Afterlife escrita por Leandro Zapata


Capítulo 37
A Sala do Trono


Notas iniciais do capítulo

Hey there, angels

Hoje, no blog Um Dia Frio, como em todas as quartas, é dia de Afterlife! Então, deem uma olhadinha no que está acontecendo com o querubim Miguel.

Boa leitura.



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Assim que Miguel surgiu num vórtex em Nova Jerusalém junto com os outros anjos que lutaram em Roma, o arcanjo Gabriel esperava por ele.

– Vocês perderam? - Gabriel perguntou; como se já não soubesse da resposta.

– Nós nunca tivemos uma chance. - Miguel respondeu. - Eles eram mais de quarenta mil.

– Acredito que seja por isso que o Conselho deseja falar-te.

– Eu já esperava.

Miguel deu as costas para ele com o orgulho ferido. Ele nunca perdera uma batalha. Nunca. E agora, ele não só havia perdido como havia sido obrigado a recuar. Era óbvio que o substituiriam. Talvez novos querubins, ou talvez os três antigos reassumissem suas Legiões. Com Rafael morto e Lúcifer no Inferno, apenas ele restara. O que será que aconteceria? O que lhe diriam? O que fariam? Eram Filhos demais contra os poucos anjos. Ele não conseguia acreditar naquele pensamento, mas foi inevitável: será que naquela guerra os anjos seriam extintos? Assim como o Paraíso? Por que Deus não interferia? Ele poderia acabar com todos os Filhos com apenas uma palavra. Ele era tão poderoso assim. Então, por quê?

Miguel chegou à praça central de Nova Jerusalém, onde o portal para o salão do Conselho podia ser aberto. Colocou a mão sobre a cruz tridimensional e recitou o poema, porém onde estava não era o Salão de Prata, e sim em um lugar onde ele nunca havia estado antes.

Assim que ele sentiu o chão sob seus pés ele sabia que não era o mesmo material que era feito todas as coisas. Não era pedra, metal, madeira, ar, água. Não era nada que um dia existiu em qualquer um dos mundos nos quais ele estivera - e ele já estivera nos sete. O que era ele não sabia dizer. Em volta dele havia vapor, como nuvens, porém mais densas; esse vapor tinha um cheiro diferente, algo também totalmente desconhecido, mas era bom, era doce, suave, agradável ao olfato. Porém o mesmo vapor obstruía sua visão, como quando descemos a serra em dias nublados.

Ele não teve outra escolha se não andar. Então, andou.

Andar ali era diferente também de andar nos mundos. A gravidade era baixíssima, então ele dava passos leves, incansáveis. Aquele lugar era perfeito. Mais perfeito que qualquer um dos mundos jamais seria. Se Miguel fosse renomear os mundos, sem dúvida aquele seria o Paraíso, não lugar de onde viera.

Finalmente ele viu. Um portão imenso, mais de três metros e meio de altura. Feito de algum metal dourado - mas ele sabia que não era ouro. O portão era ornamentado com algum metal prateado e pedras preciosas, muito mais preciosas do que qualquer uma encontrada no Paraíso ou na Terra. O portão da Cidade de Prata não era nada comparado à beleza daquele portão.

Miguel, pela primeira vez em toda sua existência, estava impressionado.

De cada lado do portão havia um guarda, homens imensos com armaduras douradas e prateadas - mas não de ouro ou prata. Cada um tinha quase três metros e meio. Miguel só soube dizer o que eram por causa da palavra em hebraico cravada na armadura no peito dos dois:

שרף

Serafim.

Os anjos de fogo. Aqueles que tinham o poder de mil querubins. Guardiões do...

Miguel teve um golpe de lucidez: ele estava na porta da Sala do Trono do Senhor! Se ele tivesse um coração, este estaria a um milhão ou mais por hora. Se pudesse suar, estaria suando como um humano. O querubim iria se encontrar com Ele!

– Saudações irmão. - Disse um dos Serafins. Miguel entendeu o que dizia, mas ele sabia que ele falava na Sr̥ṣṭi, a Língua da Criação. Nem mesmo Miguel sabia falar tal idioma.

– Saudações.

– O Senhor vos espera, Dĕk ǹā zĕndū. - Disse o outro. Era a primeira vez que Miguel ouvia seu Nome Acima do Nome, o nome cujo foi usado para ser criado.

Os imensos portões abriram, porém não emitiram ruído algum. Eram simplesmente perfeitos.

Miguel entrou hesitante, não sabia o que esperar daquilo. Não sabia o que esperar daquele lugar. Daquele encontro que estava prestes a acontecer. Será que Ele estava do outro lado? Por que Ele o havia trazido ali?

Assim que suas seis asas cruzaram o portão, tudo era luz, poder, bondade e criação. Tudo ali dava a Miguel a sensação de liberdade e vitória. Ele sabia que o Senhor estava ali.

A Sala do Trono era o lugar mais belo que ele já vira. Nem mesmo o Éden tinha uma beleza tão incrível. Nada se comparava a beleza daquele lugar. Imagine um salão imenso, tão grande que você não é capaz de ver o fim dele. Um tapete vermelho imenso com bordas douradas indo da porta até onde provavelmente estaria o Trono. Nas paredes imensas janelas que poderiam mostrar qualquer lugar ou pessoa que você desejasse - pelo menos, as histórias diziam que aquelas janelas podiam fazer isso. As paredes entre as janelas tinham quadros tão perfeitos de momentos tão importantes para o Criador ou para o povo dele que pareciam fotos. Era algo incrível. Algo inimaginável. Ali estavam também diversos tesouros do Senhor: o cajado de Moisés, a Arca da Aliança, a Arca de Noé, entre muitos outros. Tesouros esses escondidos da humanidade pelo Senhor.

O querubim andou encantado admirando as pinturas e os detalhes magníficos da Sala. A que mais lhe chamou a atenção foi uma que havia sete planetas. Eles estavam alinhados em uma estrela de sete pontas. Na ponta superior havia um planeta meio prateado meio alaranjado, Miguel reconheceu sendo o Paraíso e o Abismo. Nas pontas laterais superiores há outros dois; na esquerda o planeta era vermelho sangue e parecia pegar fogo. Inferno, ele pensou. Na direita havia um planeta azul com terrenos verdes, Terra. Nas laterais inferiores haviam dois planetas parecidos com os das laterais superiores, porém o da esquerda era mais escuro que o Inferno e não parecia pegar fogo, e o outro também azul e verde, porém com uma disposição do verde diferente da Terra. Submundo e Khali, o Reino do Olimpo. Nas pontas inferiores havia os dois últimos. Da ponta esquerda era um mundo metade azul com terrenos verdes, como a Terra, porém os terrenos tinham um formato diferente, e um desses terrenos parecia com uma árvore; Godheim. O último era mesclado de roxo e cor de areia, havia água, como nos planetas azuis, mas a água era roxa e a areia eram os terrenos, porém eles estavam constantemente mudando de formato; o Duat.

Desses planetas, três pertenciam ao Reino dos Mortos - Paraíso/Abismo, Inferno e o Submundo. Três pertenciam ao Reino dos Vivos - Terra, Khali e Duat. Godheim pertencia tanto a um quanto ao outro.

Desenhado num amarelo escuro com palavras em uma língua que Miguel não soube ler, que obviamente só poderia ser Sr̥ṣṭi, havia um círculo que ligava os sete planetas. Aquele representava o Reino dos Sonhos, que não possuía um formato.

O círculo estava dentro de um triângulo equilátero feito de prata com palavras também em Sr̥ṣṭi. Esse triângulo ligava a outros três planetas, mas estes eram menores e não eram perfeitamente arredondados. Num deles, o que estava no topo, saindo do pequeno circulo, havia um portão imenso e dourado, um replica daquele que ele tinha acabado de passar. Aquele pequeno planeta representava a Sala do Trono.

Na base do triangulo havia outros dois. No da direita saia três tronos de prata. O Salão de Prata, onde o Conselho se reunia. No da esquerda um castelo preto com detalhes em cinza; ele conseguiu identificar algumas caveiras. O Castelo da Morte.

Miguel nunca imaginou que os mundos eram assim.

– Isso é incrível. - Disse para si mesmo na sua língua materna.

– Sim, é mesmo. - Respondeu uma voz em hebraico. A voz, apesar de estar falando suavemente, soou como o som de trovões.

Miguel se virou apenas para olhar a face de seu Criador.


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