Dollhouse escrita por Klookies


Capítulo 2
Olhos de gelo


Notas iniciais do capítulo

Uau, demorou mas aí está! Realmente me desculpem pela demora (que diabos, sumi por quase um mês. O que há de errado comigo?! kkk), vou tentar ser mais rápida com as atualizações, palavra de escoteiro.
Alerta para melodrama extremo nesse capítulo. E um pouco de ação ;)



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Um passo para dentro da casa, e Rin realmente sentiu-se como num mundo paralelo.

As paredes que se erguiam a sua volta eram decoradas do chão ao teto, ornamentos de ouro e quadros de todos os tipos se espalhando por todos os lugares. O chão era coberto de tapeçaria fina, e Rin sentiu-se tentada a tirar os sapatos para sentir sua textura.

“Senhorita Rin?”

Arrancada de seu pequeno devaneio, Rin virou-se surpresa e viu uma empregada parada atrás de si. Limpando a garganta e ajeitando seu vestido de uma forma desajeitada, Rin deu um sorriso incerto.

“Sim...?”

“O senhor Kagamine nos avisou de sua chegada. Ele disse que sente muito não poder recebê-la pessoalmente, ele e a família chegariam de viagem hoje, mas imprevistos aconteceram e eles acabaram ficando sem condução para chegar a tempo. Entretanto, não há necessidade de se preocupar, eles chegarão amanhã de manhã.”

Rin com certeza estava preocupada. Não porque eles não iriam chegar hoje, mas sim porque eles eventualmente chegariam.

“Estou encarregada de mostrar-lhe seu quarto.” Continuou a empregada. “Siga-me, por favor.”

Segurando sua mala mais firmemente do que antes, Rin seguiu a mulher, o tempo todo olhando ao seu redor e observando a decoração extravagante e clássica daquele ambiente.

A empregada a levou para as escadas e Rin se deparou com o segundo piso da casa, ainda mais extravagante que o primeiro, onde ficava a maioria dos quartos.

O dela era o último do corredor. O quarto mais isolado de todos e o mais longe das escadas, que conectava o piso de cima ao resto da mansão.

“É como se estivessem querendo me manter afastada. Longe de todos.”

Rin suspirou cansada e entrou no seu novo quarto, o lugar que estaria instalada pelos anos seguintes.

O quarto parecia relativamente simples em relação aos outros aposentos, mas não menos belo. Um lustre dourado pendia majestosamente sob o teto alto, e uma cama gigante e coberta de lençóis de seda ocupava o canto mais próximo da janela.

A empregada a deixou sozinha com seus pensamentos e se retirou. Rin sentou-se na cama com cuidado, passando as mãos levemente sobre o lençol, enquanto tentou recordar-se das coisas que sabia sobre a família Kagamine.

Obviamente, havia o senhor seu pai, Leon Kagamine, e sua esposa, a senhora Ann Kagamine. Seus filhos, se Rin não estivesse enganada, eram: Lily, a primogênita, de 17 anos; Len, com 14, o filho homem mais velho e herdeiro; SeeU (Rin ainda não entendia a origem desse nome...) com 12 anos e Oliver, o mais novo, com 7.

Rin nunca foi particularmente tímida, mas ela também não era extrovertida. Fato é que, tímida ou não, Rin estava morrendo de medo de como seus meios-irmãos iriam reagir com a chegada de uma estranha em sua casa, e ela sinceramente não precisava de mais drama ou rejeição. Pois com certeza Ann lhe daria o suficiente dessas duas coisas.

Suspirando, Rin agarrou seu colar de clave de sol para lhe dar forças, e ele imediatamente lhe acalmou.

Esse colar tinha sido dado pela mãe de Rin quando ela tinha descoberto o talento da filha para música. Era o item mais antigo e apreciado da menina... Lembrava-a das duas coisas que mais amava: a mãe e o violino.

A mãe de Rin não tinha tido condição suficiente para lhe comprar um violino, mas Rin sempre arrumava um jeito de pegar emprestado com a filha do músico da sua cidade, uma amiga que tivera de deixar pra trás quando se mudou para a capital para morar com os Kagamine. Desde que escutara o som daquele instrumento pela primeira vez, Rin soube que aquilo era seu sonho.

Com os pensamentos mergulhados nas notas de seu antigo violino, Rin fechou os olhos e dormiu ainda com suas roupas de passear.

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Rin acordou com três batidas apressadas na porta.

Confusa e desorientada, ela lembrou-se dos eventos do dia anterior com um suspiro. Antes que conseguisse se levantar, uma empregada (Rin notou que essa era diferente da do dia anterior, era bem mais nova e radiante) rapidamente fez sua entrada no quarto.

“Bom dia, senhorita Rin! É um prazer finalmente conhecer a senhora, eu fui designada para ajudá-la aqui na mansão em seus primeiros dias, me chamo Gumi. Agora vamos logo lá pra baixo que já estão te esperando!”

Gumi parecia legal o suficiente, mas Rin não teve tempo de perceber nada mais além disso, pois a moça já a guiava pela porta.

Embaraçada, Rin lembrou-se de que nem tinha se arrumado adequadamente para descer, não tinha penteado o cabelo e seu vestido estava todo amarrotado por ter dormido com ele no dia anterior.

Rin nervosamente segurou seu colar, esperando que ele lhe desse forças para o que estava por vir.

Depois de descer as escadas e guiá-la por alguns corredores, Gumi parou subitamente ao chegar numa sala.

“Não fique nervosa,” Rin repetia em sua cabeça como um mantra. “Você não tem nada a perder.”

“Senhor Kagamine!” Gumi anunciou “a senhorita Rin está aqui”.

Todos os barulhos de talheres mexendo cessaram, e vários pares de olhos se viraram para ela.

Rin engoliu em seco.

“Não fique nervosa. Você não tem nada a perder.”

“... O-olá...” O cumprimento de Rin foi tão patético e saiu numa voz tão fina e rasgada que suas bochechas imediatamente coraram de vergonha.

Ela nunca tinha sido observada tão atentamente por um grupo tão grande de pessoas antes. Pessoas que a olhavam com um misto de curiosidade, desprezo e divertimento sádico. Pessoas extremamente bonitas e bem trajadas, quase algo que poderia ser confundido como uma pintura, talvez de anjos num banquete no paraíso.

Mas Rin sabia que aquelas pessoas não eram anjos. E aquele lugar estava longe de paraíso...

Sentados ao redor da mesa, primeiro ela deparou-se com quatro faces desconhecidas. Duas meninas e dois meninos.

A moça mais velha a olhava com um sorriso que não atingia os olhos, enquanto a mais nova fazia uma careta, como se tivesse acabado de chupar um limão. O garotinho mais novo mostrou a língua, e o que parecia ser da idade de Rin nem se dignou a levantar os olhos para observá-la.

Logo Rin localizou o rosto familiar de Leon. Ao seu lado, uma mulher de cabelos loiros cacheados e olhos azuis penetrantes. Seus lábios estavam pintados da cor do sangue, e ela emanava uma aura de elegância e autoridade incrível... Era uma das mulheres mais belas que Rin vira na vida, com toda certeza. Porém, com um mero olhar de seus olhos azuis, Rin sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Desprezo. Ódio. Era incrível a intensidade de sentimentos que ela conseguia converter com um mero olhar.

Rin sentiu-se mais pequena do que um inseto com a “empolgante” recepção de sua querida nova família.

“Rin,” Uma voz vagamente familiar, do Senhor Kagamine, ergueu-se imponente sobre a mesa. Ele levantou-se e caminhou até ela, sua postura rígida como sempre. “Como passou a noite?”.

“Bem...” Rin tentou sorrir. Não deu muito certo.

Leon acenou com a cabeça e gesticulou com a mão. Imediatamente, todos que estavam sentados se levantaram.

“Rin, conheça minha esposa, Lady Ann.”

Ann curvou-se em uma reverência curta para Rin, que fez o mesmo. Rin não teve coragem de olhar nos olhos dela de novo, mas mesmo assim podia praticamente sentir o olhar da mulher deslizando sobre ela dos pés a cabeça.

“Essas são minhas filhas, Lily e SeeU.” Leon continuou, trazendo as filhas para perto de Rin. Rin não pode deixar de notar a beleza radiante de ambas. Lily, a mais velha, tinha cabelo dourado, longo e liso, quase além da cintura. Tinha um corpo torneado que só uma mulher madura poderia ter, e se portava como se o mundo todo fosse seu.

Já SeeU parecia uma réplica em miniatura da própria Ann. Os cabelos eram de um loiro pálido assim como os dela, e caiam em suas costas em ondas e cachos rebeldes. Ela parecia ter a altura de Rin, apesar de ser mais nova. Os olhos eram azuis e grandes, destacando-se em sua face pequena e delicada.

Lily fez a reverência. SeeU não se moveu nem um centímetro.

Felizmente para ela, Leon pareceu não perceber e apresentou Rin ao pequenino, Oliver, um garoto traquina que ficava fazendo caretas feias e gestos obscenos para Rin toda vez que o pai não estava olhando.

Finalmente, Leon parou na frente do garoto que Rin já tinha adivinhado se tratar de Len.

“...E este é meu filho homem mais velho, Len. Acredito que ele esteja na sua faixa etária, Rin.”

Len, que até aquele momento tinha olhado para qualquer coisa menos Rin, voltou seu rosto para ela, olhando-a nos olhos profundamente.

A primeira sensação de Rin foi choque. Ela não tinha parado pra realmente prestar atenção ao semblante do garoto, e ficou surpresa ao perceber o tanto que ele se parecia com ela.

Eles tinham exatamente a mesma tonalidade de olhos e cabelo, e alguns traços do rosto dele, como o nariz, também pareciam quase idênticos ao dela. Porém, mesmo com toda a semelhança, Len pareceu algo completamente novo e diferente a Rin.

O cabelo dele estava presos com uma fita preta em um pequeno rabo de cavalo baixo. Os cabelos emolduravam seu rosto como ouro escorrido, e o garoto realmente parecia ter vindo direto do papel de príncipe num conto de fadas.

Mas o que realmente prendeu a atenção de Rin foi o olhar de Len. Seus olhos eram como gelo, e pareceram atravessar a pele de Rin como agulhas, gelando até os ossos. A intensidade que aquelas órbitas azuis carregavam pareciam demais para um garoto de apenas quatorze anos, mas a forma em que os cílios loiros caiam sobre seus olhos semicerrados pareceu estranhamente bonita.

Len deu um passo à frente, e por apenas um instante, os olhos ficaram tão próximos que Rin não sabia mais descrever se aquilo que havia nas órbitas azuis do garoto era como gelo ou como fogo, ela só sabia que algo nela pareceu queimar no momento em que o percebeu tão próximo a ela; seus olhos profundos fazendo-a perder-se nele.

E de repente os olhos não estavam mais lá, somente um leve calor na mão direita de Rin, onde os lábios de Len haviam roçado.

“Milady.” Ele disse.

As bochechas de Rin imediatamente coraram, e ela parecia desprovida de quaisquer palavras ou reação. Seu coração batia rapidamente ao mesmo tempo em que ela parecia incapaz de mover seus olhos da figura de Len. Ela sentiu-se idiota quando Len a encarou de volta com uma sobrancelha levantada e um meio sorriso nos lábios, quando de repente uma risada alta cortou o ar.

SeeU.

Lily parecia levemente envergonhada e tentou fazê-la parar, mas ela só ria ainda mais alto, até adicionar numa voz estridente.

“Hahahaha... Me desculpa, mas...” Ela limpou uma lágrima do olho, “ Será que ela realmente acha que é uma Lady, do jeito que age como caipira...? Ela nem consegue falar direito, sem contar o jeito que é curva, como se nunca tivesse usado corpete. O que há com esses trapos que ela tem coragem de usar, de qualquer maneira?

“SeeU!” Lily tentou silenciá-la, enquanto Ann observava tudo com diversão.

“Tá, eu sei que papai disse para a tratarmos de um jeito que ela não percebesse que é inferior, mas eu não consigo mais lidar com esse showzinho! Essa garota aí não é minha irmã e nunca vai ser! Sangue sujo! Bastarda!”

“Bastarda! Bastarda! Hahaha, Sangue Sujo!” Oliver entoou a zombaria da irmã. “Ei,ei, você viu como ela ficou toda vermelha quando Len-Len beijou a mão dela? Haha, será que ela gosta dele? Eca, nojento!”

“Quietos!” O Senhor Kagamine rugiu, imediatamente cessando qualquer tipo de manifestação.

Ele fixou seu olhar fulminante em Seeu, e caminhou até ela em passos curtos e contidos.

Rin nem teve tempo de registrar o que estava acontecendo antes de Leon erguer a mão e esbofetear a face de SeeU, que girou com o impacto, num barulho que pareceu ecoar por toda a sala.

Todos permaneceram num silêncio chocado. Oliver engoliu em seco. Lily desviou o olhar. Ann pareceu fervilhar de raiva, mas nada disse, e Len parecia simplesmente entediado.

Os olhos de SeeU encheram de lágrimas. Ela olhou com mágoa para o pai, e, depois de um último olhar carregado de ódio assassino pra cima de Rin, saiu da sala jogando os cabelos sobre o ombro e pisando fundo.

Leon, subitamente parecendo calmo como sempre, gesticulou para uma empregada (Gumi, Rin notou) que estava na sala e sentou à mesa.

Todos seguiram o exemplo de Leon, Rin de uma forma mecânica.

Gumi encheu as xícaras de todos com café, e o silêncio permaneceu.

Rin começou a tremer. Os acontecimentos recentes finalmente começaram a pesar na sua cabeça.

Ela nunca se sentira mais humilhada e com medo na vida ao mesmo tempo. Aquelas pessoas eram assustadoras. Más. Ela não queria ter que conviver com isso o resto da vida.

Sem conseguir controlar suas emoções, Rin sentiu lágrimas embaçarem seus olhos, e começou a se desesperar.

Não, não, não chore, não chore aqui, não, não chore na frente dessas pessoas...

Tarde demais. Rin começou a sentir as lágrimas escorrerem e se levantou de súbito, o café tombando na mesa com o movimento abrupto e se espalhando pelo forro branco.

Ainda tentando sair, atrapalhada no meio de sua fuga, Rin acabou tropeçando no pé da cadeira ao se virar e acabou caindo de quatro no chão.

Se levantou rapidamente e deixou as risadas e exclamações de surpresa pra trás enquanto corria para seu quarto.

Tudo o que ela podia fazer agora era segurar seu colar com força e esperar que tudo, de alguma forma, ficasse melhor.


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Notas finais do capítulo

Pobre Rin ;0; mas não se preocupem, nossa garota é forte e definitivamente vai dar a volta por cima (depois de eu fazer ela sofrer mais um pouquinho--muito *risada sádica*).
Lol quantos vilões tem nessa história mesmo? Perdi as contas haha. Mas lembrem-se que não odeio nenhum dos Vocaloids "malvados", eles estão lá meramente por serem necessários para a fic. Mas vocês verão que nem todos são tão maus quanto parecem ;)
E alguém mais percebeu que peguei 90% dos Vocaloids loiros e botei na família Kagamine? LOL, também me desculpem por mexer nas idades deles de uma forma tão livre assim. Mas o Oliver é tão shota que nem vai ser tão chocante que ele só tem sete anos aqui, né?
De qualquer forma, comentários são sempre bem vindos! E obrigada a todos que favoritaram e deixam um pedacinho do tempo para acompanhar essa fic ^^



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