Entre armas e rosas escrita por RoseGun


Capítulo 6
Callie




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Em um movimento brusco me solto de Luke e me jogo em sua frente, com os braços abertos. Mesmo eu estando fraca consigo ficar em pé por pouco tempo. Tempo suficiente para o soldado estadunidense perceber que estava diante de um amor proibido mais verdadeiro.

Ele abre a boca em um grande “O” e abaixa à arma. Luke me toma de novo em seus braços. Os passos fortes dos soldados se aproximando em nossa direção foram o suficiente para que ele nos acompanhasse.

Continuamos pela floresta. Eu conhecia o destino que Luke nos conduzia... Nossa cabana. Mesmo em seu colo, me sentia exausta.

Quando chegamos ao nosso destino, Luke tranca a porta e o soldado se apoia em um canto nos observando. Depois de um tempo eu e Luke nos sentamos porem o homem continuou a nos observar. Esperamos nossos corações desacelerarem e nossa respiração voltar ao normal, só então o soldado se permitiu a sentar também. Então resolvi perguntar quem era:

– Meu nome é Mike Sniper, como vocês já devem ter percebido- apontou para a bandeira estadunidense em seu quepe- eu sou um soldado americano. Percebi que estavam sendo perseguidos pelos nazistas, mas ei- ele apontou com a cabeça para Luke- você é um deles. Quer me explicar o que faz com ela?

Luke suspira e encosta a cabeça na parede atrás de si. Então começa a contar sua história para Mike, mesmo que com certa dificuldade, pois não conseguia falar inglês tão bem assim. Eu resolvo contar a minha também. Mike acaba contando a sua, o que me impressiona, mas também me fez sentir mais confiante quanto a ele. Mesmo assim ainda percebo os olhares desconfiados entre Luke e Mike. Eu não os culpo, a história de Mike é surpreendente, todavia levaria mais do que algumas horas de conversa para que passassem de inimigos para melhor. No entanto, todos nós sabíamos que brigar em uma situação dessas não nos ajudaria em nada.

No dia seguinte Luke me acorda e tenta me explicar algo sobre voltar para os soldados para não levantar suspeitas. Ele sai muito cedo, Mike ainda estava dormindo quando Luke vem até mim para se despedir. Eu me levanto sonolenta, e ele diz que iria deixar dinheiro para Mike ir ao mercado caso ele não tivesse. Eu concordo com a cabeça e Luke se despede com um longo beijo. Antes de sair, porem, eu seguro sua mão e o puxo para perto de mim. Ainda tinha algo que me perturbava desde que nós fugimos:

–Luke... Você sabe o que eu sou e sabe que menti. Então, por quê?

Luke me lança um suave sorriso e me abraça fortemente:

–Não é obvio sua boba?- Ele tira uma mecha ondulada de cabelo do meu rosto- Porque eu te amo. Não me importa meu treinamento ou se você mentiu. Eu te amo e amei desde a primeira vez que te vi. - Ele se aproxima até que nossas testas se encontram e até eu não ter nada para ver além de seus olhos azuis. - E isso é tudo que importa.

Ele então me beija, me enchendo com seu calor. Era para tudo ser perfeito, mas não era, e por isso eu o paro, ainda preocupada:

– Você sabe que é perigoso sair, ainda tem soldados...

– Callie, o mundo é um lugar perigoso de se viver, mas não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer. E eu não posso deixar nada acontecer a você. - Depois ele se debruça em mim e sussurra em meu ouvido- Volto logo, prometo.

Depois disso Luke me beija mais uma vez e me abraça fortemente. Então ele me solta se vira e sai, mesmo que eu tenha conseguido perceber a hesitação em sua saída. Não consegui dormir. Penso em minha família e me sinto vazia e sem rumo. Pelo menos ainda tinha Luke. Esse pensamento me fez sentir uma angustia e percebo que Luke poderia estar em perigo. Será que devia ter o deixado sair? Esse pensamento me apavorou, mas não consegui me mover.

O que me livrou de meus pensamentos foi um movimento ao meu lado, não muito longe de mim. Percebi que Mike estava acordando. Quando Mike acordou, ele se sentou ereto e fechou os olhos por um momento. Não sabia o que estava pensando, mas por sua expressão podia ter uma ideia. Depois de um tempo voltou a abrir os olhos e os vagou pelo cômodo. Percebi que tinha notado que Luke não estava lá, no entanto Mike não comentou nada, parecia até mais aliviado. Seus olhos então encontraram os meus e pude notar seus olhos azuis. Não eram iguais aos de Luke, eram mais escuros e menos brilhantes, porem tinham certo cuidado e pericia como se conseguissem alcançar qualquer detalhe do mundo. Mike suspira e tira seu quepe para passar a mão no cabelo, só então pude perceber o leve topete que se formava no topo da testa. Na verdade, pude perceber muito mais de seu rosto. Tinha o queixo mais fino que Luke, mas tinha bochechas mais delicadas. Tinha uma leve barba, no entanto o que me chamou a atenção foi uma cicatriz que ia do topo de sua sobrancelha esquerda até a parte de baixo de seu olho:

– Mike. Como você conseguiu isso?- Fiz uma linha com meu dedo no meu rosto para demonstrar- Essa cicatriz perto de seu olho?

– Então você notou? Bem, enquanto estava no meio do campo, eu estava posicionando-me no melhor ângulo para eliminar os alvos, até que pela minha mira vi meu amigo Robert, ele havia sido atingido, ele estava muito longe, mas mesmo assim com a minha arma em mãos tentei ajudá-lo. Estava ficando difícil correr por conta dos inúmeros corpos ensanguentados e caídos no chão. Tinha conseguido alcançar Robert e ele tinha levado um tiro perto da bacia. Quando estava o ajudando a levantar vi uma bomba caseira sendo arremessada perto de nos, apoiei Robert em meus ombros, mas a bomba explodiu. Um dos destroços da bomba acabou pegando o meu olho. Mas os médicos foram bonzinhos e conseguiram recuperar o meu olho sem me deixar cego. Imagina um atirador tão bom quanto eu... Quer dizer, isso não existe por que bem, eu sou o melhor.

– Agora acho que você está só se exibindo. – Mike deu um sorriso, mas que rapidamente desapareceu. Depois de um tempo apontou:

– Seu inglês é muito bom para alguém que parece não praticar muito.

– Bem, obrigada... Acho- suspirei e depois de um tempo resolvi continuar- Sabe, na minha cidade, quando eu era pequena, havia uma mulher que era mãe de uma de minhas melhores amigas- Parei por um momento tentando relembrar nossos momentos juntos- Sua mãe era professora e sabia várias línguas. Um dia ela reuniu várias crianças da vizinhança e começou a nos ensinar o inglês. Disse que algum dia iria nos servir bem. Que coincidência, não?- Mike não respondeu porem me observava prestando atenção em minhas palavras- Sei também o alemão, mas acho que nunca foi muita minha escolha.

Esse pensamento me fez rir, no entanto rapidamente me senti mal. Memorias que há muito tempo tinha conseguido enterrar no fundo de minha mente agora voltaram como um estouro. Junto a esse estouro vinha uma tristeza que se misturando a minha outra, fazia com que eu ficasse sem ar e paralisada. Tentei impedir as lágrimas de saírem de meu rosto:

– Não tivemos oportunidade de aprender mais com ela. Afinal, um dia ela simplesmente se foi. Todos se foram com o tempo...

Mike então desviou o olhar percebendo a tristeza no meu, e ficando até um pouco constrangido de ter tocado no assunto:

– Ei, eu já ia me esquecer- Disse depois de um tempo, louca para mudar a atmosfera que se tinha criado, e até para ficar um tempo sozinha. -Luke deixou dinheiro para você ir ao mercado.

– Não seria melhor um de vocês dois ir?

– Luke voltou para não levantarem suspeitas e eu... Bem, digamos que sou meio “famosa” com os soldados daqui.

Isso pareceu divertir Mike um pouco:

– Bem então acho que comigo não vai ser muito melhor.

Mesmo assim ele pegou o dinheiro em um canto e saiu sem dizer mais uma palavra. Antes de sair, porem, tinha deixado qualquer coisa que mostrasse que era estadunidense. Eu sabia que mesmo que tivesse ido ao mercado, manteria um olho em Luke. Só esperava que Mike não saísse por aí atirando e prendendo as pessoas.


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