Mrs. & Mrs. Swan-Mills escrita por Thauana


Capítulo 19
Opção de "F" de Ferradas.


Notas iniciais do capítulo

Dedico á todos que chutaram nas questões do ENEM. Divirta-se.



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EMMA

Caladas e azedas, saímos noite afora e dirigimos horas a fio até cruzarmos os limites da cidade. Mas ainda tínhamos trabalho a fazer e, portanto, tratamos de providenciar um refúgio.

Seguindo as placas de uma estrada vicinal, chegamos a um motel de quinta categoria. Escondemos as mãos algemadas de Neal com um casaco e entramos no lugar como se ele fosse um amigo com uns drinques a mais na cabeça. Não que alguém naquela espelunca fosse notar ou fazer alguma pergunta.

Uma vez no quarto, amarrei-o a uma cadeira no centro do cômodo. Um abajur sem cúpula acrescentava um toque especial ao cenário.

Fiquei de pé diante de Cassidy e alonguei os ombros doloridos da viagem. Eu não tinha muita prática com interrogatórios. Mas achei que era o caso de fazer umas perguntinhas.

Regina, por sua vez, andava de um lado para outro, como uma tigresa enjaulada.

— Tudo em cima? — falei.

Havíamos decidido filmar a confissão do homem, apenas como garantia.

Tudo em cima: a câmera já estava ligada e rodando. Optei pela concisão.

— Vamos lá, Neal. Desembucha.

Neal olhou direto para a câmera e disse:

— Ei, mãe! Olha eu aqui na televisão!

Não gostei nem um pouco da atitude do cara, mas tentei manter a calma.

— Olha aqui, cara. Você é o nosso passaporte para a liberdade. Perguntinha simples: por que os nossos chefes querem acabar conosco?

Esperei um pouco, mas Neal permaneceu mudo, com o queixo levantado numa postura de arrogância. Depois abriu um sorriso irônico.

Acontece que eu não tolero sorrisos irônicos.

Eu já estava começando a perder as estribeiras — o cara tinha feito pouco de mim, e ainda por cima na frente da minha mulher. Cutuquei-o na canela com a ponta do sapato e disse:

— Não vai falar? Pois bem, então presta atenção. Você presenciou uma pequena rusga de casal dentro daquela van. Muito desagradável. Mas sugiro que não interprete isso como um sinal de fraqueza. Seria um erro lastimável da sua parte. — Virando os olhos para minha mulher, arrematei: — Certo, Regina?

Regina olhou para mim como se eu fosse de outro planeta.

— O que acha que está fazendo, Emma?

Irritada, respondi:

— Olha, querida. Talvez não seja uma boa ideia questionar os meus métodos na frente do nosso hóspede. Pode passar uma ideia errada.

Regina franziu as sobrancelhas.

— Espero que os seus métodos sejam mais eficientes do que seu jeito de guardar a louça na máquina de lavar...

— Regina, por favor. Sei muito bem o que estou fazendo. Você nunca me viu em ação.

Furiosa, ela virou as costas para mim e, com um tapinha no ar, deu o caso por encerrado. Mas eu não estava disposta a deixar que sua competitividade arruinasse o meu trabalho.

Voltei a atenção para o nosso refém. Ele agora já ria abertamente de mim. Mas isso não duraria muito.

— Muito bem, Cassidy. Estas são as suas opções: opção A, você fala e eu escuto; opção B: você fica mudo e eu arranco as suas unhas com um alicate; opção C? — Sorri de maneira sinistra. — Vou poupá-lo dos detalhes, mas você termina embrulhado num saco plástico no fundo do mar.

Neal respondeu com um sorriso que dizia: “Vá te foder!” Mas o olhar revelava que também estava um pouco assustado.

— Posso beber alguma coisa? — ele disse. — Um copo d'água? Minha boca está seca.

Ouvi um barulho atrás de mim. E antes que Neal ou eu soubéssemos o que estava acontecendo, Regina apareceu do nada e bateu com o telefone na boca dele.

— A! A! — Cassidy berrou, sangue escorrendo dos lábios. — Opção A! Regina olhou para mim com um sorriso de superioridade. “Viu? É assim que se faz!”, era o que estava escrito na testa dela.

Mas então Cassidy começou a tremer de maneira esdrúxula, a cabeça estranhamente inclinada sobre um dos ombros.

— O que é isso? Um tique nervoso? — perguntei. — Uma convulsão?

— No meu bolso — Cassidy disse. — No meu bolso!

Regina e eu nos entreolhamos, e depois ela revistou os bolsos das calças de Neal.

Achei que fosse encontrar uma arma ou coisa parecida, mas fiquei surpresa quando ela sacou uma foto e vi estampada a imagem de duas pessoas muito próximas.

Eu e Regina. Juntas. Fazendo compras.

“Mas que diabos...”

— Eu não sou o alvo — Neal entregou. — Vocês são. As duas.

Minha sensação foi a de que um gorila havia pulado nas minhas costas. O ar sumiu dos meus pulmões.

Regina também ficou muda. Uma mudez bastante eloquente.

— Eles descobriram que vocês eram casadas — continuou Neal. — Então se juntaram e enviaram as duas para a mesma missão... para acabarem uma com a outra.

Agora tudo fazia sentido. “Prioridade máxima”, Cora havia dito. “Ameaça direta para a agência. Preciso das suas habilidades especiais.”

Sei.

Eles nos haviam mandado para o mesmo projeto na esperança de que apenas uma de nós voltasse para casa.

Vi pelo rosto de Regina que ela havia chegado às mesmas conclusões.

— Então — ela disse —, você não passou de...

— Uma isca. — Neal deu de ombros, meio envergonhado do serviço a que se prestara. — Eu era novo na agência. Uma ótima oportunidade pra mim. Se tudo desse certo, seria promovido.

Regina ainda olhava para a foto.

E eu, para o canalha à minha frente.

Que panaca! Eu devia ter sabido assim que vi a foto dele ainda no escritório. “O Tanque”, uma ova! E mal podia acreditar que ele carregava no bolso uma foto tão incriminadora. Muita incompetência, até mesmo para um novato.

— Você andou o tempo todo com esta foto no bolso?

— O que você queria que eu fizesse? — Cassidy falou com sarcasmo. — Colocasse numa moldura e pendurasse na parede?

— Devia ter queimado, imbecil — disparei. — Lição número um do bê-á-bá dos agentes, não sabia?

— Acho que faltei à aula nesse dia. E você faltou à aula em que eles ensinaram a não casar com o inimigo! No doutorado pra agentes, é claro.

Regina parecia alheia à nossa conversa. Decerto matutava alguma coisa.

— Neal — ela disse com firmeza —, você foi uma isca... ou você é uma isca?

Olhamos uma para a outra. Agora eu ouvia...

Aquele ruído que conhecíamos tão bem: helicóptero se aproximando!

Regina correu até a janela, e eu comecei a revistar o resto das roupas de Cassidy, à procura da escuta. Nada, caralho, nada! Onde poderia estar?

Então reparei na fivela do cinto dele.

Arranquei a correia da cintura de Cassidy e examinei de perto a fivela.

Bingo!

Do outro lado do metal havia um microtransmissor.

E se eu fosse afeita às apostas — o que aliás sou —, apostaria que a minúscula engenhoca estava sintonizada com os escritórios de Cora e Mr. Gold e informava a ambos nossa exata localização.

Abafando um palavrão qualquer, desliguei o transmissor.

Mas com certeza já era tarde demais. Os helicópteros estavam a caminho.

— Dois minutos — eu disse à Regina.

Quando olhou para a janela, Regina ficou completamente lívida.

— Um minuto.

Corri para o lado dela e vi.

Seis helicópteros pretos, em formação de ataque, vinham direto para o motel.


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Notas finais do capítulo

Mais alguns capitulos apenas.



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