First Day of Spring escrita por Momorin


Capítulo 12
Invisível - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá meus lindos! Sinto muito por estar atrasada mais uma vez! Tive sérios problemas com esse capítulo. Parecia que eu não estava escrevendo a mesma história, e me dava sérios problemas na consciência em como vocês encarariam esses dois últimos capítulos que postei. Sim, é basicamente uma outra história extremamente complicada e cheia de tretas dentro da história tranquila e romântica que estava sendo até agora. Mas esses dois capítulos são necessários, pelo menos para mim, que gosto de explicar muito bem a origem de tudo, por todos os pingos nos Is. Enfim, espero que gostem, de um jeito ou de outro, haha.
Ah! Por fim, eu sei que vocês devem estar com saudades do Jack. Não se preocupem, ele vai voltar logo a todo vapor! Continuem acompanhando :3



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No dia que se seguiu, Fay não foi capaz de se concentrar nas aulas seguintes. Não somente pelo fato da aula de Química parecer algum tipo de ritual do submundo aos ouvidos dela, como a também pela enorme culpa que corroia sua mente. Como poderia sua vergonha e nervosismo serem maiores que a necessidade de defender as próprias tias? Tudo o que Fay queria era voltar no tempo, e não importaria se ela tivesse soado rude ou idiota, ela deveria ter dito o que era correto, assim como suas tias teriam feito por ela. Fay sabia que provavelmente Alyssa e suas amigas não estavam tentando ser rudes, mas mesmo assim olhar para elas a deixava incomodada e insegura.

A verdade é que Alyssa, Rachel e Ashley viviam de fofocas assim como mendigos vivem de esmolas. Elas eram a fonte de informações alheias daquela escola, posto importante considerando que viviam em uma cidade pequena. Toda sua popularidade e autoridade vinham daquela função. Assim, há muito tempo aquelas meninas deixaram de se preocupar com a reputação e sentimentos dos outros. Não propositalmente, é claro, mas esse era o jeito delas. Leah sabia de tudo isso, e percebeu que havia preparado a cova de Fay assim que as palavra “hospital” havia escapado de sua boca enquanto estava com suas amigas. Foi um acidente, mas ela acabou sendo sincera quando perguntaram aonde Fay andava antes vir para a escola. Agora, vendo Fay com o olhar congelado em sua carteira, só sentia vergonha o suficiente para deixa de dizer qualquer coisa à sua vizinha de carteira.

No primeiro intervalo, e agora no segundo, mais rostos estranhos vinham perguntar sobre o passado de Fay.

– Você sofreu muito lá no hospital? – perguntou o estranho de cabelos castanhos.

– Não. – O nervosismo e a irritação já haviam tomado o controle das emoções de Fay, então ela só deixou que explodisse – Muito pelo contrário, eu era muito bem tratada. Sempre tinha a companhia das enfermeiras, que eram muito gentis e se importavam comigo, assim como das minhas tias, que vinham todos os dias apesar dos compromissos e do trabalho delas. Agradeço sua preocupação, mas não preciso dela. – Ela encerrou sua fala com a voz fria e seca como as noites do deserto e o olhar mais cortante que uma navalha.

– T-tudo bem então. – disse o rapaz que logo virou-se para outra direção.

As palavras que acabara de dizer queimavam na língua de Fay. Havia sido demasiada grosseira e sabia disso. Não era nem o rapaz que a havia irritado, ele não havia feito nada a ela.

– Droga!

Fay chingava baixinho enquanto passava os dedos dobre suas têmporas e em seguida esfregava o suor das mãos. Levantando os olhos da carteira, Fay olhou em volta e viu que os olhos de seus colegas pairavam sobre seu lugar. Ela deveria ter respondido o rapaz muito alto. Envergonhada, sem que restasse mais nada a fazer, Fay decidiu desculpar-se. Levantou de sua carteira e foi até o rapaz de cabelos castanhos que agora conversava com outro colega, Caleb.

– ...Estou dizendo! Ela é .... – ele se interrompeu quando Caleb indicou com a cabeça a presença trás dele. Virou-se e levou um susto quando viu Fay atrás dele.

– Me desculpe por agora a pouco – começou a menina, alternando os olhares entre o chão e o rapaz. Ela sentia o calor subir para suas bochechas, mas não deixou que isso a impedisse. – Não quis soar daquela forma. Eu estava estressada com outras coisas. Sinto muito.

– Ah. Não tem importância, eu entendo. – o rapaz respondeu envergonhado pelo o que estava prestes a dizer momentos atrás. – Meu nome é Drake.

– Prazer, Fay. – E ela sorriu, feliz de ter tomado a sábia decisão de pedir desculpas o quanto antes. Foi quando notou Caleb fitando seu rosto em silêncio. O repentino contato visual a fez sentir o calor subir novamente.

– Esse aqui é Caleb – apresentou Drake pondo a mão no ombro de Caleb. – Ele não é de falar muito.

– Oh! Muito prazer Caleb. – cumprimentou Fay com um aceno.

Sentia-se ficando mais forte agora que fora capaz de falar com mais alguns colegas. Ela sentia que seus problemas logo seriam resolvidos. Infelizmente, a felicidade esvaiu-se de seus olhos quando viu que Alyssa, Rachel e uma estranha entravam na sala enquanto apontavam na direção de Fay.

– Aqui está ela. Coitadinha. Vê como a pele dela é pálida? Não deve tomar sol a anos!

Alyssa aproximou-se de Fay e pôs as mãos em seu ombro. Estava prestes a apresentá-la formalmente, mas foi surpreendida pela esquiva de Fay para longe de seus braços.

– Alyssa, queria falar com você – disse Fay, sentindo a irritação crescendo em sua mente, mas deve vez, sabia o que era o certo a fazer.

– Então diga.

Fay não queria ter aquela conversa no meio da classe, mas pelo visto não fazia a mínima diferença para Alyssa.

– Bem... não quero mais que espalhe coisas sobre mim.

– O que? Por que? Eu disse alguma mentira? – Alyssa perguntava enquanto erguia a sombrancelha, confusa pela insatisfação de Fay. Ela estava a transfomando numa estrela! Por Deus, o que mais aquela menina queria?

– Não exatamente...

– Então qual é o problema?

– O problema é que eu não sou essa coitadinha que você me faz parecer ser. – Fay respirou fundo e expirou, finalmente botando pra fora o que deveria ser dito. – Eu não preciso de que tenham pena de mim. Eu não quero isso. Além disso, minhas tias não são loucas, e não quero que você diga mais nada sobre elas a ninguém, pois para mim, é uma ofensa muito grande. Falar assim sobre a vida de alguém, é algo muito errado, acho que você deveria rever isso.

Quando Fay terminou de falar, sentiu-se livre. Ao mesmo tempo, sentiu o medo de ter soado rude novamente. Podia jurar ter visto uma pontada de raiva nos olhos de Alyssa, mas logo o rosto da menina transformou-se numa feição de dar pena.

– Eu sinto muito Fay! Não sabia que você se sentia assim! Eu só queria ajudar! – choramingou Alyssa, puxando Fay para um abraço.

Fay sentiu um alívio de ter terminado o problema, e correspondeu o abraço, sendo sincera quando aceitou as desculpas.

Fay estava enganada ao crer que o problema havia acabado. O sangue de Alyssa estava fervendo de vergonha e raiva, incrédula por ter sido feita de vilã no meio de todo mundo. Aquela conversa faria com que muita gente a criticasse em breve, e Alyssa temia isso. Há muito tempo, Alyssa tinha sido alvo de chacotas e brincadeiras entre os alunos. Tudo porque ela tinha paixão por qualquer item fofo e cor de rosa, mesmo depois dos 13 anos de idade. O problema é que ela adorava usá-los e exibi-los em forma de tiaras, presilhas, bolsas e vestidos. Freqüentemente ela andava pela escola com sua mochila cor de rosa, seus tamancos iguais aos da Barbie e lacinhos nos cabelos. Ela não se importava com o que os outros vestiam, ela contentava-se em ser ela mesma, como seus pais sempre a aconselharam. E ela era feliz, até ganhar o apelido de “princesa gorda”. Ela ainda se lembrava das vozes: “Como você quer tentar se vestir como uma boneca se seu corpo claramente não é como um?”, “Você não tem espelho na sua casa? Você é ridícula”, “Nenhum menino nunca vai olhar pra você! Você é estranha, feia e gorda.” Suas amigas mais próximas foram até Peter Harris, o menino que gostava na época, contar sobre os seus sentimentos e zombar dela para ele. E é claro, ele respondeu com: “Eu nunca sairia com essa esquisita.” Doeu. Doeu muito. Depois de passar semanas trancada no quarto e recebendo visitas de psiquiatras, Alyssa decidiu que nunca mais sofreria por não encaixar-se dentro da sociedade. Pelo contrário, ela seria um exemplo. Todos iriam querer ser como ela. E o melhor, ela ensinaria pessoalmente para cada um dos ingênuos e idiotas que acreditavam que se pode viver feliz sendo diferente do padrão, como a vida real funciona. E é claro, ela nunca mais deixaria ninguém caçoar dela ou zombar dela, e jamais daria motivos para tal. E este seu medo, tornou-se um passo mais próximo da realidade quando Fay a criticou na frente de todo mundo.

Depois do toque do sinal e de todos voltarem para seus lugares, a mente de Alyssa, perturbada pelo medo, trabalhava em uma forma de virar o jogo a seu favor.

Dois dias após o incidente, o plano já estava pronto, apenas esperando para ser posto em prática. A primeira coisa que Alyssa fez foi encurralar Drake, ameaçando denunciar a diretoria sobre todas as colas que ele havia feito nos testes. E sim, ela tinha como provar através de suas conversas no celular, como a boa fonte de informações que ela era. Ele concordou em ajudá-la ainda que sem saber no que sua ajuda seria necessária. No intervalo do mesmo dia, ela esperou que Fay saísse da sala, e foi logo atrás dela. Poucos minutos depois, estava de volta, exibindo a melhor cara de choro que já havia feito em tempos. Era questão de segundos até perguntarem a ela do que se tratava aquele drama. E perguntaram.

– A-a Fay... No... Corredor... – soluçava Alyssa baixinho, rodeada pelas meninas da classe.

– Fique calma! O que aconteceu? – perguntava uma das meninas do grupo, que colocava mão no ombro de Alyssa.

– Ela... Ela... Ela me odeia!

– O que? Mas por que você acha isso?

– Fay me disse que queria... Que queria me destruir na frente de vocês! – Alyssa terminou essa última frase de impacto recostando a cabeça no ombro da garota mais próxima, e enxugando as lágrimas do rosto.

– Como assim? Por que ela iria querer isso?

– Eu não sei... Talvez... Oh! – Alyssa fez uma pausa enquanto fitava o nada, como se tivesse percebido algo muito importante. – Talvez... Seja porque já estudamos juntas... E eu... Eu... Eu vi ela falando sozinha, vi ela ter crises de loucura! – Alyssa disse após uma longa pausa, o rosto cheio de preocupação.

– Mas o que? Como assim?

Cochichos já se espalhavam entre as garotas na roda, e Alyssa já sentia o gostinho da vitória.

– Sim... Eu queria ajudar Fay agora que nos encontramos novamente... Mas eu não sei... Acho que ela não quer que ninguém saiba... E parece não entender que só queremos ajudá-la... Além disso... As emoções dela parecem ser bastantes instáveis... – Alyssa terminou aquela frase exibindo um pulso com marcas. – Ela me segurou enquanto gritava aquelas palavras pra mim... – E os olhos de Alyssa já se enchiam de lágrimas novamente.

– Mas então o que nós fazemos? – perguntou uma morena assustada.

– Acho que não há nada a ser feito... Ela não tem culpa de ter vindo daquela família e herdado todos esses problemas... Mas é por isso que ela ficou todo esse tempo no hospital. Logicamente ela age normal no dia a dia, mas pelo o que eu me lembro, quando era posta em pressão ou quando pessoas freqüentemente falavam com ela... Ela tem essas crises. É tão triste. Tão triste... – Alyssa balançava a cabeça.

– Ah Drake! – Alyssa chamou ele que estava a duas fileiras de distância, só tentando entender a situação, assim como o resto da classe.

– Sim?

Ele aproximou-se da conversa, sem ter a mínima idéia do porque ele estava envolvido em qualquer problema que fosse. O medo de levar a culpa pelas colas nos testes já estava fazendo seu coração acelerar.

– Lembrei-me agora... Dois dias atrás... A Fay... Teve um ataque enquanto falava com você não é? – quando perguntou, Alyssa pôs as mãos na frente dos lábios em sinal de preocupação, mas seus olhos arregalaram-se por um momento, direcionados diretamente para os de Drake, que rapidamente entendeu aquilo como uma ameaça à sua vida.

– É... foi. – disse Drake cabisbaixo. Era uma péssima atuação, mas encaixava-se perfeitamente com o assunto em questão, pensou Alyssa, sorrindo por dentro.

– Depois ela foi até ele ameaçar matá-lo se ele contasse pra alguém! Vê se pode! – Continuou a ruiva, colocando mais lenha na fogueira

– Foi mesmo... – continuou Drake a concordar. As pontadas da culpa já estavam invadindo seu peito.

– Estou contando isso pra vocês... Mas por favor, não digam nada a Fay, não vamos deixá-la sofrer mais nenhuma crise... Eu vou perdoar as ameaças que ela me fez, então por favor, façam o mesmo certo? E tomem muito cuidado.

Como se fosse para abaixar as cortinas do espetáculo, a campainha do sinal tocou, e a conversa teve de ser encerrada. Todos sentaram-se em suas mesas, mas Alyssa podia ouvir os cochichos e podia ver os bilhetinhos sendo passados de mão em mão. Era o sinal de que havia vencido a guerra. Ninguém destrói Alyssa Snyder socialmente. Ninguém.

Na semana que se seguiu, Fay notou os cochichos que cresciam sempre que passava pelos corredores, ou os olhares curiosos em sua direção. Nos primeiros dias, ela achou que fosse coisa da cabeça dela. Achou que estivesse provavelmente ilusionando tudo aquilo devido a enorme pressão que sentia, mas não. Toda vez que sentava em sua carteira, era com se sentasse nas brasas do inferno, tendo que assistir e ouvir sussurros sobre ela. Toda vez que tentava aproximar-se de alguém para perguntar do que se tratava, as pessoas se afastavam, ou simplesmente evitavam o assunto e encurtavam a conversa. Drake nunca mais olhou em sua direção e Leah quando a olhava com uma feição preocupada por um milésimo de segundo, logo em seguida desviava o olhar, deixando Fay incapacitada de tomar uma atitude. E quanto mais o tempo passava, mais a coragem de Fay esvaia-se. Fay deixou de tentar de falar com as pessoas, e aos poucos, foi deixando de ter esperanças em criar amizades. Na terceira semana, não cochichavam mais tanto quando passava, mas simplesmente ignoravam sua presença. Aos poucos esqueciam-se dela e de suas necessidades de enturmar-se, se é que um dia pensaram em acolhe-la, pensava Fay.

E assim seguiu, de setembro até dezembro, o mês em que sua vida havia virado de cabeça para baixo com a aparição da lenda de seus sonhos, Jack Frost. Mas agora, tudo parecia um sonho distante, enquanto Fay caminhava pela calçada que a levaria para a escola, observando as nuvens que iam se juntando no céu de Green Heaven. Parecia que ia nevar.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos vocês que não desistiram de mim ainda! Espero que possa ver todos vocês aqui comigo por mais um tempinho! Ah, e boa sorte na volta as aulas de vocês. Também espero que arranjem um tempinho para ler!
Enfim, tenham um bom dia e obrigada!