Closer escrita por IsaWonka


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic é uma one-shot um pouquinho longa.
Muito tempo depois sem atividade nesse site, resolvi escrever e, logo depois, resolvi postar aqui.

[Importante] Classifiquei como +16 por conter homossexualidade e pensamentos sobre suicídio (categorizei como violência).


Se você não tem essa idade ou não gosta desse tipo de conteúdo, NÃO LEIA. Caso contrário, não me responsabilizo pelo que isso possa lhe trazer e caso você comente reclamando, seu comentário será apagado sem piedade.
Por outro lado, críticas construtivas e reviews são bem-vindos!

Boa leitura.



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Zuko acordou no meio da noite.

Era difícil se sentir em casa estando no Templo de Ar do Oeste. Ainda pensava em sua família. Agora sua paz interior era maior pois ele havia aceitado o próprio destino. Mas esquecer era impossível. Seria impossível.

Talvez ele ainda sentisse raiva do pai. Achou que se não podia se juntar a ele, que talvez ajudasse a derrubá-lo. Qual era o principal motivo para ter desistido do próprio reino e ter se juntado ao Avatar? Subitamente, lembrou das palavras do tio: "Você sempre teve o bem e o mal lutando dentro de si".

Sim, pensou, sozinho. Eu posso ver o mal como o meu pai... E o bem como as pessoas que tentam acabar com essa guerra. Mas em que ponto, exatamente, o bem venceu?

Às vezes, engolir o orgulho doía. Zuko nunca tinha conseguido capturar o Avatar, por mais que pensasse ser um ágil dobrador de fogo. Não tão ágil quanto Azula... Não tão letal quanto o Senhor do Fogo. De repente, lembrou que não conseguia mais dobrar o fogo. Por quê? Não sabia explicar. Tinha que pensar em algo para recuperar sua dobra e para ajudar o Avatar. Ajudar o Avatar...

Lentamente, Zuko levantou-se do meio das colchas estendidas no chão e foi até o fim do chão do templo, sentando na ponta do precipício. Quando se sentia triste, não sentia muito medo de nada.

Era noite de lua cheia.

Stranded in this spooky town,
stoplights are swaying and the phone lines are down.

Pensou brevemente em Katara e em sua dobra de água. Ela era poderosa. Pensando em uma mulher, acabou por pensar nas mulheres que estiveram presentes em sua vida.

Mai... Zuko fechou os olhos. Gostaria de ver Mai outra vez. Ela era um tanto entediante, mas o entendia e sempre falava algo para animá-lo. Lembrou-se da vez em que ela sugeriu que ele ordenasse qualquer coisa aos servos para que se sentisse melhor. Podia não fazer nexo, mas ela pelo menos tentava. Ela se importava com o que eu sentia...

E o que mais doía: sua mãe.

The floor is crackling cold,
she took my heart, I think she took my soul.

Ela tinha desaparecido por sua causa. Zuko pensava ser uma desgraça para a própria família. Antes se importava com a aprovação do pai, atualmente havia superado isso. Mas nunca superaria a falta que sentia da mãe.

Olhou outra vez para a lua e lembrou-se de como ela refletia no lago do jardim. Ele e sua mãe costumavam sentar na grama e sentir o vento fresco da noite, sozinhos. Sozinhos até que Azula e suas amigas aparecessem... E estragassem tudo. Zuko franziu a testa. Relaxou os músculos quando lembrou que uma das amigas era Mai e levou as mãos ao rosto. Tentou não fazer barulho enquanto deixava as lágrimas caírem.

Zuko olhou por cima dos ombros para os outros que ainda dormiam. Não faziam ideia da sua dor, não faziam ideia da sua vida. Ele pensou que parecia não ter lugar. Eles o haviam aceitado, mas apenas com a condição de que Zuko ensinasse a dobra de fogo para Aang e agora nem isso ele tinha mais. O que faria? Antes sua dobra tinha um combustível, tinha um objetivo: conseguir o Avatar. E agora? O que o movimentava? Eu não sei... pensou, confuso. Eu penso se realmente tenho um lugar... Talvez eu não precise ter. Talvez eu só precise andar onde quiserem me levar. Eu não me importo mais.

Ele se levantou. O vento era agradável e fazia com que o rosto de Zuko se tornasse mais frio quando entrava em contato com as lágrimas. A noite era clara, a lua era enorme e estava de frente com o Templo. Sua luz era forte. Suas roupas balançavam com a brisa e seus pés estavam próximos do fim das pedras que faziam parte do chão.

With the moon I run,
far from the carnage of the fiery sun.

Zuko não fez questão de se equilibrar. Seu corpo se movia lentamente para frente e para trás, parecia usar apenas o vento como apoio. Ele fechou os olhos. A sensação de impotência era ainda pior. Se eu caísse, ninguém viria até aqui. Sentiriam minha falta durante cinco minutos, e depois o quê?

Estendeu os braços para frente. Zuko sorriu, permitindo que a tristeza fizesse parte da sua expressão. Estava sorrindo para quem? Talvez para si mesmo, talvez fosse fraco demais. Talvez estivesse rindo apenas da desgraça da própria vida.

The skies are blinking at me,
I see a storm bubbling up from the sea.

Uma outra lágrima escorreu antes que alguém o puxasse pela mão e o tirasse do transe. Zuko olhou para trás devagar e viu que Aang estava no chão junto com ele.

― O que acha que está fazendo?! ― Sussurrou Zuko, irritado.

― Eu não sei, você estava na beira do Templo, eu te chamei... Você não respondeu! Por um momento, achei que fosse se matar. ― Respondeu Aang, genuinamente preocupado.

― Me matar? Não. Eu nunca faria isso.

Zuko conseguiu evitar que um sorriso aparecesse. Toph conseguiria dizer que ele estava mentindo. Já havia considerado essa possibilidade várias vezes desde que voltara à Nação do Fogo.

― Eu estou acordado há algum tempo, ― recomeçou Aang ― e te ouvi chorar. Não quer conversar?

― Conversar? Sobre o quê?

― Eu sei que alguma coisa te incomoda.

― Não adiantaria se eu te contasse. Afinal de contas, eu estou mentindo e só estou vindo até aqui para te capturar novamente. Estou errado?

Aang ficou em silêncio. Realmente achava que o grupo tinha sido muito severo com Zuko.

― Olhe, você teve sua chance para se redimir. Não posso ter a minha?

― Tudo bem, se você quer tanto saber. Mas não podemos continuar sussurrando aqui.

― Eu posso achar outro lugar.

Aang fez um sinal para que Zuko o seguisse e começou a andar pelo Templo. Passou por várias portas e decidiu não ir a um lugar muito afastado.

― Aqui. ― Instruiu Aang, abrindo uma das portas.

― Este lugar parece bom. Não muito perto, não muito longe. Caso contrário, vão pensar que eu te sequestrei.

Aang sorriu sem graça e coçou a cabeça enquanto Zuko passava pela porta. O que há com ele e esse sarcasmo repentino? O Avatar pulou para dentro do quarto e fechou a porta.

Driven by the strangle of vein,
showing no mercy, I do it again.

― Pelo que percebi, a noite ainda está no começo. Então não tenha pressa.

― Eu não preciso ser encorajado. Preciso que você pergunte o que quer saber. Você me chamou até aqui.

― Eu só achei que conversar fosse melhorar seu humor. ― Aang tentou se explicar, mas Zuko sustentava uma expressão irredutível. ― Olhe, eu sei que a recepção que você teve não foi a melhor, mas...

― Não foi a melhor? ― Interrompeu Zuko, levantando uma sobrancelha.

Aang havia se calado. Zuko olhou para o chão e se sentou, encarando as pedras sob seu corpo. Deixou os ombros caírem e suspirou, respirando ruidosamente.

― Que cara de culpa é essa? ― Perguntou Zuko. ― A culpa é minha. Eu fiz coisas horríveis a vocês. Não tenho o menor direito de me sentir dessa forma.

O Avatar sentou-se de frente para o dobrador de fogo e esperou que ele falasse.

― Vou começar... Por essa cicatriz.

Zuko contou toda a sua história, pacientemente. Contou como eram criados para serem soldados e treinados desde muito cedo. Contou como o poder era mais importante que laços familiares ou qualquer amizade. Com cada detalhe da história, Aang sentia seu coração doer, mas permaneceu quieto. Deixou que apenas Zuko falasse.

Em seguida, ele contou sobre sua mãe. Sua irmã e seu talento. Suas amigas que tanto o incomodavam. Seu tio, a quem ele havia traído e agora precisaria implorar por perdão. E, por fim, Mai.

― Acho que sabemos como é perder pessoas amadas, não é?

― Deve ter sido difícil...

― Na verdade, foi difícil deixar Mai. A Nação do Fogo... Não tanto.

Aang não sabia o que dizer. Também havia passado por uma perda e tanto: os dobradores de ar. Eles haviam sido praticamente extintos pela Nação do Fogo e agora o Avatar se sentava ali, com um dobrador de fogo, conversando pacientemente. Pensou se aquilo era uma ironia do destino e levantou uma sobrancelha, pensativo.

Os pensamentos tomaram conta dos dois e um silêncio estranho caiu sobre o quarto.

Aang olhou para os lados e depois olhou para Zuko. Ele estava inerte, olhando alguma coisa no chão. Tentou acompanhar o olhar do outro menino para tentar entender onde ele ia parar, mas não conseguiu. As mãos de Zuko estavam unidas, sobre as pernas cruzadas. Ele parecia mais triste do que antes e Aang pensou que se sentiria estranho se incomodasse sua tristeza. Então, o que fazer?

Os sentimentos devem ter tomado conta dele agora da mesma forma como aconteceu lá fora, refletiu Aang. Mesmo com medo de irritar Zuko, Aang dobrou o ar fazendo com que uma leve brisa atingisse o rosto de Zuko. Aang esperou que ele reagisse e dobrasse fogo, ou que pelo menos gritasse em reação. Nada aconteceu. Parece que ele está meditando, mas... Ele está com os olhos abertos. Essa é a parte estranha.

Aang se levantou e agitou a mão na frente dos olhos de Zuko. Nada aconteceu também. Antes eu o puxei pela mão... O que aconteceria se eu puxasse agora? Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Melhor não. E se eu cair em cima dele?

Ele quase riu. No que eu estou pensando? Acho que eu estou mais louco que o Zuko.

― Zuko... ― chamou Aang. ― Zuko!

Aang segurou Zuko pelos ombros e o mexeu para frente e para trás. Ele está chorando. Quero dizer, eu consigo perceber lágrimas em seu rosto.

O Avatar se levantou e se aproximou de Zuko. Sentando-se ao lado dele, também o envolveu em um abraço, esperando que pelo menos isso surtisse algum efeito. Seu abraço era hesitante, frouxo. Não sabia se estava fazendo o que era certo, apenas sabia que ele tinha sentido compaixão. Lembrou de quando Zuko propôs que ele fosse ao menos prisioneiro. Levem-me, ele implorou. Parecia não ter pra onde ir.

Aang havia perdido a noção do tempo. Trancado em um quarto, a única coisa que ele conseguia ver era uma janela. Antes a lua fazia parte do seu campo de visão, agora ela já não estava mais ali. O céu ainda estava escuro. Ele não sabia dizer há quanto tempo estavam ali parados, só sabia que ainda havia grande parte da noite até que o sol subisse.

Do you think of me? Where am I now? Baby, where do I sleep?

Aang apertou um pouco mais o abraço. Deixou que a compaixão que ele sentiu ao ver Zuko se tornasse forte e pensou que talvez acreditasse em segunda... Terceira chance. Ele contou que segurou Zuko fortemente por mais ou menos um minuto. O rosto do Avatar estava apoiado nos ombros de Zuko, já que ele era consideravelmente mais alto.

Assim que Zuko voltou a se mover, sua única ação foi olhar para Aang. De repente eles estavam próximos demais.

― Eu não sabia o que fazer... Achei que isso pudesse te fazer ficar melhor.

Zuko tinha parado de ouvir no "achei". Passou a prestar atenção nas batidas do próprio coração. Quanto tempo tinha ficado ali parado? Tinha ficado parado da mesma forma de antes, na beira do Templo? Ele tentava lembrar o que pensava enquanto parecia imóvel, mas não conseguia. Seus sentimentos estavam confusos e ele sentia falta de companhia. Tinha gostado do convite de Aang para que conversasse sobre seus sentimentos, apenas não admitira.

Seu coração chamou-lhe a atenção outra vez. Bate muito rápido. Isso vai me deixar louco.

― Aang.

― Sim?

― Seu abraço está tão apertado que está me deixando desconfortável.

― Ah!

Aang só se deu conta da força que estava usando quando soltou Zuko e sentiu os braços doerem.

― Eu sinto muito, Zuko. Só não sabia o que fazer com você.

― Tudo bem. Eu me sinto um pouco melhor. Mas agora não sei o que fazer com você.

― O que quer dizer?

― Nada.

Zuko se levantou e se dirigiu até a porta. Pronto para abri-la, Aang o segurou pela mão.

― Não tem problema se você não quer se explicar, mas pelo menos fique aqui. Duvido que você esteja com sono... E eu também não quero dormir.

― Bom, você acertou. Não sinto sono. E então? O que quer fazer?

― Nós... Podíamos andar pelo Templo! O que acha?

― Não acho uma má ideia. Está calor aqui dentro.

― Está?

― Não consegue sentir?

― Não...

― Bom, isso... Com certeza é coisa de dobrador de fogo. ― Tentou argumentar Zuko, sem jeito.

― Deve ser.

Zuko não conseguiu se conter e riu.

― O que foi? Fiz algo de errado?

Foi então que Zuko riu mais ainda. Riu de como Aang era inocente. Estava calor porque ele era um dobrador de fogo? Será? Era óbvio que não. "Fiz algo de errado?" Não, Aang. Pelo contrário. Sou eu que faço e penso coisas erradas.

― Não, eu estava pensando em mim. Eu acho que tentei capturar minha casa.

― Eu? Sua casa?

― Não exatamente você... Vocês. Acho que eu tentei acabar com o lugar onde eu deveria ter vindo há muito tempo atrás. Talvez se eu não tivesse traído Katara naquela caverna ela me tratasse melhor hoje. Talvez vocês me tratassem melhor hoje. Eu entendo o julgamento que fizeram, o tratamento que me deram. Não posso reclamar... Há poucas horas eu sentia como se eu não tivesse um lugar pra ficar, agora sinto que tenho... Bom, se eu estiver equivocado, eu...

― Não, ― interrompeu Aang. ― Não está.

Zuko se mostrou levemente surpreso pela interrupção e voltou a se sentar.

A sala onde estavam era pequena, redonda. Tinha uma janela com grades de ferro. Zuko se lembrou um pouco de uma prisão, mas sabia que estavam em um dos Templos de Ar. Com certeza não tinham esse propósito.

― Acho que esse lugar já pareceu mais amigável... Não? ― Perguntou Zuko, tentando mudar de assunto.

― Ah, sim. Eram salas individuais para meditação. Não conheço muito desse Templo porque apenas mulheres viviam aqui. Mas acho que existiam pra isso mesmo.

― Entendo. Como é meditar?

― É... Eu não sei explicar. Nunca cheguei a treinar ninguém nisso, não acho que eu tenha tanta experiência.

― Sei. Acho que perdi a vontade de andar por aí.

Zuko voltou a se sentar no chão e encostou as costas na parede. Aang ficou parado, em pé, encarando o corredor. A porta tinha permanecido aberta.

Uma leve brisa percorreu o quarto e mexeu nas roupas do Avatar. Ele usava uma mistura estranha de mantos tradicionais de dobradores de ar e a parte de baixo eram calças e sapatos tradicionais da Nação do Fogo. Uma mistura estranha... Como será que ele se sente?

Aang se virou para dentro da sala, andou até Zuko e sentou ao seu lado.

Perto, pensou Zuko. Perto demais. Com certeza ele não devia estar aqui. Ele se sente sozinho? Sente falta de contato? Porque eu...

O coração de Zuko voltou a bater com força. A breve conversa e o convite para andar pelo Templo tinham distraído sua mente. Agora ele não sabia mais o que fazer. Aang estava imóvel e tinha fechado os olhos. Tinha a lateral do braço direito encostada em Zuko. A cabeça estava levemente inclinada e alcançava os ombros do garoto mais alto.

Acho que ele não vai sair daqui.

Zuko estendeu seu braço e aconchegou Aang em seu peito.

― A-assim parece melhor?

― Sim.

A resposta foi seca. Será que eu fiz errado em trazê-lo para perto? É claro que sim! Onde eu estou com a cabeça?! Ele é o Avatar e eu acabei de me juntar a eles. Não sei no que eu estou pensando, meu corpo está me traindo. Eu só sinto falta da Mai e do contato dela.

Zuko só conseguia pensar que Aang tinha deixado que ele ficasse ali. Tinha dado um lugar ao qual ele pertencia agora. Sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos. Se os pensamentos fossem meu único problema, eu estaria bem.

― Aang. ― Chamou, com a voz rouca, quase sem coragem.

Ele não obteve resposta. Aang murmurou, sonolento.

― Aang. ― Repetiu o chamado, com a voz ainda mais baixa.

Zuko entrou em desespero quando pensou que Aang pudesse ouvir seu coração dali. Pare de ser idiota! Ele não vai se importar sobre como seu coração está batendo ou não. Isso parece uma guerra...

Ele não sabia o que estava brigando dentro de si, mas com certeza havia uma guerra interna. Uma pequena gota de suor escorreu pela sua têmpora, fazendo cócegas. O sentimento o irritou, mas ele não se mexeu.

Sua imaginação estava trabalhando rápido e ele não gostava do resultado. No que eu estou pensando? Isso é... Eu só estou distante de todos que eu amo. Eu só preciso reencontrá-los, só isso... Nós somos...

Inimigos?

Zuko ergueu o braço esquerdo até o ombro de Aang e ele pareceu corresponder. O Avatar se mexeu até ficar confortável no peito de Zuko e então tornou a ficar imóvel.

You shimmy shook my bone,
leaving me stranded all in love on my own.

O dobrador de fogo pensava só estar carente. Seu coração batia rápido, seu corpo começava a suar lentamente. Ele não teria percebido esses sinais se não estivesse nervoso e prestando atenção nos dois corpos. Não conseguia sentir nenhuma reação de Aang, mas sabia que tremia por ele também.

Eu acho que ele é inocente demais. E também nunca imaginaria nada entre nós. Ele e Katara... Todos conseguem perceber que estão juntos. E nós somos dois meninos... Ele riu porque considerava possibilidades e voltou a cortar os pensamentos.

A mão que segurava o ombro de Aang subiu um pouco mais e acariciou-lhe a nuca, subindo até o lóbulo da orelha. Zuko não sabia se ele estava ou não dormindo, só sabia que a porta ainda estava aberta. E se alguém acordasse e os visse ali? Mesmo que eles a fechassem, alguém ainda podia interromper. Zuko fechou e apertou os olhos para espantar os pensamentos e voltou a apoiar o ombro de Aang.

Minutos se passaram e a agonia de Zuko não diminuía. A respiração de Aang era calma, controlada. A sua era descompassada, às vezes ele parecia esquecer de respirar. Ainda sem saber o que fazer, tentou relaxar o corpo. É difícil relaxar em uma pedra, mas eu posso tentar.

Zuko percebeu o quanto seu corpo estava tenso. Cada músculo parecia contraído. Estava com medo de acordar Aang? Estava nervoso por estar sozinho com alguém que ele tentou matar durante tanto tempo?

De repente, Zuko se viu cansado de tantas perguntas. Sua cabeça o deixaria louco. Ele decidiu que se ia se arrepender de alguma coisa, arrependeria-se de ter feito e lidaria com a situação estranha que essa ação poderia causar.

Zuko levou a mão esquerda até o queixo de Aang e levantou-lhe o rosto. O Avatar abriu os olhos, sonolento, e quase não percebeu o que estava acontecendo. O príncipe tinha abaixado seu próprio rosto e os lábios estavam próximos.

O coração de Aang disparou assim que ele foi capaz de entender o que aconteceria depois. Seu primeiro impulso foi se levantar e sair dali, assustado. Uma hora ele estava consolando um amigo e depois... Estava beijando esse mesmo amigo? Mas ele percebeu que não conseguia. Seu corpo não se moveu. A respiração de Zuko era quente e parecia mais quente que o normal. Aang se obrigou a continuar ali, por mais que estivesse nervoso. Tentou falar, mas sua voz não saiu.

― Aang.

Zuko tinha quebrado o silêncio tão repentinamente que o Avatar se assustou. Ele deixou de responder o príncipe pela segunda vez.

― Vai ficar em silêncio?

A voz de Zuko era fraca, parecia cuidadosa. Acho que ele não está menos nervoso do que eu, talvez eu devesse tentar conversar.

― Eu não sei... O que vai acontecer depois disso. ― Confessou Aang. Cada palavra que ele conseguia dizer aumentava ainda mais seu nervosismo.

― Eu também não. Mas eu não vou parar.

Aang se desesperou. E se depois disso eles não conseguissem mais conviver? E se alguém descobrisse? Ele realmente amava Katara? Se sim, o que estava acontecendo? Ele percebeu que seu corpo tremia, talvez tanto quanto o de Zuko.

― Eu não posso, Zuko. Você...

O dobrador de ar tentou lembrar dos momentos em que precisou lutar com Zuko e não conseguiu. Sua mente estava perturbada demais, estranha.

― Se não pode, por que ainda não se mexeu?

Aang sentiu seu corpo se arrepiar. Ele está certo. Por que eu não saí de perto?

Zuko começou com a ponta dos dedos no queixo de Aang, desceu pelo pescoço e subiu novamente até a nuca. O menor mexeu o corpo levemente em resposta e Zuko terminou de aproximar os lábios.

Open up your eye,
you keep on crying, baby, I'll bleed you dry.

O beijo não foi confortável. Ambos não sabiam como reagir e sentiam medo do que podia acontecer depois. Como ficaria o relacionamento em grupo? Ninguém acordaria no meio da noite? Aang sabia que Sokka dormia como uma pedra, mas e o resto? Tinha muita gente ali.

Devagar, os movimentos foram mudando. Separaram os lábios brevemente enquanto arrumavam suas posições ― os dois cruzaram as pernas e sentaram um de frente para o outro. Estavam tímidos quanto ao contato corporal intenso. Por enquanto, sentiam que os beijos eram o suficiente.

Quando retomaram o beijo, ele parecia melhor. Não completamente livre de timidez, mas ambos se moviam com mais liberdade.

O tempo parecia estar a favor dos dois dobradores. A noite passava sem pressa, como se permitissem que eles permanecessem ali o quanto fosse necessário.

Os lábios se separaram. Zuko manteve a cabeça erguida e esperava olhar Aang nos olhos, mas o Avatar direcionou o olhar para o chão. Zuko pegou as mãos de Aang e repousou-as sobre o próprio colo. Elas estavam frias.

― Como você... Se sente? ― Perguntou o príncipe, nervoso.

― Eu... Não sei.

― Posso te ajudar a descobrir?

Aang fechou os olhos e não respondeu. Seu corpo também estava quente, em contraste com as mãos. Zuko deve ter percebido que elas estão congelando. Eu nunca tinha sentido isso antes.

Zuko estava tão nervoso quanto Aang, mas era provocador. Sabia o quanto palavras deixavam Aang constrangido e ele pensou que aquilo realmente era algo para se lembrar. Devagar, Zuko usou a ponta do indicador e percorreu o braço direito de Aang. Subiu pela clavícula e depois pela lateral do pescoço, parando no queixo outra vez.

Aang não conseguiu reagir. Respirou fundo e gemeu baixo, esperando que Zuko não ouvisse.

Zuko olhou para Aang e sentiu o coração bater mais rápido durante um instante. A reação dele aos toques o deixava ainda mais nervoso. Deixava-o com vontade de continuar, de ir mais longe. De ficar ali o resto da noite, talvez o resto da manhã. Eles pareciam ter todo o tempo do mundo. Ele vai me deixar louco. Eu preciso acabar com isso.

Com um movimento rápido, Zuko beijou Aang novamente. Esse beijo foi um pouco mais agressivo, mas não menos demorado. O príncipe se separou e murmurou:

― Infelizmente nós não temos toda noite. ― Disse, se aproximando da orelha de Aang. ― Eu não sei quanto tempo já se passou e você também não... Mas sabemos que já foi muito. E quanto mais tempo passa, mais risco corremos de que alguém nos veja aqui.

A voz de Zuko era calma, mas era quente. Fazia Aang derreter, literalmente: seu corpo suava muito, fazia com que ele tremesse e hesitasse. Realmente não esperaria menos de um dobrador de fogo, mas ainda não sabia o que fazer. Zuko o deixava nervoso, com certeza, mas a situação em si era sua pior inimiga. Era demais. Seu coração batia rápido e sem parar há muito tempo. Ambos estavam cansados e precisavam sair dali.

Aang ficou surpreso de que Zuko conseguisse se distanciar, porque o dobrador de ar pensou que não conseguiria. Ele é determinado, não importa o motivo, pensou. Sem dizer nada e ainda um tanto sem jeito, o Avatar se levantou e, antes de sair, olhou para Zuko. O príncipe correspondeu ao olhar, mas também não disse nada ― apenas deixou que Aang fosse embora.

De certa forma, ambos sabiam que se encontrariam novamente em outra madrugada.

And it's coming closer.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :D