As linhas da Tecedeira escrita por Apolo237


Capítulo 1
As linhas da Tecedeira


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa leitura!



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As linhas da Tecedeira

Era uma vez, no mundo além das colinas do horizonte, uma vila. Perto da vila, existia uma floresta, e perto da floresta, uma casa. Nessa casa, vivia uma Tecedeira, que vivia de tecer. Todos admiravam sua perícia nisso, em lidar com fios, costurar e bordar. Tudo o que tinha a ver com tecidos, ela sabia fazer.

Ela era tão boa nisso, que ninguém sabia seu nome e apenas a tratavam como Tecedeira. Todos os dias, ela ia na vila comprar fios para seus bordados e costuras. A Tecedeira se mostrava muito feliz quando rodeada de suas linhas, de várias cores. Quando se visitava sua casa, era possível ver novelos de lã, de linha, agulhas, e várias coisas desse tipo expostas em todo o lugar. Ela não fazia questão de esconder seu ofício, pelo contrário. Ela se orgulhava dele.

-Eu crio os vestidos das moças, que as faz faceiras, crio as roupas dos meninos, os vestidos sóbrios das senhoras, as roupagens das feiras, as batinas dos padres, eu crio um mundo todo dentro de meu ramo- dizia, toda vez que alguém a perguntava o que fazia para viver.

Um dia, uma menina estava passando em frente à sua casa, quando ouviu alguém cantar. Era uma música onita, então ela a guardou na memória:

Vamos, venham, linhas minhas

Vamos costurar e bordar

Para as roupas enfeitar

E as moças alegrar!

Agora, vamos, depressa

Enfiar vocês na agulha

Ai! Ela me fura!

Cuidado, cuidado, vamos

Essa profissão amamos

Não é mesmo, linhas minhas?

Criamos um mundo, tão colorido

Nele não há nenhum ferido

Vamos bordar, costurar e tecer!

Esse é o nosso viver!

Vamos, ventos! Façam-se fios!

Venham, oceanos, lagos e rios

Preciso de linhas azuis!

Vamos, maçãs!Façam-se fios!

Venham, cerejas e framboesas!

Preciso de linhas vermelhas!

Vamos, grama!Faça-se fios!

Venham, folhas, lodo e vegetação!

Vamos lá, venham de coração!

Preciso de linhas verdes!

Então a menina continuou no seu caminho, sem se indagar quem estaria cantando nem o motivo. No dia seguinte, passou pela mesma estrada, e novamente ouviu a música. Isso se repetiu mais um dia, e dessa vez ela decidiu espiar através das janelas. Inclinou-se na frente da casa, afastando uma cortina, e olhou, tomando cuidado para não ser vista. O que viu, por sua vez, a assustou mais que qualquer coisa.

A Tecedeira dançava no meio da sala, erguendo os braços e cantando a canção. Enquanto isso, água saía pela torneira e, de alguma forma mágica, se tornava fios azuis e se enroscava num novelo. Maçãs pulavam das caixas, suas cascas vermelhas perdendo a cor e virando linhas, que iam direto para a agulha, que por si começava a bordar sozinha. A grama escapava do quintal de trás e a meio caminho da Tecedeira, também se metamorfoseava em fios verdes muito bonitos. Depois de terminar a música, a mulher sorriu, parou de dançar e virou para a menina:

-O que você achou? Lindas linhas, não?

-E-Eu...você é bruxa?

A Tecedeira riu:

-Não uma má! Vamos, entre, quer uns biscoitos?

A menina estava com fome, e achou toda a coisa linda de se ver, então entrou e comeu. Os biscoitos estavam bons.

-Como você faz isso?- a menina perguntou.

-Simplesmente fazendo-respondeu a Tecedeira- Sinceramente! Os adultos de hoje em dia acham que todos que fazem coisas extraordinárias são bruxas, mas na verdade é só cantar um pouco e crer que tudo é possível, sabia?! Quando eu comecei, eram só uns fiapos de grama, alguns pedacinhos de casca e umas gotas que me obedeciam. Mas quando eu soube que dava pra fazer e fui ganhando confiança, olhe só o que posso fazer!

-Mas se você pode obter linha desse jeito, por que vai à vila?

-Por quê? Ora, por quê? Pra ter mais tonalidades, claro! Por mais que eu teime, a grama não quer ficar mais escura e a água também. Já a casca das maçãs não é tão cabeça-dura, mas só quer s outros dois tons! Além disso, querida, eu só consigo verde, azul e vermelho desse jeito, pelo menos por enquanto. E as outras cores?

A menina admitiu que fazia sentido.

-Há formas de obter outras cores? Existem outras como você?

-Essa magia é coisa passada de geração em geração de Tecedeira-ela explicou- Cada Tecedeira tem sua própria canção, que exige certas cores.

-Eu posso ser uma Tecedeira?

A mulher sorriu carinhosa:

-Claro!

E foi assim que começou a aprendizagem da menina. Ela aprendeu como costurar manualmente, como tecer e bordar, e ficou surpresa ao perceber que esse era um encanto a mais no ofício e que na verdade gostava de fazê-lo. Quando a Tecedeira ficou velha e não via mais a agulha e os pontos, sua voz cansou de cantar e suas mãos tremiam na hora de tecer, ela se retirou e cedeu lugar à menina, que agora era a nova Tecedeira.

Ela agora vivia na casa que ficava perto da floresta que ficava perto da vila, e era perita em costurar, bordar e tecer. Todo dia descia à vila procurar por novas linhas de outras cores,e se mostrava encantada por elas. Ela era tão boa em fazer seu ofício que ninguém mais lembrava seu nome, e para todos os efeitos, ela era a mesma Tecedeira. Não se importava, era uma honra, e acreditava que criava um mundo com seu trabalho, respondendo a mesma coisa que a Tecedeira anterior ao perguntarem o que ela fazia.

Um dia, uma outra menina estava andando na frente da sua casa, e escutou alguém cantar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Por favor, comentem!



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