Os Gêmeos escrita por Nana Roal


Capítulo 1
Os Gêmeos


Notas iniciais do capítulo

Olá galera... Finalmente cheguei com minha história do amigo secreto (é, eu sou a última).

Esta história é dedicada a Yui Hikari (a minha amiga secreta).

Agradeço a todos os participantes do primeiro amigo secreto do NS Fantasy (narusasu.com.br)... Amy, Lovele, Millyin, Renard, Rhaai e Yui. Valeu pessoas, foi muito divertido mesmo! E rendeu ótimas histórias! *.*

Uma nota especial pra doida que leu e se entendiou antes de todos (precisava saber se ninguém ia dormir lendo isso). Valeu FP And!

É isso... Vamos ao enredo! ;)



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Sasuke achava estranho admitir, mas ele lembrava com exatidão do dia em que os conheceu, mesmo após quase vinte anos do ocorrido. Ele lembrava que Itachi, seu irmão – com quem ele passava todas as tardes da semana – tinha que realizar um trabalho de escola e o convenceu a ir até a casa do colega que faria o trabalho com ele.

Lembrava de ter ficado empolgado com a perspectiva de conhecer os gêmeos – irmãos do dito colega –, afinal ele só tinha visto gêmeos na televisão! Também se lembrava do sentimento de incerteza... Será que ele conseguiria diferenciá-los? Eles iriam ficar com raiva se ele errasse?

Era realmente muito estranho admitir.

Mas as memórias daquele dia ainda estavam frescas em sua mente. O sobrado pintado com cores vibrantes, a expressão ranzinza do adolescente ruivo que atendeu a porta e, principalmente, os gêmeos. Loiros, olhos azuis, três marcas em cada lado da bochecha e roupas idênticas, mas fora isso... Diferentes. Sasuke sentiu-se estranhamente decepcionado, havia algo muito claro pra ele: não houve desafio algum na hora de diferenciá-los.

Kurama – o adolescente ruivo e colega de seu irmão –, os apresentou e não caiu na pegadinha do “você trocou nossos nomes”, aparentemente o ruivo também conseguia diferenciá-los muito bem. Realmente havia sido algo decepcionante. Naruto foi o primeiro a ser apresentado e algo nele deixou Sasuke particularmente incomodado; em seguida foi Menma e, quase imediatamente, ambos sentiram uma grande afinidade.

Aquela tarde havia sido realmente marcante, Sasuke tinha se divertido como nunca antes, afinal Menma era a melhor companhia possível. Enquanto isso, Naruto passou seu tempo ajudando Itachi e Kurama a montar a maquete para o trabalho; os adolescentes não se incomodaram, já que ele, mesmo com apenas oito anos, pareceu realmente ser de grande ajuda.

O tempo passou rápido, a amizade de Sasuke e Menma continuou firme e logo os garotos tornaram-se inseparáveis, mas claramente não havia espaço para Naruto naquela relação amistosa. O outro gêmeo quase nunca participava das brincadeiras deles e chegou uma época que Kushina, mãe deles, praticamente o obrigava a participar.

Isso parou de acontecer quando a casa ao lado da deles foi ocupada por uma nova família. O casal tinha três filhos e o mais novo deles, Gaara, tornou-se muito amigo de Naruto. Desde então, a distância entre Sasuke e Naruto ficou ainda maior.

Aos onze anos de idade Menma ganhou uma festa de aniversário e Sasuke obviamente foi convidado, mas acabou se esquecendo de um grande detalhe: a festa também era de Naruto e o jovem Uchiha não havia trazido um presente para ele. O garoto não pareceu chateado ou ofendido, apenas agradeceu a presença e se afastou com Gaara, que não havia cometido o mesmo erro de Sasuke.

Mesmo assim, no dia seguinte, Sasuke fez questão de voltar a casa dele, levando um presente: uma carteira em formato de sapo. Laranja, chamativa e totalmente de acordo com os estranhos gostos do mais velho dos gêmeos. Naquele onze de outubro, Sasuke novamente sentiu algo incomodo ao ver Naruto e ele relacionou isso ao sorriso aberto e puro que este lhe lançou ao receber o presente. O mesmo sorriso que lhe dedicou quando se conheceram.

Aos quatorze anos, Sasuke e Menma começaram a se preparar para conseguir uma vaga no Colégio Municipal de Konoha, um dos mais renomados da cidade e onde os irmãos mais velhos de ambos estudaram. Por outro lado, Naruto decidiu entrar para o Colégio Preparatório do Corpo de Bombeiros, objetivando seguir a mesma carreira de Minato, seu pai.

Para muitos, incluindo Menma, parecia um desejo inalcançável, afinal o teste de admissão para o Colégio Preparatório era conhecido por seu nível alto de dificuldade, além disso, ele teria que estudar três anos a mais do que pessoas que faziam curso em escola regular e Naruto nunca foi o melhor ou mais frequente dos alunos. No entanto, Sasuke estranhamente nunca duvidou de que ele conseguiria. Ele viu Naruto visitando várias vezes sua casa para estudar com Itachi, o viu afundado em livros em suas visitas diárias a casa dos Uzumaki e chegou a escutar uma sessão de estudos dele com Kurama e Gaara, que também quis seguir o caminho do amigo.

E então, no dia em que Naruto recebeu o resultado, algo realmente inesperado aconteceu. Sasuke estava no centro da cidade, havia ido buscar uma encomenda para sua mãe, e nem percebeu que o local ficava próximo da sede administrativa do Colégio do Corpo de Bombeiros. Ele andava distraído checando as numerações dos prédios, quando foi surpreendido por um abraço esmagador seguido de uma voz rouca e conhecida:

— Mas o qu...?

— EU CONSEGUI! ­— O tom saiu tão emocionado que Sasuke quase pôde tocar a alegria que o outro emanava. — Eu passei, Sasuke! Eu passei! —os braços o cercaram com mais força e o Uchiha sufocou uma exclamação assustada ao ser levantado do chão.

— Certo, Naruto — falou tentando parecer bravo. — Agora me coloca no chão, cara — demandou em voz neutra.

Os braços calorosos se afastaram e o garoto parou diante dele, a expressão que Sasuke imaginava estar radiante, parecia manchada pelo constrangimento e os olhos azuis não se fixavam nos seus.

— Foi mal por ter é... É que eu te vi passando e tava tão... Sabe... — riu sem-graça e coçou a nuca, desta forma Sasuke percebeu que ele segurava uma pasta na mão.

— Sem problemas, todos sabem que você exagera na empolgação quando está feliz — falou de maneira relaxada. — Enfim, mesmo que não seja uma grande novidade, parabéns por ter sido aprovado.

Naruto ficou estático e seu olhar transmitiu toda sua irritação, Sasuke quase riu disso. Naruto e Menma eram realmente tão diferentes, a transparência do mais velho era algo totalmente único.

— O que você quis dizer com “não é uma grande novidade”? Seu, teme — bufou extremamente irritado, mas isso não abalou o Uchiha.

— Eu já sabia que você ia conseguir, Naruto — Sasuke deu de ombros e virou-se para seguir seu caminho. — E não me chame de teme, dobe — acenou com uma das mãos e seguiu pelas ruas do centro, deixando um surpreso Naruto para trás.

A notícia da admissão foi muito bem recebida pela família de Naruto, talvez o único que não tenha ficado tão bem com a situação tenha sido Menma, que narrou a tarde alegre do irmão em tom áspero. O Uchiha não entendeu o que causou a irritação do amigo, mas esta passou quando ele também chegou contando sobre sua admissão no Colégio Municipal.

Naruto – que passaria a estudar em regime de internato – viajou para o interior logo após as festividades da virada do ano. Sasuke sentiu algo estranho ao descobrir que ele havia se despedido até de Itachi, mas nem ao menos se esforçou para dizer-lhe um “tchau”. Isso não deveria importar, correto? Uzumaki Naruto era apenas o irmão de seu melhor amigo e todo seu convívio se resumia a lembrancinhas de aniversário e um abraço para comemorar uma conquista.

Nada mais.

Então por que ainda incomodava Sasuke? Por que, de tempos em tempos, a sensação do abraço, misturada ao som da risada alegre e rouca, invadia seus pensamentos? Por que, mesmo com a convivência ainda mais reduzida, Sasuke conseguia reparar cada vez mais nas diferenças entre Menma e Naruto? E o que era aquela sensação errada? Aqueles olhares fixos em outras pessoas que tinham gestos e manias semelhantes? Por que o gênero passou a não importar?

Aos dezessete anos, após ver Naruto apenas mais duas vezes – em suas visitas de Natal –, Sasuke encontrou-se aos beijos com um loiro de voz alta, olhos castanhos e rosto fino, em uma festa de um colega da escola. Não se lembrava de seu nome, idade e nem exatamente como acabaram daquele jeito. Tudo que se lembrava era de um esbarrão e uma conversa curta, recheada de gargalhadas por parte do loiro. Ninguém soube daquilo, mas o Uchiha percebeu que gostaria de repetir aquela “aventura” mais algumas vezes. Talvez fosse apenas curiosidade adolescente, afinal ele ainda se sentia atraído por garotas.

Aos dezoito ele aceitou sua bissexualidade e estava se preparando para contar isso àqueles que lhe eram importantes. Claro que ele analisou cuidadosamente a situação e resolveu começar por aquele que parecia mais fácil: Itachi. Seu irmão mais velho sempre se mostrou dono de uma mentalidade aberta e tendia a analisar racionalmente qualquer situação, Sasuke precisava de um apoio assim e não errou em sua decisão.

Ao conversar com Itachi não hesitou em revelar certos receios, principalmente relacionados a seu melhor amigo. Menma muitas vezes fazia comentários sarcásticos quando encontrava “bichas” – termo sempre usado em tom debochado –, ele chegou a se envolver em uma briga séria em uma das festas na casa de um colega de escola, por ficar fazendo piadinhas preconceituosas com um jovem chamado Deidara, por sorte Sasuke e Sasori, namorado do rapaz, interferiram e evitaram maiores problemas.

Seu irmão o aconselhou a ter paciência e contar apenas quando se sentisse preparado, disse que Menma era seu melhor amigo e talvez sua revelação pudesse ajudá-lo a diminuir o preconceito que o outro demonstrava. De acordo com ele, Menma só precisava compreender que a pessoa não se define por sua sexualidade. E certas circunstâncias levaram Sasuke a acreditar que o gênio, Uchiha Itachi, havia errado em sua suposição pela primeira vez.

Pouco depois de conversar com seu irmão e até com seus pais – obviamente houve muitos momentos tensos e constrangedores depois da conversa, mas ele se considerava sortudo por não ter sido xingado ou expulso de casa –, havia chegado a hora de conversar com seu melhor amigo. Porém esse dia não chegou tão cedo, já que em uma tarde de sábado, pouco tempo antes do vestibular, Menma – após entrar bruscamente em seu quarto –, lhe revelou (em tom repleto de acusação e ira) a notícia bombástica do século:

— Você não vai acreditar na merda que tenho pra contar — Menma soltou em tom agressivo e passou as mãos furiosamente nos cabelos loiros, como se tivesse vontade de arrancá-los. Os olhos azuis reluziam sob uma espessa camada de sentimentos negativos.

Sasuke, ainda jogado calmamente sobre a própria cama, com um livro de revisão em mãos, encarava friamente o amigo. Ele conhecia muito bem aquela atitude, mesmo que nunca tivesse acontecido de maneira tão intensa. Menma, naquele dia, parecia completamente alterado.

— O que você tem pra contar, Menma?

— Aquele nojento... Desgraçado! O que ele pensa que ‘tá fazendo? — começou a andar de um lado pra outro, parecendo um tigre enjaulado. — Por que tudo pra ele é sempre tão fácil? Tudo dele é aceitável!

— Menma você vai falar o que aconteceu ou vai continuar bufando como um animal? — Sasuke sentou-se, encostando as costas na cabeceira, e cruzou os braços.

— Meu irmão resolveu espalhar pro mundo que é uma maldita bicha! — praticamente berrou. — Aquele bastardo! Veio passar o final de semana em casa só pra contar aos nossos pais que ‘tá de rolo com um cara por ai! Como vou sair na rua agora? E se meus amigos virem isso?

Sasuke ficou alguns segundos tentando processar a nova informação, mas depois sua defesa se ergueu e ele adotou uma postura rígida. Se Menma estava assim ao saber da homossexualidade do próprio irmão, o que faria ao descobrir sobre si?

— Naruto é homossexual e está namorando — disse sério e os olhos azuis furiosos brilharam em sua direção. — E você ‘tá se sentindo tão revoltado por...?

— E NÃO É PRA EU ESTAR REVOLTADO? O que você faria se Itachi chegasse aqui contanto pros teus velhos sobre como está feliz em chupar uma rola? E o pior: os velhos ficaram felizes por ele! Porra!

— Duvido que Naruto tenha dito algo do tipo, mas se estivesse em seu lugar, não ficaria berrando coisas sem fundamento por ai — respondeu sem se alterar e Menma estreitou os olhos. — E obviamente seus pais ficaram felizes pela felicidade dele.

— Você ‘tá defendendo ele? Por que todos o defendem? Ninguém entende que isso é anormal?

— Já te disse várias vezes, Menma: anormal é sua atitude diante dessas situações. O que há de errado em ser gay ou até bi? Por que isso te incomoda tanto? Você deveria apoiar seu irmão e não sair por ai cagando pela boca!

— Por que ‘tá defendendo aquele desgraçado? ‘Tá o que? Querendo dar pra ele? — vociferou e agarrou a gola de Sasuke. — Vou acabar com você! — sibilou e o puxou para si, fazendo com que Sasuke praticamente saísse da cama.

— Me solta, Menma! — ordenou em tom seco. Empurrou a mão do amigo e ficou em pé, diante dele.

— Não antes de colocar um pouco de noção na sua cabeça, seu puto!

Menma tentou acertá-lo com um soco, porém Sasuke foi mais rápido e, após desviar, golpeou o rosto do amigo. A força de seu murro foi tanta, que Menma caiu no chão causando um estrondo e não conseguiu se defender dos seguintes golpes desferidos por Sasuke.

O Uchiha parecia completamente fora de si e o ódio de Menma transformou-se em puro pavor, ao perceber que Sasuke não pararia de socá-lo. Ele tentava segurá-lo e até acertá-lo, mas tudo parecia deixá-lo ainda mais descontrolado. Quando estava quase desistindo de se debater, a porta do quarto abriu-se bruscamente e duas figuras surgiram por ela. Uma delas segurou firmemente Sasuke, afastando-o de Menma.

— Para, Sasuke! — Naruto ordenou em tom alto e autoritário, imobilizando o Uchiha e o prendendo contra seu próprio corpo; Sasuke automaticamente se retesou, e isso deu tempo para um Itachi levemente atordoado verificar o estrago feito no rosto do Uzumaki.

Menma estava com o olhar vidrado nos rapazes no outro extremo do quarto, Sasuke ofegava ruidosamente e seu olhar irado ainda estava fixo nele, enquanto Naruto tentava trazê-lo de volta a si. Quando o Uzumaki percebeu que este estava calmo, o soltou mantendo-se próximo o suficiente para impedir um possível ataque.

— O que aconteceu aqui? — Itachi indagou, ajudando Menma a levantar.

— Esse desgraçado entrou no meu quarto, só pra descontar sua frustração em mim... — Sasuke respondeu em tom seco. — Você é um maldito, Menma! Se vier me agredir outra vez, pode apostar que te mato!

— Me matar? — Menma murmurou debochado, seu tom saiu estranho por causa do inchaço nos lábios. — Dá próxima vez, Sasuke, eu não vou deixar você me bater.

— Vai me bater por quê? Só por que seu irmão tem sempre mais atenção que você, mesmo sendo “anormal”? — rebateu e deu um sorriso debochado.

— Seu filho da puta! — Menma tentou avançar, mas foi impedido por Itachi.

— Que merda vocês estão fazendo-ttebayo? — Naruto se intrometeu em tom furioso, tratando de segurar Sasuke pelo antebraço. — Vocês são amigos desde pirralhos! Por que toda essa briga agora?

— Ele ‘tava te defendendo — Menma falou com rancor. — Mesmo estando errado, todos se0mpre vão te defender!

— Me defendendo? — Naruto fitou o perfil de Sasuke. — Mas do que vocês estão falando? Me defendendo por quê?

— Eu não estava defendendo ninguém, só tentei colocar alguma coisa útil na cabeça desse lesado.

—Coisa útil, porra nenhuma! Você que resolveu ficar do lado desse viado — Menma grunhiu, mas não parecia mais tão convicto de suas palavras. Sasuke sabia que seu amigo não tinha realmente todo aquele ódio, pois, apesar das piadas cretinas, nunca teve um acesso de fúria ao ver ou conviver com algum homossexual...

— O seu problema não é com os “viados” — Sasuke fez aspas com os dedos. — O que há de errado em Naruto ser o que é? No que isso te afeta, Menma? Sua imagem? Há muito as pessoas deixaram de confundi-los. Você tem nojo? Acho que não, já que conseguiu ter uma convivência civilizada com Deidara. Então o que te irrita tanto?

— Eu... Esquece! — Menma empurrou Itachi, que ainda o segurava, e saiu do quarto batendo a porta.

Um alto suspiro soou e os irmãos Uchiha desviaram a atenção para Naruto, este tinha um olhar apagado em direção a porta.

— A culpa é minha — o Uzumaki admitiu baixo. — Ambos chegamos com uma novidade hoje, eu disse que estava namorando e ele que decidiu não prestar vestibular e sair em uma viagem ao redor do mundo. Minha mãe não aceitou muito bem a ideia e ambos brigaram. Ela o comparou comigo e, enfim, acabamos aqui.

— Ele veio aqui te chamando de bicha, só porque a senhora Kushina não aceitou a tal viagem? — Sasuke indagou irritado. — E a culpa disso é sua?

— Ele deve achar que é. Minha mãe ficou realmente feliz ao saber sobre meu namoro — deu um pequeno sorriso sem humor. — Só não sei por que toda essa comoção sobre minha homossexualidade agora, já que ele sabe disso desde que tínhamos quatorze anos. Ele foi o primeiro a saber e só contei aos meus pais há pouco mais de um ano — revelou com seriedade. Sasuke perguntou-se como ele poderia estar tão confiante ao comentar abertamente algo do tipo com alguém que mal falava, mas não foi isso que chamou mais sua atenção.

— Ele guardou isso por tanto tempo? — Sasuke murmurou ainda chocado. — Nunca pensei que ele fosse capaz disso.

— Menma e eu temos os típicos problemas de irmãos, Sasuke, mas nós nos amamos acima de qualquer coisa e sempre seremos capazes de guardar segredos se for necessário — Naruto deu um pequeno sorriso amistoso e Sasuke sentiu algo estranho em seu peito, mas ignorou. — Eu, na época, não estava preparado pra contar para todo mundo e ele compreendeu.

— Menma consegue ser um mistério — Itachi balançou a cabeça em negativa. — Você precisa colocar gelo nessa mão, otouto, bater em alguém pode doer tanto quanto apanhar — pegou o irmão pelo braço e o guiou até a cozinha.

Naruto os acompanhou e analisou criteriosamente a mão de Sasuke, buscando qualquer fratura, e quando Itachi saiu para buscar algumas faixas para fazer um curativo, o Uzumaki viu a oportunidade para falar.

— Eu não sei o que te deixou tão irritado, mas acho que não podem deixar a amizade de vocês se perder por causa de uma besteira — Naruto falou sério e olhando diretamente nos olhos de Sasuke.

— Por que você estava aqui? — Sasuke desviou o assunto. — Veio atrás de Menma?

— Na verdade eu vim contar a novidade a Itachi e conversar, desde que passei a estudar longe isso diminuiu bastante.

—Não sabia que eram tão próximos...

— Depois que ele me ajudou com os estudos ficamos bastante próximos, acho que posso até dizer que somos amigos — Naruto revelou com naturalidade.

— E Itachi já sabia que você...?

— Sim, ele descobriu na época em que me ajudou, mas também guardou segredo.

— E como ele descobriu? —Sasuke arqueou a sobrancelha e uma leve desconfiança nasceu ao ver a expressão sem-graça de Naruto.

— Bom eu...

— Naruto, você sabe fazer primeiros socorros? — Itachi reapareceu com uma pequena caixa em mãos e pareceu não perceber o leve clima desconfortável, que foi quebrado por Sasuke.

— Minha mão não vai cair, aniki!

— Ele só vai precisar de gelo e pomada pra hematoma, Itachi.

— Então por que me mandou buscar faixas? — o mais velho franziu a sobrancelha. — Era algum tipo de piada?

— Na verdade eu queria passar um tempo com Sasuke — Naruto piscou e foi até o rapaz citado, passando um dos braços sobre seus ombros. — Sempre quis dar umas porradas no meu irmão, então acho que virei fã do seu.

— Só não vai começar a flertar com ele, não o quero de coração partido — Itachi cruzou os braços, adotando uma expressão séria.

Naruto gargalhou e logo os dois começaram a conversar coisas banais, Sasuke os observou em silêncio e sua desconfiança aumentou ainda mais. Por que Naruto ficava, aparentemente, tão feliz só por gastar um dos seus poucos dias longe da Preparatória para ficar com seu irmão? A amizade deles era tão forte assim ou...? Nada disso, afinal seu irmão havia recentemente começado a namorar uma mulher chamada Hana e Naruto tinha um namorado... Certo?

A resposta que ele buscava, não veio tão cedo.

Quase três semanas se passaram após a briga entre ele e seu melhor amigo. Sasuke se recusava a procurá-lo, pois para ele já era difícil ceder quando estava errado, portanto, estando certo, ceder estava completamente fora de cogitação. Se ele sentia falta dele? Claro que sentia, pois Menma era extremamente importante para si, mesmo que jamais fosse admitir isso em voz alta.

O Uchiha estava em seu quarto, acomodado em sua escrivaninha e lendo concentrado um dos livros de estudo para o vestibular, que aconteceria dali a pouquíssimos dias. Havia terminado o colégio no ano anterior e optou por dedicar um ano para estudar para o vestibular, já que tentaria vaga no curso de medicina em uma das Universidades mais concorridas do país. Trabalhava no período da manhã e se dedicava aos estudos no resto do dia. A sua concentração era tanta que nem percebeu outra pessoa entrar no quarto e sentar-se em sua cama.

— Você sempre foi o mais estudioso de nós dois — a voz saiu rouca e nostálgica.

Sasuke arregalou minimamente os olhos, virou-se pra trás dando de cara com Menma e seus olhos arregalaram-se ainda mais quando percebeu os cabelos deste tão escuros quanto os seus.

— O que você fez na sua cabeça? — indagou escondendo perfeitamente a indignação.

— Pintei, oras — Menma disse com deboche e passou as mãos pelos fios, agora negros.

— Eu devo perguntar por que ou é melhor poupar meu tempo? — arqueou uma sobrancelha.

Menma apenas soltou uma risada seca, mas logo ficou totalmente sério. Isso mostrou a Sasuke que era o momento para uma conversa séria, então ele girou a cadeira para ficar totalmente de frente para o amigo.

— O que aconteceu? — o Uchiha perguntou com seriedade.

— Você ainda pergunta? Sasuke, há duas semanas brigamos e você quase me desfigurou! — afirmou e Sasuke remexeu-se levemente incomodado. — Eu gritei com você, xinguei e joguei sobre você toda minha raiva, o que você fez pode ser considerado justo — concluiu com um suspiro.

— Justo seria eu ter entendido que você é um idiota e não ter me afetado por suas palavras — Sasuke revelou a contragosto.

— Até o grande Uchiha Sasuke tem seus piores momentos, não? — Menma arqueou uma sobrancelha e isso evidenciou a pequena ferida em processo de cicatrização que havia ali. — E eu, sinceramente, espero não ver outro desses momentos. Você parecia realmente possuído naquela hora.

— Você não ‘tava muito diferente — rebateu automaticamente.

— É, eu não estava — balançou a cabeça em negativa, franzindo os lábios. — Eu vim pra dizer que tudo que eu disse aquele dia, toda aquela merda... Cara... Eu..

— Naruto contou sobre seus planos de viagem e sobre a discussão com Kushina — interrompeu.

— Ah, ele disse — murmurou e passou a fitar um ponto qualquer na parede atrás de Sasuke. — Meus pais ainda não aceitaram minha decisão, Kurama não se importa com o que faço da minha vida e Naruto apenas disse pra eu não me esquecer de passar na cidade dele — soltou uma risada seca e voltou a encarar o amigo. — Como ele consegue ser assim?

— Assim como? — Sasuke arqueou uma sobrancelha.

— Tão perfeitinho — fez uma careta. — Lembro que quando estudávamos juntos, quando tínhamos uns sete ou oito anos, sempre éramos os terrores da escola e as minhas idéias sempre eram as mais perigosas, mas ele nunca deixou de me seguir. Até que chegou nosso último ano naquela escola... Lembra quando Naruto ficou de castigo por ter feito um professor cair na quadra e torcer o punho? Você já era meu amigo na época, a gente tinha uns dez anos.

— Lembro. Ele ficou semanas sem poder sair na rua e ainda não sei por que o professor não processou seus pais — Sasuke admitiu com seriedade. Aquele episódio estava fresco em sua memória, o clima na casa dos Uzumaki estava completamente tenso e Kurama tratava Menma com certa rispidez, enquanto Naruto praticamente não saía do quarto.

— Iruka não fez nada por considerar muito o Naruto.

— Mesmo seu irmão tendo o machucado? — arqueou uma sobrancelha, indignado.

— Não foi o Naruto — revelou em tom baixo, quase envergonhado, e Sasuke arregalou os olhos. — Ele insistiu pra que eu não fizesse a pegadinha, mas eu não escutei e Iruka quase quebrou o braço. Poderia ter acontecido algo muito pior.

—E o Iruka sabia que você foi o autor da pegadinha? Ele conseguia diferenciá-los?

— Não apenas isso, ele ainda tratava Naruto como um irmão mais novo ou até um filho — Menma soltou uma risada. — Enquanto eu era apenas outro aluno, carinho igual, tratamento igual...

— Você tinha raiva dele por causa disso e o machucou? Foi isso?

— Foi e Naruto assumiu toda a culpa, sem hesitar. Iruka insistiu que tinha sido eu, mas Naruto o confrontou e disse ao diretor do colégio que era tudo culpa dele... Eu não neguei — soltou um suspiro e passou as mãos pelos cabelos. — Meus pais desconfiaram da verdade, mas diante de toda a convicção dele, acabaram acreditando em sua mentira. O único que não aceitou a mentira foi Kurama, que fazia questão de me acusar sempre que possível; acho que ele sempre curtiu essas paradas de pressão psicológica.

— Na época ele parecia particularmente irritado com o mundo, mas nunca pensei que fosse por causa disso — comentou cruzando os braços e se recostando na cadeira, de forma confortável.

—Pois é — resmungou. — E você não tem noção do quanto minha convivência com ele piorou, quando Naruto pediu pra sair da escola antes mesmo do castigo acabar e faltando ainda três meses para o final do ano letivo.

— Você tinha dito que ele foi expulso por machucar o professor.

— Os alunos começaram a destratá-lo por ter machucado Iruka, mas este continuava a tratá-lo bem, no entanto, Naruto pediu pra sair, pois as acusações começaram a me afetar também. Aquela pegadinha foi a primeira em que não assumimos a culpa juntos e a ultima que fizemos, depois disso a distância entre nós começou a crescer. Naruto foi estudar na escola de Gaara e eu mudei para a mesma que a sua; minhas notas eram muito boas, as dele de dar pena; eu passei a evitar pegadinhas, ele foi advertido por pichar os muros da escola, até que a diretora dele o mandou pintar os muros como castigo e o idiota foi parabenizado por grafitar uma enorme raposa de nove caudas e um grupo de sapos gigantes, que usavam espadas e outras armas.

— Lembro disso, nossa escola seguiu a idéia e mandou os alunos grafitarem os muros também.

— E você ficou popular por grafitar aquela serpente roxa gigante e aqueles olhos sinistros — Menma deu uma leve risada, mas logo continuou. — Mas mesmo ficando conhecido como um aluno problema, mesmo sendo irritantemente desatento, ele ainda se destacava e eu sempre parecia estar a sua sombra. Eu sentia que ele tinha os melhores sorrisos, os melhores tratamentos e estava se distanciando mais e mais de mim.

— Depois que passamos a estudar juntos, ficamos muito próximos, Menma... Talvez tenha sido isso... —Sasuke refletiu.

— Talvez, mas isso não diminuiu o impacto da situação. Éramos unidade e bruscamente fui confrontado pelas gritantes diferenças que havia entre nós. Até que ele chegou contando, com voz receosa e olhar choroso, que achava estar gostando de um garoto; eu nunca soube quem era o tal garoto de quem ele gostava na época, a simples pergunta o assustou tanto que eu apenas disse que existiam várias pessoas como ele e que isso não era ruim, então guardamos esse segredo. Era uma coisa nossa, sem nossos pais, sem amigos, sem Kurama... Apenas nosso segredo! Ridículo, não?

— Eu não sei, Menma... Nunca tive um irmão gêmeo — Sasuke disse buscando usar um tom descontraído e isso arrancou uma risada do outro.

— Então, após visitarmos nosso pai no trabalho, ele decidiu seguir aquele caminho: salvar vidas. Naruto, superando todas as expectativas, conseguiu a vaga no Colégio de Bombeiros e o senhor Minato quase brilhava de tanta alegria, já que um dos filhos queria seguir seus passos. Eu sei que ele não fez de propósito, mas a diferença ficou clara quando, pouco tempo depois, levei a notícia de que tinha conseguido uma vaga no Colégio Konoha.

— Menma eu estava lá quando você deu a notícia...

— Mas não estava quando Naruto fez o mesmo, mas não importa, eu me lembro do dia que ele disse que queria fazer a prova de admissão, não houve objeção direta e nem nada, eles apenas indagaram se ele tinha certeza e disseram que era muito difícil de passar. Então quando eu disse que queria fazer a viagem ao redor do mundo, ela simplesmente disse que eu não iria e ponto! Afinal, se Kurama e Naruto se dedicaram a carreira profissional, o mínino que deveria fazer era o mesmo — riu com rancor. — Meu pai falou pra eu pensar direito, mas daquele jeito que mostra que sua verdadeira vontade é gritar um sonoro “não”.

— Vamos ser sinceros, cara, qual pai sonha em escutar que o filho quer ser um mochileiro? Meus pais também reagiriam assim e o Fugaku não se conteria em dizer o “não”.

— Pais também não sonham em ter um filho gay e nem um filho que larga a faculdade na metade do curso e resolve ser tatuador. E Minato e Kushina não pareceram tão malditamente chocados e irritados, quando escutaram ambas as notícias.

— Você nem estava lá quando Kurama contou a seus pais que seria tatuador, aposto minha vida que houve discussão sim. Você acha mesmo que a Dra. Kushina, advogada renomada, aceitaria facilmente que seu filho largasse a faculdade de direito pra ser tatuador? Claro que não! Mas todos sabem o quanto Kurama é perito em ignorar a opinião alheia — Sasuke falou e girou os olhos. —E sobre ser gay, sei que os pais não sonham com isso, mas é completamente diferente de decidir por uma profissão ou algo assim. Ser gay não é uma questão de escolha.

Menma ficou em silêncio por um tempo, parecendo refletir sobre algo, mas logo balançou a cabeça em assentimento, mostrando concordar com as palavras de Sasuke.

— Eu passei um tempo pensando sobre tudo isso e aceitei que o erro foi meu, talvez a raiva tenha surgido por ciúme ou por eu finalmente ter que aceitar que Naruto e eu jamais seremos iguais novamente. Eu só consegui enxergar isso quando ele decidiu deixar de guardar segredo sobre sua homossexualidade... Nosso último segredo foi dispensado— admitiu.

— Vocês nunca foram iguais — Sasuke esclareceu com firmeza. — E só demoraram pra perceber e aceitar isso, talvez você tenha demorado mais do que ele ainda.

— Odeio quando você está certo, Uchiha — Menma resmungou. Então soltou um alto suspiro e massageou a nuca, antes de começar a dizer: — Eu só contei tudo isso pra tentar esclarecer toda a merda que fiz naquele dia. Sei que não é suficiente, mas queria... Er.. Que merda...

— Desculpas aceitas, Menma — Sasuke deu um sorriso lateral. — E eu sabia que você não era aquele escroto preconceituoso que mostrou ser naquele dia.

— Não tinha como ser, afinal... — parou abruptamente e arregalou os olhos.

—Afinal? — Sasuke franziu o cenho ao perceber o desconforto dele. — Afinal o que, Menma?

— Bom, eu tenho um irmão gay e tal — soou muito convincente, mas Sasuke o conhecia extremamente bem para acreditar naquela mentira. O que Menma estava escondendo?

— Não era isso que você ia dizer — afirmou e inclinou o tronco pra frente, estreitando os olhos.

Menma mordeu o lábio inferior e depois passou a mão no rosto, soltando um suspiro. Sasuke começava a ficar irritado, até que a voz baixa dele o paralisou:

— Eu sei sobre você — revelou e fitou o amigo, seus olhos não refletiam nenhum sentimento e seu tom era baixo e constante. Sasuke arregalou os olhos.

— C-como? — balbuciou com voz falha.

— Há uns meses eu te vi com aquele esquisito com dentes de tubarão — contou ainda no mesmo tom. — Ele trabalha com você, não é? Eu os vi saindo da casa dele, bom, acho que era a casa dele.

Sasuke voltou a se recostar na cadeira, ainda com os olhos presos aos do amigo e deixou sua mente ser preenchida pela cena dele e de Suigetsu despedindo-se normalmente, até o Hozuki resolver lhe beijar ali mesmo, bem no portão, sem se importar por ser uma rua movimentada e ainda em plenas dez da manhã de um sábado. Menma tinha visto... Franziu o cenho... Menma tinha visto e não disse nada!

— Por que você não contou que sabia? — Sasuke indagou baixo, tentando controlar a leve irritação que crescia.

—Porque ‘tava esperando você me contar, cara... Essas coisas são assim — Menma deu de ombros. — Mas depois do que aconteceu, achei até que você nem ia querer olhar mais na minha cara.

— Caralho, Menma! — Sasuke se inclinou e acertou um soco fraco no ombro do Uzumaki. — Eu não contei porque você sempre era cheio de piadas e até teve aquela briga com Deidara e Sasori! Mas que porra! Poderia ter me poupado disso, seu desgraçado!

— Você não percebeu que de uns tempos pra cá eu não faço mais piada? Cara! Você é o pior melhor amigo de todos — Menma deu um de seus sorrisos sinistros.

— Idiota — Sasuke rebateu e deu um meio sorriso. — Ao menos não tenho mais que ficar escondendo isso.

—Você nem deveria ter escondido. Sou seu melhor amigo, parceiro e um irmão — Menma piscou e deu uma risadinha zombeteira.

Sasuke apenas girou os olhos, mas não negou a afirmação do amigo, já que ele tinha dito a mais pura verdade.

— Mas diz ai: por que pintou o cabelo? Queria mesmo parecer meu irmão? — deu uma risada de deboche.

— Vai se ferrar, emo maldito — Menma mostrou o dedo do meio. — Eu só decidi mudar um pouco, viver um pouco sem olhar no espelho e ver o Naruto.

— Agora você olha no espelho e vê uma mistura esquisita entre Naruto e eu? — Sasuke fez uma careta de asco.

— Vá à merda, Sasuke! — Menma sibilou e acertou um chute na canela do outro, que apenas soltou um riso sarcástico.

Os dois continuaram ali, conversando por horas e agindo como sempre agiram. Sasuke nem sabia que se sentiria tão aliviado por ter de volta o melhor amigo revoltado.

Logo o vestibular chegou e Sasuke não estava nervoso para realizar a prova, mas sentiu-se ainda mais confiante ao receber o apoio de sua família e também do melhor amigo, que tinha decidido viajar apenas depois de saber o resultado de sua prova.

Quando Janeiro chegou, veio também a tão esperada notícia da aprovação, todos comemoraram com ele e Menma viajou no dia seguinte, mesmo virado e de ressaca por terem passado a noite comemorando a notícia em um barzinho. No mesmo dia que Menma viajou, Sasuke foi surpreendido por uma felicitação que não esperava. O rapaz estava saindo do trabalho quando seu celular tocou e na tela aparecia um número desconhecido.

— Alô? — atendeu em tom distraído.

Eai, Sasuke?

O rapaz parou de caminhar e franziu o cenho, aquele timbre parecia de Menma, mas com certeza não era ele.

— Naruto? Aconteceu alguma coisa? — indagou extremamente sério.

Claro que aconteceu, teme! — Ao escutar o tom alegre e o estranho insulto que Naruto fazia parecer mais como um apelido, Sasuke ficou ainda mais confuso.

— E o que aconteceu, dobe? — devolveu com naturalidade. Deveria ser estranha uma troca de palavras tão descontraída entre duas pessoas que mal se falavam, mas Sasuke admitia que sempre sentia-se confortável na presença dele, mesmo sentindo algo incômodo quando o via sorrir ou quando lembrava do abraço compartilhado há alguns anos.

Como assim o que aconteceu? Fala sério, Sasuke! Você passou no vestibular! Liguei pra te dar parabéns, mesmo sabendo que você nem precisou se esforçar muito!

Sasuke, sem querer, acabou soltando uma risada leve. Naruto era realmente uma pessoa única.

— Valeu, Naruto.

— Por nada, cara — a voz saiu quase risonha. — Espero que você escolha uma área legal pra se aprimorar, quem sabe você se torna paramédico e acabamos trabalhando juntos? Seria divertido!

Ainda não decidi minha especialização, dobe! Nem comecei a estudar ainda — disse entre indignação e diversão.

Mas eu já te dei uma idéia, teme — rebateu. — Bom, era só isso... Gaara está me chamando pra aula, até mais, Sasuke e boa sorte!

Valeu — murmurou e escutou um tchau empolgado, antes da chamada ser encerrada. Salvou o número com o nome do outro, colocou o celular no bolso e adotou uma expressão pensativa. — Paramédico... — murmurou reflexivo e então voltou a caminhar para casa.

Após iniciar o ano letivo, Sasuke passou a dedicar praticamente todo seu tempo aos estudos e, por isso, quase se assustou ao dar-se conta que Menma já estava viajando há seis meses. Ambos mantinham contanto por email, alguns poucos telefonemas e Menma até mandava cartões postais, dizendo que isso era mais divertido que fotos em redes sociais. Sasuke sempre girava os olhos e soltava um sorrisinho ao receber os cartões com piadas infames e até comentários sarcásticos atrás.

Quando estava perto de finalizar o primeiro período do curso chegou em casa tarde, por ter passado um tempo extra na faculdade para finalizar alguns trabalhos e, após tomar banho e colocar uma roupa confortável, jogou-se sobre a cama e pegou o notebook. Pretendia assistir uma série qualquer para relaxar, mas quase gemeu de frustração ao perceber uma notificação no Skype (provavelmente era de algum dos colegas da faculdade, falando sobre alguma dúvida do trabalho).

Verificou a notificação e abriu um mínino sorriso ao perceber que, na verdade, era Menma quem o chamava para uma ligação em grupo com... Naruto? Estranhou um pouco, afinal suas conversas geralmente não incluíam o outro gêmeo, mas deu de ombros ao pensar que talvez fosse para poupar tempo. Abriu a conversa e, logo após atender a chamada, a voz de Menma preencheu o quarto, já que ele não estava de fones:

— Caramba, Uchiha... Estamos te esperando há horas — ralhou em tom seco.

— Para de exagerar, Menma, acabamos de ficar online — Naruto rebateu entre risos.

— Boa noite pra vocês também — Sasuke saudou em tom sarcástico. — E como eu iria saber que vocês estavam me esperando? Não sou vidente, Menma.

— Eu mandei um email falando que iria ter acesso a uma boa conexão hoje, idiota! — Menma rebateu. — Mas como não vai durar muito, resolvi fazer essa chamada em grupo e assim já conto as novidades para os dois.

— Oh bom... Não acessei meu email hoje — Sasuke respondeu inabalável.

— Seu maldito...

— Caras, lavem a roupa suja quando eu não estiver presente, por favor-ttebayo — Naruto soltou em tom zombeteiro e quando os amigos soltaram grunhidos raivosos, caiu na gargalhada.

— Para de rir, usuratonkachi — Sasuke ordenou.

— Naruto você está fazendo meus ouvidos sangrarem — Menma reclamou.

— Certo, certo — suspirou. — E então? Como está a viagem?

— Melhor impossível... Eu ‘tô na capital do País do Vento, Suna, e vocês não tem noção do quanto aqui é quente! Pensei até ter visto uma miragem, mas quando dei por mim, era só uma mulher muito gostosa mesmo.

— Você ‘tá curtindo bem do teu jeito essa viagem — Sasuke resmungou com enfado.

— Eu curtiria bem mais se o marido dela não tivesse aparecido pra transformar a miragem em pesadelo... Tsk...

Naruto gargalhou outra vez e Sasuke franziu o cenho ao sentir os pelos de seu braço e nuca se arrepiarem com o som contagiante. Que merda era aquela?

— Menma, Gaara disse que em Suna se você não se cuidar, vai acabar sem o pinto — avisou entre risos.

— Vai jogar praga no Kurama, desgraça!

— A cultura deles é completamente diferente da nossa, cuidado pra não voltar sem seu brinquedo preferido — o Uchiha resolveu ajudar Naruto a colocar pânico no amigo. — Li até uma reportagem esses dias falando sobre isso, o cara deu em cima de uma mulher casada e...

— Parem! Parem! Não tirem o meu tesão de viajar, seus cornos! — Menma brigou. — Mas só pra esclarecer: eu não dei em cima de ninguém, apenas apreciei a paisagem, em silêncio contemplativo.

— Você ficou secando a mulher — Naruto traduziu.

— E provavelmente babando como um cachorro — Sasuke completou.

— Argh... É um maldito complô contra mim?

—É vingança por ficar fazendo inveja com aqueles cartões postais — o mais velho dos gêmeos fingiu uma voz maligna.

— É o que você ganha ao ficar esfregando na nossa cara o quanto nossa vida de estudante é sem-graça — Sasuke completou.

— Pelos deuses do sexo, vocês estão se unindo contra mim! Fala sério! Meu irmão gêmeo e meu melhor amigo! Vou ser obrigado a sofrer enquanto contemplo as maravilhosas dunas do País do Vento e me empanturro com todas essas comidas exóticas!

— Vai se ferrar, Menma! — Naruto e Sasuke disseram juntos, fazendo o outro rir.

— Estão até falando juntinhos! Isso que é trabalho em equipe!

— Idiota — o Uchiha murmurou. — Fora a mulher, não aconteceu mais nada de interessante?

— Várias coisas! Eu descobri que sou muito bom em aprender novos idiomas, mas já passei por cada coisa tensa — deu uma risada descontraída e Sasuke não conseguiu evitar comparar o som significativamente mais baixo e contido à estrondosa gargalhada do outro gêmeo. — Acabei ofendendo um cara em Kiri, País do Trovão, e pensei que morreria. Sorte que o irmão dele ‘tava por perto e entendeu a situação.

— Você anda querendo mesmo morrer em território internacional — Naruto comentou.

— Aquele dia eu vi a morte passando diante dos meus olhos — Menma fez um leve drama.

— E eu pensando que você era o valentão do grupo — Sasuke zombou.

— Os braços do cara eram da largura da minha cabeça, não existe valentão nessas situações, parceiro.

Naruto gargalhou outra vez e Sasuke acabou indo na onda, mas sua risada jamais seria tão escandalosa e contagiante quando a do outro.

—Mas fora as sessões diárias de quase morte pelo comportamento de turista, eu ‘tô curtindo bastante. Os lugares são incríveis e até consegui comprar ou ganhar lembranças para levar pra vocês.

— Vai chegar aqui parecendo um sacoleiro — Sasuke estalou os lábios, fingindo descontentamento.

— Posso deixar seus presentes pra trás, cabelo de bunda de pato — Menma rebateu ferino.

— Você teve todo o trabalho já, não vou desperdiçar isso.

— Vou fazer questão de levar, só pra te enforcar usando um dos tecidos artesanais de Suna...

— Vai morrer com estilo e honra, Sasuke — Naruto declarou de forma pomposa.

— Se Menma conseguir me acertar — debochou.

— Só não vou te xingar mais, porque meu tempo aqui ‘ta acabando — Menma falou em tom raivoso. — Até mais caras e aguardem ansiosamente para a próxima conversa com o grandioso Uzumaki Menma.

— Babaca — Sasuke girou os olhos.

— Sempre engraçado, Menma — Naruto fingiu uma risada.

— Tchau, parceiros e se cuidem — despediu-se mais sério.

— O mesmo vale pra você, irmão — Naruto falou.

— Tchau, cara — Sasuke disse e em seguida Menma ficou offline.

Um breve silêncio seguiu após a saída de Menma, o Uchiha estava prestes a fazer uma breve despedida quando Naruto voltou a falar:

— Como estão indo as coisas na faculdade? — o tom saiu casual.

Sasuke suspirou ao se lembrar de todas as novas coisas que estava estudando e a correria para dar conta dos conteúdos, afinal jamais deixaria de tirar notas impecáveis e de ter uma boa base para um futuro profissional. Um pensamento bem típico dos membros de sua família.

— Cansativas, como eu já esperava — admitiu por fim. — Nada que eu não possa lidar, de qualquer forma.

Naruto soltou uma curta risada.

— É preciso muito mais que algumas aulas de anatomia e horas extras estudando, para tirar Uchiha Sasuke de sua zona de controle, não é?

— Exatamente — concordou e se esticou para alcançar os fones que estavam sobre o criado-mudo. Naquele momento, algo lhe instigou a deixar a conversa particular. Assim que plugou o fone no local certo, voltou a falar: — E você? É seu penúltimo ano estudando, certo?

— Sim! Ano que vem já estaremos em campo e depois vamos nos graduar — disse claramente feliz. — Você vai à cerimônia de graduação, certo?

— Sua graduação é só no final do ano que vem, dobe — Sasuke soltou indignado.

— Quero só garantir, oras... Você vai ou não? É melhor você ir.

Balançou a cabeça em negativa e nem tentou entender porque sua presença na tal cerimônia era tão importante, mas o melhor era não contestar.

— Estarei lá.

— Ótimo!

Outro silêncio incômodo surgiu e isso era o esperado para o Uchiha. Ele já não era a pessoa mais comunicativa do mundo, então o que poderia conversar com Naruto? Qual assunto eles teriam em comum? Estava novamente prestes a se despedir, quando uma segunda voz surgiu do outro lado; ele não entendeu o que a pessoa disse e nem o que Naruto respondeu, pois parecia que este tinha se afastado do microfone, só conseguiu captar o tom extremamente sério do Uzumaki. Logo risadas baixas surgiram e Naruto voltou a falar com ele:

— Desculpe por isso, era um amigo avisando que eu só teria mais trinta minutos de permissão. Tive que insistir bastante pra conseguir usar a sala de informática depois do horário. Às vezes me deprimo por estudar em regime militar; aprender a ter disciplina foi a coisa mais complicada que fiz em toda minha vida! — as palavras de Naruto jorraram em uma velocidade impressionante e Sasuke quase não conseguiu acompanhar. — Sem contar que tive que reaprender a dobrar minhas roupas; eu deveria ter escutado meu pai quando era mais novo, isso teria facilitado meus dias aqui e...

— Naruto respira! Você vai acabar se sufocando — Sasuke não resistiu em soltar a brincadeira junto de uma leve risada, sendo acompanhado pelo outro.

— Ah cara... Foi mal... — disse sem-graça e o Uchiha quase conseguiu visualizá-lo coçando a nuca de maneira constrangida. Outra diferença sutil entre os gêmeos: Menma coçava a nuca quando ficava nervoso; Naruto quando constrangido. — É que geralmente não uso Skype como meio de comunicação, aqui eles raramente deixam usar, por isso fiquei meio empolgado.

As palavras saíram mais devagar e isso fez o Uchiha ter tempo de raciocinar sobre elas, então uma estranha curiosidade surgiu e ele nem hesitou em mostrá-la, afinal a personalidade de Naruto instigava esse lado menos ponderado. Sasuke ainda se lembrava das poucas vezes que brincaram juntos na infância e Naruto conseguia convencê-lo a aprontar só por, inconscientemente, desafiá-lo a ser mais livre; enquanto Menma – às vezes tão fechado quanto ele próprio – acabava levando mais tempo para convencê-lo e o ganhava após milhares de argumentos.

— Posso te fazer uma pergunta pessoal, Naruto? — indagou, mesmo tendo certeza da resposta.

— Claro, cara... Se for complexo, não vou ter tempo de responder — brincou.

— Você não sofreu preconceito na Preparatória ou eles ainda não sabem? — foi direto ao ponto, não gostava de ficar enrolando e ele sabia que, mesmo sem ter citado o assunto, Naruto o entenderia.

— Eu nunca fui muito de comentar sobre minha sexualidade, mas alguns desconfiaram por eu nunca participar das conversas sobre garotas. A desconfiança diminuiu quando passei a andar muito com uma das estudantes daqui, a Sakura, ela é uma boa amiga e por estarmos quase sempre juntos pensavam que... Bom... Éramos namorados.

— Os superiores aprovam esse tipo de relacionamento? — ficou surpreso.

— Claro que não! — Naruto riu. — Nada de beijos, abraços e nenhum tipo de demonstração mais intensa de afeto, mas só por eu andar com ela, os caras já achavam que rolava alguma coisa — suspirou. — Mas as brincadeiras deram lugar a indiferença quando eu comecei a sair com um cara daqui da cidade, após o conhecer em um dos finais de semana de folga, e comentar sobre ele com Gaara na hora do almoço. Eu não vi que tinha outro garoto perto de nós e ele fez questão de espalhar para todos que o filho do grande Namikaze Minato era uma bicha.

— E então começaram a te ignorar?

— Exato — falou com certo pesar. — E eu ainda era obrigado a escutar piadas idiotas, alguns internos me acusando de ficar os espionando no banheiro, olhares de desprezo e, o pior de tudo, Gaara e até a Sakura começaram a ter problemas também.

— E o que você fez?

— Quis largar tudo, pra que Gaara e Sakura não fossem prejudicados, mas recebi uma resposta torta dele e um cascudo monstruosamente forte dela. Então percebi que eu tinha os dois e tudo que precisava era seguir em frente, pois eles escolheram ficar ao meu lado e eram fortes para aguentar as consequências disso. E depois — Naruto soltou uma risada zombeteira, idêntica a de Menma, e revelou confiante: — me dediquei a provar que minha sexualidade não influencia no meu desempenho. Eu sou um dos melhores alunos da Preparatória e, aos poucos, to conseguindo conquistar o respeito dos meus colegas. Até que os dias de tensão serviram para eu provar que não estava ali apenas por ser o filho do Minato e sim por meus méritos.

Sasuke abriu um pequeno sorriso lateral e fitou a tela do computador, como se pudesse enxergar os olhos azuis brilhando ferozmente. Talvez a determinação de não perder e não recuar, que aparecia nas brincadeiras da infância, continuassem ali e intactas. Isso era realmente interessante...

— Então agora tudo está razoavelmente bem e você pode ficar em paz com o namorado? — o Uchiha arregalou os olhos ao terminar a frase. Que merda ele tinha dito? E por quê?

— É... Ainda tem os comentários amigáveis de “ele é gay, mas nem parece” e eu não ‘tô mais namorando — soltou, como se comentasse sobre o tempo.

— Depois de toda essa saga? — não resistiu em questionar quase indignado.

— Pois é, namoramos por um ano e foi a notícia de estar com ele que causou todo aquele problema com o Menma no ano passado — afirmou normalmente. — Mas depois daquilo algumas coisas erradas começaram a acontecer, brigas e, enfim, acabou. Quando coisas do passado voltam é realmente complicado seguir em frente... — murmurou, mas parecia estar falando consigo mesmo.

— O que isso quer dizer? — Sasuke já tava querendo se esmurrar por soar tão interessado.

— Hã? Ah... Nada, nada — forçou uma risada. — Besteiras minhas... Sabe como é: aquelas coisas de paixonite do passado e tal. Besteira total... — riu nervosamente outra vez.

Uma não tão antiga desconfiança voltou a surgir na mente de Sasuke. Será que Naruto realmente...?

— Caramba! Sasuke, tenho que ir... Passei dois minutos do meu tempo... Tchau, até outro dia — e sem dar chance de resposta, encerrou a chamada.

O estudante ainda ficou alguns segundos encarando, estático, a tela do computador, mas logo soltou um suspiro e resolveu desligá-lo para descansar. No entanto, sua mente voltou a se focar em Naruto e na tal paixonite... Será que foi a visita que tinha feito à Itachi que o fez perder a confiança no que sentia pelo namorado? Será que ele gostava do seu irmão dessa maneira?

— O que eu tenho a ver com isso? — resmungou pra si mesmo. Passou a mão no rosto e, após mais um tempo lutando para a mente não voltar a questão “Naruto”, adormeceu.

Naquele dia sonhou com um abraço eufórico e apertado, o ato tinha aroma de um perfume cítrico e foi seguido por um beijo com gosto de hortelã. Sasuke acordou assustado e ofegante no dia seguinte, decidido a não mais pensar em nada relacionado a Naruto...

Não deu certo.

Após a noite da conversa no Skype, Naruto passou a praticamente ser uma constante em sua vida. Não era realmente algo muito constante, mas ambos passaram a trocar algumas mensagens de celular – a primeira veio quando Naruto se desculpou por sair abruptamente no dia da conversa –, e até voltaram a mais algumas conversas em grupo com Menma.

Para muitos, isso não seria muita coisa, mas Sasuke passou a ter muitos pensamentos voltados para o Uzumaki e se repreendia mentalmente por torcer para receber uma de suas mensagens bem-humoradas pela manhã. Mas essa aproximação não passou disso, nada de visitas do Uzumaki em seus finais de semana livres, nada de convites para sair e muito menos conversas no Skype sem Menma. E não era pra ele ficar decepcionado com isso, correto? Naruto – o cara mais sociável do universo – não tinha obrigação alguma de se aproximar de Sasuke. Afinal, o que eles tinham em comum?

As trocas de mensagens continuaram por um tempo, mas Sasuke resolveu que não daria tanta atenção a uma coisa tão simples e que era pra não ter tanto significado. Ele começou a acreditar que estava muito voltado para os estudos e precisava de um pouco de diversão, por isso passou a sair mais com o pessoal da faculdade e os amigos do antigo trabalho. Parou de responder as mensagens e elas pararam de chegar...

Não havia mais pequenos sorrisos ao ler curtas linhas bem humoradas de manhã.

O tempo passou rápido e, quando deu por si, Sasuke estava já finalizando seu segundo ano de faculdade. Tudo corria bem, Menma chegou no início de dezembro – ele havia estendido sua viagem por mais um ano, ao conhecer uma jovem que gostava de viajar tanto quanto ele e eles passaram esse último ano juntos –, e Naruto havia mandando o convite para sua cerimônia de graduação.

O grande dia chegou e Sasuke estava terminando de se arrumar quando bateram à porta de seu quarto.

— Entra — consentiu.

— E ae, parceiro? Se divertindo no modo pinguim? — Menma entrou já devidamente trajado e com um meio sorriso.

— Menma você conseguiu ficar ainda mais irritante depois de sua viagem pelo mundo — Sasuke murmurou. — Só não entendi por que ainda mantém esse cabelo pintado de preto.

— Ainda implicando com meu cabelo?

— Se você passar o resto da sua vida usando cabelos pretos, passarei o mesmo tempo desdenhando disso — afirmou com uma sobrancelha arqueada e um sorriso maldoso. — Pelo menos agora o penteado ‘tá mais parecido com o do seu pai do que com o meu.

— Eu nunca ficaria com o cabelo parecendo a bunda de um marreco — rebateu com um sorriso maldoso e recebeu um gesto obsceno de Sasuke como resposta, para logo este voltar a dar o nó na gravata que usaria. — Vamos logo, cara, só falta você — chamou em tom entediado. — Por que você é sempre o último?

— Eu fui o último a chegar em casa, é lógico eu ser o último a estar pronto — resmungou. — Mas já terminei, vamos — falou e se dirigiu à porta, sendo seguido por Menma.

Sasuke e Menma seguiram para fora da casa do último, onde os familiares de Naruto já os esperavam e então o Uchiha acabou dando-se conta de algo que quase o fez dar uma risadinha debochada para si mesmo: era o único sem par. Menma iria com Hinata, a jovem que havia viajado com ele e que agora era sua namorada; Kurama estava com a esposa, Matatabi; Kushina e Minato obviamente estavam juntos; e Itachi – que também havia sido convidado – iria com, Hana.

Alguns achariam trágico, ele se limitou a achar um tanto engraçado.

A cerimônia seria realizada na Sede do Colégio do Corpo de Bombeiros, localizado em Konoha, e ao chegarem lá Sasuke não se preocupou em esconder a admiração pelo local tão bem decorado. Era possível reconhecer os alunos devido ao traje de gala que usavam que, diferente dos de seus superiores e de outros bombeiros – como Minato –, não tinham medalhas e nenhum adorno. Dentre estes um loiro alto de sorriso contagiante se destacou rapidamente aos olhos do Uchiha; os cabelos estavam extremamente curtos e em tom natural, dando-lhe um ar mais maduro; os olhos pareciam faiscar de tanta felicidade; e o uniforme de gala o deixava... Sasuke controlou o impulso de sacudir a cabeça para afastar os estranhos pensamentos relacionados a Naruto e o uniforme.

Minato avisou que o filho não poderia conversar com eles até que a cerimônia de graduação terminasse, por isso todos seguiram para seus lugares e aguardaram. Poucos minutos depois iniciou-se o cerimonial. Sasuke viu familiares – incluindo Kushina – irem às lágrimas com os discursos; Menma e Kurama fazendo comentários ácidos sobre a jovem de cabelo cor-de-rosa que estava se graduando também, depois sendo repreendidos por suas acompanhantes; Itachi sorrindo ao ver Naruto sendo apresentado; também viu os olhos azuis focarem nos seus por um breve momento, mas achou ser coisa de sua imaginação e, mais rápido do que esperava, tudo terminou.

Os familiares já se aglomeraram ao redor do local onde os formandos estavam, mas Naruto sinalizou para eles se manterem onde ficaram acomodados e pouco depois chegou sorrindo.

— Vocês chegaram quase na hora de começar a cerimônia — comentou em tom de saudação.

— Culpe a donzela Uchiha — Kurama comentou ácido, indicando Sasuke com um aceno de cabeça.

— Esse cara conseguiu demorar mais tempo se arrumando que a mãe — Menma complementou com um sorrisinho maldoso.

— Deixem o Sasuke em paz — Kushina repreendeu gravemente. — E eu não demoro a me arrumar, Menma! — sibilou ameaçadoramente.

— Claro que não — concordou sarcástico

— Ora seu mole...

— Kushina, o Menma está apenas brincando — Minato interveio e voltou sua atenção para Naruto. Ali parados trajando os impecáveis uniformes de gala e abrindo sorrisos felizes, Sasuke os achou quase idênticos... — Finalmente está formado, filho — colocou as mãos sobre os ombros dele e a altura semelhante se evidenciou. — Parabéns.

— Obrigado pai — agradeceu em tom baixo, provavelmente tentando controlar a emoção. — Quer dizer... — respirou fundo, deu um passo pra trás e prestou continência. — Obrigado, senhor!

Minato adotou uma postura e olhar graves, logo o saudou da mesma maneira e em seguida permitiu que voltasse a postura de normal.

— Eu fico feliz por todos terem vindo — o formando sorriu.

— Nós que ficamos felizes pelo convite — Hana falou alegre e foi até o loiro, dando-lhe um caloroso abraço. Sasuke, que imaginava existir em Naruto sentimentos românticos direcionados a Itachi, se surpreendeu quando este abriu seu mais sincero sorriso e retribuiu o abraço. — Parabéns.

— Obrigado, Hana — agradeceu e se afastaram. — É uma pena Kiba não ter vindo.

— Ele te mandou um abraço e disse que te enviará um presente pelo correio — falou sorrindo.

— Que não seja nada horrível — falou divertido. Sasuke estava ficando cada vez mais perdido... Quem era Kiba?

— Meu irmão amadureceu, Naruto... Bom... Eu espero que tenha amadurecido — ela riu e se afastou.

Naruto conhecia o irmão de Hana? Era melhor ele deixar de ficar alimentando essa bizarra curiosidade em relação à Naruto.

Itachi se aproximou e também o abraçou, recebendo o mesmo tratamento que a namorada.

— Parabéns, Naruto.

— Muito obrigado, Itachi — disse sinceramente emocionado, quando se afastaram. — Se não fosse por você eu nem estaria aqui.

— Hei?! E minha ajuda? — Kurama protestou e Naruto o abraçou com força, evitando que o irmão fugisse. — Me solta, pirralho.

— Você também foi de grande ajuda, Kurama — falou sorridente. — Pode ficar com 50% do crédito.

Sasuke tentou segurar a língua diante do comentário, mas não conseguiu:

— Ele no máximo ficaria com 10%, afinal quem se esforçou pra passar na prova e pra se formar foi você, dobe — saiu no seu típico neutro. Mas nem a indiferença de sua expressão evitou que quase todos o olhassem de maneira surpresa.

— O pirralho Uchiha está certo — Kurama concordou depois do espanto. — 80% do crédito é todo seu, Naruto! — declarou finalmente afastando o outro de si, aproveitando que ele ainda estava abalado pela espontânea fala de Sasuke.

— Eu me contento com meus 10% de participação especial — Itachi piscou.

— Sasuke puxando o saco do meu irmão, que tragédia — Menma fez drama e passou um braço pelos ombros do gêmeo. — Parabéns, meu clone mal-feito! Agora você pode impedir, heroicamente, idosos de engasgarem com osso de galinha.

— Menma! — Kushina, Minato e Hinata repreenderam ao mesmo tempo.

— Não se pode nem ser bem-humorado nessa família — estalou os lábios.

— Valeu, Menma — Naruto abriu um grande sorriso para o irmão. Quando este se afastou, ele foi parabenizado educadamente por suas duas cunhadas.

Naruto então virou-se e encarou diretamente Sasuke, abrindo um de seus mais belos sorrisos, daqueles singelos, mas que faziam os olhos brilharem. O Uchiha tentou não dar muita importância a essa palpável felicidade.

— Obrigado por ter vindo, teme — agradeceu sem se aproximar muito. — É realmente muito importante que esteja aqui — disse sinceramente e os outros ficaram um tanto confusos, mesmo Sasuke ficou confuso.

O citado arregalou minimamente os olhos, breve voltou a expressão quase neutra e abriu um pequeno, mas sincero sorriso.

— Eu disse que viria — disse normalmente. — Mesmo o convite chegando absurdamente adiantado.

— Era melhor garantir — Naruto riu levemente e estendeu a mão em direção a ele. — Obrigado por ter dito que a notícia não era tão grandiosa.

— Não me agradeça por ser sincero — rebateu quase divertido, aceitando o cumprimento do rapaz.

Os dois ficaram se encarando por um tempo, ainda com as mãos unidas, até que a voz de Menma os fez quebrar o contato físico e visual:

— Que isso? Eu vou acabar pensando que ‘tá rolando alguma coisa — soou quase assustado, mas sempre com o leve tom de deboche.

— Menma — a voz de Hinata soou repreensiva.

— Ah não — Kurama resmungou. — Itachi afaste seu irmão do meu.

— Eu tenho mais o que fazer da minha vida — o Uchiha rebateu e puxou Hana pela cintura, deixando-a mais perto de si.

— Não ‘tá rolando nada — Sasuke afirmou mais irritado do que deveria e sentiu vontade de esmurrar Naruto ao escutá-lo apenas soltar uma risada brincalhona. — Para de rir, Naruto! — Aquele idiota sempre agia como se fossem íntimos.

— Não comecem — Kushina ordenou secamente e virou-se para Naruto. — Parabéns, filho — o puxou delicadamente e ficou nas pontas dos pés para poder depositar um beijo em seu rosto. — Estou orgulhosa de você.

— Obrigado, mãe.

O clima de felicitações ainda continuou por um tempo, já que cada um deles – exceto Sasuke, que sentiu um dejávu – havia trazido um presente para Naruto. Após o formando abrir todos e agradecer, os familiares resolveram andar pelo salão e até ir ao centro para dançar junto de alguns outros casais. Sasuke e Naruto acabaram ficando ali parados, vendo todos os outros dançarem em pares.

— Sinto que fiquei pra titio — Naruto zombou e sorriu.

— Somos jovens demais pra pensar desse jeito — Sasuke bebeu um gole da bebida que Naruto havia lhe trazido pouco antes. — E você tem mais sorte, é bonito e ainda é bombeiro — comentou em tom casual.

— O que isso tem a ver? — riu e encarou Sasuke.

— Não dizem que algumas pessoas têm uma queda por bombeiros? — rebateu com um sorriso lateral.

Naruto mordeu o lábio inferior e aproximou-se um pouco mais de Sasuke, mas não o suficiente para chamar a atenção das outras pessoas do salão.

— É mesmo? — indagou retoricamente e seus olhos adquiriram um tom jamais visto pelo Uchiha, o que o fez sentir uma leve ansiedade. — E você, Sauske, tem essa queda? — arqueou uma sobrancelha.

— É preciso muito mais que um título e um uniforme pra me agradar, dobe — rebateu no mesmo tom que o outro, mas dando seu sorriso “Uchiha”.

Naruto soltou uma risada, levantou-se do local onde estava acomodado e virou-se para seu acompanhante, lhe estendendo a mão. Sasuke franziu as sobrancelhas.

— Você ‘tá querendo dançar? Chama outra pessoa, usuratonkachi — disse em tom de zombaria.

— Eu não estou querendo dançar, teme — resmungou e segurou o punho de Sasuke. — Só cansei de ficar aqui sentado, vamos dar uma volta — chamou e fez um gesto com a cabeça indicando a saída do salão.

Sasuke colocou o copo sobre a mesa que estava ali e deixou-se ser puxado para fora do salão. Naruto, como sempre, parecia realmente desafiá-lo a sair de sua zona de conforto; os olhos sempre transparentes que pareciam desafiá-lo, o sorriso quase sempre constante e, principalmente, o jeito travesso, que na infância o irritava – por achar suas atitudes estúpidas, porém engraçadas –, mas que agora lhe davam um ar malditamente atraente.

Desde os quinze anos Sasuke ignorou isso, evitou pensar e decidiu que era loucura demais para ser ao menos citada em pensamento. Achar o irmão gêmeo do melhor amigo atraente? Como tinha conseguido diferenciá-los a esse ponto? E por que tinha que sentir-se assim?

Os dois estavam fora do prédio principal da Sede, caminhavam por um amplo jardim bem cuidado, que lembrava mais um parque cheio de árvores e caminhos feitos de terra. Naruto andava a sua frente, ainda puxando-o pelo punho, provavelmente querendo levá-lo a algum lugar. Acabou soltando um curto suspiro, o que chamou a atenção de Naruto, fazendo-o parar de caminhar e virar-se para si; o Uchiha percebeu que estavam em um local um tanto isolado, rodeado por algumas árvores grandes e de troncos grossos.

—Minha companhia te irrita tanto, teme? — perguntou, mas a falta do típico tom enérgico fez um alerta soar dentro da mente de Sasuke.

— Em geral não, dobe — respondeu normalmente. — Por que a pergunta?

— Talvez porque você demonstra sempre se incomodar comigo — respondeu sério. — Desde pequenos, você sempre evitou ficar perto de mim, como se eu te incomodasse.

— Você era barulhento, exagerado, chamativo, sorridente, excessivamente prestativo, muitas vezes encrenqueiro e, quando brincávamos juntos, sempre me desafiava para competições ridículas.

— Então eu realmente era um incômodo — murmurou sem conter o tom claramente chateado.

— Claro que era, na verdade, eu cheguei a pensar que você sentia o mesmo — Sasuke disse com sinceridade. — Sua mãe sempre tinha que se esforçar e ameaçá-lo pra que você saísse pra brincar conosco.

— Eu tinha meus motivos — rebateu esquivo.

— E quais seriam os motivos?

— Você foi o primeiro a conseguir nos diferenciar, quero dizer, o primeiro amigo da nossa idade que fez isso. Eu não queria perder essa individualidade, mas talvez sentisse um pouco de inveja do meu irmão por ser seu amigo.

— E por isso não queria ficar por perto? — a pergunta de Sasuke soou mais como uma constatação.

— Pois é, mas agora eu sei que nem foi tão ruim, pois eu parecia realmente te irritar — Naruto tentou dar um sorriso, mas este não chegou aos olhos.

— Você me irritava por ser muito diferente de mim e por me forçar a agir de um jeito que eu achava... Bem... Fora dos meus padrões — Sasuke revelou em tom casual. — Olha o que eu estou fazendo: admitindo abertamente o que se passa dentro da minha cabeça. Você não ficaria irritado e incomodado com isso?

Naruto soltou uma risada leve, desta vez os olhos brilharam.

— Sinceramente não, teme — enfatizou fazendo um gesto negativo com a cabeça. — Você, sem querer, me forçou a agir de forma diferente do que eu considerava normal na época e graças isso cheguei até aqui.

— Você vive culpando as pessoas por seus próprios méritos. Outra coisa bem irritante — Sasuke resmungou em tom divertido e, quando Naruto soltou uma risada mais empolgada, percebeu que ainda era segurado pelo punho.

— Eu só disse a verdade Sasuke. Mesmo sem querer, você esteve muito presente na minha vida e cara... Isso soou esquisito-ttebayo! — Naruto arregalou os olhos e coçou a nuca.

O Uchiha abriu um pequeno sorriso ao ver a expressão constrangida do outro. Ele era malditamente bonito e tudo nele, naquele momento, parecia atraí-lo mais e mais. Estava na hora de realmente encarar aquela atração de frente e o máximo que poderia ganhar era um não.

— Sabe Naruto, eu não te dei um presente pela sua graduação — comentou de repente, fazendo o rapaz lhe encarar confuso por alguns segundos. — Mas pensei em algo que pode ser interessante.

— Não precisa, teme — disse sincero.

Sasuke venceu a pouca distância que havia entre ambos, deixando os rostos extremamente próximos e os corpos quase colados.

— Se não quiser o presente, — sussurrou, já levando letamente a mão livre para a nuca alheia, tocando os fios curtos e o puxando para si — é só me parar. — Finalizou juntando suavemente os lábios.

O toque foi singelo, quase um toque fantasma, mas antes de conseguir ter qualquer outra atitude, Sasuke foi surpreendido pelo abraço afoito de Naruto – que liberou seu punho – e um beijo intenso. As mãos amorenadas o puxaram pra si, enquanto a boca mediana parecia querer devorá-lo. Sentiu o corpo bem trabalhado completamente colado ao seu e soltou um suspiro entre o beijo. Naruto era realmente intenso demais e fazia Sasuke agir da mesma maneira.

Ao se separarem, fitaram-se por um momento, ainda abraçados, e uma dúvida voltou a sondar a mente de Sasuke:

— Como Itachi descobriu sobre você? — indagou baixo.

Naruto ficou confuso, mas respondeu:

— Ele me flagrou aos beijos com o irmão mais novo da Hana — disse dando um sorriso sem-graça.

—Sério? Então você nunca foi apaixonado pelo meu irmão? — não conseguiu segurar a pergunta e nem o tom, claramente, aliviado.

Naruto fez uma careta e então soltou uma alta gargalha, o corpo vibrava ao encontro do de Sasuke e, para se acalmar, o Uzumaki escondeu o rosto no pescoço dele. A risada, agora baixa, fazia arrepios descerem ao longo da coluna do Uchiha, mas este estava nervoso demais com a risada do outro para admitir isso.

— Para de rir, usuratonkachi — sibilou irritado.

Naruto se afastou, ainda dando leves risadas e Sasuke percebeu que diante daquela expressão era realmente complicado manter a irritação.

— Você achava que eu era apaixonado pelo Itachi? — indagou um tanto ofegante. — Só você pra ter essas idéias insanas-ttebayo — murmurou e deu um rápido beijo no Uchiha.

Sasuke voltou a segurá-lo pela nuca e intensificou o beijo, suas mãos passearam livremente pelas costas do Uzumaki, breve apenas os beijos não eram suficientes.

— Vamos sair daqui — Naruto sussurrou de olhos fechados, com a testa encostada a sua.

— Vamos — aceitou.

Sasuke ainda se lembrava daquele dia com assombrosa perfeição. Ambos saindo da sede, chegando à casa do Uzumaki aos beijos e tropeços, toques, apertos, prazer e uma das melhores noites de sexo da sua vida. Então, no dia seguinte veio a descoberta de Menma.

Foi uma confusão de xingamentos, olhares furiosos, os gêmeos discutindo e – por fim – Sasuke entendeu que Menma achava que ambos estavam juntos há muito tempo, mas que estavam escondendo isso dele.

Naruto e Sasuke ficaram com expressões de idiotas quando Menma – e até outros membros da família – disseram já enxergar alguma coisa entre eles. Naruto acabou sofrendo, afinal o irmão zombava descaradamente de sua incapacidade de ser discreto.

— Você o secava descaradamente quando ele vinha aqui, baka — piscou de forma maliciosa e sorriu maldoso ao ver o rosto do irmão adquirir um tom rosado. — Além disso, eu sabia que Sasuke era sua paixão adolescente, Naruto-nii, você realmente é patético na hora de esconder segredos — a frase descarada do melhor amigo lhe rendeu um lábio machucado.

Sasuke odiava ser exposto e, de maneira que o assustou na época, esse instinto de proteção se estendeu a Naruto. Mesmo estando chocado por Naruto não desmentido o irmão.

Depois desse dia, muita coisa ainda aconteceu. Eles não assumiram relacionamento por um bom tempo, mas acabavam ficando esporadicamente e após quase três anos nesse rolo – recheado de piadas, já que tanto Naruto quanto Menma viviam perguntando se Sasuke tinha certeza de ter escolhido o gêmeo certo e, obviamente, acabavam um tanto machucados –, eles finalmente iniciaram um namoro sério.

Algum tempo depois Sasuke finalmente se formou, seus amigos, familiares e o namorado estavam presentes na cerimônia de graduação. Ele resolveu seguir a sugestão de Naruto e tornou-se um paramédico e, com ambos trabalhando com questões emergenciais, as pessoas chegavam a questionar se havia algum tempo só pra eles.

Sim, havia.

De alguma forma, as personalidades diferentes facilitavam o convívio, não estavam livres de discussões, mas nada que chegasse a ser muito sério. Naruto tornou-se extremamente importante para Sasuke, de uma maneira completamente diferente de Menma. Naruto era seu oposto e seu ponto de equilíbrio, aquele que o desestabilizava com um olhar e o acalmava com um sorriso.

Não era sua aparência, mas sim quem ele era e isso o fazia amá-lo cada vez mais.

****

Sasuke abriu os olhos e encarou a paisagem diante de si, a cidade enfeitada com as cores e o brilho do Natal. Estava na varanda de seu apartamento aproveitando a brisa relaxante da noite. Era véspera de Ano Novo, naquele ano nem Naruto e nem ele haviam conseguido folgar no Natal, já que o trabalho naquele feriado parecia sempre triplicar.

Uma triste, porém verdadeira estatística.

Suspirou tentando dissipar toda a nostalgia que sempre o envolvia naquela época.

— O que está fazendo ai? — a pergunta saiu sussurrada e braços aconchegantes o cercaram, fazendo-o suspirar e recostar-se ao corpo do outro.

— Estava pensando no passado — Sasuke respondeu suavemente e deu um pequeno sorriso. Há alguns anos jamais usaria um tom tão manso.

— Hm — Naruto murmurou e beijou lentamente atrás de sua orelha. — Síndrome do final do ano ou crise dos trinta? — riu baixo, fazendo Sasuke girar os olhos. — Ou talvez você tenha começado a pensar que escolheu o gêmeo errado? — fingiu pânico.

— Para de idiotice, usuratonkachi — bronqueou com enfado. — Talvez seja realmente a crise dos trinta, mas a retrospectiva a acalmou... Até agora acho que tive mais acertos do que erros. E você está incluído nos acertos.

— Ótimo saber, teme — Naruto falou brincalhão e virou-o para si, depositando um rápido beijo nos lábios finos. — Estamos atrasados para a festa e logo Boruto vai ligar cobrando a presença do “querido tio Sasuke”... — fez uma careta.

— Seu afilhado sempre me preferiu, dobe, aceite que sou melhor.

— É realmente triste saber disso — suspirou dramático. — Por que ele gosta mais de você? Eu sou o tio divertido e pareço um clone do pai dele.

— Bolt nunca vai te perdoar por ter lhe nomeado como parafuso!

— Ainda implicando com isso, teme? É um ótimo nome-ttebayo! — resmungou emburrado.

— Ótimo mesmo — disse com sarcasmo. — Como o Menma pôde aceitar isso? Eu deveria ter sido o padrinho do moleque, assim o nome seria bem melhor.

—Ah ta... Encontramos o verdadeiro problema — riu divertido e deu um selinho no marido. — Mas você vai dar o nome para o próximo filho dele, Hinata terá o bebê daqui a poucos meses; anime-se.

— Vai ser o melhor nome de todos — disse convicto.

— Ok, Uchiha — Naruto girou os olhos. — Agora vamos logo, temos que aproveitar que conseguimos folgar no Ano Novo! E ainda devemos levar os presentes que ficamos devendo no Natal — abriu um sorriso radiante e puxou o marido para sair da casa, não sem antes pegar as sacolas com os presentes da família.

Sasuke deixou-se ser puxado e um sorriso surgiu em sua face ao focar no rosto sorridente do Uzumaki. Ele realmente amava irmão gêmeo do melhor amigo, amava suas qualidades, aceitava – até certo ponto – seus defeitos e todo aquele clichê. Mas acima de tudo Sasuke passou a amar também a pessoa que se tornou ao ficar com Naruto e isso, mais do que qualquer coisa, tornou-se a maior diferencia entre os gêmeos.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente pessoas (pra quem chegou até aqui e não dormiu)... Espero que tenham gostado, principalmente a presenteada!

Se curtiram, comentem!
Se não curtiram, comentem!
Se querem me dar um oi... Bom... Pode mandar uma MP! XD

Até uma próxima e Feliz Natal (atrasado! o/)

Beijos Beijos