Happy ending or not. escrita por Naiana Mara
Narrado por Agatha.
Continuei parada por ali. Os olhos fechados, uma mão envolta com a do meu companheiro totalmente desconhecido, a respiração entrecortada como a dele e a espera do término do sonho. Mas, aquilo não acabou. Também senti que meu companheiro esperava a hora que aquele sonho tão conhecido iria acabar. Talvez ele também tivesse esse sonho todo esse tempo, o que tornava tudo aquilo mais sinistro ainda.
– Então não vou acordar? Isso não é um sonho?
Era um garoto.
– Hã... Como assim?
Ele riu mais uma vez.
– Pensei que esse fosse mais um dos meus sonhos. Sabe como é, tudo muito igual. Eu, você, o poço, você fala e eu sou risada e eu acordo. Sempre foi assim. Até hoje.
Um frio percorreu minha espinha. Ele estava descrevendo o meu sonho. Ou melhor, o nosso.
– M-mas eu pensei que só eu tivesse esse sonho.
Ele ficou um tempo calado e assentiu.
– Eu também.
E então o silêncio tomou conta de nós. Ficamos ali, parados por algum tempo, sem coragem pra falar nada. Até que ele começou a falar.
– É bem estranho. Digo, isso tudo. Você e eu? A Princesa Agatha e um reles garoto.
Mais um arrepio. Como assim ele sabia meu nome?
– Você sabe meu nome? Então, realmente temos uma ligação.
Ele começou a rir mais uma vez, o que ja estava me irritando.
– Não, eu só tenho uma televisão.
– Hã?
– Você sabe... Os noticiários. Você é muito famosa, Srta. Agatha. A princesa rebelde. Filha da maravilhosa Cinderela com o príncipe encantado. Nascida do final feliz. Tão... - Bonita, maravilhosa, guerreira, independente?– Clichê.
– Nossa, muito obrigada. E você, querido? Filho de quem? Ah, deixe-me advinhar. Bela e a Fera? Não, não. Anna e Kristoff? Não, pera... Branca de neve e o príncipe?
– Acha mesmo que chamaria você de clichê se fosse filho de algum desses clichês ambulantes? Sou filho da Malévola e um cara que eu não conheço.
– Malévola? A vilã?
– Sim. Por que o espanto? Vilões também fazem...
– Tá, tá. Sem detalhes.
– Não vai ficar com medo de mim, princesinha? Você sabe... Vilões são maus.
– Você é filho de uma vilã. Isso não o transforma automaticamente em um.
Senti que ele se aproximou e mesmo sem vê-lo fiquei com medo, o que era estranho, já que eu não tinha medo de quase nada. A não ser de poços escuros, exatamente como esse.
– Eu sou um problema pra todo mundo, florzinha. - Ele disse, se aproximando mais e falando em meu ouvido.
Fechei os olhos e escutei um barulho, abrindo os olhos em seguida. Agora, tudo estava claro e eu finalmente pude vê-lo. Tinha os cabelos lisos e um na altura dos ombros. Negros demais, assim como seus olhos, tinha barba rala e um sorriso sacana no rosto. Ele causava em mim uma série de reações diferentes que eu preferia não sentir, se pudesse.
– Então, aqui estão. Cresceram tanto.
Foi aí que percebi que uma terceira pessoa havia aparecido. A fada madrinha da minha mãe. Usava um vestido branco, longo e usava os cabelos loiros presos em um coque muito bem feito, mantinha o sorriso no rosto sempre.
– Quem é essa? - O garoto perguntou.
– Fada madrinha!
Corri para abraçá-la. Fazia muito tempo que eu não a via. Era uma pessoa maravilhosa, sem dúvidas, sempre nos ajudando quando precisávamos.
– Ah, Agatha! Olha só pra você. Tão linda e crescida e independente.
– Viu? Não sou clichê. - Disse, dando língua para o garoto. Ele apenas deu um sorrisinho sarcástico.
– E você, Pietro. Se transformou em um lindo garoto.
Pietro? Esse era o nome dele?
– Peraí, como você sabe meu nome?
A fada apenas riu.
– Sou uma fada, meu amor. E eu tenho televisão, assisto aos noticiários.
Pietro olhou pra mim, como se dissesse : " Viu? Eu disse. " e riu mais uma vez.
– Ok, mas... O que nós três estamos fazendo aqui, fada? Eu sempre tive esse sonhos, mas pensei que era só um sonho e...
– Meus amores, é uma longa história e agora não podemos perder tempo.
– Como assim não perder tempo? O que eu estou fazendo aqui? Perdendo o meu tempo com uma patricinha que se acha rebelde porque não segue as regras da mamãe sapatinho de cristal?
– Ei!
– Pietro...
– E não é essa a verdade? Manda logo a real. O que está acontecendo?
– As histórias foram misturadas.
– O que? - Eu e Pietro falamos ao mesmo tempo.
– Todos os contos de fada foram misturados. Branca de neve agora está com a Fera. Cinderela, sua mãe, está correndo perigo por conta da maçã envenenada... Tudo está descontrolado.
– Por que? Quem fez isso?
– Ninguém sabe e só duas pessoas podem consertar tudo isso.
Eu e Pietro nos entreolhamos.
– Espera... Não somos nós, né? - Pietro disse, rindo nervosamente. - Eu não posso fazer isso. Não ligo pro desequilíbrio dos finais felizes e esse blábláblá todo. Eu não tenho nada a ver com isso.
– Sua mãe também corre perigo, Pietro. Todos nós. Até mesmo vocês. Se as histórias não ocorrerem como devem ocorrer, vocês desaparecerão.
– Como assim? - Perguntei.
– Se sua mãe não conhecesse seu pai, Agatha, você não estaria aqui...
Oh, não.
– E o que a gente vai fazer pra consertar isso?
– Ninguém sabe.
– Como assim ninguém sabe? Você veio até aqui dizer que nós somos a salvação e não sabe como e onde isso vai parar?
A fada apenas sorriu e pegou as mãos de Pietro.
– Sinto muito, querido. São vocês que tem que descobrir como. É assim que está escrito na profecia.
– Profecia?
Ela assentiu.
– Sim, Agatha. Havia uma profecia antiga que dizia que em algum momento, um vilão iria desorganizar todos os contos de fada e só o casal mais improvável poderia salvar tudo.
Pietro anuiu, desesperado.
– Casal improvável? Nós dois?
– Filha de princesa e filho de vilã, idiota. Quer algo mais improvável que isso? - Perguntei.
Pietro deu de ombros, encostando na parede do poço.
– Mas, você vai nos levar a algum lugar ou algo do tipo?
A fada assentiu e pegou uma mão minha e a outra de Pietro, juntando.
– Vocês precisam ser fortes e confiar no outro, sempre, ok? Estão prontos?
– Sim, fada. Farei tudo para salvar a todos. - Falei, meio incerta, mas esperançosa. Meu espírito de aventura falava mais alto.
– Temos escolha? - Pietro disse, revirando os olhos.
– Não. Aliás, preparei algumas roupas de frio pra vocês.
Estranhei, enquanto pegava as roupas de frio. Como assim? Pra onde iríamos afinal?
– Pra onde vamos?
A fada riu e levantou a varinha.
– Arendelle. Mandem lembranças à Elsa, por mim.
– Peraí, o...
Mas era tarde demais. Um clarão surgiu e, ao contrário de todos aqueles outros sonhos, eu dormi.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Olá, pessoal! Fiquei muito feliz com todos esses comentários apenas no primeiro capítulo. Obrigada mesmo. Espero que estejam gostando. :)