Garota Clichê escrita por Batman


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Só quebrando os clichês que eu vejo em vários fandoms e disseminando o que eu gosto.



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Maria Marcela. Péssima combinação de nomes, eu sei. Eu sei, você sabe, o povão da escola sabe, mas aparentemente a mãe de Maria Marcela não sabia ou só queria deixa-la pra baixo. Bem, poderia ser pior! Algo como Rita Rayana ou Grécia Grego. Céus, está certo, podia ser muito pior.

Maria Marcela era uma garota comum do ensino médio. Sem superpoderes, não era a filha perdida de um milionário e muito menos filha de deuses. Era totalmente comum: Olhos e cabelos castanhos, cabelos cacheados, pele parda. Sem nada de diferente das outras meninas dessa faixa etária.

E Maria também não ligava muito, pra ela o fato de possuir polegares opositores já bastava. Já a diferencia de um monte de animais e a igualava a alguns primatas, bichos inteligentes de bonitinhos. Talvez Maria fosse um pouco estranha pra os padrões atuais (e de fato era, mas tratemos disso depois), mas a sua mãe sempre dizia que o que importava era a beleza interior, no mesmo momento que retocava a sua camada espessa de maquiagem e dizia que os órgãos internos tem um tom de vermelho nojento.

E depois tinha aqueles livros de autoajuda na estante da família: Seja você mesmo, O que importa é o interior, Você pode ser um vencedor e mais um punhado de títulos seguindo esta linha de tema. Sempre tão... Inúteis!

“Tanto papel gasto tentando convencer que as pessoas devem acreditar em si mesmas! Que ótimo” Costumava pensar enquanto tirava o pó da estante na sala.

Mas se Maria Marcela fosse uma garota tão comum quanto as outras, na haveria nenhuma trama para contar e todas essas linhas que foram lidas não serviriam de nada a não ser chateação sobre uma garota normal.

Neste momento você deve está se perguntando: “Ora, então sobre o que diabos é essa estória?!” ou “Cadê o plot?” ou até mesmo “ Perdi N minutos da minha vida!” Relaxe pequeno gafanhoto, comecemos de uma segunda feira em abril.

Às 05h10min, Maria acordou com o seu despertador tocando uma melodia qualquer e se arrumou como de costume: Tomou um banho, penteou os cabelos, escovou os dentes... Conferiu a hora no display do despertador: 05h50min. Na hora certa.

Desceu as escadas seguindo para cozinha, encontrando a sua mãe cruzando o cômodo de uma lado para o outro com o celular entre o queixo e o ombro enquanto passava um creme nas mãos brancas. Sua mãe, Eleonor, tinha certa obcessão por cremes de beleza – sim, esqueçam o lance da beleza interior – usando-os sempre.

– Sim, eu vou. Não... Não... – Eleonor olhou para o teto, como se estivesse tentando lembrar-se de algo importante. – Dia 22. Não tenho nada o que fazer. Sim, sim, depois te ligo. Beijos. – E desligou.

Maria sentou-se a mesa, brincando uma laranja que estava na cesta de frutas. – O que foi isso?

– Isso o que?

– A ligação.

– Eu tenho um encontro. E com o carinha da administração.

– Legal. Aquele que é meio careca?

Maria deu risada enquanto sua mãe fazia uma careta ofendida.

Eleonor não disse mais nada – talvez tivesse ficado com raiva.

“Mas ele é careca mesmo” – Maria pensou, enquanto descascava uma banana e comia como se não tivesse comido em meses.

Ah, mas o ensino médio é realmente maravilhoso! Adolescentes hormonais correndo para todos os lados: Garotas se equilibrando num salto de 15 centímetros e passando batom nos lábios foi o que chamou sua atenção naquela manhã.

Maria tocou seus lábios... Poderia ter passado um batom pelo menos... Ela não gostava muito da sua boca, era carnuda. E se na Angelina Jolie aquele tipo de boca era um arraso, nela era um estrago só! Só de pensar num batom vermelho se “arrupiava” todinha. Como o seu amigo na Bahia costumava a dizer.

Seu all-star novo e branquinho caminhava pelos corredores levando uma garota dentro... bem, você entendeu e é isto que importa. Maria Marcela conferiu o quadro de avisos e não achou nada de interessante. Trabalho, projeto de x matéria... Espera.

Projeto de Arte.

Arte.

Não que ela odiasse arte.

O professor de Arte que odiava ela.

Suspirando e lamentando-se por ter que lidar com esse maluco de novo, a garota leu o aviso completo.

Quadro (clique para visualizar)

Mas que ótimo! Tem coisa mais clichê que Romeu e Julieta?

“Aposto que a Gisele vai fazer a Julieta e o Fernando o Romeu. Dois babacas”.

Diferente da maioria dos adolescentes, Maria gostava de ser normal, uma total desconhecida na escola. Assim ninguém (ou poucas pessoas) enchiam o saco dela. Assim ela não tinha que seguir modas bobas... como ler o livro que tudo mundo lê, ou usar o sapato que todos usam.

Para ela a inteligência era superior, de modo que se a pessoa que fez o cartaz à esquerda teria percepção que bimestre está escrito errado.

Entrou na sua sala de aula 10 minutos antes da classe começar. Ela não tinha amigos – na verdade ela já teve uma amiga: uma garota boliviana surda que se mudou para o sul á três meses. Ela ainda não havia arranjado tempo para socializar, e também não se encontrava amigos assim, do nada! Tinha que ser tudo como uma entrevista de emprego: a pessoa mostraria suas qualidades e defeitos, e ela decidiria se contrataria – ou ficaria amiga, nesse caso.

Aulas se passaram e chegou a tão temida hora!

Aula de arte.

O professor de arte se chamava Cláudio. Era bonito, tipo no estilo de galã da novela das oito (mas que começa ás nove, diga-se de passagem), cabelos claros e olhos azuis, alto e queixo perfeito – O que? Maria Marcela gostava de olhar para os queixos bonitos!

Mas o que Cláudio tinha de beleza tinha de maldade no coração. Junte todos os vilões do mundo e divida por um que o resultado é professor Cláudio. Deve ser por isso que as meninas nunca se engraçavam para o lado do professor, ele tem cara de que cortaria o cabelo de quem tentasse.

E a deixaria carequinha da Silva.

Quando Cláudio entrou na sala hoje, carregando uma caixa grande preta, o local ficou em silêncio. Ele sentou-se, fez a chamada com uma careta no rosto e depois ficou de pé, levantando a caixa.

– Gisele Martins?

– Sim senhor...

Gisele era a moça mais bonita da sala. Cabelo em cachos perfeitos, boca perfeita, olhos perfeitos. Toda perfeita, você entendeu.

– Fernando Oliveira.

– Aqui senhor...

– Quero que vocês sejam o meu casal principal, Romeu e Julieta obviamente.

“Nossa, mas que surpresa! Nem tinha pensado nessa possibilidade”. Maria segurou o riso enquanto folheava o seu caderno mecanicamente.

– Olhem, as roupas são estas. – O professor abriu a caixa negra, mostrando um vestido antigo e uma roupa masculina. – Pedi para uma amiga fazer, de acordo com a vestimenta da época. Quero tudo perfeito.

O vestido era... Okay, o vestido era horrível. Maria não era muito fã de vestidos, mas se havia algo mais feio não tinha inventado ainda. Era estranho descrevê-lo, nunca tinha visto algo parecido. Já o traje masculino tinha um charme, lembrava mesmo a roupa de um príncipe encantado.

– O que?! Não vou usar isso... É uma cortina e uma cortina bem feia...

Gisele reclamou.

E pela primeira vez na vida Maria concordou com Gisele. Era horrível. Mas Maria, ao contrario de Gisele, jamais reclamaria, por que se havia algo que o professor Cláudio detestava era que não acatassem uma ordem dele.

– Entendi... E você Fernando? Gostou da roupa? – O professor perguntou de maneira calma e compreensiva.

Oh não! Algo estava errado.

O professor Claudio não era calmo e compreensivo. De jeito nenhum...

– Acho que o cara que usa isso... É meio... Idiota, não?

Oh não. Até o babaca do Fernando.

– Entendi. Vocês não querem fazer papel de idiota, não é? – Recebendo um aceno em confirmação de ambos escolhidos, Cláudio continuou: - Então Gisele, se fosse escolher uma menina ridícula o suficiente para usar esse vestido quem você escolheria?

Gisele não pensou muito.

– Maria Marcela.

– Ótimo, bem objetiva.

E se Maria fosse um pouco maior e mais corajosa, tinha se pronunciado... Mas como não era...

– O casal principal agora é Maria Marcela e Felipe Martins.

E naquele momento a classe toda riu. Maria não sabia se estavam rindo dela ou da cara que Gisele fez. Que maravilha! Professor maldito! Receberiam vingança, todos eles!

O professor riu, e completou.

– Fernando é a Julieta e Maria o Romeu. Gisele é a árvore.

E os risos cessaram enquanto a única coisa que foi ouvida foi as gargalhadas de Claudio.

E ás vezes clichês não são tão ruins” Maria pensou, escondendo o rosto atrás de um livro didático.


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