BIANCA POV ON

Coloquei as malas dentro do meu quarto temporário, me deitei na cama por alguns instantes e encarei o teto. Não queria ter vindo de maneira alguma para esse hotel. Odiei a simples ideia de gastar dois meses enfurnada aqui. 2 MESES!

Era longe do Rio, dos meus livros, do meu celular, da minha vida!

Levantei e bati a porta do quarto, procurando pelo meu pai para implorar que me mandasse de volta para Copacabana. Minha irmã, Carolina, apareceu na minha frente, sorrindo de uma forma esquisita.

– Carolina, dá licença.

– Papai está tomando banho e mamãe tá dormindo.

– E por que você está vomitando arco-íris, posso saber?

– É claro que você pode saber. Lembra da menina que estava falando comigo na entrada?

– Não.

– Ai, Bianca, é claro que você lembra. Nossos pais ficaram conversando com os dela e, por algum motivo desconhecido, eles gostaram um do outro e...

– Quer saber, Carolzita? Não quero mais saber do motivo do "vômito arco-íris". Mas, valeu, tá?

– Ai, Bia! Deixa de ser chata!

– Ai, Carol! Deixa de contar histórias chatas!

– Que saco, Bianca! Enfim, eles chamaram a gente pra jantar daqui há... 5 minutos?

– Eu não vou.

– Ah, você vai sim!

– Fala que eu engoli uma mosca venenosa por aqui e tenho que comer no quarto pra não infectar ninguém.

– Deixa de ser anti-social, Bianca!

– Eu não sou...

– Se você quer me provar que não é, fique pronta e jante com a gente. Qual é! Quem sabe a Camila não tem um irmão bonitinho?

– Não vim aqui pra arrumar namorado.

– Nem no Rio você arruma, imagina aqui...

– Sai do meu quarto, sai!

Quando saí do quarto, o clima estava mais quente do que antes. Desci as escadas em direção ao restaurante, reclamando comigo mesma o fato de meus pais serem adoráveis, porque, se eles não fossem, não surgiriam programas como esse do jantar.

Entrei no grande salão bege, com um piso quase escorregadio de madeira. Ouvi o barulho de copos de vidro, risadas e conversas alheias. Avistei Carolina conversando com uma menina de cabelos escuros e me aproximei da mesa.

– Boa noite. - Disse, atraindo olhares de todas as pessoas da mesa. Uma mulher de cabelos curtos se levantou e sorriu para mim.

– Você deve ser a Bianca, não é mesmo? - Assenti. - Pode se sentar, Bianca!

– Obrigada...

Caminhei até uma menina que parecia ter a minha idade, que deu um sorrisinho fraco na minha direção. Retribuí.

– Desculpas pelos meus pais. Eles realmente amam uma conversa. Sou Julie.

– Bianca.

– Eles adoram marcar jantares ou almoços com os amigos. Sabia no fundo que isso aconteceria aqui.

– Eu também não duvidava que meus pais não achariam alguém para conversar.

– Só para você ter noção, eu cheguei aqui há menos de uma hora e já estou jantando com uma família que eu conheço há 30 minutos.

– Eu te entendo. - Julie sorriu e olhou para o final da mesa, onde um garoto de cabelos castanhos claros apareceu, pedindo desculpas pelo atraso. - Eu vou pegar alguma coisa pra comer. Já volto.

Pedi licença e quando voltei, vi o tal garoto conversando com Julie apressadamente. Puxei a cadeira, sem querer fazendo com que ele levasse um susto.

– Desculpa, não queria te assustar.

– Tudo bem. - Ele sorriu de um modo que eu senti minhas bochechas corarem. - Sou o Matheus.

– Bianca. - Apertei a mão estendida dele e me voltei para Julie.

– Ele é seu...

– Irmão? Infelizmente, sim.

Ri e dei uma rápida olhada para Matheus, que sentou na minha frente e já me encarava. Julie começou a rir do meu lado, atraindo o meu olhar e o do Matheus.

– Tô de olho nisso, viu?