O medo, aprendeu a me temer.

O mundo nos encontrou. E nós ganhamos.

Não foi uma batalha fácil. Muito pelo contrário. Durou onze anos, mas nós finalmente conseguimos derrota-los. Não estamos mais em guerra. O caos que nos incomodou durante anos já não existe mais. Houve perdas, disso não tenha dúvidas, extremamente dolorosas. Mas não foram em vão.

O mundo agora é um lugar onde uma pessoa pode com toda certeza sentir orgulho de morar. Não é uma sociedade perfeita, mas são as imperfeições que a tornam real.

Mal consigo crer que isso que estamos vivenciando é verdadeiro.

É tão estranho, um estranho bom, sair de casa, encontrar os amigos, trabalhar, cultivar, e o mais importante, preservar tudo o que temos de melhor.

Nós não conseguimos recuperar o mundo, mas conseguimos criar um novo.

Warner e eu estamos tão felizes com o que conquistamos. Ao observar as pessoas, cada uma fazendo o que pode para nos ajudar a manter o mundo um lugar descente.

Me lembro de como tudo isso começou com o Setor 45 e depois estávamos em guerra constante, meu pequeno grupo contra tudo e todos, mas então, conforme ganhávamos as batalhas, nosso time cresceu, encontramos mais pessoas como nós, com dons de diversos tipos, e assim fomos atraindo cada vez mais pessoas para nosso lado, e quando menos esperávamos, eramos a maioria. Líderes se rendiam, setores eram exterminados, e assim vencemos. Conquistamos o tão desejado prêmio, a chance de recomeçar.

Os cidadãos se disponibilizaram para trabalhar, casas foram construídas, cidades restauradas, sementes foram plantadas e cultivadas, cientistas trabalharam arduamente para encontrar uma maneira de purificar a água, não foi um trabalho simples, mas com toda certeza foi gratificante. O resultado imperfeito se tornou perfeito.

Tenho mania de comparar o que estamos vivenciando agora com meu relacionamento com Warner, começamos em ruínas, ambos tínhamos nossos próprios demônios pessoais, e então veio a esperança de que tudo poderia mudar e que podíamos fazer algo para que isso acontecesse, e então, finalmente conseguimos. Somos tão felizes agora que não consigo me imaginar como seria minha vida sem ele. Se eu tivesse escolhido ficar com Adam ao invés de Aaron, nem de longe eu seria tão feliz. Adam é meu amigo, meu companheiro, nunca deveríamos ter confundido a bela amizade que tínhamos antes mesmo de proferir uma única palavra um ao outro, com romance. Adam era meu amigo, um amigo que me protegia mesmo quando eu pensava que as pessoas que tinham de se proteger de mim. Eu havia confundido tudo, pensei estar apaixonada por ele apenas por que era conveniente, se ele era o único no mundo que podia me tocar, eu devia ficar com ele. Mas então a realidade me atingiu como se me desse um tapa, e encontrei Warner, o misterioso líder do Setor 45, o temido, o arrogante, o insensível, o monstro, mas eu também não era considerada um monstro? Eramos iguais mesmo quando eu pensava que não tínhamos nada em comum, afinal, ambos eramos monstros perante a sociedade, uma injustiça para com nós dois.

Nossa história parece um enredo de livro, foram tantas coisas que tivemos de superar, principalmente nosso grupo inicial, perdemos algumas pessoas, foi muito difícil para todos nós, até mesmo para Warner, mesmo que ele nunca admitisse, tínhamos nos tornado amigos, eramos uma família, Kenji uma vez nos chamou de X-men, de acordo com ele, era a estória de alguns jovens com super poderes que se uniram e montaram um time pra lutar contra o mal, ou algo assim, pois ele só havia lido alguma coisa sobre essa estória em algum jornal velho que encontrara no Ponto Omêga quando ainda era criança. Enfim, superar a perda de Brendam, Ian e Castle, não foi fácil, principalmente para Kenji que conviveu mais tempo com eles do que todos nós.

Hoje, faz exatamente sete anos desde a morte de Castle, e estamos todos reunidos em minha casa para uma pequena reunião em sua memória. Nem todos puderam vir, Adam e Alia se casaram e mudaram para o outro lado do país, moravam no campo, não era segredo pra ninguém que os dois sempre quiseram uma vida tranquila, longe da confusão que era o dia a dia da cidade, James decidira ficar aqui comigo e Warner, o que na época surpreendeu a todos, ele e Adam eram inseparáveis mas no final ele decidira ficar com o seu mais novo irmão mais velho. A revelação de que Warner era seu irmão o deixou um pouco confuso por um tempo, mas ele aceitou bem, apesar da relação de Adam e Warner, eles não se tornaram melhores amigos, mas não estavam tentando matar um ao outro a cada minuto, até conversavam de vez em quando, mas Adam só aceitou mesmo o Warner como parte de sua família, um pouco antes de partir para o campo.

James e Warner se deram bem logo de cara, Aaron gostava de James, só ficava um pouco sem graça ao ter de responder as perguntas intermináveis do menino, que na maioria das vezes eram bem embaraçosas, mas eles conseguiram criar um relação boa, acredito que seja pelo fato de James ser apenas uma criança na época, mas olhando para eles hoje, James com seus quase vinte e três anos, na verdade ele tinha vinte e um, e Warner sentados lado a lado no sofá, brincando com o nosso bebê, é simplesmente a coisa mais fofa do mundo. Castle, era o nome de nosso filho, uma homenagem mais do que merecida para o homem que nos abriu os olhos e nos incentivou a ser pessoas melhores. Ele estava no colo de Warner, rindo das caretas que James fazia, é tão parecido com o pai, todos brincam dizendo que não tem como duvidar de que ele é filho do Aaron, afinal são iguais. Observar minha pequena família é tão bom, e saber que logo a família ficaria maior é maravilhoso.

_Como vai princesa? – diz Kenji entrando na sala, ao seu lado está Lily, ambos sorrindo, eu já não os via a alguns meses, fui direto abraça-los, estava morrendo de saudades desses dois, principalmente de Kenji, que mesmo me atormentando a vida toda, tinha conquistado um lugarzinho especial em meu coração.

_Que saudades! – digo.

_E onde está o pequeno Castle? – Lily diz indo até os garotos.

_Meu Deus, esse menino está cada vez mais parecido com o Warner, que genética é essa? Espero que ao menos a personalidade, ele tenha herdado de mim. – comentou Kenji.

_Eu não sei se você sabe, mas nós não somos parentes, sendo assim, meu filho não tem nada pra herdar de você meu amigo. – falo rindo, ele me olha tentando parecer ofendido e todos na sala começamos a rir.

_Que seja. – bufa.

_Tenho um comunicado a fazer. – digo em voz alta, todos me encaram ansiosos, eles já deviam ter uma ideia do que é que eu queria falar.

_E então? – indaga Aaron com expectativa.

_É uma menina. – falo acariciando minha barriga. Warner se levanta e deixa Castle no colo de Lily, me abraça e está sorrindo tanto que não consigo deixar de sorrir também.

_Só espero que ela se pareça com você, meu filho não vai casar com uma versão feminina desse ai. – comenta Kenji apontando para Aaron, ele havia se casado com Mandy e ela estava grávida de oito meses e meio, por essa razão decidiu não se juntar a nós hoje, estava com medo de entrar no avião e passar mal.

_E você acha mesmo que minha filha irá se casar com seu filho? Nem pensar. – brincou Aaron.

_J. fala pro seu marido que se casar com meu filho será uma honra.

_Não estou dizendo isso porque é seu filho, idiota. – começou Warner. – Mas minha filha nunca vai se casar.

É claro, Aaron era um pai extremamente ciumento, e agora que teria uma menininha então, não quero nem pensar no quanto ela vai ter de passar para que o pai aceitasse algum namoradinho.

_A garota nem nasceu ainda e vocês já querem casar ela? Meu Deus, assim vocês me traumatizam. – fala James.

E é assim que vivemos agora, uma família grande e unida, embora um pouco louca, mas feliz. Aaron me da um selinho e coloca a mão em minha barriga, ele não podia estar mais feliz, e eu sou a mulher mais feliz do universo.