A Invasão escrita por Isadora Nardes


Capítulo 8
20 de maio de 2015.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Desculpe ficar tanto tempo sem postar. Fiquei sem internet. Aproveitem o capítulo.



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123 dias desde que começou.

Eu pensei que estivesse alucinando.

Fazia certo tempo que eu me recusava a comer, então achei que estivesse alucinando. Até porque haviam sacos e sacos de comida envelhecida parados do outro lado da nave. Mas, conforme ela foi tomando forma, meus olhos se ajustaram, e eu pude vê-la.

Tinha alguns anos a mais que eu. Tinha cabelos louros, cacheados, longos. Tinha olhos azuis fascinados e inocentes. Suas roupas estavam sujas, mas as minhas também estão. Eu continuei acreditando que era uma alucinação.

Ela examinava as paredes. Passava os dedos por elas, com os olhos fascinados. Às vezes, batia repetidas vezes, como se batesse numa porta. Ela observava tudo; sem medo, sem pressa. Não íamos a lugar nenhum, de qualquer maneira.

E, quanto mais ela ficava ali, mais eu pensava que não era uma alucinação. Quando ela olhou pra mim com aqueles olhos azuis claros, eu tremi. Ela andou alguns passos, se agachou na minha frente.

Eu estava muito, muito magro. Também estava fedendo, com certeza. Meu rosto provavelmente era a cara da depressão. No entanto, ela me olhou como se tudo estivesse bem. Como se nada nunca estivesse errado. Como se nada nunca fosse estar errado novamente.

“Olá” ela disse. Eu gelei. Ela tinha uma voz fina. Eu podia ouvir. Era uma voz inocente. “Meu nome é Melissa. Qual o seu?”.

Melissa. O nome dela era Melissa. Um nome interessante; eu acho que já conheci uma Melissa. Mas ela me fez uma pergunta; achei certo responder. Bom, meu nome? Qual era meu nome mesmo?

Vasculhei em minha mente. Nada. Tentei mais fundo. Nomes foram surgindo, mas não eram meus. Pâmela, Bruno, Martha, Fernando, José, Mariana, Eduardo, Patrícia...

Patrícia? Não era Patrícia. Mas tinha algo a ver. Patrícia... Pat. Pat-r. Pat-r-i. Pat-r-i-c. Certo. Mas não é Patrícia. Pat-r-i-c-k. Isso. Patrick.

“Patrick” eu disse. Ela maneou com a cabeça.

“Patrick” ela repetiu. “É um nome legal”.

“Quem é você?” perguntei. Ela deu de ombros.

“Não tenho certeza. Acho que me perdi. As pessoas costumam se perder em tempos assim. Mas suponho que você saiba disso, não é?”.

Assenti.

“Sei. Eu também me perdi” admiti.

“Ora. Conhece mais alguém que se perdeu?”.

“Não conheço muita gente”.

“Eu também não. Acho que você é a primeira pessoa que eu estou conhecendo desde que isso começou. Mas você conhece o Jeffrey?”.

“Sim. Homem estranho, com orelhas esquisitas”.

“Acho que pra mim nada mais é estranho. Tem tanta coisa, e não tem nada”.

“Vendo desse ângulo, as coisas não mudaram muito”.

“É, acho que não”.

E ficou por aí nossa conversa. Ela se sentou ao meu lado, e eu senti o calor humano que emanava dela. Qual fora a última vez que sentira isso? Não tenho certeza. Mas é bom. Eu me aproximei, e ela parecia não estar nem aí.

Era bom sentir calor novamente.

Eu percebi que havia deixado minha alma congelar.


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