazia tanto sentido essa frase quanto fez na minha cabeça. -Enfim, vamos terminar logo ok?

Angelo se recompôs e voltou ao pique. Philokrates por sua vez parecia bem magoado com a forma que eu tinha falado com ele. Se ele soubesse o quanto eu podia ter sido mais grossa e o quanto me controlei para não dar um tapa em sua perfeita face. Vamos ser sincero o menino tinha que aprender uma regrinhas básicas de vida em sociedade. Ninguém consegue nada sendo idiota com os outros. Talvez tenha faltado tanto aula que não aprendeu que o universo gira em torno do sol e não dele.

Depois de andarmos pelo que pareceu uma eternidade o lugar para o qual marchávamos começou a tomar forma. Tratava-se de um oásis no meio do deserto, queria chorar. Tinha um lago com palmeiras, algumas cabanas e um lindo gramado verde. Algo tão perfeito assim só podia ser uma ilusão. Essa certeza só acabou quando senti a grama com as minhas mãos. Tínhamos sim uma missão, mas no momento todos necessitávamos de entrar nesse lago.

Todos estavam bem animados com o oásis. Corremos direto para a água entrando nela até a cintura, ninguém se preocupou se era limpa ou potável, a sede era maior. Bebi até ficar mais que satisfeita, meus lábios já estavam rachados do ar seco. Olhei para o resto do grupo e todos pareciam igualmente aliviados.

Depois de estarmos frescos, sem sede e com um pouco mais de ânimo, pudemos continuar. Entramos na primeira cabana esperando ver alguém que nos desse uma direção, mas ela estava vazia e com tudo revirado. Malifa deu a ideia de um assalto, mas logo a descartei pôs diversos instrumentos de ouro continuavam ali. Tinha sido algo mais importante. Tentamos então a segunda cabana e bem no fundo dela encontramos uma criança.

Era estranho, por um momento esperei que ela fosse sacar uma arma para podermos lutar, mas não. Quando cheguei mais perto pude ver suas feições, era algo tão realista que me deu medo. Pela primeira vez víamos uma simulação que não queria nos matar.

—Oi. Meu nome é Samira e você? -fazia sentido ser ela a falar já que a menininha parecia ser muçulmana também.

—Adilah.

—As-salam alaykom

—Wa Alykom As-salam

E a partir desse momento deixei que as duas conversassem da maneira que achavam mais confortável. Eu não entendia esse chip. Por que eu entendia sempre ela e agora ela conversava com a garotinha em sua língua original e eu não entendia nada? Tentei falar alguma coisa na minha língua original e todos olharam para mim quando soltei um lindo palavrão compreensível para todos. Depois disso fiquei quieta esperando Samira terminar.

Depois de aproximadamente 15 minutos de conversa, alguns risinhos e choros Samira voltou a falar com a gente na língua universal que usávamos. Para mim era português, mas era bem improvável, uma vez perguntei a Juán em que língua ele estava falando e sua resposta foi espanhol. Mike finalmente perguntou o que ela tinha conseguido de informação. Todo esse oásis era de um grande sultão do deserto. Aqui vivia ele e suas sete mulheres. Há uma semana ele partiu em viajem e a três dias todas sua mulheres e filhos foram sequestrados, só Adilah tinha sobrado.

Acho que estava mais do que clara nossa missão. Nós íamos atrás das mulheres e do sultão. Mas antes Samira nos disse que Adilah nos ofereceu comida, e quem em sã consciência recusa comida?

 


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