– Emaaaa! Emaaaaa! – Aurora gritava feito louca meu nome no andar debaixo, e não era para menos. Com esses chamados desesperadores da minha amiga, me sentei na beirada da cama ainda sonolenta, abri os olhos devagar e olhei para o relógio que ficava no criado mudo ao lado da minha cama. 7hs57min. Aí meu Deus, estava atrasada. Joguei minha coberta no chão, levantei correndo, e fui para o banheiro fazer minhas necessidades matinais. Depois de jogar uma água na cara e ficar totalmente despertada, coloquei uma calça jeans preta, uma camisa rosa bebê, uma jaqueta preta e um salto cor de pele.

– Por que não me chamou antes? Estamos atrasadas. – Perguntei para Aurora quando já tinha descido para a cozinha.

– Eu te chamei várias vezes, mas você não acordou. Não me culpe pelo atraso, ninguém mandou você ficar até tarde assistindo filmes de terror ontem. – Ela respondeu enquanto passava um batom vermelho nos lábios.

– Obrigada pela bela amiga que é. – Disse sarcasticamente e ela deu de ombros.

– Falei com a Amélia.

– E o que ela disse? Já sentiram nossa falta? – Perguntei tudo enrolado enquanto mordia um pedaço de maça.

– Não por enquanto. Ela vai dar cobertura pra gente, mas precisamos ir. – Ela respondeu no mesmo tempo que pegou as chaves do carro e foi se rumando para a garagem.

Assenti, peguei minha bolsa e fui atrás dela. Pegamos o carro e fomos. O caminho até o trabalho era um pouco longo. Tivemos que pegar uma das avenidas mais movimentadas de Nova York para chegar ao trabalho, o que dificultou mais o caminho. Sim, eu e Aurora moramos juntas. Isso aconteceu depois que terminamos a faculdade. Conhecemo-nos lá e ficamos muito amigas, tão amigas que ela já me fez pagar o maior mico na frente do cara mais gato que já vi. Depois que terminamos a faculdade, por grande coincidência fomos trabalhar juntas, na mesma empresa de uma revista chamada Larrô, e lá conhecemos Amélia.

Sabe aqueles conselhos que você lê em revistas de como usar seu dinheiro com cuidado e não entrar em dividas? Bom, digamos que é isso que Aurora faz, escreve sobre Economia. Amélia já é melhor em moda, por isso escreve sobre moda. Mas já eu preferi outras coisas. Sabe aquelas capas de pessoas felizes, sorrindo, tomando sorvete no parque, passeando com seus cachorros enquanto sorriam a toa? Então, posso dizer que são programadas e montadas por mim, e quando tenho a idéia mostro para os produtores, se eles aprovam, as monto, fotografo e vu á lá, pronto.

– Será que dá para andar mais rápido ou sair do caminho tartaruga ninja? Estamos com pressa! – Ela gritava com o carro que estava na nossa frente (como se ele fosse ouvir).

– Nossa. Quanta impaciência!

– Aí Ema me desculpa, mas sabe como não tenho paciência, muito menos no trânsito... Não vai falar que é o Isaac de novo? – Ela perguntou logo depois que meu celular fez barulho de mensagem.

– É ele mesmo. – Respondi ainda olhando para a tela do celular.

– E o que ele quer dessa vez? – Aurora perguntou com um sorriso malicioso enquanto tirava os olhos do volante por um segundo.

– Quer saber se podemos nos encontrar esse final de semana.

– Cara, ele nunca se cansa?

– Não seja tão má... Ele só está triste pelo término no namoro com aquela lá, quer tentar esquecê-la.

– Ele está triste pela ex ou só está querendo uma atual? – A morena do meu lado perguntou mais uma vez maliciosamente.

– Para de falar besteira, somos apenas amigos!

– Então fala isso pra ele, porque acho que ele ainda não sabe disso...

– Para de se preocupar com a minha vida amorosa e olha pra frente. Não quero sofrer um acidente. – Avisei para Aurora, já que ela não parava de olhar para mim e dar um de seus melhores sorrisos maliciosos.

(...)

– Por favor, não nos mate. – Aurora falou exageradamente para Amélia enquanto se sentava em sua mesa logo assim que chegamos ao trabalho.

– Alguém sentiu nossa falta? – Perguntei para ela, que estava sentada em sua mesa, que ficava do lado da de Aurora.

– Não... Por sorte não.

– Senhorita Collins, não deveria estar na sua sala? E Aurora, gostaria de vê-la na minha sala, por favor, me acompanhe. – O chefe Rogers disse aparecendo do nada.

– Já estou indo. – Respondi a ele séria, mas em seguida, quando vi Aurora andar dura até a sala dele, passei a mão no pescoço em significado “Você está morta” e ri.

– Se ela sair de lá viva, fala que venho conversar com ela mais tarde. – Disse para Amélia.

– O.k. Eu aviso para ela.

Comecei a andar até minha sala, que ficava no andar debaixo. Peguei o elevador, e quando sai dele, encontrei Lexi, minha secretária, na porta do elevador me esperando.

– Até que enfim. Estava com medo de o Rogers passar na sua sala e não te encontrar, por sorte ele me entregou o papel da nova capa e pediu que lhe entregasse. – Fomos conversando até chegarmos à sala. Quando chegamos, me sentei e ela ficou de pé em frente a minha mesa.

– Mas a capa esse mês é minha?

– Na verdade não. – Ela me respondeu enquanto estendia a mão para eu poder pegar os papéis. Peguei, olhei e exclamei desesperada:

– Esse trabalho é da Mia, por que está comigo?

– Ela disse que não podia fazer a capa este mês, já que tem outros trabalhos pra terminar. – Ela respondeu fazendo careta. É... O que posso dizer odiamos essa Mia. Não é uma das melhores pessoas de se lhe dar, por isso a aturamos.

– Aí que vontade de matá-la. Trabalho para terminar... Sei bem. Essa capa é um dos trabalhos mais difíceis que já recebi, e sei que se eu montar alguma coisa que não gostarem, vou ser despedida, é assim que funciona, e Mia quis livrar sua pele. – Comecei a me desesperar, sim eu estava com medo, mas estava também com raiva daquela morena falsa chamada Mia.

– Eu sei, eu sei... Mas não se desespere, você consegue, pode pedir ajuda para alguém... Quem sabe... BENJAMIM! – Lexi gritou quando o viu passar pela porta.

– Eu ouvi meu nome? – Benjamim ouviu seu nome e parou para ver quem tinha dito.

Lexi vendo ele parado do lado de fora da sala, foi até ele e o puxou para dentro.

– Benjamim você caiu do céu. – Falei indo até ele, enquanto ele se acomodava numa cadeira em frente a minha mesa. Lexi saiu da sala nos deixando a sós... Por motivos... Motivos que ela sabe por que.

– Olá Ema... – Ele me cumprimentou me dando um beijo na bochecha. Então me sentei numa cadeira ao lado dele. – Aconteceu alguma coisa?

– Sim. Já deu uma olhada na proposta para a capa desse mês? – Perguntei enquanto lhe entregava os papéis onde continha as idéias. Ele pegou-os da minha mão, ficou alguns minutos em silêncio lendo e por fim falou indignado:

– Mas o que é isso? Parece que estão mandando a gente colocar a China inteira dentro de um pote de vidro... Tem alguma idéia?

– Claro que não, fiquei desesperada por isso, sem contar que tenho que entregar isso semana que vem. – Disse me levantando na cadeira, e dando a volta para ficar de frente para ele. Sabe, não quero que nos vejam assim, há poucos e poucos centímetros de distância.

– Se quiser posso te ajudar com isso... – Ele afirmou olhando bem no fundo dos meus olhos.

– Claro que quero. Você é um anjo. Obrigado Bem. – Agradeci colocando minha mão, sem querer, em cima da dele, enquanto soltava um sorriso. Sua mão estava quente, não estava suando, isso significava que estava confiante. Ficamos ali por alguns segundos, apenas um olhando para o outro, até que percebi o que estávamos fazendo e quebrei o silêncio:

– O que você tem para me propor?

Ele pegou um papel e uma caneta. Começou a desenhar, e escrever suas idéias. E elas eram ótimas, não posso negar.

– O que achou? – Ele perguntou depois de várias conversas e idéias.

– Perfeito! Posso dizer que vai ficar maravilhosa a capa, mas ainda temos muito trabalho. Precisamos montar tudo, precisamos de uma manchete em especial... – Eu estava falando muito, só que quando me dei conta, Benjamim estava olhando para mim e ria da minha cara e da minha preocupação.

– O que foi? – Perguntei meio sem graça.

– Você fica linda quando está preocupada, e principalmente quando fala muito...

Posso jurar que fiquei mais vermelha que uma rosa. De onde ele tirou isso?

– Mas não precisa ficar desesperada, vou te ajudar com isso. – Benjamim continuou.

O.k. Eu estava sem palavras, não sabia o que dizer. Quando sabia mais ou menos que responder, alguém entra na sala.

– Benjamim. Está aí. Onde estava? Te procurei por toda a parte? – Amélia falou com voz melosa de namorada.

O momento meloso, do qual eu não sabia o que responder passou na hora. Com Amélia entrando na sala e se dirigindo ao Benjamim, quis ficar o mais longe possível dele, e tentar não dizer nada.

– É uma longa história. Podemos conversar mais tarde? Estou atolado de coisas para fazer, e olha que Rogers vai passar na minha sala mais tarde, e se a papelada dele não estiver toda pronta, adeus folga que pedi pra ele. – Benjamim se levantou, foi até a namorada, lhe deu um selinho e já quis ir saindo da sala, mas ela impediu.

– Nossa, acho que ele está entretido demais lá em cima. Chegou um cara importante ai, e pelo jeito a coisa vai demorar.

– Bom, mas eu acho que deveria adiantar meu trabalho, aliás, vou ajudar Ema com uma coisa. – Bem disse apontando para mim. Posso jurar que senti os olhares maléficos de Amélia em mim. O.k. Nós somos amigas, mas quando se trata dele, ela não vê quem é. Maldita boca dele não é?

– Pois é. – Disse dando um mini sorriso sem graça.

– E eu posso saber o que é essa coisa? – Amélia perguntou me encarando.

– Claro que pode, mas depois. Estou sem tempo agora meu amor. – Benjamim respondeu e Amélia fez cara feia, mas não para ele, e sim para mim.

– Nossa, se me dão licença eu preciso ir falar com a Aurora. Eu prometi que ia lá em cima ver como ela estava depois de ter ido falar com o Rogers. – Sim, eu percebi que precisa deixar os dois sozinhos. Fui me retirando, mas eles não saíram da minha sala. Olhei para trás antes de os perderem de vistas. Benjamim estava encostado na minha mesa, Amélia na frente dele, ela acariciava seus cabelos, e quando menos esperei os dois se beijaram intensamente.

– Eu vi isso também.

– Aí que susto Lexi! – Soltei tentando não falar tão alto.

A criatura chega por trás sem fazer nenhum barulho, e ainda não quer que eu me assuste.

– Vai confessa que você sentiu uma pitadinha de...

– Para! Não, claro que não. Os dois são namorados, e afinal de contas ele é apenas meu amigo... E para de me olhar com essa cara de malicia. Tenho medo.

– Que graça que você fica fazendo – Lexi disse soltando os ombros. Ela fazia isso quando estava meio frustrada – Eu vejo nos seus olhos o que sente, e não fala que é mentira porque eu sei que não é.

– Olha fica aí arrumando o que fazer enquanto vou lá ver Aurora. – Disse encerrando o assunto. Não dava para teimar com Lexi. Ela era uma pessoa muito insistente.

(...)

– E aí. (A) foi despedida? (B) ele queria conselhos amorosos? (C) ele pediu divorcio para a mulher e vocês “ficaram”? – O que eu podia fazer? Rogers era um chefe muito gato, não tem como negar.

– Nenhuma das três opções. – Aurora respondeu fazendo careta, como se as minhas alternativas fossem muito idiotas. – Que tal, (D) Rogers me deu uma chance para entrevistar o melhor econômico do mundo?

–O.K. Serve também. – Devolvi dando de ombros. Cara, estava feliz por ela, mas eu nunca entendi esse negócio de economia, e nem conhecia essa pessoa.

– Eu ainda não estou acreditando... Esse econômico ele é demais, já li várias entrevistas e livros dele. Bom, um louquinho pessoalmente, mas quando o assunto é o seu trabalho, ele se transforma. Acho que vai ser bem interessante isso, uma chance e tanto. – Ela falava tanto, de tanta ansiedade, que não pude deixar de rir.

Só depois de alguns segundos, ela me percebeu ali de novo.

– O que foi? Ta feliz por quê?

– Bom, eu to rindo de você, mas to muito feliz pela sua chance. – Respondi conseguindo parar de rir.

– Obrigada, parece mesmo, mas tem certeza que não tem nada haver com outra pessoa? – Aurora perguntou sorrindo maliciosamente.

– Acho que você ainda não percebeu não é? A pessoa da qual está falando é compromissada, e além do mais não sei de onde tirou essa ideia de que gosto dele. Benjamim é apenas meu amigo, como disse para Lexi.

– Olha aí – Ela disse apontando – Lexi é inteligente, igual a mim, e não tirei essa ideia de nenhum lugar, só vi o óbvio que estava na minha frente.

– Mudando um pouco de assunto – Falei fazendo careta – Adivinha só, Mia me deu o trabalho dela. A capa do mês. Acho que mais difícil impossível.

– Como assim ela fez isso? – Aurora perguntou fazendo cara de indignada.

– Bem simples, fazendo. Ela disse que tinha outros trabalhos para fazer. – Falei bufando.

– Duvido muito que isso seja verdade. Mas e agora, como você vai fazer isso em menos de uma semana? – Ela perguntou meio preocupada enquanto imprimia alguns papéis para Rogers.

– Ah Benjamim vai me ajudar. – Respondi, e na mesma hora ela já me olhou com um sorriso malicioso.

Bufei e revirei os olhos.

– Acho que tenho muita coisa para fazer lá embaixo. Fica aí arrumando um plano pra gente ficar junto enquanto eu corro atrás do meu futuro. – Disse enquanto me levantava e saia rumo ao elevador.

(...)

He Is We - All About Us ft. Owl City (Link nas notas finais)

Entrei na minha sala, fechei a porta e fiquei um pouco sentada lá tentando ter idéias para a capa. Mas uma pessoa começou invadir meus pensamentos, e quando vi estava sorrindo abobalhadamente. Benjamim mexia comigo, mas como ia fazer? Ele está junto com a minha amiga, e além do mais nem sei se ele sente alguma coisa por mim.

Alguém bateu na porta. Disse que podia entrar.

– Oi... Eu me esqueci de dizer. Começamos hoje à noite nossa capa. – Benjamim disse entrando. Ele parecia tenso, mas sorria.

– Ahh... É... Tudo bem. – Devolvi sorrindo e colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha. Quando olhei para ele de novo, Bem estava mais perto, digamos que ouvia sua respiração.

– Na minha casa.

– Mas e Amélia? – Perguntei olhando bem nos seus olhos azuis que sempre me hipnotizava.

– Não precisa se preocupar vou falar com ela. – Ele sorriu como se tentasse me tranqüilizar.

Assenti. Ele ia saindo, mas antes de me deixar sozinha, voltou até mim e me deu um beijo na bochecha.

– Até mais Ema.