Maçã do Éden. escrita por RFS


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

oi



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Eu sempre fui uma pessoa que não conseguia falar muito. Por menos quando eu falava, o fazia direito, seja lá qual for sua definição do que é falar direito ou não. Mas primeiro vamos contar essa história com uma breve introdução:

i. Há um céu escuro acima de mim, vento frio correndo pelas ruas vazias, um café quente em minhas mãos. Subitamente não há nada mais que seguro, e ao olhar para o meu lado me deparo com íris vívidas de verde, cabelos ruivos e um sorriso de quem sente prazer quando conseguiu o que queria.

ii. Revelações, insultos trocados, agressões à parte, raposas passam a ser o animal que mais odeio. Voltei para a casa frustrado, sem café, eu não sabia o nome do ladrão.

iii. É a velha fábula se repetindo: um corvo, uma raposa, um erro. Polaridades opostas tão semelhantes brigando.

iv. Encontro-o outras vezes seguidas; seu nome é Kalfr. Mais insultos, mais alfinetadas e minhas tentativas de manter-se educado são falhas diante de uma alma tão revoltada com minha suposta profanidade.

v. (Ele não está errado em dizer que sou profano).

vi. Uma perseguição, fruto de mais um furto, se deu entre uma raposa e um corvo. Um corria por entre as pessoas da cidade, driblando e se esquivando agilmente de pernas, e um sobrevoando enquanto grasna em protesto. Esta parte termina em dois rapazes deitados na grama olhando as nuvens no céu, em uma calmaria quase estranha para os dois.

vii. Contei-lhe meus pensamentos sobre raposas terem asas, mostrando meu lado mais imaginativo. Ele riu e comentou que tal coisa seria tão estranha quanto corvos com pernas maiores. Eu desejei que aquele momento de inocência pudesse durar mais do que eu sabia que provavelmente duraria.

viii. Foi um impulso. Com seu corpo sendo pressionado pelo meu enquanto beijo-lhe os lábios, a adrenalina corria em minhas veias junto com meu sangue e eu podia sentir dentro de mim que fazia algo certo, que fazia algo errado. No fim, quando o instinto animal não tinha mais poder sobre minha pessoa e ficou claro que nem sempre é a raposa que prova o sangue, sobra-me arrependimento, desculpas, questões para mim mesmo. Foi um impulso.

ix. (Todo impulso é um tipo de desejo).

x. És mais amado do que pensas.

xi. O corvo tomou conta de novo no papel do predador, as leis da natureza são quebradas. Havia álcool em nossas correntes sanguíneas e desejo em nossas mentes. Fiquei hesitante, contudo me foi dito que estava tudo bem. Sem meu tapa-olho eu estava exposto e vulnerável, como sempre que fazia isso. Nunca soube como me sentir sabendo que ele viu sem armadura. Perdi minha noção do tempo no meio das coisas: a noite podia durar muito tempo enquanto sentia a maciez de sua pele, talvez o caminho traiçoeiro que suas unhas faziam até o fim de minhas costas, o cheiro de luxúria pelo quarto. Como dito, eu sou profano.

xii. Eu acordo e não há ninguém junto comigo senão memórias e ressaca.

xiii. A vida procede.

xiv. Marcamos um encontro no Natal. Naquele dia eu senti a temperatura de sua mão melhor entre meus dedos e tive que resistir a tentação de tirar minhas luvas apenas para ter o contato perfeito. Estrelas brilhavam no céu melhor que qualquer pisca-pica. Me confidenciou que aquele foi o melhor Natal que já teve. Senti-me honrado e em resposta retribuí que também foi um de meus melhores Natais que já pude ter.

xv. Estou apaixonado. Mordi a Maçã do Éden sabendo do que poderia acontecer depois (talvez nem tanto). Pagaria pelo pecado de provar do fruto proibido que pendia sobre o galho da árvore mais bonita (e as folhas dessa árvore tinham a mesma coloração da íris dele). Era uma fruta com tons provocadores e instigantes, pintada de vermelho por um artista solitário. Cai em tentação e logo depois de sentir o sabor divino, perdição.

xvi. Está tudo bem ainda.

xvii. Eu amo ele.

xviii. Ele me ama.

xix. Repouso a cabeça em meu travesseiro. Do meu lado, a pessoa que mais amo. Sorri para o corpo já adormecido e observo-o em silêncio. Na minha mente, um mal pressentimento que teima em me assombrar. Continuo o observando, vendo cada traço. Fecho meus olhos e adormeço.

xx. Eu amo ele.

xxi. Quando acordo estou sozinho. Onde deveria estar Kalfr, jaz um pedaço de papel. Uma carta. Eu a leio com atenção.

xxii. Eu sabia.

xxiii. É a punição divina para mim e para ele.

xxiv. Há lágrimas escorrendo de meus olhos e ele já deveria saber que fazer um profeta chorar traz má sorte. Nunca encontrei palavras em qualquer língua para expressar o que aconteceu dentro de mim depois de ler a despedida.

xxv. Deito e aspiro o cheiro dos lençóis na cama em uma tentativa patética de encontrar o aroma dele, alguma lembrança além da carta, qualquer coisa. Era como se ele também tivesse levado isso na bagagem no caso de eu ao menos tentar lembrar-me dele.

xxvi. Fazem 3 anos que você partiu e nunca mais voltou. Uma hora a vida teve que continuar. Porém eu também sempre fui o tipo de pessoa que era ''inquebrável'', mas quando quebrava, os danos eram permanentes. Eu continuo rindo com meus amigos. Eu continuo ensinando matemática. Eu continuo tomando café. Uma hora tudo vem de novo, e mais uma vez machuca.

xxvii. Eu amo você.

xxviii. Por favor, volte.

xxix. Por favor, volte. Está muito frio. Eu amo você.

xxx. Eu amo você.


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Notas finais do capítulo

como vocês podem ver, o Raven meio que deu uma enlouquecida silenciosa no finalzinho. Escrevi pensando ser eu mesma ele a escrever, e sim ele daria essa surtadinha no fim e depois pararia. Ele é desses.

Me salvem pfvr



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