Fase Experimental escrita por Camila Fernandez


Capítulo 14
Capítulo 15 - Camila




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/579441/chapter/14

Estava preparada para mais um dia cansativo de assistir tv e aprender a lutar até levantar e olhar para frente. Lá encontrava-se minha primeira discípula. Sen-sei Camila estava pronta para entrar em ação. Cheguei perto da cama com a curiosidade me dominando por inteira. Era uma menina bonita, o que me deixava mais decepcionada ainda, já que no fundo eu esperava um cara gato. Ela tinha cabelos lisos, que pareciam ser bem compridos e a pele em tom de oliva.

Deixei a menina dormindo e fui me arrumar na esperança que ela acordasse nesse meio tempo, mas logo vi que isso não aconteceria. Meu forte nunca foi acordar os outros, porque sou muito pouco delicada e isso costuma incomodar, minhas táticas costumam se resumir em gritar, chacoalhar e jogar água gelada. Cutuquei-a de vagar e não surtiu efeito algum. Tentei então pedir calmamente que ela se levantasse e, novamente nada. Comei então a ser um pouco mais bruta e no final já estava utilizando os meu métodos nada fofos tentando acordar a menina.
Depois de uma longa guerra ela abriu os olhos.

—Bom dia! -disse tentando ser educada e receptiva.

—Hã... É, sim, bom dia. -seus enormes e invejantes olhos verdes pareciam aflitos. -Será que você pode me dar um minuto sozinha? -sua voz era doce

Concordo e saio do quarto fechando a porta lentamente, ates que ela fique ainda mais assustada. Eu não sou tão feia assim, ou será que sou? Será que foram minhas maria chiuinhas que a assustaram? Claro que não, devem ter sido meu cabelo rosa. Não tinha muito o que fazer enquanto a esperava, não ia começar a treinar para parar no meio, ou pior ainda, começar um episódio e ver um só. Decidi então por fazer a coisa mais esperta que pude pensar. Comer. Uma linda fatia de bacon e um copo de coca agora cairia muito bem. E depois uns 50 abdominais para queimar o que ia entrar em mim, ou não.

Estava no meio do meu segundo ovo mexido com bacon quando a garota se aproximou de mim. Ela usava uma calça jeans, como uma blusa vermelha comprida e uma burca preta. Achei tão legal. Nunca tinha visto uma pessoa ao vivo de burca. Dentro dela seus olhos agora maquiados se destacavam ainda mais. Ela deve ter reparado que a encarava por um bom tempo porque começou a se sentir ainda mais desconfortável, eu tinha esse poder.

—Desculpa. -comecei envergonhada por tê-la quase arrancado um pedaço de tanto olhar. -É só que nunca vi ninguém usando esses trajes.

—Tudo bem. -sua voz era baixa e envergonhada. -Eu que peço desculpas por como agi quando me acordou. é só que... -caramba queria muito poder apertar ela, era fofa demais.

—Eu sei, você estava com o cabelo de fora e mesmo eu não sendo homem você não me conhece aí teve que por a burca e blah. -eu sabia de algumas coisas da cultura dela, mas não queria parecer prepotente. -Quer dizer, pelo menos foi o que ouvi falar.

—É, acho que posso dizer que está certa. -ela soltou um riso envergonhado. -E isso não é uma burca, e sim um Hijab.
—Hm... Foi mal -me desculpei enquanto colocava uma garfada de ovo na boca, eu sabia que não era educado, mas isso nunca me impediu de falar de boca cheia. -Acho que falta algo muito importante. Importante do tipo, qual seu nome?

—Samira. E o seu? -ela estava sentada e olhava o tempo todo para baixo.

—Camila.

Eu me sentei do seu lado e ofereci algumas frutas e sucos. Pudemos desfrutar dessa incrível cozinha. Ela podia parecer frágil, mas comia direitinho.

Quando acabamos de comer tive que explicar que não precisava lavar nem nada e a cozinha estaria pronta na próxima refeição, ela pareceu estranhar, mas aceitou feliz o fato. Depois disso me sentei no sofá. Queria ver alguma coisa, mas não sabia o que ela gostava. Optei por colocar música mesmo. Liguei na rádio pop e Justin Bieber ecou pelos auto-falantes.

—Isso é aquela garoto loirinho né? -ela balançava a cabeça ao ritmo da música.

—Justin Bieber. -como ela podia não saber? Ele era tipo assim, absurdamente famoso -De onde você veio? Marte?

—Não, sou da Terra mesmo, mas onde eu moro nós não ouvimos essas músicas do ocidente. -responde ela antes de se lembrar de mais um detalhe. -Aliás de onde você é?! -ela parecia assutada mais uma vez.

—Hã... eu sou do Brasil, e eu tenho um sentimento que você não... -diversas coisas passavam pela minha cabeça nesse momento.

—Eu sou do Líbano, o que é bem longe.

Ok, ela era libanesa e eu brasileira e nós estávamos conversando normalmente. Isso não fazia o menor sentido, isso era errado, eu nunca aprendi libanês na minha vida. Cada vez mais esse lugar me surpreendia, como que isso funcionava? Mal podia esperar a minha segunda chance de fazr pergunta, elas se acumulavam rapidamente. Tentei não fingir espanto e manter a calma, mas isso não era lá muito fácil e ela provavelmente reparou que algo estava errado.

Perguntei a ela o que sabia desse lugar. Para Samira isso era um acampamento que seus pais a mandaram por mal comportamento, seja lá o que tenha feito não me falou. Ela também me contou que antes de vir algo foi implantado em seu braço, era para estar inconsciente, mas de alguma forma ela viu e agora havia uma marca no seu braço direito logo acima do cotovelo. A ideia do acampamento era juntar pessoas de diversos países na busca de melhorar o comportamento delas, trocando experiências e vendo seus erros.

Olhei então para meu braço direito e nele havia uma pequena mancha arroxeada. Lembro de tê-la visto antes, mas tinha dado como um acidente de percurso. Nos últimos dias com os treinos cada dia eu ganhava uma novamarca de guerra, fosse um corte na barriga, um roxo no olho (que durou uma semana e era horrível), um joeho esfolado. Devido a isso não dei importância ao roxo do braço, mas isso podia inclusive responder como nos entendíamos.
Agora a pergunta era o quanto disso tudo eu podia contar para ela? Devia mostrar logo a sala de treinamento? Fazê-la treinar ou lutar em simulador? Droga, não me preparei para quando alguém chegasse, queria isso, mas agora via que ia ser mega difícil.

Pedi um segundo para Samira e fui para minha sala de treinamento. Passei a me sentir confortável nesse lugar e se tivesse algum dica do que fazer ela estaria lá. Na parede de fundo perto do controle apareceu uma luz branca. Sentei esperando para ver o próximo passo da luz. Um filme surgiu no lugar. A mensagem era clara como a luz que apareceu primeiro: Treine-os, ensinei-os, faça deles seus moldes, mas não conte até o último momento o real prop[osito daqui ou tudo vai por água abaixo. Chefe é chefe né pai? Fechei a porta já pensando em como agir. Ela era só a primeira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fase Experimental" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.