Garota Camaleão escrita por Aurora


Capítulo 5
Mais saudades




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Alison,

Com você eu ganhei muitas coisas, mas perdi algumas também. Inclusive o resquício de amor que eu pensava existir da minha família. É que sempre fui a filha quase perfeita, quase, porque tudo que me envolve tem um quase na frente, minha mãe estava acostumada com aquela ideia de eu sempre ficar em casa, sem muitos amigos, não fazendo nada, então quando ela veio a saber de você e das coisas que eu andava fazendo ela surtou. Surtou de um jeito que eu já estava acostumada, e durante toda aquela gritaria e perguntas sobre o que ela havia feito de errado, eu sorri.

Sorri Alison, eu sorri porque imaginei você ao meu lado sorrindo também, e sorri porque pela primeira vez eu mostrei a minha mãe que eu não era e nem queria ser sua filha perfeita. Havia mostrado a ela quem eu era, ou quem eu havia me tornado. E eu sorri, pela primeira vez mais por mim do que por você.

Outra coisa que perdi foi a vontade de estudar. Já não via nada de muito inacreditável em ser a melhor aluna da sala ou de passar noites estudando. As aulas que matei para ficar com você valeram muito a pena, e os dias que eu ia para a escola já não tinham o mesmo propósito de antes. Então eu comecei a entender aqueles outros alunos, e entendi o porque de você ter saído da escola, tanto é que atualmente estou quase fazendo o mesmo.

Nunca havia percebido que isso faria algum mal, até você ir embora. Agora estou prestes a ser expulsa de casa e quase repetindo de ano.

Minha mãe me pegou chorando ontem, me perguntou por quê e eu disse que era saudades de você. Então ela me bateu. Me bateu, Alison, um tapa dado com gosto desferido em minha bochecha direita, lugar onde você costumava beijar antes. Um tapa que doeu, porque pude ver a raiva em seus olhos, nunca havia me importado muito com ela mas vê-la me agredir daquela maneira com tanta certeza doeu. Então ela se virou para mim e disse : ‘’ A culpa é dela ‘’.

Disse que a culpa era sua, mas ela estava errada porque a culpa é minha. A culpa é minha por não ter sido boa o suficiente para fazer você ficar, ou por não ter ido atrás de você no momento em que percebi que não iria voltar, eu devia ter te dito que eu a amava, porque no dia anterior eu olhei no seus olhos e mesmo com vontade eu não disse. Devia ter a mesma coragem que você teve naquele outro dia e ter te beijado, porque talvez com o gosto de amor você ficasse, e aí eu não viraria gosto de saudade. As perguntas me atormentam cada vez mais, é como se estivessem gravadas em minha mente, onde você está? Se lembra de mim? Está feliz? Está correndo perigo? Você está viva? Você me ama?

É por isso que eu choro, Alison. Por medo e por saudade. Tenho uma vontade imensa de te enviar essas cartas mas uma frustração ainda maior por não ter ideia de onde você está, mas eu gosto de imaginar que você está bem, pois pelo menos isso reconforta meu coração. Gosto de pensar que está sorrindo em algum lugar, dando incetivo para as outras pessoas sorrirem também. Então eu sorrio, mas aí penso que mesmo que o seu sorriso esteja existente ele está longe de mim, então eu choro.

Será que se eu tivesse dito que te amava naquela noite anterior da sua fuga você estaria aqui agora? Bom, de qualquer forma, eu te amo.

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza e mais saudades,

Lúcia.


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Notas finais do capítulo

Perdoem o amor descontrolado de Lúcia e não odeiem a Alison. Amo vocês.