Tarde Chuvosa escrita por Franiquito
- E se a gente brincasse de escondê?
- Não dá, não tem onde se encondê.
Silêncio. Todos pensavam.
- E casinha?
- Casinha é coisa de menina!
- Mesmo assim, não tem bonecas. Tá tudo guardado, e vai dá maior bagunça se a gente for tirar, e a minha mãe não gosta de bagunça, nem eu gosto de arrumar.
- A gente ajuda.
- Mentira! Vai todo mundo embora e eu tenho que arrumar tudo sozinha!
- Mas papai e mamãe dá, não precisa de boneca. Faz os outros de filhos.
- É.
- Quem é o pai?
- Eu!
- EU!
- Eeeeeuuu!
- Não, tu não. Tu não tem cara de pai. Tem cara de filho.
- Tem cara de crente, aqueles que vão domingo em casa.
- Cala a boca!
- Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!
- Pára com isso! A gente resolve isso depois. Quem vai ser a mãe?
- Eu vou ser a mãe.
- Não vai não, vai ser eu!
- Vai ser eu sim, porque eu tenho mais bonecas.
- Mas não vai ser de bonecas, vai ser de gente! Nada a ver...
- Esquece tudo isso. Não dá.
Todos voltaram a pensar.
- Vamos brincar de novelinha! A gente inventa um história e vai...
- Não, é o mesmo que papai e mamãe, só que sem o papai e a mamãe.
- Eu queria brincar de pegar.
- A gente não pode brincar na rua! É só aqui dentro.
- Do que a gente vai conseguir brincar aqui dentro?
- Por que a gente não pode jogar videogame?
- Porque eu tô de castigo.
- E no computador?
- Tô de castigo!
- Nem os brinquedos?
- Tá tudo guardado, a minha mãe não quer bagunça.
- Vamos fazer o quê?
- Pensar.
- Não consigo pensar em nada.
- Claro que não, seu burro! Nem tentou!
- Eu não sou burro!
- É sim, hmmm! - mostrou a língua.
- Pára, poxa! A minha mãe vai mandar todo mundo embora se continuar assim!
- Azar, nem gosto de ti mesmo! Não tem nada pra fazer.
- Olha que eu te dou um tabefe!
- Não dá não, tu é baita covarde.
TAP!
- Viu só? Quem mandou? Eu disse, eu disse.
- Acho que tô ouvindo passos...
- Nem doeu. Tapa de menina não dói.
- Ahh, fracote!
- Cala a boca!
- Vem calar!
- Eu vou mesmo!
- Tua mãe tá subinda a escada!
Todos ficaram em silêncio. A dona da casa abriu a porta para dar uma checada nas crianças, que estavam, naquele momento, sentadas no chão e quietas. Ela fechou a porta com cara de poucos amigos.
- Na próxima, vocês vão!
- Pior que a tua mãe é braba!
- Pior.
- Pára de repetir! Parece um papagaio.
- Pára de repetir, parece um papagaio. - imitou, com a voz aguda.
- Vou chamar minha mãe!
- Cala a boca!
- Cala a boca!
- Sério, vocês vão embora!
- Você é um idiota.
- Você é uma idiota!
- Ah, parem vocês dois! Que criancisse...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Eu simplesmente adoro escrever sobre crianças. É tão divertido. E nostálgico ._.