Eventualmente Claricce Stracci escrita por TM


Capítulo 3
Capítulo 3




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Manhattan, 09:34

A manhã estava nublada, fria. O céu combinava com o humor de Suzane. Ela acordou desesperada, tomou um banho rápido, colocou seu melhor terno e foi tentar conseguir um taxi. Ela mandou uma mensagem pra senhorita White, confirmando o encontro das duas a tarde.

Parecia que ela estava vestida com uma capa invisível. Ninguém a via, e os que viam, a ignoravam.

Depois de ficar quase uma hora de pé esperando um taxi, ela desistiu da ideia e resolveu ir ao trabalho a pé. Na metade do caminho começou a dar uma garoa de leve, o que fez Suzane acelerar o passo. Sua mesa estava lotada de papéis e seu cabelo estava encharcado, ela foi até a sala de Mason e hesitou em bater na porta, até que a porta se abriu e ela encarou Mason. Ela nunca tinha o visto sorrir tanto dessa forma, o que fez com que ela ficasse curiosa a respeito.

– Eu preciso falar com você. – Suzane disse ainda o encarando.

– Claro, entre. – Ele olhou bem nas roupas dela. – O que aconteceu, Suzane?

Ela se sentou e esperou ele sentar na cadeira a sua frente, quando finalmente sentou ela respirou fundo.

– Então, é sobre isso que eu queria falar com o senhor. Minha mãe está doente, e eu queria que você me desse folga por tempo indeterminado... Não sei quanto tempo ela vai precisar de mim e também vai levar tempo pra eu me acostumar com essa ideia. – Ela olhou pro chão. – Me desculpe.

– Mas o que ela tem de tão grave? – Ele soou preocupado – diferente daquele Mason que Suzane estava acostumada.

Ela pensou nas vezes que assistia House, e se lembrou do doutor James Wilson, o oncologista.

– Câncer no pulmão, estágio três. – Ela fungou, fingindo que estava prestes a chorar. – É triste aceitar, sabe? Você nem faz ideia do quanto é difícil. A químio tá acabando com ela. Literalmente.

Mason se levantou e abriu a porta para Suzane.

– Eu lamento muito, Suzane. Te dou a folga, te dou todo o tempo que precisar. E se precisar de qualquer coisa, não hesite em pedir. Não vou te segurar por mais tempo, pode se levantar e ir ver sua mãe. – Os olhos castanhos dele encontraram os de Suzane. - Boa sorte.

– Muito obrigada, senhor Mason. Isso significa muito pra mim e pra minha mãe... Mas e a substituta? Quem vai ficar no meu lugar? N-N-Não posso deixar o senhor com toda essa papelada! O senhor vai se perder.

Ele riu.

– Claro que pode ir, Suzane. Eu arranjo alguém, mas nenhuma delas vai ser tão boa quanto você, não se preocupe com nada, está bem? Quando você estiver pronta pra voltar, a corporativa estará lhe esperando. Agora por favor, vá, vá!

Suzane se levantou e segurou as mãos de Mason, ele ficou corado.

– Muito obrigada, Charlie! Isso significa muito pra mim! Até logo, chefe.

E depois de passar pela porta da frente, ela começou a sorrir. Jamais se sentira tão livre e tão feliz num só momento. Quando estava nos degraus da corporativa ela se deu conta de que estava sendo vigiada por alguém, e quando ela virou pra esquerda, ela logo reconheceu os impactantes olhos azuis. Era Christopher Jane.

Ele veio sorrindo em sua direção com os braços abertos, e quando chegou perto dela, olhou de cima a baixo, o que fez ele sorrir ainda mais.

– Ora, ora, ora, o que temos por aqui... Parece que você fica mais bonita a cada dia! Como tem andado a vida?

– Não muito bem, errr.. Minha mãe tem câncer. Tenho que ir. Tchau. – Ela foi andando em direção pra rua até que ele puxou seu braço e a forçou olhar em seus olhos.

– Sinto muito. Qualquer coisa... – Ela não deixou ele terminar.

– Eu sei, você está aqui. Obrigada tá? Obrigada mesmo. Mas agora eu tenho que ir, mesmo.

Ela foi até uma padaria não muito longe dali e reconheceu a mãe de Jesse White, ele era o mais um jovem que fora raptado pela máfia dos Cordopatri, os inimigos dos Stracci. Parecia que as famílias estavam procurando soldados, e que uma nova guerra iria acontecer. Alguém tinha que impedir. E se o destino e Deus permitissem, esse alguém seria Suzane.

Melina parecia distante, talvez estivesse pensando em seu filho. Quando Suzane chegou mais perto da mesa em que ela estava sentada, abriu um sorriso.

– Senhorita Melina? – Ela ergueu a cabeça para ver quem a chamava. – Oi, sou eu, Suzane Dudek, a advogada que te telefonou mais cedo, está lembrada de mim?

Melina sorriu, seus olhos brilhavam.

– Ah, oi! – Melina fez um sinal com a mão para que Suzane sentasse. – Por favor, sente-se. Então... Você quer pegar um papel pra anotar?

– Ah, claro! Claro, espere um pouco. – Suzane tirou um bloco de anotações do bolso, e pegou a caneta que estava em sua camisa. – Pronto. Então, quer começar a me contar desde o começo? Quando Jesse desapareceu...

Melina passou a mão nos cabelos em seus cabelos pretos e os prendeu com uma presilha. Ela olhou pra Suzane, e concordou com a cabeça.

– Jesse desapareceu na segunda feira, eu acredito que ele foi sequestrado depois do trabalho, sabe, Jesse não é assim, dessas coisas. E então, ontem, depois que aquela mulher falou sobre o desaparecimento da filha dela e da tal máfia, comecei a desconfiar. Até que – Ela tirou um papel do bolso. – me mandaram esse e-mail. Foi só assim que eu descobri que meu filho estava com aqueles bandidos.

Suzane deu uma olhada rápida no papel e logo o guardou no bolso. Suas mãos tremiam de ansiedade, e ela estava tensa.

– Então, o que a polícia diz sobre o caso?

– Eles não dão a mínima. Eu até disse sobre o e-mail, mas parece que eles insistem em criar a ilusão que tudo está bem, que tudo está correto. Jesse pode estar por aí, vendendo drogas ou se prostituindo. Ou até mesmo, morto. Sabe, Suzane – Melina chegou mais perto da advogada. – eu só estou lhe falando isso pra você expor isso para o mundo! Quatro dias sem meu filho, meu bebê...

– Certo, senhora White. Prometo que vou descobrir tudo sobre a respeito da gangue que sequestrou seu filho. – Suzane sorriu confiante.

– É família.

– Me desculpe? Não entendi. – Suzane arqueou uma sobrancelha.

– O que nós chamamos de gangue, os italianos chamam de família. Tome cuidado com isso, Suzane, você pode se machucar.

– Pode deixar, Melina. – Suzane estendeu o braço pra ela. – Foi um prazer falar com você, obrigada por tudo, inclusive pelo e-mail. Quando descobrir alguma coisa, eu entro em contato.

– Obrigada. – A voz de Melina parecia fraca.

Manhattan, 16:40

Ela estava sentada na Times Square quando decidiu abrir o papel que Melina a dera. Primeiro olhou para os dois lados pra ver se ninguém estava a observando. Ninguém. Pelo menos ninguém que ela pudesse ver.

Decidida a acabar logo com isso, abriu o papel e ficou surpresa com as palavras que estavam escritas lá.

Melina Swan White.

Estamos com o seu filho, Jesse. Você já deve ter relatado o desaparecimento dele, e isso é ótimo. Até por que ninguém sabe quantos da nossa família estão na polícia, não é? Nem sempre a máfia tem os caras maus, também temos os que vocês consideram bons.

Sabemos que depois daquela entrevista, nossa entidade pode estar exposta pro mundo. Cabeças vão rolar. Muito sangue de gente inocente será derramado.

Esperamos que os Stracci não estrague nosso momento. Deixamos este recado a eles. Queremos que você seja igual aquela mãe da TV, fale a todos, principalmente a família Stracci que estamos de olho neles. Se não o fizer, nós mesmo o faremos. E não pense que só tem essas famílias rondando Manhattan, pois tem várias. E todas de origem italiana. Nós trouxemos a bandidagem pros EUA, e por isso, eles não podem nos pegar.

O recado está dado. Jesse mandou lembranças a você e ao seu marido, Ryan.

Atenciosamente, Família Cordopatri.

Suzane releu aquele e-mail mais de três vezes, pra ver se era aquilo mesmo que estava escrito. Parecia que ela estava atordoada. Tudo em sua volta rodava.

Ela se levantou e foi cambaleando até um Café mais próximo. Logo reconheceu sua amiga, JJ. Teve um breve devaneio, e lembrou dos tempos da escola, no qual JJ se dizia ser fã de Suzane. Ela riu. JJ logo veio atende-la.

– Olha o que temos por aqui! A grande Suzane Dudek, boa em tudo que fazia, especialmente em roubar o coração dos garotos. Em que devo a honra, senhorita? – JJ fez uma referência da alteza pra sua amiga.

– Também estava com saudades, Justice. Quero um café, por favor.

– Mas você não toma café, nunca gostou. – JJ pegava uma xícara e colocava na frente de Suzane.

– Pois é, vou começar a tomar agora. – Suzane sorriu enquanto JJ enchia a xícara com aquele líquido eletrizante. – Obrigada, JJ.

– Você está com uma cara abatida, aconteceu alguma coisa? – JJ a encarava.

– Nada que eu possa resolver em questão de segundos, agradeço a preocupação.

– Uma vez sua fã, sempre fã! – JJ brincou. – Já volto, tenho que atender outros clientes.

Suzane concordou com a cabeça enquanto tomava um bom gole do café. Ela observou todas aquelas pessoas engravatadas, sempre com o celular na mão e tomando uma boa dose de café. Ela sorriu ao lembrar de Charles, e se perguntou mentalmente o que ele estaria fazendo agora. Será que estava enrolado com os papéis? Ou será que estava sorrindo? Ela deixou a dúvida no ar, ficou feliz em saber que ele não era ninguém, e não sabia fazer nada sem ela.

– Suzane! – JJ gritou. – Telefone pra você!

– Como assim pra mim? Ninguém sabe que eu estou aqui. – Ela foi andando até o telefone.

– Não sei, querem falar com você.

O coração batia na boca de Suzane, e antes que ela segurasse o telefone, pediu aos céus que ninguém estivesse a seguindo, até que ela soltou a respiração e colocou o telefone no ouvido.

– Alô? – Sua voz estava firme.

Houve um longo silêncio na linha.

– Alô? Suzane? É você? Suzane? Socorro! Você precisa me ajudar. – A voz demonstrava medo, e estava bastante trêmula, como se a voz do outro lado estivesse chorando sem parar.

Ela reconheceu a voz de imediato, era sua irmã mais velha, Tânia. A tensão percorria suas veias enquanto o medo comandava suas ações. Seria possível que alguma máfia estivesse com sua irmã?

– Tânia! Tânia! Onde você está? Você está bem? – O telefone tremia nas mãos de Suzane.

– Estou bem, estou em casa. Suzane, eu quero te falar uma coisa... Uma coisa séria. – A voz ainda continuava trêmula, e agora Tânia fungava.

Ela colocou a mão no peito e encostou na parede, ela estava ficando mais calma ao saber que sua irmã estava bem, não nas mãos de alguma máfia. Afinal, em Manhattan ninguém estava seguro, nem mesmo ela.

– Pode falar, Tânia. Estou ouvindo. – Suzane estava calma.

– É que.. Bem, não sei como te falar isso, afinal, não falei pra ninguém antes. É um segredo, sabe?! – Tânia ria do outro lado da linha, como se estivesse zombando da sua irmã caçula.

– Não me diga que você está tendo um caso, por que se estiver, não vou te defender na audiência! – Suzane resmungou.

– Não! Claro que não! Você sabe que eu amo o Jack mais que tudo, não sabe? – Suzane concordou com um ‘uhummmmm’. – Então, o que eu tenho que te contar é muito, sei lá, pode ser bom pra você.

– Fala logo. – Ela estava perdendo sua paciência.

– Eu estou grávida! Você vai ser titia! Desculpe te falar isso pelo telefone, mas há uma certa distância entre NY e Texas! – Ela ria.

– Ah, fico muito feliz com isso! Meus parabéns!!! Mas, como você me achou? Como sabia que eu estava aqui? – Suzane estava desconfiada.

– Seu celular. Sabe, o GPS. É fácil achar qualquer um hoje em dia.

Suzane ficou pensando sobre o que ela tinha falado, até perceber que sua irmã estava a chamando.

– Suzane? Suzane?????? Cadê você?? Morreu?

– Não. Tenho que sair, tchau.

E desligou o telefone. Pagou o café, e saiu daquele lugar. Até que seu celular vibrou em seu bolso, e ela sabia que era o aviso de uma nova mensagem. Quando desbloqueou o aparelho, viu que a mensagem não tinha remetente. E quando seu cérebro conseguiu processar as palavras escritas ali, suas mãos começaram a suar, e ela se sentiu desprotegida, frágil.

Sabemos o que você está fazendo. Não se meta mais nisso, ou mataremos todos ao seu redor. O que acontece na máfia não lhe interessa nem um pouco.

Considere isso como um aviso, e se isso for ignorado, transformaremos sua vida num inferno. Literalmente.


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