Doce conforto escrita por Alice


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Um presente de Natal atrasado para as lindas shippers que não desistiram de Red Beauty.



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Parecia até estranho, mas nada dera errado para Ruby naquele dia – o relógio despertou na hora certa, nenhum cliente fez comentários desagradáveis sobre sua vida durante a maldição e ela trabalhou de tão bom humor que Granny a dispensou mais cedo. Decidiu então visitar Belle, com essa folga, poderia passar o resto do dia ajudando-a na biblioteca; sua amiga sempre insistia que isso não era necessário, mas ela não se importava.

A biblioteca estava fechada. Ruby havia estranhado que a pequena não aparecera para seu habitual chá gelado e panquecas, mas agora estava começando a ficar preocupada. Checou seu celular para ver se havia algum sinal da outra, quando percebeu a data – 2/11 – hoje fazia mais um ano da morte da mãe de Belle... Agora tudo fazia sentido, e isso significava que talvez ela quisesse uma companhia.

“Vc está bem?”

Belle sorriu ao ver a mensagem, ela sabia que a amiga se lembraria. Mesmo assim, não tivera vontade de sair de casa.

“Sim” Ela respondeu com uma meia verdade.

“O café ficou triste sem vc hj”

“Estou sem vontade de sair, acordei meio carente...”

“Quer que eu vá aí? Posso ser útil ;)”

A bibliotecária sentiu um calor nas bochechas e borboletas invadirem seu espaço mesmo com todas as janelas do apartamento fechadas. Um segundo de coragem foi suficiente para mandar uma indireta.

“Quer ficar abraçada cmg no sofá o dia inteiro? Pq é isso que to precisando haha”

As mãos de Ruby suaram frio, aquilo era bom demais para ser verdade, mas decidiu continuar o jogo para ver onde isso daria.

“Se isso vai te deixar melhor ;) Nós podemos assistir aquele filme que vc tanto ama”

“*o* Se vc trouxer chocolate te amarei eternamente”

“To chegando

E com uma caixa de morangos”

“Meu coração já é seu”

Essa foi a conversa mais gay que já tiveram na vida e Ruby não podia estar mais feliz.

Aquilo levantou o ânimo de Belle, decidiu sair de seus moletons e se arrumar, afinal, Ruby iria visita-la. Lá no fundo, sabia o real motivo de estar checando sua aparência, mas fingia que era para não preocupar a amiga com seu desleixo, mostrando que ficara o dia inteiro deitada depois do pesadelo com sua mãe.

Ruby chegou com uma caixa de morangos e barras de chocolate como havia prometido, mas insistiu em preparar um almoço decente antes. Abriu as janelas, deixando a luz iluminar a casa enquanto cozinhava e dançava ao som do rádio, encorajando Belle a participar. Belle se encontrou sorrindo de forma genuína, ela se divertia observando os movimentos bobos da outra, até arriscou fazer alguns próprios, e desejou que o resto da sua vida fosse assim – com Ruby ao seu lado alegrando o dia. Ao invés de afastar esse pensamento como tantas outras vezes, Belle deixou que ele tomasse sua imaginação. Não podia mais negar que a melhor parte do seu dia era sempre quando se encontrava com Ruby. Bom, isso e ler seus livros preferidos. Ruby pareceu ler seus pensamentos quando sugeriu que fizessem alguma outra coisa antes do filme, já que tinham acabado de almoçar, como ler algo do tão falado Júlio Verne.

A garçonete escolheu um da coleção completa que havia numa estante e entregou o livro para ela, pedindo que o lesse em voz alta. Belle sentou-se no sofá, só para ter a surpresa de ver que Ruby deitara-se com a cabeça em seu colo, pronta para a história. Dezenas de páginas depois, Belle sentiu sua garganta seca e deu uma pausa, percebeu que a amiga estava de olhos fechados com um meio sorriso no rosto. Antes de fazer algum comentário, esta franziu o cenho.

- Por que parou?

- Que susto, achei que você tinha dormido. – Ela riu. – Só preciso beber algo.

- Como posso dormir com uma voz tão bela lendo pra mim? – Belle percebeu o quão tensa Ruby ficara depois do comentário, afinal, ainda estava deitada em seu colo. Ela pigarreou. – Quero dizer, a história é tão interessante e você lê muito bem. – Mas já sabia que era tarde demais.

Decidiu, então, pegar um copo de água para Belle. Sozinha ela se repreendeu; tanto tempo escondendo seus sentimentos para estragar tudo em um momento de distração. Ela sabia que Belle entendera a mensagem por trás de suas palavras, não era burra, não, Belle era a mulher mais inteligente, encantadora e incrível que já conhecera. E Ruby estava com medo que tivesse acabado de perdê-la por causa de um erro.

...

Chocolate com morangos prontos, era hora do filme. Tudo começou com uma de cada lado do sofá, a tensão da cena anterior ainda pairando no ar, mas ao longo da história buscaram calor e consolo com a outra até que, na cena em que o único parente do personagem principal morria, ninguém falou, mas se abraçaram, pois sabiam o que era perder um familiar.

Ruby queria proporcionar o conforto que não recebera durante sua vida solitária. Claro, Granny fora uma ótima avó e sempre sabia dizer o que era necessário, porém às vezes ela de precisava algo mais – ao longo do tempo, percebeu que precisava de Belle.

- Quer falar sobre isso?

- Não. – Belle respondeu com uma voz rouca, sem tirar os olhos da televisão.

Por mais que não quisesse, Ruby tirou seus braços do corpo da outra e virou, fazendo com que se encarassem.

- Belle, eu sei que é difícil, mas, por favor, não se deixe passar por isso sozinha. Eu nunca soube do meu pai e minha mãe morreu por minha causa.

- Ruby você sabe que...

- Que Anita me fez escolher entre minha família de um dia e minha melhor amiga, sim. Mas você acha que eu não durmo e acordo todos os dias com essa culpa? Ou tenho saudades dela quando me sinto sozinha? - Ruby tinha a intensão de ajudar Belle, mas ela não pode evitar falar de suas próprias angústias e agora as lágrimas já se faziam presente.

- Eu sempre estarei aqui, você não precisa se sentir sozinha. – Belle assegurou, secando o rosto da outra.

- E eu quero ser essa pessoa pra você também. – Sua voz suavizava, só o toque da pequena já era o suficiente para acalmá-la e colocar os pensamentos em ordem. – Depois de Granny, você é a pessoa mais importante para mim e eu não posso lidar com a ideia de que tem uma dor igual a minha.

Durante o filme, Ruby decidira falar tudo de uma vez, afinal, já deixara óbvios seus sentimentos pela pequena bibliotecária, não queria viver o resto da vida com arrependimentos e “e se” jogados no ar, se Belle não a repreendera pelo que disse mais cedo, não custava nada tentar. Respirou fundo e tomou coragem.

- Belle, eu nunca conheci sua mãe, mas, mesmo que você não fale muito sobre ela, tenho certeza de que era uma pessoa excepcional para criar uma filha tão incrível como você. Às vezes acho que não te mereço, porque você é perfeita demais para mim. Mas... gosto muito de você Belle, tipo, muito mesmo. Desde que te conheci tento ser uma pessoa melhor, porque você me inspira. E agora, mesmo que eu ainda ache que só a sua amizade é mais do que eu poderia querer, meu coração decidiu bater mais forte toda vez que penso em você. Tudo bem se você não compartilhar os meus sentimentos, pra falar a verdade eu nem espero isso, mas acho que estava na hora de você saber.

Aquelas palavras deixaram Belle estática. Seus olhos lacrimejavam também, mas não de tristeza, era uma emoção muito mais profunda - inocente, mas escondida na caverna mais obscura de um coração, ela só havia sido perturbada uma vez e, magoada pela falta de confiança de Rumplestiltskin, nunca mais achou que veria a luz da felicidade novamente; agora lá estava ela, correndo por todos os lados, fazendo o coração de Belle palpitar tão forte e alto que ela tinha certeza que Ruby o escutava, sincronizando com seus próprios batimentos cardíacos enquanto compartilhavam um beijo apaixonado.

Depois de tanto tempo de amizade, era um alívio finalmente poderem revelar seus verdadeiros sentimentos, e libertador tocarem uma a outra como sempre quiseram. Ruby envolveu a cintura de Belle, trazendo-a impossivelmente perto.

- Ruby. – Ela dissera entre soluços, risadas e mais beijos. Ruby decidira que ouvir seu nome saindo da boca de sua amada com tanta emoção era seu novo som favorito.

Quando se acalmaram dessa enxurrada de novos sentimentos e sensações, era a vez de Belle responder àquela linda declaração.

- Você merece Ruby. Sempre mereceu minha amizade e não precisou se esforçar para merecer meu amor também. – Belle fazia questão de tocar e observar o rosto da morena enquanto falava, para ter certeza de que aquilo, elas, juntas, era real. – Eu estaria perdida nessa cidade sem você, sem sua coragem, paciência e carinho. Ah deuses, tudo em você era tão maravilhoso que eu passava madrugadas pensando “Por que a Ruby é tão legal comigo?” e “Será que a Ruby faz todo mundo se sentir especial assim?” até que, algumas noites depois, meus pensamentos se concentraram em “Ruby”. Eu nunca poderia imaginar que você se sentisse assim também... Até hoje.

Essas palavras eram suficiente por agora, o que importava era a presença uma da outra, demonstrar tudo que reprimiram durante todo esse tempo. A cada toque quente na pele, queimava um medo, os passos se arrastando ao quarto deixaram para trás suas preocupações e a batida da porta fora um definitivo adeus à solidão.

Belle não ficaria mais de luto nesse dia, sua mãe vivia nas melhores lembranças. Agora se sentia a pessoa mais amada do mundo, passando o resto de sua vida com uma mulher fantástica e doce, assim como os morangos e chocolates que confortaram e juntaram as duas.


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Notas finais do capítulo

Que o próximo ano seja repleto de ships canons e felizes (porque tá complicado)!



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