– O que?! – eu tento não gritar para não ter o perigo de fazer minha mãe vir até meu quarto. Minha cabeça gira a mais de mil por hora e a vertigem volta.

– Isso mesmo... – ele suspira e volta a me olhar no fundo dos olhos. – Estou aqui exatamente por causa do seu anel.

– Que tipo de drogas você usa, Jessie? – simplesmente não consigo acreditar nessa história.

– Eu não... – ele fecha os olhos e respira fundo. – Melanie, eu estou falando super sério, o mundo corre um grande perigo se eu não pegar esse anel.

– Aham... – minha risada é irônica. – Esse anel da minha avó pode mudar o mundo. Está bem, Jessie...

– Porque eu inventaria uma história como essa? – seu olhar é sério, nesse momento eu me sinto obrigada a começar a entender. – Do mesmo modo que eu, um anjo, estou atrás desse anel, aquele rapaz que veio até seu quarto, também está atrás dele, mas quem o mandou a procura foi o próprio demônio. – minha barriga ardeu com essa ultima informação.

– Como assim? – sussurro colocando a mão em minha barriga, na esperança de fazê-la parar de doer.

– Eu disse que seria uma história muito complexa e complicada. – ele apoia sua mão em cima da minha que se encontra sobre minha barriga. – Isso que diz ter sonhado, isso que está sentindo, todo seu sofrimento no momento, pode ter certeza que tem algo relacionado com aquele que veio até seu quarto atrás do anel. – a dor aos poucos vai sumindo. – Infelizmente, ele vai usar esse poder contra você enquanto não tiver o anel em suas mãos.

– Jessie, me explica... – me sinto fraca demais para falar, tudo sai como um sussurro.

– O mal está dominando o mundo, concorda? – ele sussurra ainda com sua mão apoiada sob a minha. Eu apenas concordo com a cabeça. – Esse anel, por mais idiota que pareça ao ser pronunciado, é o anel do poder, quem o tem é capaz de ter muito mais poder que qualquer outro ser do mundo sobrenatural. Ele estava no céu, em nossa guarda, mas após um grande descuido, ele caiu na terra de vocês, mortais. – seus olhos me sugam a cada palavra. – Achamos melhor deixá-lo aqui, sob os cuidados de pessoas do bem, como sua avó e sua mãe, sem o mal descobrir. Mas, acontece que depois de muito tempo, os demônios mais profundos descobriram o paradeiro do objeto, e resolveram que o buscariam até que encontrasse. Então, fizemos um trato, quem o encontrasse e o quebrasse às 3 horas da manhã, um horário conhecido como o momento em que os seres sobrenaturais tem mais poderes, terá o poder maior, por toda a eternidade. – ele finalmente respirou em meio a tanta informação. – Melanie, eu estou dizendo a verdade, ele é capaz de tudo para conseguir, até mesmo matar. – é informação demais para mim, loucura demais para uma pobre humana como eu.

– Jessie, eu não consigo... – um soluço de choro escapa de meu interior.

– Melanie, eu imploro para que confie em mim, podemos acabar o mais rápido possível com isso, te prometo. – a dor havia sumido, mas sua mão ainda estava sob a minha, exercendo cada vez mais pressão. – Preciso da sua ajuda, pois só poderei quebrá-lo com você, a atual dona, ao lado. É uma promessa, apenas me ajude a salvar o mundo, e depois nunca mais me verá, irei embora e apagarei sua memória para que nunca se lembre do sofrimento que isso possa vir a te causar.

– Não consigo entender... – minha cabeça martela de tanta dor. – Então, só precisamos pegar esse anel idiota e quebrá-lo às 3h da manhã?

– Tecnicamente sim. – ele sussurra, olhando para sua mão que está sobre a minha, apoiada em minha barriga. – Mas temo pelos poderes que ele pode usar sobre você.

– Como assim? – legal, para ajudar, tinha um louco, psicopata, a solta pronto para me torturar. Não tem como essa noite ficar mais maluca.

– Bem, você me contou de um sonho, não é? – seus olhos mais uma vez encontram o meu e não consigo fugir. – Este é o poder mais fraco que ele é capaz de usar, manipulá-la mentalmente, lhe causar sofrimento com visões realistas e torturantes. – eu tremo incontrolavelmente a cada palavra. – Como disse, ele é capaz de matar para conseguir o que quer. Sua mente se transformou em uma espécie de parque de diversões para ele.

– Se ele pode usar esses poderes, você também pode ter um, não é? – desvio o olhar dos seus e fito sua mão em minha barriga. Inacreditavelmente, a dor quase já não existe mais.

– Fui instruído a não usar nenhum tipo de poder. – sua mão já não fazia tanta pressão sobre meu abdômen. – Mas, com a minha chegada, imagino que tenha sentido alguma vibração, coisa parecida. – apenas concordo silenciosamente e volto a olhar em seus olhos. – Esse é o poder do anel, seu magnetismo é notável com a presença de algo sobrenatural por perto. Recebi um mapa de onde o objeto estaria; justamente essa casa. – ele levemente sorri com o canto de seus lábios, como Cora havia percebido de manhã. – Assim que cheguei no colégio, pude sentir a vibração exalando de você, e não tive duvida alguma de que havia encontrado.

– Se é só quebrá-lo, podemos fazer isso hoje mesmo. – tento me levantar e pegar o anel, mas ele me impede.

– Não, você precisa estar preparada, tanto psicologicamente como fisicamente para isso. – sua mão pressionada fortemente minha barriga e a dor se torna praticamente zero. – Durma; nada acontecerá a você essa noite, nem ao menos um devaneio, eu lhe prometo. Se fizermos isso hoje, no estado em que se encontra, a experiência pode ser fatal para você. – o peso de suas mãos diminui. – Acho que acabo de infligir a regra de não usar poder algum... – tira suas mãos por inteiro do meu abdômen, assustadoramente não há mais dor alguma em meu corpo. Olho em seus olhos que parecem mais azuis que o normal, é tudo tão hipnotizante e misterioso nele. – Boa noite, descanse bem, não esqueça o anel, até amanhã! – sem dizer mais nenhuma palavra, ele se levante e se dirige até a janela, provavelmente de onde deve ter entrado.

– Jessie... – o chamo em um sussurro. Ele se vira e me fita, com o sorriso surgindo no canto de seus lábios. – Obrigada, eu acho. – coloco a mão em minha barriga, que antes doía e agora não tinha absolutamente mais nada. Ele compreende o que tento dizer, e apenas balança sua cabeça. Em um movimento rápido, ele se apoia em minha janela e desaparece, me deixando completamente imersa naquele rio de informações. A primeira coisa que vem em minha mente é que preciso trocar aquela janela, imediatamente.

Viro-me e pego o anel no local onde minha mãe havia me contado que tinha colocado. O olho por algum tempo, a pedra tinha uma espécie de brilho em seu interior, o mesmo brilho dos olhos de Jessie, ao perceber esse fato, um sorriso surge em meus lábios, sem saber ao certo o motivo. Coloco-o debaixo de meu travesseiro e me ajeito na cama. Não sei explicar o porque, mas nesse momento a paz invade meu ser, o que antes era medo, se transforma em tranqüilidade e tudo parece muito mais leve. Logo, o sono toma conta de meu corpo e minhas pálpebras já não são mais capazes de permanecerem abertas, não a como escapar e acabo dormindo. Felizmente, um sono sem sonhos, como Jessie havia prometido.