Aquele "nos vemos mais tarde" do Natal acabou se tornando rotina e a rotina acabou abrindo espaço para outros sentimentos além de um amor simples e puro. Eles não precisavam mais do que estarem juntos e poderem ficar apenas apreciando o silêncio de cada um. O Ano Novo chegou e o inverno rigoroso se fez presente também. Nevava bastante e ambos sempre saiam para caminhar depois do jantar. Shion como sempre ria com alguma coisa que Nezumi dizia ou apenas se irritava facilmente pelo mesmo motivo.

Shion descobrirá que Nezumi não gostava de coisas muito doces, embora nunca recusasse o que lhe era oferecido. Nezumi descobrirá que Shion não gostava de muitas roupas no corpo, que o deixassem praticamente sem movimentação para nada. Ambos estavam descobrindo coisas que antes passaram a ser algo simples e pouco notado.

Os beijos não vieram com frequência, como o Shion esperava. E Nezumi queria que Shion desse alguns passos em sua direção, não sendo sempre o que iria receber, mas o que queria dar em troca também. Nunca pediria para Shion algo do gênero, esperaria o tempo que fosse para ele o fazer. Gostara do primeiro beijo deles, de modo como o Shion dera o primeiro passo... E aquilo nunca mais ocorreu.

Agora ocorria de ambos estarem escorados contra uma baixa mureta, ou melhor dizendo, Nezumi estava escorado na baixa mureta e Shion havia escorado o corpo contra o seu. Mesmo que quase não desse para notar, ele estava completamente escorado no outro. A cabeça de Shion pendia para o lado e caia sobre o ombro de Nezumi. Ora ou outra era acometido por uma baixa risada, onde dizia que não era nada demais, até que por fim disse.

- Já nos imaginou assim, Nezumi? - A voz do albino estava sonolenta e baixa.

- Sim. - Nezumi começava, incerto de como continuar. - Muitas vezes.

O corpo de Shion ficava ereto, fazendo com que Nezumi enfiasse as mãos nos bolsos da calça e fechasse os olhos, tentando se concentrar em qualquer outra coisa. Como no frio que lhe congelava a ponta do nariz ou a quentura que o corpo de Shion passava para o seu.

- Conte-me...

- Shion...

- Por favor, Nezumi.

Bufava.

Novamente, Shion ria de alguma piada em particular, fazendo com que Nezumi abrisse os olhos e lhe fitasse rapidamente.

- Nunca o vi bufar assim.

- Acho que mudei mais do que ando pensando...

- Eu gosto.

E dizendo tais coisas, o albino se agarrava no braço de Nezumi e escorava o rosto sobre o ombro, a respiração quente a bater contra o cachecol e passar pelo mesmo, tocando a pele de Nezumi e causando grandes arrepios. Nezumi se movia, tirando as mãos dos bolsos das calças e colocando nas da jaqueta, dando mais acesso para Shion se escorar e se agarrar.

Continha um risinho ao notar que Shion havia sentado na mureta, para ficar quase no seu tamanho, enquanto permanecia agarrado no seu braço.

- É ano novo, não é?

Assentia.

- Será que vou te ver o ano todo? - Shion se arrastava para falar o "ano todo", dando um ar dramático a pergunta.

- Acho que não.

- Nezumi...

Aquela voz chorosa chegava aos ouvidos de Nezumi, fazendo com que ele virasse o rosto em direção ao albino e ficasse chocado ao deduzir que havia lágrimas não derramadas no canto dos olhos.

O silêncio os abordava e agora Shion não estava mais agarrado ao braço de Nezumi, apenas com o rosto caindo sobre o ombro dele. Shion mantinha uma expresão suave e serena e quase não se notava o ar triste que havia abordado o albino. Nezumi fitava o chão, pensando em mil maneiras de fazer Shion o olhar e não com aquelas lágrimas presas nos olhos. Nunca gostava de o ver chorar ou se revoltar. Gostava do Shion sorridente de sempre. O que ria de piadas internas. E que sorria por qualquer coisa.

- Haverá dias que não poderei te ver, mesmo querendo. - De alguma forma, se sentia no dever de explicar a ele. - Pode ser que eu fique doente ou algo do gênero... Pode ser que a gente brigue e fique alguns dias sem nos falar. - Deixava o rosto pender para baixo, a franja cair sobre os olhos enquanto o rosto era tingido de vermelho. - Somente enquanto penso nessas coisas, eu já sinto sua falta.

Estava abrindo a boca para continuar dizendo coisas quando Shion o puxava e o selava nos lábios. De inicio, fora um beijo timido e contido, mas depois fora se tornando algo que aquecia não somente o corpo e fazia as mãos suarem dentro das luvas, mas também aquecia a alma.

Não era somente o passo que Nezumi estava esperando, era mais. Era todos os sentimentos que nenhum dos dois conseguia dizer em voz alta... Era mais, era mais forte, mais importante. O primeiro beijo deles nunca iria se comparar a esses, já que fora o primeiro e o primeiro nunca poderia ser esquecido. O modo como Shion havia lhe tocado os lábios. Aquela delicadeza estava ali agora, mas não era um beijo de despedida e sim algo que estava selando a vida dos dois.

A neve começou a cair mais forte, fazendo com que ambos corressem em direção a casa de Shion e claro, as mãos unidas em um aperto único. Em um laço que não poderia ser rompido.

Eles estavam juntos...

Não, mais do que isso.

Eles era um.

E não precisava de palavras dificeis.

Ou declarações melosas.

Apenas estar ali.

E Nezumi ficou, juntamente com Shion.