Garota Camaleão escrita por Aurora


Capítulo 10
Desespero


Notas iniciais do capítulo

Oi!



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Alison,

Se quer saber eu nunca acreditei nessa coisa de amor doído que tanto falavam, nem nessa coisa de saudades que machucava, e sinceramente eu preferiria ficar sem saber, agora estou sentindo isso na minha própria pele. É que tudo dói, pensar dói, falar dói, andar dói, chorar dói, comer dói, os arranhões que faço em mim mesma doem. Eu estou morrendo, Alison. Já não tenho vontade mais de nada, por mim ficar deitada na cama em estado de decomposição é o suficiente. Estou assistindo minha própria decadência e não estou fazendo nada para mudar, mesmo que todos os meus pensamentos digam o quanto isso é destruidor eu não consigo parar, as lágrimas simplesmente escorrem e as pernas simplesmente sangram.

Eu já não me reconheço mais, não me lembro de quem eu era antes, tudo o que vejo quando olho no espelho é apenas um emaranhado de coisas sem sentido e horríveis, porque tudo é cinza e não estou lutando para impedir de chegar o preto. E a única causadora disso é uma única pessoa: Eu. Eu sou a culpada por toda essa dor, sou a culpada porque nunca lutei contra a solidão, e nunca impedi nada que me atingia, a única coisa que fiz durante meus anos de vida foi sobreviver, porque eu nunca vivi de verdade, não! Talvez eu tenha tido esse luxo em algum tempo com você, porém esse infelizmente não foi eterno. É difícil ser a culpada pela decadência, e mais difícil ainda é não ter ninguém para ajudar, errado, mais difícil é não procurar ser sua auto-ajuda, sei que estou errando, sei que estou explodindo-me, torturando-me, mas eu não consigo parar.

Isso tudo está sendo como um fantasma que vive me atravessando, indo e voltando, entrando e saindo, cada hora com mais um pensamento para me fazer delirar. Acho que estou ficando louca, Alison. Louca de não ter você aqui, louca de preocupação, louca de cansaço, louca de chorar, louca de loucura. Eu queria dar a mão para você e atravessar esse mundo inteiro sorrindo, mas em meio de tantos desejos a única coisa que tenho no final é um papel e uma caneta de onde só consegue brotar mais dor e mais confusão.

E o nível de preocupação aumenta a cada dia mais, eu só queria uma palavra sua, qualquer coisa, não precisa ser muito grande ou significar muita coisa, só de saber que está bem meu coração se reconfortaria. Me parece tão impossível você estar tão longe assim, não compreendo o motivo disso ter acontecido, porquê teve que ir? Você podia me pedir ajuda, se quisesse eu fugiria junto, mas eu só queria você ao meu lado. É uma necessidade sugadora e estranha, é como se você fosse meu único ponto de luz em meio á escuridão, a única razão, a única âncora, única pessoa com quem posso dar as mãos. Me pergunto quando comecei a amar assim, dessa forma sufocante e destruidora, mas acho que eu não sei amar de outra forma, porque não tive experiência nenhuma e com a sua chegada tudo foi muito novo e rápido demais, a resposta foi essa avalanche de confusão que trouxe o amor junto.

Eu tentei te esquecer também Alison, se quer saber Lucas me achou, me achou de algum jeito que não prestei atenção, nós marcamos um encontro,mas eu não fui, não fui porque na hora marcada eu estava definhando em minha cama, ocupada demais com minha dor para dar atenção a algo que não fosse ela. Acho que estou virando alguém incurável, presa em minha própria mente. Acha que estou louca, Alison?

Ora, claro que estou, não é mesmo? Tudo o que eu sei fazer é chorar, chorar por motivos que nem eu mesma sei mais, e no final de todo esse choro correr para esse papel e conversar sozinha, com a ideia que tenho de você. Talvez isso seja loucura, ou depressão, ou apenas eu. Eu não consigo ter certeza, não posso ter certeza, não preciso ter certeza. Talvez tudo o que eu precise é de um balde de água gelada, mas do que vale o que eu preciso sendo que o que eu quero é você?

A saudade dói, a saudade por você dói mais ainda, e o fato de ser eu triplica a dor. Quem sabe eu não fui nascida para isso, ou até mesmo mereça. Ah, eu não sei, eu só quero que esse sentimento passe logo, que dê um jeito de sumir de uma vez, não deixar nem lembranças. Porque estou cansada de lembrar de tudo feito um gravador velho que só sabe repetir as fitas, estou cansada da dor, cansada de mim, cansada de você, cansada de tudo. Estou cansada dessa caneta e desse papel e dessas palavras ridículas que marcham em direção a lugar nenhum, estou cansada de meus gritos no vácuo e cansada de estar sozinha. Estou cansada de ser a culpada, cansada de mim.

Então tire isso de mim, Alison, eu tenho uma dor que só pode ser curada por você. Apesar de toda essa camada grossa de sangue e lágrimas eu te amo no final, é tudo o que eu sei fazer. Eu te amo, eu te amo da maneira mais destrutiva e estranha, te amo como ninguém mais consegue amar, eu te amo pelo simples fato de você ser você. Eu só preciso que me ame de volta, verdadeiramente ou não eu só quero ouvir, quero sentir, quero saber, então me diga por favor que você me ama, não precisa ser um bom amor, eu aceito de qualquer jeito. Eu só quero saber se me ama, se sou digna disso, se existe esperança. Não me preocupo com explicações ou desculpas, só quero ouvir que me ama, por favor. Eu te amo com todas as minhas forças restantes e quero que me ame de volta, me ame, Alison.

Adicione o seu amor nesse resumo de mim que só está constituído pela confusão.

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza, mais saudades, felicidades, amor, descobertas, dor e desespero,

Lúcia.


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Notas finais do capítulo

É isso, não me odeiem, não odeiem Alison e nem a Lúcia.