Margaridas também têm espinhos escrita por Vaalas


Capítulo 1
Rosas e margaridas


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma one bem pequena e simples, mais uma ficlet do que one, na verdade.
Boa leitura.



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Tu eras o mais doce (amargo) descaso que algum deus insensível decidiu pôr em meu caminho.

Surgiste em uma manhã fria de outono, o céu estava vermelho, se desfazendo no laranja e bronze. Paraste no outro lado da rua com aqueles olhos sensíveis do mais puro doce chocolate amargo, os cabelos tão negros quanto a noite que estaria por vir (e rosas, muitas rosas). O céu vermelho sorriu com graça, e tu me cumprimentaste.

Dei-te uma rosa porque odiavas margaridas.

(a primavera já havia ido, e tudo o que restara foram pétalas murchas e mortas, caindo no chão em um último suspiro, marrons e não vermelhas)

Colhi sua dor em meus braços e a dividi em duas, pois ela era demasiada pesada para que um coração tão frágil como o teu pudesse carregar. Tua dor era quilos de chumbo, ou pelo menos pesava tanto quanto. Era também quente e afiada, como pregos submersos em brasa ardente, daqueles que rasgavam a pele e cauterizavam ao mesmo tempo, sem poupar dor.

(sorriste, doce e leve como passara a ser depois de dividir tuas angústias. Livre, beijou-me no rosto, virou as costas e acenou.

Partiste um segundo depois.)

Observei tuas costas sumirem ao longe, seus cabelos de pura noite sem estrelas balançando ao vento como um corvo de asas majestosas lançando voo. Seus olhos de chocolate amargo nunca vi novamente, e de seu sorriso de boneca frágil sequer posso recordar. Pareceu perder-se na memória como algo pouco importante. O céu estava ensolarado, porém, e havia margaridas em todo lugar. Apenas as margaridas que tanto odiavas, marcando no chão com sutil aroma adocicado a lembrança da inocência que não tinhas (porque são assim as margaridas: inocentes, sem espinhos).

Nada teu deixou para trás.

A única coisa que tenho de ti, meu amor, é tua angústia. Esta que assola-me o peito sem descanso, que queima como brasa e rasga como fatais garras afiadas (polidas nas pedras do descaso e no cansaço de tuas saudades), afiadas como as lâminas do mais antigos dos reis.

(só não mais afiadas que teu cinismo, minha querida)

Entreguei a ti uma rosa — e em troca me deste espinhos.


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Notas finais do capítulo

:D