Coração Partido escrita por Lawlie


Capítulo 1
Corações Que Se Partem


Notas iniciais do capítulo

Espero que não tenha ficado muito clichê ou enjoativo...
Comentem o que acharam, se puderem!
Boa leitura!



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Desde que Kobato desceu à Terra, tudo para ela era desconhecido. Das coisas mais simples, como preparar uma sopa, até as mais complexas, como tentar entender seus sentimentos em relação a Kiyokazu Fujimoto.

E quando finalmente parecia entender, tudo se confundia. E não houve confusão maior nem sensações tão desconhecidas como quando descobriu sobre a partida de Fujimoto.

O rapaz conseguira um emprego muito bem remunerado do outro lado do Japão, com o qual pretendia finalmente conseguir o dinheiro para ajudar Sayaka a pagar definitivamente sua dívida com a Yakuza e impedir que a creche fosse destruída. E estava completamente convicto de sua decisão. Principalmente porque seus sentimentos por Sayaka Okiura nunca haviam mudado. Somente no momento do surgimento da oportunidade que a salvaria, ele compreendeu que era ela a quem continuava amando. E não a Kobato. A essa, apenas lhe conferia o mais profundo e puro sentimento fraternal. Partir por quem amava ou ficar por quem queria proteger?

Não foi sem dor que escolheu pela primeira opção.

– // -

Kobato nunca havia se sentido tão perdida e confusa do que quando Fujimoto anunciara sua partida e, um pouco desconcertadamente, selara a notícia com um beijo em sua testa. O que normalmente lhe seria uma doce lembrança ficou-lhe como uma desagradável sensação de abandono, maior do que podia compreender. No momento, as lágrimas não puderam descer. Mas naquela noite, Kobato chorou.

A pobre garota não se lembrava de já ter chorado daquela maneira em nenhum momento de toda a sua existência. E o sentimento de solidão que experimentava naquela hora nunca, nunca havia sido tão forte. Iorogi - ou Ioriyogi, como era chamado por ela - podia apenas observar enquanto ela se desfazia em lágrimas, e desejar com toda sua forma de bicho de pelúcia que os Céus interviessem e fizessem-na parar de sofrer.

– // -

Porém, não foi isso que aconteceu. Porque os Céus já o haviam enviado há muito tempo.

Por dias, Kobato não pôde ajudar na creche; não pôde sair para coletar corações partidos enquanto o seu próprio estava destroçado. Não importava que as pessoas que a amassem não tivessem ido embora. Chitose, Chiho, Chise, Sayaka, Kohaku, até mesmo Ioriyogi. Mas a pessoa que ela mais amava, sim. Nenhum deles conseguia ocupar o vazio deixado por Fujimoto. Talvez porque todos eles tivessem suas próprias preocupações, seus problemas, até mesmo maiores do que o dela. Não que desejasse que se preocupassem total e somente com ela; tal tipo de pensamento nunca lhe ocorreria. Mas nenhum deles poderia dar-lhe o que ela precisava.

Apesar disso, nenhum espaço é tão grande que nada nem ninguém possa preenchê-lo.

E a pessoa que pôde fazê-lo foi para quem Kobato era especial de uma forma diferente do que era para os outros, mesmo para as pessoas que havia curado.

Porque ela o havia feito enxergar suas próprias qualidades. Ela havia ensinado a ele que não há problema nenhum em querer ajudar os outros. Fora ela quem o fez perceber que não era errado querer ser amado.

E, com o tempo, ele notou que queria ser amado por ela.

O nome da ajuda enviada pelos Céus, antes mesmo que Kobato pudesse vir ao mundo, era Takashi Dōmoto.

– // -

Dōmoto fora procurá-la poucos dias após a partida de Fujimoto. Não tinha nenhuma segunda inteção; a sua única era ajudar o coração de quem um dia ajudara o seu. E sentiu uma estranha mistura de preocupação de alívio quando ela o abraçou e começou a chorar mais uma vez. Porque tinha a esperança de que pudesse cuidar dela.

O rapaz passava os dedos carinhosamente pelos longos cabelos rosados enquanto Kobato soluçava copiosamente em sua blusa. Vez ou outra murmurava palavras de consolo, que pensava serem inúteis. Todos os dias a visitava em seu quarto na pensão de Chitose, se dando conta do quando ela sentia falta na presença no quarto ao lado, todos os dias a abraçava quando ela nada podia fazer a não ser sofrer. O silêncio era a maior conexão entre ambos, era a única coisa capaz de transmitir o desespero dela e o pesar dele.

Era difícil para Dōmoto vê-la daquela forma. Kobato sempre fora tão estranha, cheia de vida, tomada por uma alegria e uma vontade de ajudar os outros que ninguém era capaz de entender, como uma andorinha me pleno verão. E agora, tudo o que restava eram lágrimas e dor. Nem mesmo seu lado desajeitado se mostrava presente. Era como se a andorinha tivesse perdido suas asas. Aquilo secretamente despedaçava alguém que se apaixonara por vê-la voar.

Mas apesar de acreditarmos que a dor nunca passará, o tempo se encarrega de cicatrizar as ferias. Talvez elas nunca desapareçam, mas um dia deixarão de doer. O tempo pode não ser o melhor remédio, mas com certeza é a melhor anestesia. Após uma quantidade de dias e abraços que dera a impressão de ser infinita, não haviam mais lágrimas para chorar e o silêncio, aos poucos, passou a ser preenchido por frases que se tornaram conversas. A companhia dele era capaz de trazer força e paz a Kobato e, com o tempo, ela finalmente conseguiu voltar a seus objetivos iniciais. Voltou a ajudar na creche, onde foi recebida com imensa alegria e era novamente capaz de sorrir, apesar de ainda não ter retornado completamente ao que era antes. Recolher corações partidos se tornara uma tarefa mais difícil depois que o seu se tornara um deles, mas ela sentia que precisava fazê-lo mais do que nunca.

E foi Dōmoto quem a incentivou a seguir em frente, foi ele quem deu a ela os abraços mais apertados e as palavras mais reconfortantes, foi ele quem ouviu o que ela não conseguia dizer a mais ninguém, foi ele quem lhe deu os mais meigos olhares e sorrisos. E com o tempo, a andorinha reaprendeu a voar.

Os sorrisos tornavam-se mais constantes, os passos mais alegres e os tombos mais frequentes. Ela cantava para ele quase todas as noites, e a cada vez as canções eram mais esperançosas e cheias de paz. A garota que curava corações estava tendo seu coração curado por alguém.

Dōmoto não esperava que ela sentisse o mesmo que ele sentia por ela, mas isso mudou quando, em uma das caminhadas dos dois, ele percebeu algo no sorriso dela que reconhecia em si mesmo quando estavam juntos. Então, resolveu esperar.

Foi paciente enquanto a cura dela se completava, foi paciente enquanto esperava que o sentimento que plantara pudesse florescer dentro da moça. O que em meio a tantas visitas, passeios, conversas e canções, finalmente aconteceu.

Assim que Kobato conseguiu coletar os corações suficientes para encher sua garrafinha, seu desejo foi que pudesse continuar ao lado daquele que amava. Mas o nome ali incluído não era mais o de Kiyokazu Fujimoto.

Era...


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de ter me aprofundado mais nos pensamentos e personalidades dos personagens, mas em um capítulo só não pude fazer isso, ou ficaria enrolado demais. Então, deixarei para fazer isso futuramente.



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