Tarde Chuvosa escrita por Franiquito


Capítulo 1
Tarde chuvosa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57772/chapter/1

- E se a gente brincasse de escondê?

- Não dá, não tem onde se encondê.

Silêncio. Todos pensavam.

- E casinha?

- Casinha é coisa de menina!

- Mesmo assim, não tem bonecas. Tá tudo guardado, e vai dá maior bagunça se a gente for tirar, e a minha mãe não gosta de bagunça, nem eu gosto de arrumar.

- A gente ajuda.

- Mentira! Vai todo mundo embora e eu tenho que arrumar tudo sozinha!

- Mas papai e mamãe dá, não precisa de boneca. Faz os outros de filhos.

- É.

- Quem é o pai?

- Eu!

- EU!

- Eeeeeuuu!

- Não, tu não. Tu não tem cara de pai. Tem cara de filho.

- Tem cara de crente, aqueles que vão domingo em casa.

- Cala a boca!

- Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!

- Pára com isso! A gente resolve isso depois. Quem vai ser a mãe?

- Eu vou ser a mãe.

- Não vai não, vai ser eu!

- Vai ser eu sim, porque eu tenho mais bonecas.

- Mas não vai ser de bonecas, vai ser de gente! Nada a ver...

- Esquece tudo isso. Não dá.

Todos voltaram a pensar.

- Vamos brincar de novelinha! A gente inventa um história e vai...

- Não, é o mesmo que papai e mamãe, só que sem o papai e a mamãe.

- Eu queria brincar de pegar.

- A gente não pode brincar na rua! É só aqui dentro.

- Do que a gente vai conseguir brincar aqui dentro?

- Por que a gente não pode jogar videogame?

- Porque eu tô de castigo.

- E no computador?

- Tô de castigo!

- Nem os brinquedos?

- Tá tudo guardado, a minha mãe não quer bagunça.

- Vamos fazer o quê?

- Pensar.

- Não consigo pensar em nada.

- Claro que não, seu burro! Nem tentou!

- Eu não sou burro!

- É sim, hmmm! - mostrou a língua.

- Pára, poxa! A minha mãe vai mandar todo mundo embora se continuar assim!

- Azar, nem gosto de ti mesmo! Não tem nada pra fazer.

- Olha que eu te dou um tabefe!

- Não dá não, tu é baita covarde.

TAP!

- Viu só? Quem mandou? Eu disse, eu disse.

- Acho que tô ouvindo passos...

- Nem doeu. Tapa de menina não dói.

- Ahh, fracote!

- Cala a boca!

- Vem calar!

- Eu vou mesmo!

- Tua mãe tá subinda a escada!

Todos ficaram em silêncio. A dona da casa abriu a porta para dar uma checada nas crianças, que estavam, naquele momento, sentadas no chão e quietas. Ela fechou a porta com cara de poucos amigos.

- Na próxima, vocês vão!

- Pior que a tua mãe é braba!

- Pior.

- Pára de repetir! Parece um papagaio.

- Pára de repetir, parece um papagaio. - imitou, com a voz aguda.

- Vou chamar minha mãe!

- Cala a boca!

- Cala a boca!

- Sério, vocês vão embora!

- Você é um idiota.

- Você é uma idiota!

- Ah, parem vocês dois! Que criancisse...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu simplesmente adoro escrever sobre crianças. É tão divertido. E nostálgico ._.