Afterlife escrita por Leandro Zapata


Capítulo 18
Deserto




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– SE O SEU PLANO ERA SEGUIR A COSTA, QUE MERDA ESTAMOS FAZENDO NO MEIO DO DESERTO!?!? - Týr gritou. Eu não sabia que um corpinho tão pequeno podia conter uma voz tão potente.

– EU NÃO SEI! E NÃO CONHEÇO ISRAEL! NUNCA ESTIVE AQUI! - Eu gritei de volta.

– Você é um idiota, sabia!? Em que direção estamos indo!? - Ela vociferou.

– Eu não sei! Oeste, talvez.

Eu havia parado a moto no meio da estrada. Estava quase sem combustível, e estávamos presos no meio do nada. Apenas areia estava de ambos nossos lados. Thais não dizia uma palavra sequer, ela estava em choque pelo que acontecera em Tel-Aviv algumas horas atrás e, provavelmente, por ver Týr, a fada mais rabugenta do mundo.

– VOCÊ É UM INÚTIL MESMO! AGORA EU SEI POR QUE O MESTRE ME QUIS COM VOCÊ: SEM MIM, VOCÊ NEM AO MENOS PEGARIA O FRUTO PROIBIDO! - Ela gritou de novo.

– CALA A BOCA!

– Vou usar um feitiço localizador para descobrir onde a gente... - Ela falou para si mesma.

– Sul. - Thais disse baixinho. - Estamos indo pro sul.

– Nem ir pro norte você sabe direito! Indo pro sul! Estamos nos afastando da Inglaterra, ao invés de nos aproximarmos, animal! - Týr reclamou de novo.

– Cala a boca, caramba. - Eu disse. - Thais, você sabe qual a cidade mais próxima?

– Eu conheço apenas uma cidade no sul: Bersebá. É uma cidade muito grande.

– Quanto tempo até chegarmos lá?

– Não sei. Mas se seguimos essa estrada, vamos chegar lá.

Foi então que eu ouvi o ronco alto de motor. Ou melhor, motores. Eles desciam rápidos pela estrada, vindo em nossa direção, levantando muita poeira. Não pude contar quantos eram, mas sabia que eram muitos.

– Suba na moto! - Eu disse para Thais.

A moto não quis pegar de jeito nenhum. Eles estavam mais perto. Pude ver sete motoqueiros vestidos iguais àqueles dois que matei no restaurante. Olhei para a estrada desesperadamente, eles estavam a poucos metros da gente.

Então o calor aumentou. Era o mesmo calor que senti quando os Filhos do Abismo chegaram. Týr me contara toda história no caminho para cá. A Morte os criou usando a mágica das fadas e a líquido do Lago de Fogo e Enxofre (também conhecido por Abismo); eles são as únicas criações da Morte. Eles são tão fortes quanto anjos, eles eram liderados pelos três irmãos mais velhos: Shi, o mais velho de todos, Tod, o irmão do meio e Kifo, o caçula. Esses três possuem formas praticamente humanas. Os outros são os soldados.

Os soldados são comandados apenas se os três irmãos estão juntos, caso contrário eles possuem livre arbítrio, portanto podem fazer o que quiser. Apenas um dos três estava livre, ou outros dois estavam desaparecidos. Contudo, os Filhos do Abismo foram criados para a guerra. Estar sem um comandante significa que estão em uma espécie de psicopatia; eles destroem cidades, possuem almas, e fazem o que lhes dá na telha. Eles não têm objetivo. O problema é que eu dei um inimigo a eles quando matei aquela mulher na loja. Eles querem vingança.

Eu descobri a origem do calor: o cara que estava na frente estava com a mão esticada em nossa direção, dela saia algo que parecia uma bola de fogo. Ótimo, eles têm canhões nas mãos! Não podia ser mais perfeito. Dois segundos se passaram, ele ia disparar a qualquer instante. Só estava esperando para que a gente ficasse dentro do alcance de tiro.

Olhei em volta, mas eu sabia que nada poderia nos ajudar. Foi quando eu senti o calor vindo em nossa direção, olhei, e então houve a explosão. Uma luz clara ofuscou minha visão, impedindo que eu enxergasse. O que será que havia acontecido?

A luz aos poucos foi diminuindo, e minha visão voltando. Havia alguém entre nós e os motoqueiros, que haviam parado a alguns metros da gente. Era um anjo. Havia um anjo entre nós e eles. Mas não era um anjo qualquer, era o meu anjo. Rachel! Meu ex-anjo da guarda de quando estava vivo. Mais cinco ou seis anjos vindos do sul passaram voando por nós liderados por um arcanjo.

– Corram! - Rachel disse apontando para leste no deserto, onde havia um pequeno casebre.

Eu soltei o freio de estacionamento da moto e, com a ajuda de Thais, corremos para o casebre. Entramos nele, que parecia abandonado há algum tempo, a moto estava com a gente na sala vazia, a não ser por um sofá empoeirado e uma mesa de centro faltando uma das pernas.

Ficamos olhando pela janela: havia doze filhos do abismo e sete anjos contando com Rachel. Eles lutavam com bravura, apesar do menor número.

– Eles podem matá-los? - Perguntei para Týr.

– Não. Apenas as fadas sabem como fazê-lo.

– Então como eles vão derrotá-los?

– Do mesmo jeito que fizeram da primeira vez: vão selá-los e trancá-los de volta no Abismo.

Todos os anjos tinham uma espada e um escudo feitos com uma chama laranja-avermelha linda. Fogo Celestial, como Týr o chamara. Usavam, também, uma belíssima armadura feita de prata, ouro e titânio. Rachel lutava contra dois deles, desvia e se defendia na maioria das vezes. Os Filhos atacavam com armas bizarras nas quais suas mãos e antebraços se transformavam. Quando finalmente um deles abriu uma brecha, Rachel cravou a espada entre suas costelas, o Fogo Celestial absorveu o Filho do Abismo. Ela se virou rapidamente para defender um ataque.

A luta persistiu daquela forma por alguns minutos até que todos os Filhos estavam selados pelo Fogo Celestial. Um dos anjos havia morrido no combate.

– Onde estão aquelas almas? - Perguntou o arcanjo.

– Estão naquela casa. - Rachel disse apontando para nós.

– Resolva isso. Nós vamos seguir para Tel-Aviv.

– Sim, senhor.

Ela veio voando até nós.

– Leonard! - Ela chamou.

Nós saímos; Týr ficou escondida no meu bolso.

– Rachel. O que está acontecendo? - Tentei interpretar uma confusão.

– Nós estamos sendo atacados por um antigo inimigo. Vocês precisam ir para Nova Jerusalém, é o único lugar seguro. Vou com vocês.

– Não há necessidade. Você é necessária em Tel-Aviv, eu estava lá quando eles chegaram, a coisa está muito feia.

– Se estavam lá, e escaparam, vocês devem conseguir chegar à Nova Jerusalém. Boa sorte. - E voou apressadamente.

Ela estava com pressa, e isso ajudou a convencê-la de que iríamos ficar bem. Voltamos para a sala, peguei minha espada que eu tinha escondido perto da moto. Voltamos para a estrada. Roubamos combustível das motos deles e colocamos na minha usando a magia de Týr. Thais não falou muita coisa, ficava o tempo todo olhando para Týr, estranhando-a. Ainda não havia se acostumado.

Quando estávamos prontos para viajar, dessa vez para o norte, eu disse:

– Thais, nós precisamos chegar ao mar mediterrâneo o mais depressa possível. Como fazemos isso?

– Eu não costumo vir para o sul, e quase não saio de Tel-Aviv, mas sei que se seguimos para o norte por essa estrada podemos chegar a Ashkelon, lá podemos conseguir um barco.

– Então é pra lá que vamos. - Eu disse.

Nós subimos na moto e seguimos para o norte.

– Anúbis! - Eu ouvi uma voz muito familiar gritar. - Eu sei que é você!

Parei a moto com tudo, quase nos desequilibrando. Não podia ser! Eu não podia ter ouvido Elena! Eu a procurei por todos os lados, mas ela não estava ali. Deveria ter sido apenas algo da minha cabeça. Ela estava viva, não era possível que estivesse ali. Lembrei-me de quando a vi no topo daquele prédio. Ela estava lá, e agora eu realmente a ouvi. E se ela estivesse ali, mas eu não podia vê-la? Não... Isso é impossível. Ou não?

– O que foi? - Thais me perguntou.

– Eu jurava que... Que... - Olhei triste para o chão, decepcionado. - Podia jurar que eu ouvi...

– Ouviu quem?

– Ninguém. Vamos.

Acelerei a moto e rumamos para o norte. Eu sabia que meu encontro com a Morte estava chegando.


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