Filtro Solar escrita por Rodrigo Caetano


Capítulo 1
Prólogo




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Se você está lendo, apenas digo que sinto muito. Não como um pedido de desculpas ou uma declaração de simpatia, longe disso. Não devo nada a você, como leitor, exatamente porque não vou prometer nada, nem mesmo te dizer quem sou. Digo apenas que sinto muito, porque o que sinto é tanto, que não coube mais em mim e escapou para cá.

Eu levei muito tempo para criar a coragem necessária para escrever esta história. Na verdade, nem sei por que estou fazendo isso. Acho que é mais uma necessidade de deixar tudo para trás, por maior que seja a minha dificuldade em admitir que ainda não deixei. Acho que o simples fato de estar aqui, escrevendo, diz mais sobre o que sinto do que qualquer outra coisa.

Isso é apenas um relato de uma história acontecida há algum tempo, que sempre esteve fadada ao fracasso, e me parece irônico que justamente esta narrativa, supostamente uma tentativa de deixar tudo o que narrarei para trás, seja a prova irrefutável da minha incapacidade de fazê-lo. Que isso seja, então, o registro físico para provar que todas as minhas cicatrizes são verdadeiras.

Uma coisa é certa: isso não cabe mais em mim. Se tiver que sair, nem que seja sangrando para o papel, é assim que vai ser.

Antes de começar, porém, deixarei vocês com uma pequena reflexão/reclamação: o amor não é algo com que se deve brincar.

Todo mundo sempre diz que o amor é imprescindível, que sem ele não vale a pena viver; que o amor move o homem e que o amor move o mundo. E talvez isso tudo seja verdade, não sei. Talvez o amor seja mesmo a força vital deste planeta. Talvez esse sentimento seja para a humanidade o que o sol é para a Terra.

O problema é que todo mundo sabe exatamente o quão perigoso o sol pode ser, afinal, todo mundo usa filtro solar nos dias de hoje. Alguns usam tanto que nem fazem questão de ver se o tempo está chuvoso antes de vestir a sua proteção. “Melhor prevenir do que remediar” eles dizem, pensando no quanto podem sofrer no futuro se não forem precavidos.

Mas nem todo mundo te conta que o amor pode ser tão perigoso quanto o sol, e que as consequências por se expor sem proteção podem ser tão desastrosas quanto um câncer de pele, ou uma queimadura de terceiro grau. Acho que as pessoas, no geral não sabem disso – ou então fingem não saber. Se soubessem, provavelmente já teriam achado uma solução para o problema, como sempre encontram uma solução para quase tudo hoje em dia.

Acho que meu ponto é justamente esse: alguém deveria inventar um tipo de filtro solar para o amor.


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