Eventualmente Claricce Stracci escrita por TM


Capítulo 15
Capítulo 15




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Manhattan, 8:35

Seu primeiro pensamento depois das últimas palavras da moça foram uma única palavra e com um sentido enorme: corre.

Agora. Imediatamente, ou em alguns segundos você estará morta por algum crime que nem sonha em cometer. Suas pernas ficaram bambas – o que fez com que ela mesmo se amaldiçoasse –, sua cordernação motora estava traindo seu instinto, e o nervosismo estava a flor da pele. A ruiva ergueu uma das mãos, o que fez com que os seus capangas parassem e esperassem a sua ordem. De alguma forma, aquilo ajudou Suzane a se sentir um pouco mais calma, um pouco mais segura de si mesma. Como tinha aprendido com o Sr. Travis, seu professor na faculdade, a base de tudo era uma conversa calma e racional. Com isso, segundo ele, você poderia ter o mundo em suas mãos.

– Em que posso ajuda-la? – Suzane perguntou, parecendo calma. Não estou calma,não chego nem perto de disso, pelo menos não agora.

– Você vem comigo. – A ruiva a encarou.

– Não sei quem diabos é você. Me diga qual o assunto e a urgência dele, e assim que possível, estarei lá. Mas, no momento estou em meio a uma reunião, – Ela estava procurando os dois armários que antes estavam como um carrapato em sua dona. – me desculpe, tenho que voltar. Assim que puder me mande um e-mail. Ou não. Não é meu problema.

Suzane foi entrando no restaurante quando a ruiva puxou uma mecha de seu cabelo, o que fez com ela arfasse de dor. A moça chegou mais perto de Suzane, e ela mastigava sem parar chiclete de menta, o que fez com que Suzane ficasse com mais raiva dela ainda.

– Me solta! Você não sabe com quem está mexendo! – Suzane gritava, mas parecia que ninguém dava ouvidos. Ela estava invisível para o resto do mundo.

– Na verdade eu sei. Minha doce e amada Claricce. – Os dois homens pegaram Suzane por trás e colocaram um capuz em sua cabeça, aproveitaram o seu momento de fragilidade e amarraram seus braços com cordas. – A herdeira dos Stracci está de volta. UM VIVA PARA NOSSA AMADA E ETERNA CLAIRE!

Pela primeira vez na vida, Suzane estava implorando ao céus que a dessem uma chance. Dessa vez ela não ia errar, ela ia sobreviver – se a vontade divina permitisse. A jogaram dentro de um carro como se na fosse nada. E começaram a dirigir. Suas narinas logo farejaram o irreconhecível banco de couro. Quem estava por trás disso era rico. E muito.

No caminho tinha muitas lombadas, e estavam ouvindo alguma rádio com um idioma que Suzane nunca tinha ouvido na vida... Seria espanhol? Francês? Não, era italiano. Ela começou a se mexer no banco de trás, na tentativa de se soltar, de sair daquele pesadelo. A ruiva ria.

– Por que está rindo? O que eu fiz de tão ruim? – Todos ficaram mudos. – Olha, se eu prendi algum de seus mandantes, ou sei lá, assassinos, me desculpe, mas meu emprego dependia daquilo. Eu sempre fui do bem, sempre procurei fazer o certo.

– Claricce Stracci fazendo algo de bom? Desde quando? – Suzane não estava entendendo nada do que ela estava falando. Afinal, quem era essa tal de Claricce? – Você é a pessoa mais ordinária e mais sangue frio que eu tive o desprazer de conhecer em toda a minha vida!

– Do que você está falando? – Suzane levou um soco na barriga.

– Isso é pra você aprender que não se pode sair de uma família, agir como se tudo aquilo não tivesse tido algum sentido em sua vida, algum significado. – A voz do homem estava perto de mais de seu ouvido. Espera... Ele estava chorando?

– Merda! Já disse que não sei de nada do que vocês estão falando! Se eu fiz tudo isso bêbada, desculpe. Não costumo causar confusões tão grandes assim... Seja o que for que eu tenha feito, me desculpe, mas não lembro de nada... Nem sei quem são vocês!

Alguém puxou o capuz de sua cabeça, e seus olhos agradeceram pela vista de um homem bonito sentado ao seu lado. Era moreno, tinha o nariz empinado, e seus olhos estavam aguados. Naquele momento Suzane sentiu pena dele, queria abraçá-lo, dizer que no final tudo acabaria bem; Mas lembrou que o mesmo tinha batido nela sem um pingo de compaixão, e seus olhos o metralharam no mesmo segundo.

A ruiva estava no banco da frente, e pra surpresa de Suzane, do lado de sua seqüestradora havia uma cópia dela. De um lado estava o bonitão emocional, e do outro um cara com um coração de pedra. Quem dirigia provavelmente era a psicopata, mandante do seqüestro, e a ruiva no banco da frente cutucava a motorista.

– Linn, ela disse que não sabe quem somos nós! – A ruiva ria.

– Como não? – A cópia ria ainda mais, enquanto encarava Suzane pelo retrovisor. – Ok, ok. O que acha de nos apresentarmos agora mesmo? Pra ela nunca mais esquecer desse encontro fascinante..

– Vocês tem problemas? "Gêmea retardada um" acho melhor você calar a boca. Quero que se fodam todos vocês! Mas saibam que eu sou advogada e que eu sei de todos os meus direitos! Vocês tão fodidos comigo! Vou meter processo até no cu de vocês!! – Suzane explodiu.

– Claire, acho melhor você parar por aqui. – O chorão cochichou em seu ouvido.

– Parar? VOCÊS ME SEQUESTRARAM! – Ninguém imaginava que Suzane iria explodir de tal maneira. – Que porra! Tá achando que eu sou a mãezinha de vocês que vocês podem seqüestrar e talvez estuprar ela a hora que quiserem?

– É né pequena Claire, você tem uma cara de prostituta mesmo. – A motorista disse.

– Pelo menos eu cobro, diferente de você que sai distribuindo seu rabo pra todo mundo que vê pela frente. – Suzane começou a bater palmas. – Sua mãe deve estar muito orgulhosa de você, meus parabéns.

O carro parou com tudo, fazendo a cabeça de Suzane ir pra frente, e bater com tudo no banco. A motorista olhou para Suzane, e ela revidou o olhar. A motorista começou a chorar.

– Ash, acho que devemos contar tudo a ela! Ela pode saber alguma coisa da mamãe, ela pode nos ajudar! Sabe, eu não acho que ela não estava errada em ter feito nada disso. No lugar dela eu faria o mesmo... B-bem,.. – Sua voz falhou.

– Você está louca? Não vamos contar nada a ela! – A ruiva gritou.

– Pelo amor de Deus, eu só quero saber quem são vocês e por que estão fazendo isso comigo.. Depois vocês podem continuar com esse planinho ridículo de me seqüestrar. Eu juro, se me falarem o que estou pedindo, podem me desovar, queimar meu corpo, se quiser doar pra faculdade doe, façam o caralho a quatro, mas por favor.. Me deixem saber. – Ela pensou no que tinha acabado de falar, e lançou um olhar confuso. – Bem, aquela parte de me matar eu quis dizer no sentido figurado, não literalmente.

– Eu sou Lindsey Rhodes, e essa é minha irmã mais velha, Ashley Rhodes. – A motorista disse. – O cara com a cara fechada ao seu lado é David Wilson, e esse chorão ao seu lado.. É..

– É o que? Quem é ele? – Suzane questionou.

– Me dói saber que não se lembra de mim, a pessoa mais importante do mundo não se lembra de mim! Tem algo pior que isso? – Ele estava com lágrimas nos olhos.

– Na verdade tem sim, resolver um problema gigantesco de física. – Suzane abaixou a cabeça. – Quem diabos é você, bicha emocional?

– Você não deveria falar assim com ele, Claire. – Foi a vez de Ashley falar.

– Porra, meu nome é Suzane, S-U-Z-A-N-E, e eu falo do jeito que eu quiser com quem eu quiser.

– Você pode falar assim com todo mundo, menos com Nick. – David nem sequer olhou pra ela. Continuou encarando o belo estofamento de couro.

– EU NÃO SEI QUEM É NICK! E TAMBÉM NÃO SEI QUEM SÃO VOCÊS.

Nick abaixou a cabeça, e começou a brincar com o seu anel de ouro.

– Não! Você não está dizendo que... que eu sou casada com esse cara? No papel e tudo? Eu tenho namorado!

E também, mal o conheço. Não sabia da existência dele até agora.

– Na verdade você me conhece desde quando você e eu começamos a estudar juntos, meu amor. – Ele sorriu pra ela. – Feliz três anos de casados, amore mio¹.


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Notas finais do capítulo

¹ - Meu amor.



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