O inverno chegava aos poucos, trazendo consigo a pessoa destinada a quebrar a maldição que prendia todos no tempo e no espaço. Henry planejava há tempos levar Emma para Storybrooke, depois que descobrira que a mesma era sua mãe, a razão e a motivação foram maiores ainda.

A loira não pretendia ficar, mas ao ver a criança que fora obrigada a abandonar na sua frente e precisando de ajuda, foi impossível esquecer tudo e voltar para Boston.

O garoto vivia falando como ela devia quebrar o mais de pressa possível a maldição, que os pais dela precisavam se encontrar, que a Rainha Má devia ser detida e que Belle devia ficar livre do monstro que ela tinha como marido.

Ele parecia ser muito ligado a esta moça, já que a história dela o intereçava tanto. A Bela e a Fera, se Emma não estava enganada era este o conto a qual a jovem pertencia. A princípio, Swan embarcara nesta loucura e pensara que o marido dela fosse o príncipe da história, contudo ela não poderia estar mais enganada.

Emma ria sempre internamente ao imaginar-se sendo filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado, ria ao pensar que ela era uma princesa, mas uma agonia tomava conta de si ao saber das histórias dos moradores da pequena cidade do Maine. Belle, que aqui se chamava Amélia, aparecia vez ou outra coberta de manchas roxas e, por mais que a mesma negasse, a mãe de Henry sabia quem cometia tamanha barbaridade.

Era difícil dizer o porquê de a jovem continuar com o bruto que ela tinha como marido, Mary Margaret lhe disse uma vez que era por causa da filha deles, uma menina linda chamada Paige, era mais fácil acreditar nisso do que acreditar que ela o amava.

Emma tentou uma ou duas vezes manter uma conversa com a moça, ela tentou ser simpática e deixou a conversa tomar um bom rumo. Ares, entretanto, logo chegara e afastara a esposa do local. Era nítido o desconforto de Amélia, ela possuía um olhar amedrontado e no fundo da alma havia determinação. A loira podia ver claramente o quão forte era a jovem.

Com a morte de Grahan ela tornou-se a xerife da cidade, começara a participar das reuniões para decidir o destino de Storybrooke, das festas da prefeitura, o que deixava a prefeita extremamente irritada. Afinal, Emma estava tomando Henry dela e isso era algo extremamente perigoso para a loira.

O senhor Dion sempre participava das festas que eram dadas por Regina e sempre levava Amélia consigo. A moça sempre com um belo vestido e um sorriso encantador nos lábios, o casal não parecia ter problemas. Ela, no entanto, não diria uma palavra durante a recepção ou o jantar, simplesmente ficaria calada. Como xerife, Emma ficava alerta, olhava para a menina vez ou outra para achar um ferimento exposto, mas o crápula era cuidadoso o suficiente e parecia acertá-la somente onde as roupas cobriam.

A vida do casal era um mistério. Ele já fora casado uma vez, entretanto a esposa desaparecera poucos dias após o parto. Ruby a contara que Paige passava grande parte do tempo na escola, com a desculpa de que Ares trabalhava demais para poder cuidar da criança, como até um tempo atrás Amélia era professora, os dois se aproximaram e ela acabara se apaixonando por ele. Adulta o suficiente para cuidar de uma família, mas inocente o bastante para não perceber o lado ruim de seu noivo. Amélia e Dion casaram-se com dois meses de namoro.

Emma desconfiara cedo que Paige não era filha da castanha, pois ela aparentava ser muito jovem para ter uma filha já crescida. A menina tinha por volta de dez anos e Amélia os seus vinte e quatro. Apesar de quase nunca sair e geralmente ser vista fora de casa acompanhada do marido, a ex professora e Gold sempre eram vistos trocando olhares, o que fez com que a xerife acreditasse que ambos possuíam um caso e por esta razão as agressões para com a jovem vinham se tornando mais constantes.

Ao ver o pulso quebrado de Belle, Swan se preocupou mais ainda. Ela precisava prender Ares, não podia permitir que isso ocorresse novamente. Amélia, entretanto, recusava-se a denunciá-lo, inventava uma desculpa qualquer e sorria para reconfortá-la. Certo dia, um mês após a sua chegada a Storybrooke, a moça chegara a ir para o hospital, pois acabara inconsciente. A desculpa dada desta vez fora uma escada, a situação só se complicava.

Este dia, no entanto, parecia ter sido esquecido. Emma chegara a ter uma breve conversa com Gold, mas de nada adiantou. O homem parecia estar tão preocupado quanto ela, contudo algo o impedia de agir. Henry afirmava que era a maldição, que por conta dela ninguém tomava uma atitude a respeito. Contou também, que desde que começara a frequentar a escola ele percebia marcas na professora e que por culpa dele ela parara de lecionar.

- Emma, ninguém percebia as marcas ou as contusões, todos pareciam ser cegos em relação a isso. Quando eu vi, eu contei para minha mãe, pensei que ela ajudaria a senhorita Dion, mas ela apenas parou de dar aulas...

- Henry, sua mãe e Ares conversam muito?

- Não tanto, eles conversam apenas sobre a cidade, você sabe, como ele trabalha para a prefeitura toma algumas poucas decisões, mas nada muito frequente. Você acha que ela pode estar o encobrindo?

- Não, garoto, claro que não. - Ela mentiu e deu o sorriso confiante de sempre.

O fato que mais incomodava a xerife, era que Amélia parecia ser alguém confiante e forte, cheia de amigos que a ajudariam caso ela se divorciasse. Talvez o fato de Paige não ser filha legítima dela, a impedia de prosseguir com esta ideia, seria muito difícil receber a guarda da menina.

Mesmo ela não sendo filha da Branca de Neve e o do Príncipe Encantado, mesmo ela não sendo o fruto do amor verdadeiro, ela poderia ser a Salvadora. Ela poderia livrar Amélia do destino cruel que ela tinha aqui em Storybrooke, ela poderia dar a moça o seu final feliz.