Last Hope escrita por GG


Capítulo 1
Last Hope — Capítulo único




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"Você não esquece o rosto da pessoa que representou sua última esperança."

— Suzanne Collins

Era um dia chuvoso, muito chuvoso. Bem, na verdade era o dia com a pior tempestade de toda a história do Distrito 12 e isso era muita coisa mesmo e havia também o frio, parecia que estávamos num inverno muito rigoroso naquela época do ano.

Pra mim, parecia apena mais um dia normal, eu estava contente por não ter ido a escola mas ao mesmo tempo triste por não ter tido a oportunidade de vê-la hoje, a Katniss, mas não podia passar o dia inteiro me lamentando, afinal eu precisava fazer o trabalho que me fora imposto.

Mesmo tendo apenas 12 anos de idade eu já possuía algumas responsabilidades, fora ensinado a fazer pães e bolos, doces diversos e decorá-los de uma forma que atraísse a atenção das pessoas, de um jeito que as fizessem parar apenas para admirar meus bolos, mas a pessoa que eu mais via era Katniss, junto com a irmãzinha dela, elas ficavam paradas diante da vitrine, pensativas, como se estivessem imaginando uma vida em um universo alternativo, como se o resto não existisse.

Eu, particularmente, adorava quando elas vinham até a vitrine, me sentia lisonjeado e tentado, eu sempre sentia a inexplicável vontade de dar-lhes um bolo de presente, mas eu sabia que não era possível fazer isso, me renderia vários tapas e chicotadas de minha adorável mãe.

Suspirei e fui até a janela velha da cozinha para observar a tarde lá fora, a chuva caindo lamuriosamente no Distrito 12 inteiro.

Eu a vi antes que ela conseguisse me enxergar através da névoa que a chuva forte criara. Lá estava a garota por quem eu nutria verdadeiro amor platônico, Katniss Everdeen.

Senti, inicialmente, uma onda de alegria e ansiedade apenas por conseguir ter o prazer de vê-la, mas desta vez ela estava pior, parecia ter emagrecido drasticamente desde a última vez que eu a vira, e não fazia nem uma semana inteira, suspirei infeliz.

Era tão doloroso vê-la naquele estado deplorável, doía-me no fundo do meu coração, era como se eu estivesse sendo torturado apenas por olhá-la magra do jeito que estava.

Desde a morte do senhor Everdeen todos puderam observar como a família Everdeen afundava-se mais e mais, passavam fome a maior parte do tempo e para piorar a senhora Everdeen, a mãe de Katniss, estava em depressão, num estado praticamente irreversível no momento.

Meu pai comentara um dia desses que se ninguém ajudasse as crianças, iriam acabar falecendo, vencidas pela própria fome, mortas por inanição. E só por considerar essa simples hipótese eu sentia como se algo fosse arrancado de mim, conseguia degustar aquele sabor forte e amargo de injustiça.

"Preciso fazer alguma coisa!", pensei no alto de meus 12 anos de idade, eu não podia simplesmente vê-la daquele jeito e deixar por isso mesmo. Acredite se quiser, era como se eu mesmo estivesse passando pelas mesmas necessidades da garota, eu me importava tanto com ela que de alguma forma parecia doer ainda mais em mim do que nela.

Mas minha família nunca teve muito dinheiro, apenas o suficiente para vivermos no aperto de sempre, todavia eu também não tinha muito do que reclamar, foram poucas as vezes que faltou comida em casa, nós costumamos nos alimentar dos restos da padaria, mas nunca comemos a melhor parte.

—Peeta Mellark! — exclama uma voz vinda da porta da cozinha da padaria, viro-me e encontro a minha mãe. Uma mulher de estatura mediana, com grandes olhos castanhos com uns poucos tons esverdeados, os cabelos puxados num coque desajeitado, com alguns fios desorganizados e fora do lugar, o vestido velho e azul que ela usa está rasgado e desbotado em alguns pontos específicos; sinto meu corpo gelar apenas de vê-la ali, mamãe quase nunca vem até essa parte da casa, na maior parte das vezes ela a evita. — Você está olhando o pão, garoto? Sabe que não temos muita massa e se você queimá-lo....!

Sentia que seria veementemente castigado se algo acontecesse com o pão mas ao mesmo tempo uma ideia iluminou minha mente. O pão, afinal esta era a resposta que eu estava buscando, sorri idiotamente fazendo com que a minha mãe - uma mulher que odiava qualquer expressão de alegria que viesse de outra pessoa que não fosse ela mesma - revirasse os olhos enojada, ela deu-me as costas e sacudiu as mãos desprezando-me.

Comecei a preparar a massa da próxima fornada, esta fornada iria tostar, passar do ponto, eu mesmo iria simular tudo. É claro que isso ia me render bons tapas e alguns socos no meu rosto, mas eu tinha certeza de que valeria a pena, por Katniss. Eu sorri durante todo o processo, comecei a deixá-la no forno e fui até a janela para ver como estava Katniss.

Encontrava-se perto dos porcos que papai insistia em criar, no meio da lama e da sujeira, era como se ela quisesse se afundar ali e se misturar junto aos porcos, mas vi seus olhos procurarem por comida, ela estava tão mal que comeria até os restos dos porcos! Senti-me pior ainda quando constatei isso. Os olhos cinzentos dela procuravam profundamente no meio da lama, as calças puídas que ela usava estavam no pior estado possível, seus cabelos negros puxados numa trança cheia de lama e vestígios de que ela se deixara vencer pela falta de vaidade.

Mas afinal como ela iria pensar na própria beleza num momento daqueles? Devia estar sendo uma grande porcaria, principalmente vendo a mãe abandoná-la - mesmo que por uma doença, algo que não podemos controlar de todo modo- e ver a irmã mais nova, a pessoa que ela mais ama em todo o mundo, passar com ela por tudo isso. Eu também vira a pequena Prim, os cabelos loiros puxados num rabo de cavalo alto, as roupas velhas de Katniss nela, mas Prim estava menos magra que Katniss, de todo modo ela devia dar o pouco alimento que tinha todo para a irmã, ela era tão altruísta quando se tratava de Prim.

Percebi que o pão havia queimado no mesmo momento que minha mãe adentrou o lugar e sentiu o cheiro inconfundível de massa queimada.

—Seu infeliz, seu bastardo, seu imundo! — ela gritou quando averiguou que não havia jeito para os pães, ela pegou a vassoura e começou a sessão de castigos. Ganhei vários e vários tapas na cara, e com certeza o meu rosto iria estar roxo na manhã seguinte, ela me empurrou na parede e começou a chutar-me, eu fingi que nada estava acontecendo, esperei até que ela terminasse, quando ela mordeu o lábio inferior com tanta força que eu podia jurar que estava sangrando. — Agora vá, inferno, dê os pães aos porcos!

Ela praticamente jogou os pães na minha cara e deu-me as costas, naquele instante eu sorri, mesmo que isso machucasse até a alma. Peguei os pães e saí para o quintal de trás, ela ainda estava lá.

Joguei os pães aos porcos, mas então separei o em melhor estado para ela, e lancei em sua direção e eu juro que sua face se iluminou quando ela conseguiu pegá-lo e senti-l ainda quentinho.

Eu sabia que eu nunca iria esquecer-me de como seu rosto se iluminou e um sorriso ameaçou abrir-se no seu rosto naquele instante, foi o melhor dia pra mim, desde então.


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