O pesadelo de Clara Oswald escrita por Cary Monteiro


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Na madrugada do primeiro dia de 2015 eu tive o sonho mais sinistro de Doctor Who que já sonhei até então(sim, eu sonho com DW direto porque eu sempre assisto um episódio ou dois antes de dormir lol). Não tão bem descrito como na fic, mas depois de insistência do meu namorado achei melhor criá-la e postá-la aqui. Eu acordei no meio da noite achando que havia assistido a um episódio, completamente transtornada com o final dele. Eu levei um tempo pra perceber que havia sonhado tudo aquilo...Well, enjoy...



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Era noite do dia 31 e logo seria dia 1º de Janeiro de 2015. Clara estava sentada em seu sofá, a casa toda escura, a única luz vinha da janela, da lua e algumas vezes tornava-se mais intensa pelos fogos de artifício. Seu vizinho fazia uma bela festa de despedida do ano no apartamento ao lado, ela havia sido convidada, mas preferido ficar em casa sozinha com sua melancolia.

Ela estava seca. O Doutor havia lhe perguntado se ela estava bem e ela não tinha conseguido mentir. “Não, não estou”, ela disse e ele respondeu um “ótimo, não é para estar mesmo”. Mas era uma dor incessante. As vezes no colégio ela simplesmente esquecia por distração, conversar aleatórias ou com seus alunos tentando lhe animar. “Cinco minutos. Você pode pensar em mim por cinco minutos ao dia e nada além disso.” O falecido Danny havia dito à ela em sonhos. O Doutor havia sumido logo após o natal e pensar em Danny por apenas cinco minutos ao dia estava começando a ser um desafio. Ela lia, assistia a televisão, passeava no parque e observava famílias, mas no final do dia sempre se acabava em chorar no banho.

Clara tomou um gole do seu vinho. Aquele dia em especial ela ainda não havia chorado por seu falecido amante. Fosse por conta do álcool ou simplesmente porque ela já havia chorado tanto antes que seus olhos doíam, ela não saberia responder. “Eu preciso de um médico” ela refletiu, não necessariamente pensando no Doutor. Ela sentia que ia entrar em depressão e precisava de ajuda profissional. “Eu não consigo aceitar essa dor... Ela será a minha ruína”. De repente um barulho conhecido lhe tirou do transe, um som rouco, velho e novo, seguido de um assovio suave e de um baque de pouso. Mesmo com toda a barulhada ao lado Clara era capaz de saber que som era aquele. Era a TARDIS.

Ela desceu as escadas do condomínio o mais rápido que seus pés lhe permitiam. Quando chegou ao térreo, a poucos metros da TARDIS, sua porta se abriu e o Doutor apareceu. Saindo devagar, sobrancelhas envergadas e olhar sério. Ela parou e ficou observando-o, esperando por algum convite, algum comentário sobre seu roupão, camisola ou olhar inchado. Sobre seu cabelo desgrenhado ou pela taça de vinho ainda em sua mão. Qualquer coisa.

– Clara... Feliz ano novo. – Ele tentou sorrir, mas Clara sabia que isso era extremamente difícil para ele com aquela face nova. Ela não respondeu. Ela não estava feliz e tampouco estava tendo um bom final de ano. Ela quis chorar, mas seu corpo não tinha mais forças para fazer descer uma lágrima sequer. Clara caiu ao chão ajoelhada, a taça rolando para o lado na grama já molhada de orvalho. O frio das folhas lhe deram um estranho conforto por um segundo antes de fazê-la sentir frio e fechar o roupão. O Doutor correu até ela e ajoelhou ao seu lado. – Eu só queria vê-la antes deste ano acabar... – Ele explicou, incapaz de perguntar se ela estava bem. Era óbvio que não estava, porém o máximo que achava capaz de fazer era ficar ali do lado dela, forçando-se a afagá-la. Humanos gostavam de carinho nessas horas ele lembrou. O Doutor lhe afagou os cabelos e ela sentiu-se segura de deitar a cabeça no peito dele. Ela sentou-se ao chão sem se importar em se molhar e se aconchegou mais ao Doutor, encolhendo o corpo, fechando os braços e joelhos como uma criança tristonha faria depois de ter tido um terrível pesadelo. O Doutor não se importou nem um pouco, nem mesmo seu novo corpo tão rabujento e escocês seria capaz de cometer uma grosseria dessas de tirar o conforto que Clara encontrara nele naquele momento. E com ele também sentando ao lado da garota, ignorando o frio do gramado, ficaram assim por longos minutos até que fogos de artifício começaram a varrer o céu da noite. As duas criaturas do campo não se mexeram, nem todos os fogos do mundo eram capazes limpar tamanha tristeza...

– Doutor... Eu não aguento, eu não aguento essa dor. Por favor, faça alguma coisa! – Clara choramingou. O Doutor manteve-se como estava, ainda acariciando os cabelos dela com uma delicadeza descomunal. – Por favor, Doutor, eu... Eu não sei mais como viver. Porque dói tanto, tanto... E eu insisto em esquecer, mas a dor sempre volta. E eu insisto em lembrar e a dor só aumenta! – Ela continuou a dizer, agora soluçando. O Doutor suspirou, maquinando mentalmente o que dizer a sua garota impossível. Que tinha lhe dado tanta esperança anos atrás e que agora precisava tanto dele. Infelizmente ele sempre chegava à mesma conclusão que a faria desmoronar... Sempre.

– Não posso fazer nada, Clara. Não posso ajudar. – Ele sussurrou assim que os fogos cessaram. Ela gemeu e guinchou, apertando o sobretudo do Doutor. Seu corpo tremia pelas palavras ditas, seu maior medo. Que nem mesmo seu doutor, senhor do tempo e espaço, com uma nave que era maior por dentro fosse capaz de lhe ajudar. – Me desculpe, me desculpe de verdade...

Seus olhos se arregalaram enquanto lhe brotavam lágrimas que ela achava impossível depois que tanto já havia sido escorrido. Ela se debateu no colo do Doutor, tentando se levantar, tentando sair dali e explodir ou o que viesse primeiro. O Doutor lhe prendia com força proibindo sua saída. Ele encostou a testa em seu cabelo e fechou os olhos. Clara parou de lutar contra, tentando se concentrar nos batimentos cardíacos do Doutor, uma verdadeira orquestra devida a sua dupla de corações. As lágrimas foram descendo e molhando seu roupão, molhando o sobretudo do Doutor e qualquer coisa que houvesse no caminho. Ao mesmo tempo que desciam, faziam os olhos de Clara arderem e pesar. E então quando menos esperava ela adormeceu...

No minuto seguinte, ou talvez horas tivessem passado, ela se viu em pé de volta ao seu apartamento escuro. Enquanto seus olhos se acostumavam à escuridão ela percebeu que havia algo no chão perto de seus pés. Quando ficou melhor para se ver diante da pouquíssima luz dentro do cômodo ela observou a roupa que usava, um vestido quadriculado, um que usava muito alguns anos atrás nas suas saídas com o Doutor. Ela olhou finalmente para o que quer que houvesse deitado no chão e ficou surpresa de vê-lo. Como uma estátua, as mãos no peito, como se estivesse cochilando após um almoço, o vulto deitado era Danny Pink.

Antes que Clara pudesse demonstrar surpresa o Doutor apareceu trazendo junto um vento frio de onde quer que tivesse vindo e ajoelhou ao lado de Danny.

– Não há tempo a perder! Talvez isso resolva! – Ele falava num tom ríspido e rápido, mais que no seu normal. – Toma! Ponha isto ao lado da cabeça dele, mas tem que ser você! – O Doutor entregou a Clara uma cabeça de Cyberman. Ela não sabia mais com o que se surpreender: com o corpo inanimado de Danny ali ao chão, com a leveza da cabeça do ciborgue ou com a estranha tranquilidade dela diante daquela situação toda. Ela obedeceu o Doutor e ajoelhando-se, posicionou a cabeça do Cyberman ao lado da de Danny. – Eu fiz algo que não podia, mas aqui estamos nós três. Eu raptei o corpo de Danny do necrotério e peguei a cabeça de Cyberman dele. Se eu estiver certo e essa ideia maluca funcionar, se eu usar a chave de fenda sônica para reverter a polaridade e conseguir passar a consciência do cyber-Danny para o falecido Danny, talvez... – Ele olhou para Clara e sorriu, ela lhe sorriu de volta. O Doutor estava outra vez tentando salvar seu amante e trazê-lo de volta, ela não poderia estar mais feliz. Ela olhou para o corpo de Danny outra vez e seu sorriso se desfez.

– O que está esperando? – Clara perguntou... À ela mesma. Danny havia se transformado em Clara exatamente como ela estava e sorria como uma louca. A Clara ajoelhada estava boquiaberta, sem saber como agir. A Clara deitada levantou o braço e lhe apontou um revólver. De onde havia saído aquele revólver? A Clara ajoelhada foi se levantando lentamente enquanto a Clara deitada não lhe tirava o revólver da direção do rosto, seguindo seus movimentos. Então ela se lembrou que uma vez havia arranjado esse revólver quando foi morar sozinha. Nunca imaginando em usá-lo. Nem mesmo Danny sabia da existência dessa arma. Ele ficava jogado no fundo da gaveta do criado-mudo ao lado da cama. Nem mesmo ela lembrava da existência disso, mas lá estava ela própria lhe apontando a arma e o sorriso demoníaco. – O que está esperando, Clara? – Ela perguntou de novo. A Clara virou um pouco os olhos antes de encarar a ela própria e percebeu que o Doutor não se encontrava mais lá, nem a cabeça do Cyberman. – Acabe logo com isso. – Ela disse quebrando o próprio sorriso e tornando a feição séria. Ela foi apertando lentamente o gatilho do revólver e antes que a Clara em pé fosse capaz de falar qualquer coisa para detê-la houve um estouro e tudo ficou escuro.

Ela levantou assustada e suada, os batimentos acelerados e a respiração pesada como se tivesse acabado de correr até a linha de chegada. Estava tudo muito escuro e ela teria que esperar até seus olhos se acostumarem para enxergar onde se encontrava. Ela foi se concentrando em sua respiração, tentando se acalmar. Percebeu que estava em sua camisola e roupão. “Havia tudo sido um pesadelo?”, se perguntou aliviada. Ela bem que queria, mas havia finalmente identificado o local que estava. Era o mesmo do sonho e ela estava posicionada exatamente onde o corpo de Danny e posteriormente o seu próprio haviam deitado. Ela tateou o chão desesperada, tentando se levantar e petrificou quando sua mão tocou em um objeto particular. Ela engoliu em seco e pegou o objeto, incapaz de encará-lo, mesmo já sabendo do que se tratava. “O que está esperando?” ela lembrou da Clara maníaca do sonho lhe perguntando, lhe apontando o revólver. Ela fez o mesmo, encostando a arma na testa e coçando-a com ele. “Acabe logo com isso”, a Clara do sonho lhe respondeu antes de dar fim a sua vida. Ela deitou ao chão e posicionou o revólver na cabeça, o dedo no gatilho. Incapaz de pensar em qualquer coisa. Se pudessem vê-la perceberiam sua ausência de emoções no rosto, algo que ela havia aprendido com os cybermen. Clara fechou os olhos...


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Notas finais do capítulo

Acho que nem é necessário dizer o que houve depois, não é? Meu sonho acabou exatamente igual. Admito que chorei um pouco enquanto escrevia, eu gosto muito da Clara e não queria MESMO que isso viesse a acontecer (thanks god DW é uma série de família, senão...), apesar de que o Moffat é tão dramático que nem posso me dar a chance de dizer que isso seria impossível de se acontecer. Alguns reclamam da personagem e da forma com que ela age, mas a Clara é possivelmente a personagem mais humana da série até agora. Eu consigo entender perfeitamente cada emoção e reação dela e no mesmo lugar eu dificilmente agiria de outra forma. Eu não gostava do Danny e acho que podiam ter usado melhor essa personagem, mas já que se foi vamos usar isso a nosso favor -q Obrigada por ter lido e se quiser comentar algo sobre a fic ou sobre Doctor Who eu vou adorar ler e responder assim que eu puder. Bom começo de ano e obrigada por ter comparecido!



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