Afterlife escrita por Leandro Zapata


Capítulo 5
Éden




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O lugar que entrei me trouxe uma paz que eu nunca havia sentido antes. Naquele lugar eu me senti completo. Todo sofrimento que eu senti durante a morte de Elena, depois a minha, a saudade que sentia dela e de minha família e amigos sumiram. Por alguma razão naquele lugar eu não me sentia sozinho. Não consegui conter meu sorriso.

Além do mais, aquele lugar era lindo. Era um vale circular imenso! Cercado por diversas montanhas extremamente altas, tão altas que iam além das nuvens e seus topos eram invisíveis a olho nu. Todas elas - como eu soube mais tarde - tinham mais de vinte mil metros de altura. Será que havia algo além dessas montanhas? Era impossível dizer.

O vale era coberto por um gramado muito verde e vivo. Havia plantas de todas as espécies conhecidas e desconhecidas. Havia arbustos, árvores frutíferas e não frutíferas. Amoras, morangos, maçãs, laranjas, melancias... Qualquer fruta que você possa pensar. Havia também legumes e verduras. Qualquer vitamina que você precise você encontra ali - o sonho de todo nutricionista.

Neste vale havia também animais de todas as espécies conhecidas, desconhecidas e extintas. Até mesmo dinossauros, que pareciam viver numa boa com mamíferos e outros répteis. Toda Criação se estendia diante de mim. Mas parecia entranho, porque havia apenas um par de cada animal. Macho e fêmea. De repente notei uma sombra voando de um lado ao outro do Éden em alta velocidade. Olhei para cima e minha boca abriu-se num grande “O”.

Um dragão!

Mas aquilo era impossível, dragões não existiam... Mas a prova estava e bem ali! Quase entrei em choque - sim, os mortos podem entrar em choque.

Cortando o vale ao meio havia um rio de águas tão cristalinas que podia ver o fundo. O rio cortava o vale ao meio verticalmente, começando das montanhas do outro lado e terminando em algum lugar abaixo do ponto onde eu estava. Notei que duas árvores se destacavam mais que as outras, pois cada uma dessas emitia um certo brilho diferente e especial; cada uma estava de um lado do rio. A da minha esquerda possuía um fruto vermelho e meio arredondado, assemelhando-se a uma maçã. A da direita tinha um fruto da mesma forma do outro, porém dourado.

Uma fila formada de várias pessoas de todas as cores, idades, raças, roupas e tamanhos terminava diante da árvore de fruto dourado. Todas elas tinham um sorriso no rosto e cada um deles estava conversando com um anjo - um ser lindo, com asas como as das águias, muito brancas, mais brancas que a neve. Notei que ao lado esquerdo havia algumas pessoas andando sem rumo. Elas não pareciam felizes, mas ao mesmo tempo, não pareciam tristes. Suas caras eram de melancolia ou, até, nostalgia.

Uma mulher com asas como aquelas pousou diante de mim.

– Oi! - Ela disse com um sorriso simpático no rosto. - Bem vindo ao Éden. Meu nome é Rachel. Sou seu anjo da guarda.

– Meu anjo da guarda? - Estranhei; não sabia que existiam essas coisas.

– Sim. Todos têm um.

– São aqueles que estão conversando com as pessoas?

– Isso.

– Não sabia que tínhamos anjos da guarda.

– Poucos acreditam, menos ainda sabem, mas todos possuem um.

– Qual a função de vocês?

– Bem, sempre tentamos evitar que vocês se machuquem muito.

– Mas...

– Mas porque alguns de vocês se machucam tanto em acidentes? Bem, pode ter certeza de que quando isso acontece à pessoa deveria estar morta.

– Que lugar é esse?

– É o Jardim do Éden.

– Aquele da Bíblia?

– Sim. Esse mesmo. Este vale antecede o Paraíso, onde você irá morar a partir de agora. Após o Julgamento, quando se é inocentado as almas veem para cá e decidem se comem ou não o Fruto da Vida Eterna, que é aquele dourado.

– E o que acontece quando comemos os frutos?

– Vocês se esquecem da sua vida na Terra. Sabem que vieram de lá, mas não se lembram do que aconteceu lá. Então passam adiante para a Cidade de Prata, ou melhor, Paraíso. Sempre confundo os nomes. - Foi nesse momento que aprendi: o verdadeiro significado da morte é esquecer.

– E quem são aqueles ali na esquerda?

– São pessoas que, apesar de inocentados, decidiram não comer do fruto para não se esquecerem dos queridos que deixaram na Terra. Mas isso trás nostalgia a eles. Saudade. E eles acabam sofrendo.

– Achei que no Paraíso não havia sofrimento.

– E não há. Pois aqui, não é realmente o Paraíso; este está ainda mais além. Por isso as almas que escolhem não comer o Fruto da Vida Eterna, ficam aqui. Livre Arbítrio ainda é uma lei aqui.

– E o que é aquela árvore?

– É Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Daquela que Eva comeu o fruto. - Eu conhecia a história, não precisava perguntar mais nada.

– Que rio é aquele?

– Já ouviu falar na Crescente Fértil? Este é o rio Eufrates. Ele desagua na nascente deste mesmo rio na Terra.

Então se esses são o mesmo rio, talvez eu possa usá-lo.

– Que estranho, sinto como se alguém estivesse me chamando. Já volto, Leonard, não se esqueça que tem uma decisão a tomar.

– Sim.

Ela me deixou pensativo. Um plano estava se formando em minha mente.

Senti um puxão na minha jaqueta. Era Týr, tentando chamar minha atenção. Olhei para o bolso. Ela fez um movimento com a cabeça indicando que eu colocasse o capuz. Quando o fiz, ela escalou meu braço por dentro da blusa até ficar dentro do meu capuz. Enquanto conversávamos íamos andando até a fila ao lado direito do Éden.

– Leonard. Você não pode comer aquele fruto. Você não pode esquecer-se de sua vida na Terra.

– Eu sei. Mas o que posso fazer? Parece ser o único meio de entrar na Paraíso.

– Precisamos chegar à outra árvore. Se comer ambos os frutos ao mesmo tempo talvez os efeitos sejam neutralizados. Então começará sua parte no plano. Deverá fingir que se esqueceu.

– Mas como vamos chegar naquela árvore sem ser percebidos?

– Não sei. E provavelmente no momento que tocarmos no Fruto Proibido seremos pegos.

Como iríamos atravessar um rio com milhões de olhos que poderiam nos ver e nos denunciar, pegar um fruto que provavelmente nos delataria no momento que o tocássemos e depois retornar a esse lado do rio. Tudo isso sem sermos notados. E claro, sem nos molharmos, o que nos denunciaria.

Só de pensar que minha jornada estava apenas começando, já me sentia cansado. Eu senti vontade de desistir, mas pensei em Elena. Eu fiz uma promessa a ela, mesmo que ela não lembrasse, e eu cumpriria.


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