Quando as palavras faltarem escrita por Weirdo


Capítulo 4
Capítulo 3 - 302




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Narração por George Thompson

Eu tinha convidado Sasha McKinnon pra sair, ou pelo menos eu achava que tinha. O único problema era: eu tinha que sair com o Josh e o Jack. Claro, eu podia leva -la junto, mas ela sair com os meus amigos seria mais um problema do que uma solução. Sem falar que isso eu parecer medroso, não que não seja verdade mas ela não precisa descobrir isso logo de cara.

Sasha era loira, o cabelo ondulado ficava na altura dos ombros, tinha olhos azuis, era baixa, e sempre tinha um sorriso no rosto.

— Josh, eu posso levar a Sasha McKinnon junto com a gente, né?

—Tá me zoando? Você tem um encontro?!

— Já entendi, você não quer que eu leve ela, não precisa fazer escândalo.

— Você tem que levar ela! Você e essa garota, o Jack com a Shade, hoje é o dia dos milagres! Qual vai ser o meu?

— Que tal realmente namorar com uma garota?

— O quê? O Josh tá namorando? — Disse Jack, chegando no jardim.

—Vira essa boca pra lá. — E nos olhou — O dia que eu gostar de verdade de uma garota eu pinto meu cabelo de azul e saio por aí gritando que sou gay.

— Esperarei por esse dia. — Falei

— Jack! Sabia que o nosso nerd tem um encontro?

— George tem um encontro? — Ele falou sem acreditar. — Com quem?

— Ei, a Shade chegou.

Narração por Jack Khan

— Quê? Ela veio? — Falei me virando esperançoso.

Victorie fez um aceno discreto com a mão e veio caminhando na nossa direção, encarando o chão.

—Oi. Então você decidiu vir. — Ela me olhou como se disse se: Tá reclamando? — Que bom, eu fico feliz.

— Jack, vou procurar a Sasha tá? — Avisou George.

—Tá. — Me dirigi a Victorie — Talvez a gente se atrase um pouco, você se importa? — Ela fez que não com a cabeça, mas percebi que alguma coisa a incomodava. Só não sabia o quê.

Senta aqui enquanto a gente espera eles voltarem. — Falei sentando na beira da fonte. Ela fez o mesmo.

Ainda era confuso isso de tentar manter uma conversa sozinho, só podia fazer perguntas de sim ou não ou tentar interpretar os olhares dela, mas se eu entendesse errado não seria muito bom, então ao menos por enquanto prefiro não arriscar muito.

—Gosta de ler? — Perguntei já sabendo a resposta. Ela assentiu feliz com a pergunta, os olhos dela brilhavam assim como quando ela lia um livro, mas em seguida ela parecia frustrada, mas dessa vez eu não entendi o porquê.

—Vamos? — Perguntou Josh, que já estava com George e Sasha.

—Claro.

Chegamos em uma pequena lanchonete na vila, e nos sentamos três de cada lado da mesa, George, eu e Victoire de um lado e Sasha, Josh e Clary do outro. A garçonete veio e nos entregou os cardápios, pude perceber que aqui não tinha muito bem um tipo específico de comida, tinha fast food, e umas comidas mais saudáveis.

— Um chesseburger, fritas e Coca. — Pedi.

— Desculpe, hoje estamos sem batata frita.

—Então eu vou querer dois chesseburgers, por favor.

Olhei para Victorie que rolava os olhos por todo o cardápio, nem reparei que George, Josh e Clary já tinham feito o pedido deles.

—Um hambúrguer e uma Coca-Cola Diet. — Pediu Sasha.

—Vai querer o que? — Perguntei a Victorie que encarava o cardápio. Ela apontou com o dedo indicador à salada.

—Não vai querer hambúrguer? — Ela negou veementemente.

—E pra beber? — Ela apontou pra Coca.

—Coca normal? — Ela assentiu.

Depois que terminamos de comer fomos andar pela vila, e passamos por uma livraria, e Victorie ficou olhando praticamente implorando pra gente entrar.

—Hã, gente, encontro com vocês depois. — Falei.

—Tudo bem. — Sasha disse pra mim e em seguida se dirigiu ao George. — Está me devendo um sorvete...

— Então a gente se encontra mais tarde. Onde? — perguntou George.

—Que tal na 302? — Disse Josh divertindo-se. Sasha e Clary se entreolharam confusas, George não pareceu muito feliz com a ida á 302 e Victorie deu um leve sorrisinho, parecendo se divertir com a ideia.

— O que é 302?

—É uma casa, a lenda diz que 301 pessoas morreram nela, embora nunca tenha sido descoberto como, e que essa 301 almas ainda estão aprisionadas na casa e quando fizerem a trigésima segunda visita quem estiver dentro da casa será também aprisionado lá. — Eu e o Josh não acreditávamos muito nesse tipo de coisa, embora o Josh gostasse, e eu nem tanto assim, o George não gostava, porém acreditava. As meninas eu não sei.

—Vamos logo tomar sorvete George? —Pediu Sasha. E achei melhor entra logo na livraria.

Entrando lá os olhos de Victorie voltaram a brilhar, não com a mesma intensidade de que quando ela lia um livro, mas ainda sim brilhavam. Ela deve ter olhado todos os livros da livraria, afinal a gente entrou lá ás duas da tarde e já eram vinte para as seis.

Até que ela se dirigiu a porta, com intenção de ir embora.

—Você não vai levar nenhum livro? — Ela fez que não. — Não gostou de nenhum? — Ela fez que sim. — E pelo olhar dela interpretei aquilo como sendo um "sim, eu gostei". — Então escolha um. Eu te dou. — Ela fez que não com a cabeça. — Vamos. Você não sabe o caminho de volta pra escola daqui, só te levo pra lá se me deixar te comprar um livro. — Ela revirou os olhos, mas pareceu feliz com a chantagem.

Saímos da livraria com um livro chamado "Lembranças Venenosas".

—Vamos à 302? — Perguntei. Ela assentiu. — Gosta disso? Quero dizer, de terror. — Ela fez que sim. — Já esteve na casa? — Victorie negou.

Ao chegarmos na casa George e Sasha já nos esperavam lá.

— Morro de medo dessas coisas. Então acho que terá que me proteger. — Disse Sasha para o George. Sem perceber que nós estávamos lá.

—Acho que você que vai ter que proteger o George. — Disse Josh, logo atrás de mim.

—Muito engraçado. — Retrucou George.

—Vamos entrando logo. — Disse Clary, seguida por Sasha.

—Espera. Só pode entrar um de nós, após dez minutos outro entra e assim vai. - Avisou Josh.

—Eu que não vou ser a primeira. — Disse Clary se afastando da porta.

—Nem eu. — Disse Sasha.

Eu, George e Josh nos entreolhamos e estávamos com mais medo que as meninas se bobear.

—Corajosa a Shade, hein? — Jack falou.

—O quê? —Falei sem entender, até reparar que ela já estava passando pela porta da casa.

—Qual vai ser a ordem pra nós entrarmos? — Perguntou Sasha.

—Sou o próximo. — Avisei.

—Depois eu. — Falou Joshua.

—Tá, eu posso ser a próxima. —Disse Clary.

—Depois sou eu. — Disse George não querendo ficar por último e acabar parecendo medroso.

—Acho que sou a última então. — Falou Sasha.

Após os dez minutos entrei na casa, não era a primeira vez que entrava lá. A casa era empoeirada, e parecia estar caindo aos pedaços, havia aranhas por toda a parte. Comecei a procurar pela Victoire, a casa era grande, tinha três andares, o porão, o térreo e o primeiro andar.

Fui ao primeiro andar, lá era o lugar mais claro da casa, e talvez o menos assustador. Ela não estava lá.

Narração por Victorie Shade

Até que eu estava gostando. Gostando de estar com pessoas, de talvez estar fazendo um amigo, por mais nervosismo que o fato de interagir com pessoas me cause, estava sendo divertido. Não que eu interagisse muito, eu não falo nada, só fico junto com os outros, mas mesmo isso já está sendo uma boa evolução. Mesmo eu não gostando muito de que Sasha McKinnon tenha vindo com a gente, quer dizer, nada contra a Sasha, eu nem conheço ela, mas se eu soubesse antes que ela viria, provavelmente não teria aparecido no jardim ao meio-dia, pois Clary e Joshua eram um casal, Sasha e George eram um casal, e eu e o Jack...não. Fica uma situação estranha.

Eu estava no térreo da 302, até que não era tão assustadora quanto falavam, seria divertido assustar os outros aqui, mas claro que eu não faria isso, não é como se nós fossemos amigos. Eu não acho que terror seja algo ruim, não é que ele seja bom, mas, ele causa coisas boas, ou pelo menos pode causar coisas boas. Por exemplo ver um filme de terror com seus amigos acaba se tornando legal, pelo simples fato de todos estarem com medo e zoando uns aos outros, o mesmo vale para um susto entre amigos, é como se pegássemos o medo e o transformasse em algo bom, de modo que pouco a pouco o medo seria bem menos significante, quanto ao fato de simplesmente gostar de ver um filme de terror, as pessoas sempre pensam que faz isso ou por não ser uma boa pessoa ou por querer impressionar alguém, as pessoas consideram filmes de terror coisas horríveis, mas não acho que seja verdade, um filme de terror deveria nos deixar felizes não? Felizes por percebermos o quanto nossa vida é boa. Mas acho que eu não sigo a linha de pensamento da maioria das pessoas.

Fui ao porão, lá era escuro, quase caí ao descer as escadas, a cordinha pra acender a luz estava do outro lado do cômodo. Acendi a luz, o porão estava empoeirado. Ouvi um barulho do outro lado, a luz se apagou, acho que eu não estava sozinha no porão. Mais um estampido e a porta se fechou, corri até ela, e a empurrei com toda a força do meu corpo mas ela não se abriu. Comecei a bater na porta na esperança de alguém me escutar e abrir pra mim. Tentei gritar por ajuda, mas obviamente não gritei.

Espera, eu estou fazendo escândalo, daqui a pouco a porta irá se abrir, esse desespero todo que eu estou provavelmente é porque eu estou presa no porão de uma casa assombrada, quer dizer, se fosse outro andar da casa eu não ficaria com medo, mas o porão é o porão... Não sabia que eu era tão medrosa. Tentei relaxar e sentei no degrau da escada encostando na porta. Ouvi passos, de alguém dentro do imenso porão, levantei apressadamente e voltei a dar tapas na porta, agora sim eu estava desesperada, e talvez com razão.

Narração por Joshua Allen

Gente, sério, a McKinnon e o George estavam se cagando de medo, é difícil dizer qual deles está mais assustado. Já tinha ido em todos os andares, menos no porão, digamos que eu esteja com um pouquinho de medo ir lá embaixo. Decidi, corajosamente ir até lá, e estava me preparando psicologicamente para descer enquanto encarava a porta, até que minha mão já estava na maçaneta e...Alguém bateu na porta, tipo, alguém dentro no porão bateu na porta, obvio que nesse momento eu quase tive um ataque cardíaco e cai pra trás, morrendo de medo. Tá, eu tentei tomar uma decisão lógica, o que é difícil por que eu não sou exatamente um exemplo em quesito inteligência, tá, talvez fosse o Jack tentando me assustar, mas não acho que ele seria corajoso o suficiente para se trancar no porão...

—Alguém pode ter ficado preso ai dentro. — Disse Clary atrás de mim, me dando um susto enorme.

—Alguém tá aí dentro? - Perguntei para a porta. Mas só recebi batidas mais rápidas e desesperadas em resposta.

—Não responderam, não tem ninguém aí. Não espera realmente que eu abra essa porta, se ninguém tá preso lá dentro? — Falei indignado para Clary.

Ela não respondeu, mas pareceu concordar em parte, afinal ela também estava com medo, mas em parte preocupada se alguém realmente estivesse lá, continuamos fitando a porta, as batidas foram ficando mais fracas e espaçadas até que pararam, e algum tempo depois veio uma batida extramente forte, que quase quebrou o trinco da porta, e o silêncio voltou e continuou em silêncio por mais uma meia hora, até que as batidas voltaram, rápidas. E o rosto de Clary revelou que ela havia tido uma ideia.

—Victorie. — Ela disse olhando pra mim. Continuei sem entender. — A Victorie não fala, Joshua. — Ela me encarou com os olhos repletos de preocupação.

As batidas na porta continuavam, as vezes mais fortes, as vezes mais fracas, mas elas não paravam.

—Abre a porta. — Clary disse severamente para mim.

— Victorie não é muda, numa situação como essa ela não ficaria calada, ficaria?

—Eu não sei, Josh. Mas e se for ela, e se ela mesmo estando presa lá ainda assim não pedir ajuda? Não podemos deixar de ver se é ela. Não precisamos entrar lá, só abrir a porta. — Clary falou.

As batidas não tinham parado mas estavam extremamente fracas.

— Tá, eu vou abrir a porta.

Manti o máximo de distância possível entre mim e a porta, só o suficiente para minha mão alcançar o trinco. Abri, e puxei a porta, quando ouvi um baque com força no chão perto dos meus pés, era Victorie, ela estava mais pálida do que de costume, e um pouco suja, os cabelos estavam desgrenhados, e ela estava com uma aparência péssima. Ela continuava imóvel no chão, sua única movimentação era a respiração fraca. Me agachei e a levantei, pegando-a no colo e sentando no sofá.

Não sabia exatamente o que eu deveria fazer, ela estava inconsciente então não podia perguntar se ela estava bem, e eu nem ao menos sei se aconteceu alguma coisa enquanto ela estava no porão. Jack logo veio descendo as escadas, provavelmente querendo saber o que era todo esse barulho, até que ele viu Victorie, e é claro que ele ficou desesperado.

—O que aconteceu com ela?! — Ele perguntou, vindo apressadamente até o sofá e a tirando do meu colo e pondo no dele.

—Eu não sei, cara. Ela ficou presa no porão. — Respondi.

—Gente, não deviamos voltar? — Pediu Sasha.

—Eu concordo. —Disse Clary.

—Eu também. — Falou George.

— Vamos voltar. — Decidi. — Consegue levá-la no colo? — Perguntei para Jack apontando para a Shade.

— Acho que sim. — E tentou se levantar com ela no colo, mas eles caíram de volta no sofá. E a deixou no sofá, levantou e pegou ela de novo. — Consigo, vamos.

Narração por Jack Khan

Deitei Victorie na cama do meu quarto, ela estava acordando.

— Oi. — Falei quando ela se sentou. — Você tá bem?

Ela deu de ombros, esperou um tempo e fez que sim.

— Que bom. Desculpa por hoje.

Ela fez uma cara de confusa.

—Pelo porão.

Ela não disse nada.

— Por ter te levado com a gente pra lá. — Ela pareceu meio triste quando eu disse aquilo. — Espero que você não passe a me odiar por causa de hoje, eu só tentei fazer com que você se divertisse, mas acho que não deu muito certo.

Ela voltou a deitar na cama.

— Eu vou dormir no quarto do Josh hoje então você pode dormir aqui. — Disse e fui saindo do quarto. Senti alguma coisa bater de leve na minha cabeça. Era uma bolinha de papel, desamassei o papel, estava escrito: Eu me diverti hoje.

Olhei para Victorie, ela estava deitada de lado na cama, virada para a parede; acho que propositalmente para não ter que olhar para mim. Cheguei perto da cama, Victorie respirava pesadamente, e apertava as unhas fortemente contra sua mão, que devido as unhas longas, quase chegavam a sangrar.

— Se divertiu? — Perguntei feliz.

Ela sentou e fez que sim com a cabeça ainda evitando me olhar.

— Que bom.

— Como ficou presa no porão? — Pergunta estúpida, não dá pra ela responder sim ou não...

Victorie deu de ombros. Me sentei na cama, ao lado de Victorie.

— Qual é sua cor favorita? — Perguntei, sei que ela não vai responder mas, estou cansado de só poder fazer perguntas limitadas, cansado de não conhece-la direito.

Victorie levantou as sobrancelhas como quem dizia: Porque está me perguntando isso? Mas em seguida apontou para a camiseta preta que estava usando.

— Posso te perguntar uma coisa sem você ficar brava comigo? — Pedi inseguro. Ela deu de ombros.

— Por que você não...anh, fala? — O olhar dela era agora uma mistura de tristeza, decepção e frustração; e me arrependi no mesmo instante de ter soltado aquela pergunta.

— Desculpe, não quis te ofender, nem nada do tipo.

Ela abriu a boca para falar algo mas acho que desistiu.

— Me conta mais sobre você. — Pedi.

Ela só ficou me olhando.

— Eu já sei que você gosta de ler, que gosta de terror, mais o quê?

Ela deu de ombros e pegou meu caderno, de onde ela arrancara a bolinha de papel anteriormente, pegou minha caneta em cima de mesinha de cabeceira e começou a escrever: Já sabe duas coisas sobre mim, eu não sei nada sobre você, é a sua vez de me contar.

Escrevi: Eu gosto de esportes, e música. Sua vez.

Em resposta: Sou vegetariana e odeio esportes. Sua vez de novo.

E ficamos assim, escrevendo, pelo resto da noite, até que acabamos pegando no sono, por volta de duas da manhã.


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