Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 19
Capítulo 19 - Camila




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Me sentia cada vez mais sozinha apesar da casa estar cada vez mais cheia. Samira era legal, da casa definitivamente era quem eu me sentia mais próxima. O Angelo era italiano e o Juán equatoriano, ambos eram aturáveis, pelo menos comparados ao Mike, o australiano bonitinho que se achava o último trakinas do pacote. Malifa tinha vindo de uma pequena tribo da Nigéria e não era muito comunicativa, de verdade, era quase como se ela não existisse. Queria que o restante chegasse logo e eu duvido que isso iria acontecer antes que eu conseguisse domar estes monstrinhos. Descobri que a grande maioria entra na sala de treinamento e não faz nada, ou faz coisa pior tipo brincar de guerra de espada e sair machucado.

Ontem pela primeira vez tinha visto Samira confortável em tirar o Hijab. Seu cabelo era enorme, tinha uma cor de dar inveja, era lindo. Perguntei se podia cortar para dar mais movimento e foi quase como se tivesse cometido um crime. Imediatamente a garota cobriu a cabeça de novo. Angelo quando chegou não pude concordar mais com seu nome. Tinha a pele muito branca, olhos verde claro e cabelos extremamente pretos. Além de tudo era uma pessoa muito fofa, sempre tentando ajudar e o mais perto de um bom aluno, mas quando algo o contrariava ele podia se tornar muito grosso.

Juán era o mais engraçado, dava para dar boas risadas como ele. A conversa só não era melhor porque de certa forma ele sempre caia num tema machista que me dava vontade de meter a porrada nele. Malifa como eu já comentei não fazia muita diferença na casa e não gostava muito de falar comigo porque achava que eu sempre queria mandar nela, o que em parte estava certo, mas em parte essa era minha obrigação e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. E finalmente tinha Mike, quando descobri sua nacionalidade logo me animei, meu sonho sempre foi um menino australiano, loiro de olhos claro, com um ar de surfista típico dos filmes. O que me veio foi um garoto com todas essas características físicas, a primeira vista o cara da minha vida, até que ele abriu a boca. Imagina alguém que não consegue falar uma frase sem 10 palavrões e um passa fora, que reclama de tudo e não aceita nada que é dito. Esse é Mike

Como ficou óbvio de perceber não eramos um time muito unido. Todos já estavam ganhando habilidades, não tinham como escapar sempre, mas cada um se desenvolvia sozinho e nunca como grupo. Um ponto que me agradava de tudo isso era que eu estava ficando com um corpo muito maneiro e quando saísse daqui primeira coisa que ia fazer era mostrar pra todo mundo e jogar na cara de quem não me quis. Voltando ao assunto principal, agora eu era vista como uma líder, talvez justamente por isso alguns não fossem com a minha cara. Além da minha melhora em mandar eu estava melhorando em lutar, era muito boa no corpo a corpo e sabia me virar bem lançando coisas, facas então eram ótimas.

Toda essa situação de desunião do grupo porém, já estava bem cansativa optei por fazer algo diferente. A primeira coisa que me passou na cabeça foi uma festa de integração, mas duvido que fosse dar certo, eles não são dos mais confiáveis e tenho certeza que alguma coisa daria muito errado e então eu ficaria com a moral lá em baixo. Então utilizando todos os meus dons de animadora de festa infantil, (eu cheguei a trabalhar numa casa de festa no terceiro ano para ter mais dinheiro e sair mais) decidi por uma dinâmica de grupo. Claro que a reação inicial foi de não aceitar, a maioria dizendo que era muito de criança ou que parecia aqueles grupos de autoajuda, mas eu sou ótima convencendo. Minha tática? Tranquei todo mundo no centro de treinamento e peguei o controle.

—Gente foi mal os meios, mas vocês podem ser bem cabeça duras de vez em quando. -tentei ser sutil enquanto caminha para o centro da roda. -A primeira coisa que eu quero que a gente faça é simples. -estava começando a pensar em algumas carreiras, podia liderar grupos do AA. -Cada um fala seu nome, idade, uma característica positiva sobre você e uma negativa.

Olhei a expressão deles. A maioria fez cara de tédio. Pedi por um voluntário, mas foi em vão. Então tive que ser mais incisiva e escolhi Malifa, por sem quem eu menos conhecia.

—Malifa, 15 anos. -sua voz era quase inaudível. -Sou boa em matemática. Não sou boa em fazer amigos. -será que todos os depressivos estavam comigo? Esperava que o outro grupo fosse ainda mais desanimado e que seu líder sofresse ainda mais.

Mesmo sem eu ter que falar nada Mike que estava a direita dela resolveu desembuchar, pelo menos eles tinham raciocínio lógico.

—Meu nome é Mike, tenho 19 anos. -o sarcasmo em sua voz me dava raiva, mas ao mesmo tempo queria rir da sua imitação de grupo de ajuda. -Sou bem forte. -nesse aspecto eu não podia descordar, o moleque levantava uns pesos enormes que eu ficava só imaginando um dia conseguir. -Sinto prazer em ver o circo pegando pegando fogo, na real gosto de se eu a atear. -e agora tava explicado como nosso lindo tapete da sala tinha virado cinzas da noite pro dia, ele levava isso do circo pegando fogo ao pé da letra.

—E sou Samira, e tenho 16 anos. -cada dia mais ela parecia estar se tornando uma pessoa com confiança em si própria e eu meio que me orgulhava disso, comparado com como havia chegado era um progresso e tanto. -Eu luto pelos meus direitos, mas... Não acho que faço da forma certa. Sempre acabo tentando agir sozinha... -ela precisava melhorar os seus defeitos, isso não era um, podia ter dito sobre o seu problema de perder a cabeça em dois segundos quando discutia e se tornar um outro ser.

—Juán Ramírez o próprio, o gatão de 17. -ele era uma comédia em todos os momentos, inclusive naqueles que não deveria ser. -Além do óbvio que todos já perceberam, a minha beleza, -não era feio, mas dizer que sua beleza era uma qualidade tava longe, Mike o humilhava nesse quesito.- eu também sou mui engraçado. E defeitos? Não acho que tenha um, mas costumam me dizer que sou machista e tiro notas não tão agradáveis aos meus pais, um dia também disseram que sou desobediente, mas eu discordo. -é eu não.

—Angelo Santoriva, 18. -até a voz desse menino era angelical. -As pessoas dizem que me preocupo muito com os outros. Meu maior defeito depende... Para pessoas normais seria eu sair todas as noites e voltar as cinco da manhã, mas para meus pais é eu ser gay... Quer dizer, eles não se importam onde estou ou o que faço, mas o fato de gostar de homens é a morte -não conhecia os pais dele e agora também não queria, pessoas assim não são o tipo de humanos que quero por perto.

—Camila Montes, 18 aninhos. -não era muito confortável fazer isso em pé no meio da roda, preferia estar sentada com eles, mas agora já tinha começado. -Acho que de qualidade eu posso dizer que sempre tento ver as coisas da melhor forma possível, não gosto de estar triste ou de me fazer de vítima. Já meu defeito é fácil, nunca soube demonstrar quem sou por inteira.

Diversos murmurinhos surgiram na sala. Cada um comentando sobre o outro. Tentei ao máximo não falar de ninguém e permanecer onde estava no centro da roda. Foi bom eles falarem, pudemos nos conhecer um pouco mais e acho que isso é bem importante quando você convive com alguém. Eles foram bem sinceros também e significa que de certa forma posso confiar um pouco mais neles, não são de todo ruim. Agora era hora da fase dois da dinâmica da tia Camila.

—Oie! Atenção na colega de cabelo rosa aqui! - falando em cabelo rosa podiam sério me ceder tinta de cabelo, porque tava ficando bem feio desbotado como tava. -Eu tenho só mais uma ideia. -eu tinha o silêncio e atenção total, o que me deixava longe da zona de conforto, mas era agora ou nunca. -Todos os dias nós chegamos aqui e treinamos individualmente. Ás vezes nos ensinam a usar espadas, outras a atirar com armas de fogo, enfim, temos bastantes opções. Porém vocês já devem ter reparado que ás vezes eu entro aqui sozinha, nessas horas eu estou num simulador, nele cria-se histórias e cenários onde tenho que resolver rápido o que fazer para alcançar o objetivo. Ainda não tinha contado nada porque não confiava em vocês para isso, mas acho que toda essa conversa serviu pra ver que todos temos uma parte importante como time. Temos Malifa que pode resolver cálculos e sei lá o que mais, imagino que seja boa no raciocínio rápido. Mike que pode nos ceder a força, Samira que é determinada e só precisa de uma direção. Tem também Juán que além de distrair os inimigos com sua beleza sabe descontrair quando precisa, e quando não precisa devo acrescentar. Angelo por outro lado estará sempre atento as nossas necessidades e seria ótimo na retaguarda. E não menos importante temos euzinha aqui que estou me esforçando ao máximo para sermos um time. -Não consigo saber o que pensam, ninguém esboçou reação alguma, só torço que não queiram rir da minha cara. -Então o que me dizem?

Mike foi o primeiro a concordar balançando discretamente a cabeça em concordância Os outros aos poucos o seguiram e em pouco tempo estávamos decidindo nosso destino. Ou melhor eu estava.

 


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