—To te falando cara, essa garota é fácil. Já explorei o território. Ou você acha que eu sou idiota? -sabia que parecia um babaca falando assim, mas ao mesmo tempo sempre agia assim na frente do pessoal da escola, sentia que precisava sempre se mostrar para ser aceito.

—Tá bom cara, relaxa aí. Ela é realmente gata e tudo, mas e você? Desculpe te desapontar meu caro amigo, mas você é feio.

—Veja e aprenda com o melhor. Até o final da noite ela é minha. -disse ele na sua melhor posição de macho alfa.

—Você é muito babaca Yuri. -seu amigo ria, no fundo ele sabia que ele não era isso tudo que mostrava. -Mas se pegar mesmo a Ekaterina eu quero a amiga dela.

Devia estar por volta dos dez graus negativos, mas ninguém parecia ligar. Havia uma grande fogueira e as pessoas dançavam ao som de música pop americana e russa. Yuri tinha uma garrafa inteira de vodca na mão. Abriu e começou a bebê-la, em parte era pra se esquentar, mas também era para tomar coragem de chegar na garota que o chamou a atenção desde o início. Ele a conhecia da escola, era um ano mais nova, mas muito gata. Havia apostado no primeiro dia de aula com seu amigo que conseguiria ela e até agora não tinha feito grandes avanços.

Yuri nunca foi o mais popular da escola, esse lugar ficava com o pessoal do último ano, mas havia uma boa chance que ele conseguisse isso no futuro. Era conhecido por fazer gracinhas na hora errada e ser bom no róquei. Na sua cabeça só passava o pensamento que precisava ficar com Ekaterina e hoje. Pegou seu celular e pôs na câmera frontal. Seu cabelo loiro estava um pouco bagunçado debaixo do beannie, uns fios rebeldes sismavam em não ficar para dentro.

Ekaterina dançava com outras meninas do primeiro ano da escola, daquela forma que elas dançam quando tem segundas intenções, nunca tirando o olhar do escolhido. Até hoje a maior conversa que tinham tido havia se resumido em como chegar a biblioteca. Isso aconteceu a uns três anos, assim que ela entrou na escola. Seus cabelos ruivos estavam presos num rabo de cavalo alto, seus cachos se agitavam enquanto ela dançava. Yuri teve que se lembrar algumas vezes de fechar a boca.

—Ei bobão! -gritou para seu amigo que agora estava muito entretido conversando com a ex. Que idiota, já não era a primeira vez. -Se quiser a amiguinha gata vem pra cá logo.

—To indo cara. Relaxa aí. -Aleksey definitivamente nunca seria o mais popular da escola, nem teria várias garotas olhando para ele, mas andar com Yuri lhe dava um bom status.

Aleksey ainda se encontrava no meio do processo de puberdade. Tinha o rosto com muitas espinhas e seu cabelo castanho estava sempre sebento. Isso sem contar que por ser muito alto e magro tinha dificuldade de andar normal. Pelo lado bom ele era bem gente boa e inteligente nas matérias que todos consideravam difíceis. Não, ele não era nerd, não naqueles esteriótipos, o moleque só era feio e inteligente, mas não passava o dia estudando ou colecionando bonequinhos. Yulia, a amiga gata, da qual Yuri havia comentado não iria nem ligar pra ele. Mas ele sabia que como melhor amigo seu dever era ao menos tentar.

Ambos começaram a andar em direção as garotas. Yuri arrumava seu beannie pela milésima vez para ter certeza que estava no lugar sem nenhum fio de cabelo para fora. Ele era um tanto quanto paranoico com seu cabelo. Aleksey por outro lado... Bem, tentava dar um passo após o outro. Uma rajada de vento passou fazendo com que os amigos tremessem e apertassem ainda mais seus casacos.
Pararam diante das garotas. Yuri não se sentia mais tão confiante quanto a cinco minutos atrás. Colocou as mãos no bolso incerto sobre o que fazer em seguida.

—Ouvi dizer que as meninas aqui tão com frio. -que coisa mais estúpida de dizer. -Então posso dizer que cheguei cheio de fogo. -pelo menos se elas não o achassem totalmente retardado ele passaria por engraçado, mas essa era uma linha muito tênue que ele tinha uma grande facilidade de ultrapassar.

—Ouvi dizer que muitos meninos estão cheios de fogo para mim hoje. -Ekaterina tinha aquele sorriso de quem sabe quem é e o efeito que causa.

—Mas nem todos te trouxeram uma garrafa dessa belezinha. -disse ele puxando a garrafa de vodca de um menino aleatório que deu o azar de cruzar seu caminho.

Ekaterina sorriu, pegou a garrafa e deu alguns goles.

—Tenho que dizer que foi um bom presente Yuri.

—Mereço algum prêmio? -quando ela respondeu que sim, ele já sabia que havia ganho essa. Alguns sinais você passa a reconhecer com o tempo.

Os dois seguiram para debaixo de uma árvore com as folhas congeladas, formando pequenas estalactites de gelo. Alternavam entre se beijarem, conversarem sobre assuntos banais e beberam. Se a polícia aparecesse ali estavam todos numa péssima situação, nenhum deles era maior de idade, mas também quem liga? Olhou por sobre dela atrás de seu amigo. Ele dançava de um jeito totalmente sem ritmo e engraçado, mas Yulia parecia achar bonitinho (estava longe disso). Pelo menos agora sem mais ter que se preocupar com Aleksey podia focar toda sua atenção na menina gata com a qual dividia a bebida.

Pegou sua mão e lentamente a puxou para si. Ela por sua parte não fez nenhuma menção de recuar. 1X0 Yuri. Nossa, hoje era seu dia de sorte. Não podia ter esperado menos.

O tempo parecia congelado e tudo que importava era passar a mão em sua pele macia escondida por diversas camadas de roupa e seu lábios. Poderia passar o resto da noite assim que não se importaria, mas infelizmente nada dura para sempre. Estavam bem entretidos um com o outro quando alguém pôs as mãos em seu ombro, quase o fazendo pular de susto.

—Quem diabos é esse aí? -perguntou um garoto bem alto e moreno para Ekaterina.

—Sai daqui Viktor! -respondeu ela empurrando Yuri um pouco para longe.

—Vem aqui ratinho! -agora era com ele e não tinha muita opção a não ser levantar. -Eu sei quem você é, tu tá no segundo ano né? O que você está fazendo com a minha garota?

—Para Viktor! Ele não tem nada haver! -Ekaterina tentava em vão fazer com que o garoto se acalmasse

—Vamos ver se ele não tem mesmo. -e antes que Yuri pudesse dizer qualquer coisa para se defender, um soco de três toneladas atingiu seu rosto.

Sentiu o sangue escorrer pelo rosto e quando pôs a mão sobre seu nariz teve certeza que estava quebrado. Levantou sua mão para revidar, mas antes de chegar perto do alvo levou um chuto no estômago. O que esse garoto era? Sua mente estava turva devido a dor que sentia. Um lutador de MMA talvez? Tentou mais uma vez tomar o controle da situação, mas foi arremessado de encontro a uma árvore e apagou.