Sempre gostei da forma como me olhava, como sorria para mim e do carinho com que meu nome saia de sua boca, sua voz parecia uma breve canção cantando meu nome. Soprando meu apelido no vento como se fosse algo tão fácil de fazer, mas ninguém nunca conseguiu fazer igual.

As pessoas sempre disseram o quanto nós combinávamos, e eu sempre aceitei muito bem isso. Você também. Nós já havíamos terminado a tempos quando eu decidi que queria ir a biblioteca e você se ofereceu para me acompanhar, mesmo nunca tendo se interessado por livros.

Acho que eu não venho detalhado muito bem você, muito menos os seus aspectos físicos. Você tinha 1,83 de altura na época—e esta ainda mais alto agora—, você tem olhos azuis que fazem com que eu me sinta perdida e essa sensação sempre me assustou, você tem ombros largos e uma postura meio violenta—como se tudo pudesse te atingir, mas nada te ferir—, sua gargalhada é engraçada, do tipo que faz com que todos ao redor riam sem saber o motivo original ou a piada da vez, você sorri tão sincero que parece buscar um jeito de reconfortar o coração das pessoas... Você era tão diferente de tudo e eu ainda vejo isso em você.

–Quer ouvir uma coisa engraçada? –Você perguntou, eu assenti positivamente. –Eu te amo.

–Por que diabos isso é engraçado? –Eu ri.

–Você sabe, depois de tudo o que já aconteceu.

–Cala a boca. –Eu ri de novo.

–Você riu. –Você deu de ombros, fechou os olhos e colocou as mãos na nuca.

–Eu também amo você. –Murmurei. Sua vez de rir.

O nosso amor era uma piada, e eu nunca fui boa em contar piadas. Quer ouvir uma coisa engraçada? Eu chorei muito quando você usou o seu perfil no facebook para dizer a uma outra garota o quanto você a amava. Era inevitável, vocês andavam juntos agora, seguravam as mãos, trocavam beijos e caricias. Você-amava-ela. Quer saber a onde esta a piada? Porque, bom, eu estou rindo. Você não olhava pra ela da mesma forma que olhava pra mim, as mãos de unhas perfeitas dela sempre escapavam das suas e o corpo dela não parecia parte do seu como o meu era. Você pode até ter gostado dela, gostado muito, mas a piada é que você nunca a amou. Quer saber como eu sei?

–Você deveria tomar mais cuidado com as coisas, verme.

–Esse apelido não é legal. Sinto que não é a primeira vez que me chama assim... Quando foi mesmo que isso começou?

–Quando você começou a “coisar” com outras garotas.

Eu revirei os olhos, mas você não pode ver porque estava bem atrás de mim.

–Nós terminamos. –Você não parecia nada triste. –Na verdade, eu não quis começar. Ela queria namoro, apresentar para os pais...

–O que é, verme? Não queria conhecer os pais da garota? Preferia que ela fosse direto para o quarto com você? Porque não procura biscates mais velhas? –Você nem parecia prestar atenção no que eu dizia.

–Ela não era você, Lilly.

–Ah, jura? –Fui cínica, mas, por Deus, como eu ria por dentro.

–Eu te amo.

–Eu sei.

Esse “eu sei” acabou contigo, né? Era essa a intenção. Eu queria que você sofresse tanto quanto eu estava sofrendo. E foi assim que começou, foi devagarzinho que eu desandei, mas foi rapidinho pra você notar os meus deslizes.

Eu passei a usar as pessoas como se fossem meus escravos, recebendo amor e caricias sem que eu precisasse mover um dedo. Eu desgastei todos ao meu redor e os fiz realizar meus caprichos como se fosse a única opção deles, e eles sempre os faziam. Eu beijei outras bocas e você só se tornou mais um em minha lista. E assim você se mantinha por semanas, mas ai eu fugia para você e você se resguardava em mim. Nos tornamos um nada e um tudo ao mesmo tempo. Você era meu, eu era sua e nós éramos de todo mundo.

É claro que não deu certo, mas nós nos amávamos. Eu sei que te amava porque, mesmo fugindo de todos os tipos de sentimentos, eu correspondia aos seus atos. Você me amava porque sabia que era assim que tinha de ser e, nós nos mantínhamos assim até você encontrar outra garota para ter algo quase sério, e depois eu ria quando você percebia que, mais um vez, ela não era eu.

A propósito, você tem fetiche em magoar as oxigenadas?