Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 23
Capítulo 23 - Camila




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—Camila acorda! -Samira me balançou na cama. -Chegou mais um pra matilha. -achava tão fofo que eles estivessem aderindo ao jeito fofo que eu os chamava. -E eu tenho que admitir que ele é bem gatinho. -um breve risinho envergonhado saiu dela.

—Hmm. -mal conseguia raciocinar ainda, mas já deviam ser uma oito horas. -Já vou Sam, deixa só eu me arrumar. -meu estado ao acordar era algo assustador

Meio dormindo meio acordada conseguir me fazer chegar até o banheiro do nosso quarto. Como eu esperava meu estado era deplorável. Pus minha roupa e prendi meu cabelo nas maria-chiquinhas que já estava acostumada a usar. Se tudo desse certo esse novo grupo seria bem mais fácil de domar comparado ao anterior. Não sei se teria forças contra mais um Mike. As coisas tinham melhorado depois que passamos a lutar juntos nas simulações, mas ainda tinha um ou outro que de vez em quando saia da linha.

Nos últimos dias estivemos em Roma, uma praia deserta no meio do pacífico e até no deserto. Cada vez mais as simulações dificultavam, tinham mais e mais inimigos, mais e mais eles tinham feições humanas e mais e mais eles eram bons de luta. Eu continuava focada no arremesso, principalmente o de facas, achava bem legal quando elas iam no lugar exato que eu desejava.

Enrolei mais um pouco no banheiro para ter certeza que eu estava razoável, estava curiosa com nosso novo integrante e se até Samira, que é super envergonhada, admitiu que o achou bonito ele devia ser muito gato mesmo. Passei um lápis de olho básico e cobri minha olheiras. Agora sim estava pronta para ver o que aguardávamos.

Fui encontrar o grupo na sala de tv. Depois de aprenderem comigo todos estavam assistindo VH1. Fala sério melhor coisa é por em canal de música quando não tem nada para fazer, você nem precisa pensar só deixar fluir. Nem todos estavam aqui. Imaginei que os faltantes ainda devessem estar comendo, ou mais provável, dormindo. Queria algum dia poder dormir até tarde, mas sempre tinha alguém para me acordar, ou se por um milagre isso não acontecesse meu relógio interno dava conta do recado.

Sentado no sofá de qualquer jeito estava o menino novo. Tinha o cabelo acobreado, olhos claros, feições fortes, corpo mais ainda e parecia mais velho que o resto. Samira estava errada ao dizer que ele era bonito, ele era M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O! Nossa, imagina um homão desses na minha escola! Não ia ter pedra sobre pedra. Quem é Victor comparado a ele? De repente a casa estava quente demais.

—Oi! -disse tentando soar sexy, o que não deu nada certo. -Meu nome é Camila, é um prazer termos você aqui. -voltei a voz normal enquanto enrolava o dedo em uma das minhas maria-chiquinhas esperando que fosse seduzente e não retardado.

—Muito prazer em te conhecer Camila. Sinto-me honrado de estar aqui com vocês. -disse ele levantando-se para me cumprimentar. Sinto que a qualquer momento eu podia desmaiar aqui. -Meu nome é Philokrates.

—Hã? -que nome era esse? Não queria ter parecido tão surpresa quanto fiquei, mas ele podia ter um nominho mais fácil.

—Phi-lo-kra-tes. -então ele deu um sorriso que eu quase desabei. -É um nome grego. -e agora tudo fazia sentido, ele era mesmo um Deus grego.
—Sinta em casa Philokrates. -disse fazendo as honras

Corri logo para Samira que me esperava sentada na mesa da cozinha comendo um pote de nutella. Eu estava sorrindo de orelha à orelha té que reparei em sua expressão.

—Eu devia ter esperado por isso. -disse Samira antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

—Do que você está falando? -perguntei assustada.

—É claro que você também ia achar ele lindo, e mais claro ainda que ele ia preferir você. -a mágoa na voz dela era nítida.

—Não... Desculpa Samira, não foi minha intenção. -o que eu tava falando foi totalmente minha intenção, só não podia imaginar que ela tinha gostado tanto dele. -Olha se te fizer melhor eu nem falo mais com ele. Só como líder, é claro.

—Líder de que? Você não manda em nada aqui. -Sam falava daquela forma que é pior do que se gritasse.

—Vem cá tem algo que eu preciso te contar. -não dava mais para manter isso só para mim, eu ia explodir muito em breve, era pressão demais sobre meus pequenos ombros.
Levei-a até o quarto onde eu poderia ligar o som alto e com sorte ninguém nos ouviria.

—Por que esse som alto Camila? -ela berrava para tentar sobressair ao som.

—Calma, eu vou te explicar. -eu por outro lado falei o mais baixo possível. -Mas nós temos que manter o máximo de silêncio.

Aos poucos comecei a explicar o que realmente era isso aqui. Contei dos times, do jogo que teremos. Mencionei que esse grupo era de jovens complicados, algo que não a deixou muito contente, acho que ninguém gosta de descobrir que é considerado um mal elemento. Falei também sobre mim e como não faço ideia do que acontecerá comigo já que o experimento é focado no grupo em questão e eu só estou aqui para direcioná-los e transformá-los em um time unido. Nessa hora eu chorei, algo que não fazia a um tempo, mas falar em voz alta que não sabia meu futuro aqui, que eles podiam me descartar a qualquer momento, que não sabia o que me esperava em casa. Isso em voz alta tornava tudo muito pior.

Ficamos nós duas abraçadas por um tempo. Deixei correr as lágrimas livremente até que finalmente as sequei e desliguei o som.

—Então está fechado nosso acordo certo? -perguntei tentando disfarçar a conversa que tivemos, me sentia mais próxima dela do que nunca, é engraçado como compartilhar um segredo assim une as pessoas.

—Fechado, mas... Qual é o acordo mesmo? -acho que devíamos ter combinado isso antes, ambas caímos na gargalhada.

—A melhor ganha o gatinho na sala. -disse enquanto soltava meu cabelo e o jogava pro lado.

Agora que estávamos resolvidas sobre a questão do garoto novo e esperava que nunca mais brigássemos por garotos, e eu tinha contado para alguém sobre tudo me sentia tão feliz, em paz. Estava tão de boas que decidi que ia cozinhar, como minha vó sempre disse, a melhor forma de chegar no coração de um homem é pela comida (ou algo assim).

Fui para a cozinha duas horas antes do nosso horário de almoço porque eu era um tanto quanto lerda. Porém minha comida era deliciosa, eu já tinha feito alguns pratos aqui. Quando entrei pensei por um tempo no que fazer. Podia tentar surpreendê-lo com uma comida típica do seu país como uma musaka... Mas por outro lado podia mostrar o que o Brasil tem de melhor, e olha que eu nem estava falando de mim.

Acabei optando por um bom feijão com arroz e picanha. Comecei então a separar o que ia precisar e por as carnes para descongelar. Linguiça de porco, paio, e algumas ervas e temperos iam para o feijão que já estava semipronto. A picanha seria temperada com alho e sal grosso e o arroz uma pitada de pimenta já fazia o diferencial. Já podia até sentir os cheirinho futuro que viria. Resolvi começar pelo que eu achava mais chato que era picar cebola. Estava eu chorando rios quando alguém entrou na cozinha.

—Juro que estou só picando cebola. -disse rindo.

—Tudo bem... -era Angelo, não o tinha visto a manhã inteira. -Pelo menos o garoto novo não é vegetariano.

—Nossa! Eu nem tinha pensado! -que vergonha seria eu chegar lá cheia das carnes e ele só comer tofu, acho que ele ia perder todo o encanto.

—Pois é que bom... -a voz dele irradiava algo fúnebre que não combinava com meu humor de hoje.

—Ok pode desembuchar o que está acontecendo querido. -eu até parecia impor algum respeito falando isso e limpando a faca, imagina eu dando a louca da faca agora e matando todas essas criaturas mal educadas que viviam comigo. Nem era tão má ideia assim.

—Não é nada. -disse ele mentindo pior que meu irmão quando roubava o troco do mercado.

—E o garoto novo não é gato. Duas mentiras. -assim que eu disse isso ele olhou pro chão me deixando claro que tínhamos chegado no ponto que eu queria. -É sobre ele não é? O que esse cara te fez? -disse apontando o facão de carne.

—Po-pode abaixar a faca. -ele estava verdadeiramente incomodado então abaixei-a meio constrangida. -Todos acharam ele tão legal e bonitão, mas ele é meio homofóbico sabe?

—Bom, isso é horrível, mas nada que eu não possa conviver. -sentei-me ao seu lado.

—Você pode porque você não sabe como é sofrer com isso ok? -disse ele explodindo de uma forma que eu nunca tinha visto, logo Angelo o menino mais fofo do mundo (menos quando contava sobre sua vida roqueira e revoltada que parecia não fazer parte dele).

—Do que você tá falando? -e então tudo vem de uma vez. -Meu Deus você é...

—Sim, eu sou gay e agora você também pode me julgar. -ele levantou bruscamente da cadeira. -Quer que eu chame meus pais? Assim vocês podem fazer um clubinho de “eu preferia que meu filho fosse paraplégico, mas infelizmente ele é gay.”, ou quem sabe parar de falar comigo como quase todos da minha sala fizeram.


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