Namorado "Inventado" escrita por Luh Marino


Capítulo 3
Capítulo dois




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Acordei com meu celular tocando. Tateei o criado mudo ao lado da cama a procura dele e, quando o achei, atendi ainda parecendo um zumbi.

Emily? Meu Deus, você ainda tava dormindo?! Enfim, vem aqui pra república quando puder.

– Quem é? – Perguntei sem nem tentar processar a voz da pessoa que falava.

Não creio! É o Ashton, animal! – Ele riu alto. – Vem logo, tenho um trabalho enorme pra começar.

– Tá, já to indo. – Respondi, já me levantando da cama.

Até logo.

– Tchau. – Desliguei e taquei o celular na cama, indo pro banheiro.

–x-x-x-

– O Ashton tá aí? – Perguntei, e a garota fez uma careta como se estivesse vendo algo extremamente nojento. Será que tinha alguma coisa na minha cara?

– Tá no quarto dele. Entra, vai. – Ela respondeu, e eu o fiz de cabeça baixa.

Eu tinha entrado uma vez na república de Ash, mas foi uma coisa rápida, apenas para dar a ele um recado que um colega dele havia me pedido para passar. Ele estava dormindo na hora em que eu havia passado para avisá-lo, e esse foi o único motivo pelo qual eu entrei na república, senão teria ficado do lado de fora.

Levantei a cabeça, passei pelo hall e subi as escadas de cabeça para cima, embora quisesse olhar para o chão fixamente. Eu sabia que os colegas de Ash tinham uma visão não muito boa de mim, e queria mudar isso se tivesse que fingir ser a namorada dele. Afinal, não adiantaria nada fingirmos ser namorados para nossos pais e continuarmos apenas como amigos na frente de várias pessoas que poderiam contar a verdade. Eu teria que fingir ser namorada dele em tempo integral, e só de pensar nisso, já sentia certo enjoo na barriga.

Entrei no quarto dele sem nem bater e o encontrei jogado na cama, mexendo no notebook com algumas folhas ao lado. Fui para perto dele e me joguei na cama também, e ele riu ao ver minha “animação”. Fechou o notebook e, junto com as anotações, deixou em cima da escrivaninha perto da porta. Sentei direito nesse tempo e, depois de ele ter trancado a porta para que ninguém nos interrompesse, sentou-se ao meu lado. Ficamos nos encarando por alguns minutos e depois começamos a rir como retardados.

As coisas entre Ash e eu eram assim. Não precisávamos de palavras. Nos entendíamos apenas por olhares. Era tudo idiota, tudo simples, tudo fácil, tudo Ash.

– E aí, qual vai ser nossa história romântica? – Ele perguntou quando finalmente conseguiu parar de rir. Eu me mexi desconfortável na cama e sentei com perninhas de índio. Ele me olhou feio e então eu estiquei as pernas para fora da cama, tirei os tênis e voltei à posição.

– Bom, eu pensei em seguir uma lógica. Nos conhecemos desde que somos pequenos e somos melhores amigos desde então. Ficamos um tempo sem muito contato por causa do final do colégio e o começo de faculdade, e quando voltamos com a antiga aproximação, percebemos que fomos feitos um para o outro. – Ao terminar, juntei as mãos em frente ao corpo e pisquei os olhos várias vezes, bem rápido. Ash riu da minha tentativa de parecer romântica/fofa/meiga/foda-se e deitou-se na cama.

– É uma boa ideia. Temos que inventar nosso primeiro encontro, o pedido de namoro, como decidimos deixar em segredo e essas coisas... – Ele deixou a frase no ar, para deixar claro que não seria ele quem inventaria tudo aquilo. Rolei os olhos e peguei o travesseiro de baixo de sua cabeça para bater nele com o mesmo. Ele resmungou algo, mas não fez nada para me parar.

Depois de eu parar de bater no garoto, ficamos certo tempo em silêncio, pensando em algumas histórias mirabolantes e convincentes para que nossos pais acreditassem que estávamos verdadeira e profundamente apaixonados.

– Há quanto tempo estamos namorando? – Ele perguntou, e eu parei de pensar no primeiro beijo.

– Uns cinco meses? – Respondi em dúvida e ele deu de ombros, concordando.

–x-x-x-

Passamos a tarde toda discutindo nosso falso namoro. Inventamos a maioria das partes – encontros, ocasiões especiais, supostos presentes e o motivo do segredo –, mas outras nós “roubamos” de livros, filmes ou relatos de garotas em blogs na internet. Algumas das coisas inventadas por Ash eram tão estúpidas que era impossível ficar sem rir. Descobri que o sorriso maligno do dia anterior era porque ele bolava realmente um plano maligno. Me fez prometer que, toda vez que eu tivesse que contar uma das “nossas” histórias, eu teria que vangloriá-lo como se fosse um deus. Um preço a pagar por metê-lo numa furada daquelas, como ele disse. Além disso, ele me fez prometer que nenhum beijo seria técnico.

Filho da puta.

– Eu desço com você. – Ele disse logo após eu informar que já estava voltando para casa. Levantamos da cama, onde estávamos deitados, e fomos para o andar de baixo.

– Foi divertido inventar um namoro com você, senhor Ford. – Eu falei assim que ele abriu a porta da república. Sentia os olhos dos colegas de casa dele sobre mim, mas tentei ao máximo não ficar constrangida.

– Igualmente, senhora Ford. – Ele respondeu e eu soltei um tipo de grito antes de começar a gargalhar como retardada. Ele riu da minha cara e me deu um beijo na testa. – Tchau, Emy.

– Tchau, Ash.

Levantei a bicicleta, que estava jogada na grama, e sai pedalando sem olhar para trás.

O caminho de volta para casa não era tão longo e demorado se eu fosse de bicicleta. Mas eu tinha preguiça, até porque minhas pernas ficam doendo depois.

Em menos de vinte minutos eu já estava de volta em casa. Coloquei a bicicleta no seu lugar dentro da garagem e entrei em casa pela porta dos fundos, que dava na cozinha. Eu ia passar reto, apenas com um “oi”, mas uma voz irritantemente fina me chamou de volta e eu tive que voltar a olhar para as pessoas que estavam no cômodo. Mãe, George e... Abigail.

Abigail Huston era simplesmente o maior pesadelo da minha vida.

Filha única de George, de seu outro casamento. A garota era a coisa mais insuportável que eu poderia ter conhecido – e que, infelizmente, conheci. Sabe aquela pessoa que você vê pela primeira vez, não vai com a cara dela e, por mais que converse com ela e se aproxime dela, você ainda não vai com a cara dela? Abigail era isso pra mim. Quando mamãe e George se casaram, eu tinha catorze anos, assim como Abigail. Ela é exatamente um mês mais nova que eu. E o completo oposto de mim.

– Emy! Há quanto tempo não te vejo, irmã! – Ela praticamente berrou antes de se jogar em cima de mim. Ri do seu entusiasmo e a abracei de volta.

Eca.

– Bom te ver de novo, Abby. Enfim, tenho que subir e tomar um banho; que logo, logo, tenho que ir pra faculdade. – Respondi e sai correndo. Espero que minha mãe não tenha contado sobre meu “namoro”, ou aí sim a coisa vai ficar feia.

Ela sempre foi extremamente apaixonada por Ash. Desde que o conheceu. Na maior parte do tempo eu queria ter uma máquina do tempo só pra voltar e não apresentar aqueles dois. Sério. O olhar dela para o meu melhor amigo assim que eu disse seu nome foi uma coisa que ficou gravada na minha mente e acho que nunca mais vai sair. Ela olhou pra ele como se ele fosse o próprio Jesus Cristo, ali na frente dela.

Foi um pouco bizarro.

E admito que eu morro de ciúmes até hoje.

Tomei o banho mais rápido da história dos banhos e logo já estava com uma roupa qualquer para ir à faculdade. Passei um perfume leve, só pra não ficar com cheiro de sabonete, e sai do quarto, querendo chegar adiantada ao curso. No andar de baixo, eu podia ouvir as vozes da minha mãe e da minha “meia-irmã”. Elas conversavam entusiasmadas sobre o curso de moda que Gail cursava a mais de – ouvi um amém? – duzentos quilômetros de nós. Não sei por que ela preferiu ir para Londres ao invés de ficar em Wolverhampton.

Peguei a chave do carro de mamãe o mais discretamente possível e saí pela porta sem fazer barulho algum depois de acenar para George, que tentava conter um sorriso. As duas conversavam tão entretidas que nem notaram minha saída.

Logo eu estava dirigindo para longe daquela casa e, se possível, queria que elas já estivessem dormindo quando eu voltasse. Abigail já era insuportável normalmente, quando Ash for o assunto, vai ser pior ainda. E eu temo que ocorrerá a terceira guerra mundial se o assunto for Ash namorando. O pior? Ash namorando comigo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Qualquer erro, é só comentar ou me mandar uma MP que eu corrijo na hora!
Críticas construtivas são sempre bem-vindas, mas não deixe a educação de lado.
Beijos e até a próxima!



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