Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 22
Capítulo 22 - Yuri




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Os últimos dias correram razoáveis e com a ajuda da Lou consegui que eles se empenhassem mais. Adquiriam aos poucos habilidades com as armas dadas, se tornaram mais ágeis, prestativos e habilidosos. Também era visível o que cada um era bom. Diego era um ótimo estrategista, sempre dá ótimas ideias de o que fazer, onde ir e como alcançar mais fácil os objetivos do dia. Heidi é feroz e faz tudo muito determinada (quando está a fim, porque se estiver num dia ruim não dá para esperar nada dela). Hitomi foi a que mais me surpreendeu, sempre achei que ela não tivesse nada de útil ao grupo, mas descobri o quão rápida ela é e desde então todas as vezes que precisamos de velocidade ela é nossa primeira opção. Diego e Louise também faziam alguns avanços, mas nada acima do esperado. Meu maior orgulho era comigo mesmo, que cada vez mais conseguia ser respeitado como líder e ao mesmo tempo querido como amigo. Todas as noites jantávamos juntos e conversávamos sobre tudo possível, no final escolhíamos um filme que ninguém veria até o final.

Nessas nossa conversas de cozinha eu pude conhecer melhor cada um deles, seus passado eram em parte parecidos. Dave tinha problemas com suas notas e acabou se revoltando e deixando a escola. O pai de Diego estava sempre bêbado e batia tanto nele quanto na mãe. Heidi não deixou claro, mas se sente ignorada na casa dela e tudo que faz é pra chamar atenção de seus pais. Não menos importante tem Hitomi que desde que os pais se separaram não conseguiu lidar com a situação. Essas coisas me faziam pensar um pouco na minha própria vida, sempre tive problemas como qualquer um, mas nunca tive essa necessidade de me rebelar contra o sistema e me degenerar. Claro que um ou outro tinham problemas reais, mas alguns deles podiam simplesmente ter ido buscar um psicólogo.

Dia desses descobri a ideia de saída para Heidi, consistia em ir a algum lugar, de preferência abandonado e lá beber e fumar com os amigos. Na escola era conhecida por ser a garota que tinha ido pra cama de todo o time de futebol.

Tudo isso tem seus pontos positivos também, cada um vem de uma cultura muito diferente da outra. Alguns países eu tinha certa similaridade devido à distância, eu moro na Rússia que tá lá entre Europa e Ásia, basicamente sou de dois continentes. Mas tinha Dave e Diego, um da África e um da América do Sul, pareciam outros mundos. Sempre tive ideia do Chile como um lugar tropical e descobri que era frio a ponto de poder esquiar lá. Já a África do Sul onde Dave morava parecia ser magnífica, e era tão mais do que safáris. Quando cada um falava de seu país minha única vontade era de poder visitar todos eles agora.

Eu estava no quarto pensando sobre tudo isso, de olhos fechados para visualizar melhor cada detalhe quando Louise chegou toda animada e falando pelo cotovelos. Mal tive tempo de me arrumar e ela já me puxava para a sala. Estavam todos reunidos em círculo e no meio um novato, depois de quase duas semanas sem nada acontecer, depois de eu finalmente me acostumar com o pessoal. Estava feliz com o antes, mas há quanto tempo já estávamos lá? Para mim pelo menos um mês um mês e meio o que significava que já estava mesmo na hora de terminar de vir a galera.

—Finalmente chegou alguém novo! -Louise estava super empolgada.

—Bom, acho que vou ter que ir lá falar com ele. -disse tentando disfarçar minha falta total de ânimo

No meio da roda estava um menino. Fiquei um pouco decepcionado. Esperava mais uma garota... Ele tinha cabelos e olhos castanhos, sua pele era morena clara e tinha um corpo bem definido. Já não gostava dele de cara, o garoto era bonito sem nem se esforçar. Claro que nada comparado a mim, principalmente depois dessa minha temporada aqui, mas mesmo assim não ia ter reclamado se ele fosse um pouquinho mais feio.

—E aí novato. -falei tentando parecer mais ameaçador do que realmente era. -Qual seu nome?

—Hunter. -ele deu aquele sorrisinho de lado irritante que quem se acha dá. -E o seu?

—Yuri, prazer. -o desgosto estava em cada letra que eu havia pronunciado.

E sem falar mais nada dei meia volta. Eu podia sentir futuros problemas vindo com ele. Respirei algumas vezes e segui para a cozinha onde pelo menos a comida nunca me decepcionava. Comecei a preparar um sanduíche com queijo. Tinha aprendido que quanto melhor nos dávamos como time, mais comidas variadas recebíamos. Ontem chegamos a ter um jantar preparado, uma caldeirada de frutos do mar que estava a oitava maravilha do mundo.

Pouco depois de me sentar Louise entrou na cozinha de braços dados com o novato. Pareciam conversar sobre algo muito divertido que não me interessava nem um pouco. Pra que ser tão gentil com ele? Mal podia esperar a hora de treinar hoje pra mostrar pra ele o que era bom. Queria ver se ia continuar sendo fortinho na hora de pegar no pesado. Tinha cara de quem ia ficar com medo de bagunçar o lindo cabelinho perfeitamente penteado. Se fosse isso, tadinho, o faria sofrer muito. Porém não ia me importar com ele agora, não quando tinha um lindo sanduíche de presunto e uma coca gelada me esperando (mais um dos privilégios que havíamos conseguido).

Segunda era considerado o dia da preguiça. Só treinávamos depois do almoço e a comida era restos da semana anterior. Uma cadeira extra tinha sido colocada para o garoto novo. Cada um se serviu da sobre do que mais gostou de comer semana passada. Quando acabamos a refeição o sol batia forte do lado de fora e fazia muito calor mesmo com os ventiladores da casa ligados, Dave me contou que ele costumava usar ar condicionado igual os que tem no carro, mas em casa. Imagina se um dia eu iria querer isso em casa, lá calor era quando faziam 25 graus, aqui se fizer isso é considerado frio.

Espalhadas pela pedra, uma para cada, se apresentava o meu fim. Eu estava tão feliz que fazia tanto tempo que não tinha que treinar tiro. Eu odiava com todas as minhas forças pegar em uma arma de fogo e só porque tinha um garoto novo metido que eu precisava acabar com a existência era o que tínhamos para hoje. Peguei a minha meio de mal jeito e mirei no meu alvo. Passou rente, mas não acertou. Olhei para o lado esperando que ninguém tivesse visto. Eu era quase que exemplo em todos os outros treinos, mas esse não rolava, para minha sorte todos estavam concentrados demais nos seus próprios afazeres. Não muito longe de mim estava Hunter. O novato acertou bem no centro do alvo e Louise logo foi parabenizá-lo. Puxei de novo o gatilho da arma e disparei, dessa vez o tiro foi certeiro.

Passado um tempo de treino onde a única que realmente acertei foi aquela juntei o grupo para ler as instruções do dia. Assim que a primeira parte do grupo terminou de chegar todo dia nos davam uma atividade diferente para fazer assim que terminássemos de treinar com o que nos era dado. Muito mais divertido do que quando estava sozinho que a maior atividade era caçar e colher verduras e frutas. Já estava quase eu me tronando uma árvore.

Hoje era um jogo. Nos separaríamos em dois times e eu seria o atrapalhador. Pela floresta 50 alvos estavam espalhados. O time que conseguisse atirar em mais alvos ganhava. A divisão era entre meninos e meninas, sendo o time deles laranja e o delas verde. Os times também deveriam estar sempre juntos. Meu papel, era tentar atirar com a tinta roxa no máximo de alvos possíveis atrapalhando os dois times.

Minha vantagem consistia em conhecer a floresta a mais tempo que todos eles. No time feminino, devido a ela estar parecendo bem dedicada hoje (e eu sabia exatamente o porquê), tinha Heidi que ia atirar sem dó nos alvos. No masculino o novato parecia ter uma mira muito boa.

Ouvimos o sinal que vinha do além soar e saímos cada um por uma direção. Pensei em tomar o caminho do rio, mas com certeza Lou levaria as meninas por lá. Optei então em ir para o meio e me embrenhar nas árvores altas. Corria com toda a velocidade que tinha. No meio do caminho encontrei o primeiro alvo. Podia tentar acertar de onde estava, mas ele tinha sido pendurado muito alto na árvore. O jeito era escalar. Devido a força adquirida nos últimos dias isso tinha se tornado fácil. Quando estava a uma distância de cinco metros atirei. O primeiro tiro do jogo.

Pulei da árvore e continuei caminhando, agora mais tranquilo. Ao longe ouvi outro tiro. Vinha da direção do rio. A minha esquerda encontrei os meninos. Eles ainda não tinham visto, mas tinha um alvo bem abaixo deles. Ninguém tinha tido a ideia de olhar para baixo. Se eu pelo menos conseguisse sem chamar a atenção. Era uma distância boa, mas não tinha outra escolha. Mirei bem e respirei fundo.

As coisas podem sair muito erradas ou um pouco erradas, mas não é porque não foram certas que são ruins. No momento em que eu atirei o novato passou na frente e o tiro descreveu um arco em sua bunda. Não machucou sério é claro, mas ele sentiu um sério desconforto e agora tinha uma mancha roxa na calça. Sai de perto discretamente deixando aquele alvo para eles. Já tinha ganho o dia.

O jogo durou por volta de três horas onde cada time pontuou bastante. Encontrei o time dos meninos várias vezes e o feminino uma só vez quando elas acertaram um alvo que era tão meu, mas tão meu que tive vontade de gritar. Um de cada equipe devia ir recolhendo os alvos para que a contagem fosse feita na frente de todos e devíamos andar sempre juntos para que não houvesse roubo. Fomos eu, Hitomi e Diego. Por sorte todos nos lembrávamos mais ou menos onde eles estavam.

Já de volta com todos comecei a contá-los. separando em três grupos. No final a vitória foi feminina, com 26 alvos pintadas de verde. Droga provavelmente iam recompensá-las com algo legal, se bem que o legal delas não me animava tanto, eu queria muito um videogame. Em segundo para minha satisfação pessoal estavam os alvos roxos! Numa totalidade de 13! e eles com meros 11 e uma calça pintada de roxo. As meninas resolveram levar os alvos e pendurá-los pela casa de modo a comemorar sua vitória. Dentro da casa diversos cremes e produtos de beleza as esperavam, queria muito saber como eles faziam isso.

Já era tarde quando Lou me chamou para fora do quarto afim de conversarmos.

—Mas que droga foi essa Yuri? -ela parecia bem irritada.

—O que eu fiz? -perguntei genuinamente sem saber e feliz demais para me importar.

—O que você fez? Você foi um idiota com o Hunter o dia todo! -ela parecia verdadeiramente zangado e isso me deixou irritado. Qual o problema se impliquei um pouco com ele?

—O novato? -não queria chamá-lo pelo nome, dava intimidade demais. -Não fui muito com a cara dele não.

—Eu acho que na verdade você tá com inveja. -Louise me desafiava a negar. -Porque você era de longe o mais bonito daqui e agora tem ele para competir.

—Claro que não! -respondo rápido demais, de alguma forma isso doeu vindo dela. -E tem mais, o que foi você toda de amiguinha com ele? Tava bem ridículo se você quer saber. -se ela podia me por contra a parede eu também podia pô-la.

—O que você tá falando? Meu Deus Yuri. Em primeiro lugar você que me pediu ajuda para manter tudo em ordem aqui. Se não fosse por mim o garoto ia estar odiando esse lugar e na real não tem porque não odiar. Você é o líder, você que devia ter feito o que eu fiz, mas em vez disso só deu fora nele. Ele foi te perguntar onde era o tal rio e você falou que era no rabo dele! -ela agora parecia mais chateada que com raiva. -Por que você foi tão babaca?

—Não sei ok? Não gostei do garoto, não bateu. -não tinha motivo essa conversa, eu estava ótimo antes dela aparecer me dando sermão.

—Não é só inveja que você tá. É ciúme também. -disse ela num tom de certeza que quase me fez rir.

—Ah, mas essa é boa. Ciúmes? Dele? -digo chegando perto dela e agora com raiva a ponto dos meus punhos cerrarem.

—Não, ciúmes de mim. -e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela me beijou, fiquei sem reação por alguns segundos até meu corpo entender o que tava acontecendo e finalmente retribuir.


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