Hans sabia que Elsa o amava e nada mais importou. Naquele instante ele havia desistido de sua vingança, de ser rei e matar a rainha. Matar... a palavra já o deixava nauseado e com um forte vazio no peito. Elsa seria dele, e, se fosse necessário, ele seria Vitor pelo resto da vida. Com certeza... Hans era seu passado negro, sozinho e triste. A partir de então ele seria apenas Victor, o servo, e sua vida seria proteger e servir a rainha Elsa. Ele precisava se declarar, dizer a ela que a amava, que não poderia viver sem ela. Mas e se a loira não quisesse se casar com um simples servo? Ele não se casaria. Não precisava ser rei, era Elsa que se fazia tão fundamental como o ar e ficar perto dela, poder amá-la, era tudo o que queria em sua vida.

Elsa estava em seu gabinete, assinando documentos, lendo relatórios e correspondências, quando Hans chegou.

– Victor, bom dia! – ela corou.

– Eu preciso falar com... você.

– Eu? É algo grave? – Elsa parecia preocupada.

– Não. Ou melhor, sim – Hans nunca havia ficado tão nervoso para falar com uma mulher – Ahhh!

– Você quer pedir algo, precisa de alguma coisa?

– Eu, eu nunca encontrei alguém que me entendia, que sabia o que era ser sozinho e se sentir um monstro, alguém que deve se esconder, que não merece ser amado. Eu sei o que é ter um vazio na alma, um coração gelado que ainda quer bater, e você também. Quando te encontrei, eu sentia ódio e tristeza, mas você mudou tudo...

– Fico feliz por ter te ajudado – Elsa tinha o coração acelerado e não sabia como agir. No fundo ela sabia o que ele estava tentando lhe dizer.

– Não, não é isso. Eu me sinto diferente quando estou com você. Melhor. O que eu quero dizer é que eu te amo, eu preciso estar com você. E sei que você também se apaixonou por mim, mas precisava ouvir isso de você. Eu não te peço mais nada, apenas me diga que me ama também e serei o homem mais feliz do mundo.

Elsa ficou sem palavras, sem ação. Ele sabia que ela o amava, e ele a correspondia. Victor a amava. Começou a nevar no quarto, apesar de suas tentativas de conter o gelo. Suas mãos começaram a congelar a mesa e ela as segurou entre as dobras do vestido. Alguém bateu na porta, fazendo com que Elsa voltasse a respirar, tentando disfarçar seu nervosismo.

– Majestade, lhe trouxe uma correspondência. Parece que é urgente.

– Obrigada – Elsa pegou a carta e, um pouco constrangida, abriu-a em frente aos dois e leu. Hans, estava apreensivo por não ter recebido uma resposta da rainha e nem percebeu que sua presença era inoportuna. Alguns dias antes, enquanto permanecia frio e calculista, o olhar de desprezo do oficial seria óbvio. Elsa empalideceu brevemente, mas logo sua cor retornou e ela guardou a carta.

– Muito obrigada oficial.

– Com licença Rainha Elsa – ele reverenciou e saiu, sempre observando Hans.

Elsa releu rapidamente a carta e seu olhar se tornou sério.

– Elsa... – ela levantou a mão, para que ele se calasse.

– Eu gostaria de falar agora. Nunca encontrei ninguém como eu, ninguém que se sentisse assim, frio por dentro, até você chegar. Agora eu posso ver claramente o porquê.

Hans sorriu, esperando que a loira corresse para seus braços. Mas o que surgiu em sua frente foi uma barreira de gelo que o lançou para trás.

– Como você pode voltar para esse reino e tentar enganar a mim, Hans?

– Elsa, como você...

– A carta, era do seu irmão.

Ele engoliu em seco.

– Eu sei o que fiz, e não vou mentir que tentei te matar na primeira vez que nos encontramos em seu quarto, mas... tudo mudou, eu mudei.

– Mudou? Não me faça rir Hans! Guardas!

Homens fardados não demoraram a entrar no cômodo, para encontrar o homem acuado pelas estalagmites de gelo.

– Prendam-no, ele é o príncipe traidor, Hans das Ilhas do Sul.

Os guardas o agarraram, mas ele não lutou, não conseguia. Quando Hans foi arrastado para fora do gabinete ele olhou no fundo dos olhos de Elsa. Nenhum dos dois conseguiu desviar o olhar. A porta se fechou com força e, finalmente, Elsa desabou no chão, chorando como uma criança desamparada, a menininha que um dia ela já foi. Sozinha, traída.